terça-feira, julho 28, 2009

De AntonioGallotti@edu para D.Rousseff@gov: Já começou o processo de sucateamento de concessionárias de serviços públicos e ele termina em estatização

De AntonioGallotti@edu para D.Rousseff@gov

PREZADA ministra Dilma Rousseff,
Mensagens como esta devem obedecer às normas da concepção dos biquínis, curtos para aguçar o interesse e suficientemente longos para cobrirem o objeto. Quero pedir-lhe que baixe o seu santo sobre as agências reguladoras das concessões de serviços públicos. Se a senhora começar hoje, o país ficará lhe devendo a conjuração de um desastre. Faça-o sabendo que ninguém lhe dará o crédito. Não o faça e dirão que foi cúmplice do sucateamento e da posterior estatização de operadoras de telefonia, distribuição de energia e de parte dos serviços de transporte urbano.
Escrevo com a autoridade de quem presidiu a Light e seu conselho de 1955 a 1978. Não essa Light de hoje. A minha controlava a energia, os telefones e os bondes do Rio e de São Paulo. Algo como a Light mais a Eletropaulo, a Telefônica, parte da Telemar e os metrôs das duas cidades. Nós fizemos muito pelo progresso material e político do país. Até hoje o Getúlio Vargas me agradece o socorro que a Light lhe deu em 1935. Nosso gerente, Alfred Hutt, era o homem do Serviço Secreto inglês no Brasil. Ele controlava um dos agentes do Comintern que veio ajudar o Luís Carlos Prestes a fazer a revolução bolchevique e contava tudo ao Palácio do Catete. O marechal Castello Branco nunca deixa de lembrar a ajuda que demos na conspiração contra o João Goulart.
A partir dos anos 60 eu ajudei a estatizar nossas operações e depois participei de alguns entendimentos para privatizá-las. (A senhora não imagina o trabalho que tive para adequar as normas de contabilidade dos acionistas estrangeiros aos costumes patrimoniais de algumas autoridades brasileiras.) No espaço de um século transformamos concessionárias em estatais e, depois, novamente em empresas privadas. Grosso modo, o pacote trocou de dono a cada 30 anos.
Veja o que a senhora tem em volta. O serviço de banda larga da Telefônica de São Paulo capotou. O ministro das Comunicações e a Anatel não se entendem e vossas tarifas para celulares estão entre as mais altas do mundo. Diversas ferrovias operam abaixo das metas contratadas. Os trens da Central do Brasil e as barcas do Rio estão à espera de quem os compre. Há geradoras de energia que não cumprem os planos de expansão. A Eletropaulo desmanda-se em apagões que incentivam um mercado paralelo de geradores a gás para condomínios de gente endinheirada. O Tancredo Neves, que é um desconfiado, diz que eu estou por trás da anarquia que é a Agência Nacional de Energia Elétrica. Finge desconhecer que não podemos mexer nas coisas daí. Estou ciente disso desde 1986, quando cheguei aqui.
Em todos os casos, as agências reguladoras queixam-se da falta de investimentos dos concessionários que, por sua vez, reclamam da burocracia. Eu já vi esse filme no cinematógrafo sem som e em technicolor. Iniciou-se o processo de sucateamento de algumas dessas companhias. Coisa incipiente, porém estratégica. Posso lhe dizer: a partir de um certo ponto, o sucateamento interessa ao concessionário, pois ele sabe que, no limite, o Estado terá que ficar com a companhia.
Entre 2015 e 2025 caducarão quase todas as concessões de serviços públicos e o Estado escolherá entre renová-las ou deixar que caduquem. Essa solução é a pior, até porque antes de se chegar a tal ponto os serviços estarão inevitavelmente degradados. Nesse negócio, dez anos equivalem a dez minutos do nosso cotidiano. Se a senhora apertar dolorosamente os parafusos a partir de amanhã, a briga será civilizada. Se deixar para depois, será dolorosa, selvagem e inútil.
Apiedo-me ao acompanhar seu trabalho de supervisão sobre o Ministério de Minas e Energia e lastimo que a senhora tenha tolerado alguns preenchimentos de cargos nas agências reguladoras atendendo a critérios rudimentares. Esse mal está feito, mas nem tudo está perdido. A vida ensina que os incapazes temem o ronco do palácio.
Torcendo pela senhora e pela sua candidatura, despeço-me,
Antonio Gallotti

O texto é parte da coluna de Elio Gaspari, na Folha de São Paulo, de 26 de julho de 2009.

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Até quando?

Até quando?

RIO DE JANEIRO
- Com a queda de Getulio Vargas em 1945, por deliberação dos militares que depuseram o ditador, o poder foi entregue ao presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro José Linhares.
Naquele tempo e como parte ainda hoje, o funcionalismo público em seus vários graus (federal, estadual e municipal) era a espinha dorsal do mercado de trabalho brasileiro.
Linhares nomeou muita gente, inclusive parentes, o que fez o Barão de Itararé reclamar: "Não são Linhares, são milhares".
Quando Juscelino nomeou um parente com o nome de sua família para importante cargo em estatal, o "Correio da Manhã" publicou o editorial mais curto da imprensa mundial: "O presidente da República nomeou um Kubitschek. Este nome não nos é estranho".
O nepotismo é hoje condenado e com razão, mas na escala dos crimes institucionais, é venial, como a gula, a preguiça e a soberba em relação aos pecados mortais, como o homicídio e o roubo.
Ao visitar José Alencar no hospital, Lula encontrou-se com o senador Eduardo Suplicy e reclamou: "Você está há 18 anos no Congresso e não sabia de nada?!" Não somente Suplicy, mas centenas de congressistas nesses últimos anos nada sabiam do que se passava nos porões da Câmara ou do Senado.
A onda moralista que a mídia desencadeou contra o Senado e em especial contra determinado senador lembra a virulência udenista que, expressando a indignação das grandes parcelas da classe média, criaram as condições objetivas para o movimento militar de 1964. Lembro uma foto publicada do guarda-roupa da mulher de João Goulart com a legenda: "Até quando vamos suportar isso?"

Texto de Carlos Heitor Cony, na Folha de São Paulo, de 26 de julho de 2009.

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Yes, Obama, You Can!

Yes, Obama, You Can!

Uri Avnery, 26/7/2009

http://www.planetarymovement.org/go/newsflash/yes,-you-can!-by-uri-avnery/

Antes, uma confissão: eu gostava muito do Hotel Shepherd. Nos primeiros anos, logo depois da Guerra dos Seis Dias, fui hóspede frequente. Meu trabalho como deputado no Parlamento de Israel exigia que eu passasse pelo menos dois dias em Jerusalém e, depois da guerra, troquei os hotéis de Jerusalém Oeste pelos da parte Leste da cidade. Meu hotel preferido era o Shepherd. Lá me sentia em casa.

O charme do hotel era a atmosfera especial que lá se respirava. Localizado no meio daquela antiga cidade árabe que, a própria cidade, já despertava minha curiosidade. Os quartos tinham pé direito muito alto e mobiliário antigo, e o hotel era dirigido por duas senhoras árabes, já idosas, educadas em Beirute, representantes ali da cultura libanesa-palestina.

O hotel ficava na parte da cidade habitada pelo clã al-Husseini, vasta família clânica, com mais de 5.000 membros e proprietária da maior parte da área de Sheikh Jarrah, onde também estava a legendária "Casa do Oriente" [1].

A família al-Husseini é uma das famílias da aristocracia jerusalemita, talvez a mais respeitada de todas (sem dúvida, na opinião da própria família). Por séculos a família controlou pelo menos um dos postos políticos mais importantes da cidade: o do Grand Mufti, prefeito e notável encarregado de administrar os locais islâmicos sagrados. O Hotel Shepherd foi construído por Hajj Amin al-Husseini, o Mufti que liderou a revolução árabe nos anos 1930s e tornou-se o árabe que a comunidade hebraica mais gostava de odiar.

Eu costumava passar horas conversando com as proprietárias do hotel, aprendia muito com elas e acabei apaixonado pelo hotel. O dia em que o hotel foi fechado foi, para mim, dia de muita tristeza.

Não sei como, o hotel acabou virando propriedade do milionário norte-americano, o rei do Bingo, cuja intenção declarada é construir prédios para colonos judeus em toda a parte árabe da cidade. Agora, quer construir prédios também no local onde ficava o Hotel Shepherd.

Nada disso interessa muito. Meu caso, hoje, é com Binyamin Netanyahu.

O objetivo de Netanyahu é judaicizar Jerusalém. Essa semana, vangloriou-se de, em seu último mandato, há dez anos, ter implantado e fortificado a colônia judia de Har Homa e arredores.

Também tenho laços sentimentais especiais com Har Homa – cujo verdadeiro nome é Jebel Abu Ghneim, "Montanha do Pai das Ovelhas". Muitas noites da minha vida passei-as na luta para impedir que se instalasse ali o monstruoso projeto de prédios que hoje lá está.

O líder daquela nossa luta foi outro Husseini – o inesquecível Feisal. Sempre o tive em minha mais alta estima. Não hesito em confessar que foi dos homens que mais amei.

Foi homem nobre no real sentido da expressão: nobre por ascendência, mas homem de hábitos simples, generoso, acessível, homem de paz que jamais tremeu nos confrontos com soldados da ocupação, um autêntico patriota palestino, de opiniões equilibradas, sábias e corajosas. Filho de Abd-al-Kader al-Husseini, líder dos combatentes árabes do distrito de Jerusalém na guerra de 1948, morto na batalha pelo "Castelo" próximo da cidade.

Não combati essa batalha, mas passei por lá, horas mais tarde, num comboio que levava mantimentos e remédios para os soldados israelenses sitiados na outra parte de Jerusalém. Como muitos soldados israelenses, sempre admirei Feisal al-Husseini como adversário honrado.

A área de Har Homa, para os que já tenham esquecido, foi região de beleza excepcional entre Jerusalém e Belém, uma colina coberta por mata verde, fechada. Os destruidores de Jerusalém – aquela coalizão brutal de tubarões da construção civil, sionistas fanáticos, milionários norte-americanos e místicos religiosos – decidiram matar aquela bela região para ali construir uma colônia exclusiva para judeus, densa, fortificada e espantosamente horrenda.

Sob a liderança de Feisal e Ta’amri, ex-marido de uma princesa jordaniana, instalamos lá uma tenda de campanha, para defender a colina.

Quando os tratores e tanques começaram a arrancar árvores e nivelar o terreno da colina, levamos para lá dúzias de pessoas, que permaneceram em vigília.

Num dos confrontos, fui ferido, tive uma hemorragia e teria morrido ali se uma ambulância palestina não tivesse conseguido chegar até onde eu estava, naquele deserto sem estradas, para levar-me até um hospital, a tempo. Claro que sou emocionalmente e pessoalmente ligado àquela colina.

O que estão tentando fazer com o prédio do Hotel Shepherd é parte, também, do mesmo esforço eterno para judaicizar Jerusalém. É uma provocação.

Está em andamento, ali, uma operação de "limpeza étnica" – a mesma operação iniciada há 42 anos, desde o primeiro dia da ocupação de Jerusalém Leste. De novidade, só, que, hoje, a operação obedece considerações táticas especiais, de um novo 'timing'.

Netanyahu está enfrentando pressão forte dos EUA, para paralisar toda e qualquer construção de prédios para colonos judeus na Cisjordânia.

Na prática, já quase nem pode mover-se, se deseja manter-se no comando da coalizão de governo que ele mesmo inventou – e onde há gente de direita, fanáticos religiosos, colonos e fascistas organizados de ultra-direita.

Já fez várias 'concessões', todas baseadas em projetos fraudulentos e promessas vazias, mas os norte-americanos parecem já ter aprendido a lição do passado e (ainda) não caíram outra vez em qualquer das velhas armadilhas de Netanyahu.

Seu gêmeo siamês, Ehud Barak, anda ocupado vazando 'notícias' para a imprensa sobre essa grandiosa operação: a qualquer instante, com um só golpe, como Alexandre para desmanchar o nó górdio, dezenas de "postos avançados" de novas colônias que lá estão desde 2001 acobertados pelo governo israelense serão desmontados.

Problema é que, exceto alguns jornalistas, já ninguém acredita que alguma coisa venha, de fato, a acontecer. Os colonos judeus, esses, têm certeza de que nada acontecerá. Basta ver como riem.

Então… para Netanyahu, trata-se mesmo de inventar algo para fazer, para conseguir não desmontar nenhum posto avançado.

Netanyahu é o rei dos 'vazamentos' para a imprensa. Então, teve uma ideia: inventar alguma outra provocação, para deslocar a atenção pública.

Assim, inventou o caso do Hotel Shepherd, que lá está, em Israel, distraindo a atenção mundial, para que ninguém olhe para o que acontece nas colinas "de Judeia e Samaria". Se aparece uma dor de dentes, a dor de barriga doi menos.

O quê?! – pergunta Netanyahu. – Os Goyim querem impedir-nos de construir em Jerusalém, nossa Cidade Santa?! Eterna capital dos judeus, reunidos afinal para toda a eternidade?! Que ousadia! E por acaso estão proibindo os judeus de construir prédios New York?! Em Londres?!

Netanyahu quase acertou uma, de fato, quando disse que, se qualquer árabe pode viver em Jerusalém Oeste, por que, então, um judeu não poderia construir casa em Jerusalém Leste?

Claro. Só que absolutamente falso. Quando Netanyahu diz coisas desse tipo, o mais difícil é determinar o quanto, no que diz, é mentira consciente (que se poderia denunciar facilmente), e o quanto é falsidade na qual ele creia, mesmo que só ele.

Por exemplo, disse que lembra dos soldados ingleses à frente de sua casa, quando era criança. É mentira, com certeza: quando o último soldado inglês partiu de Israel, Netanyahu ainda nem nascera.

A verdade é que, com muito raras exceções, nenhum árabe pode comprar um apartamento em Jerusalém Oeste (e, isso, para não falar de construir uma casa lá) – embora enormes áreas da parte ocidental de Jerusalém sejam tradicionais bairros árabes, cujos moradores foram expulsos ou forçados a fugir durante a Guerra de 1948.

Os antigos proprietários de casas nessas áreas da cidade (incluindo Talbiya, Katamon, Dir Yassin) que encontraram refúgio em Jerusalém Leste foram impedidos de voltar às próprias casas quando Jerusalém foi 'reunificada' em 1967; e jamais receberam qualquer indenização (que eu propus que lhes fosse paga, quando deputado no Knesset).

Mas Netanyahu nem liga muito, se alguém acredita ou não no que ele diga. Essa semana, como todas as semanas desde que voltou ao poder, passou-a toda integralmente ocupado com sobreviver no poder.

Para que Netanyahu sobreviva, a sua coalizão tem de permanecer intacta. Para conseguir isso, tem de provar que não "se curva" à pressão dos EUA. Não há melhor cenário para tal prova, que Jerusalém.

Sobre Jerusalém, como os porta-vozes do governo jamais se cansam de repetir, há "consenso nacional". De muro a muro. De cerca a cerca. Da esquerda à extrema direita.

Pois aí está mais um mito morto há muito tempo. Esse consenso não existe em Israel. Nesse momento, muitos israelenses estão prontos a devolver os quarteirões árabes de Jerusalém Leste às autoridades palestinas, em troca de chegarem todos a um real acordo de paz.

Não conheço uma única mãe judia interessada em sacrificar o próprio filho em guerra para defender o Hotel Shepherd.

Aproveito para desmentir outro mito que está sendo propagado incansavelmente pela imprensa em Israel: que se estaria formando um consenso nacional, em Israel, contra o presidente Obama.

Como se diz em hebraico clássico: "Não há ursos nem floresta." Ou, mais coloquialmente: "Não há aves nem chinelos."

Muitos israelenses, muitos, muitos, contam com que Barack Obama fará por eles o que será impossível sem ele: que lhes traga paz. Já desistiram de esperar que a paz chegue pelos canais do sistema político israelense, ou de alguma coalizão de situação e oposição, ou de união de esquerda e direita.

Israel está convencida de que só uma força externa alcançará essa esperança de tantos.

Se Obama tiver de enfrentar a recusa de Netanyahu sobre o fim da construção de prédios para colonos judeus na Cisjordânia, e se Netanyahu insistir em continuar a construir em Jerusalém Leste, muitos israelenses por-se-ão a rezar pela vitória de Obama, não de Netanyahu.

Hoje quem representa os verdadeiros interesses de Israel é Obama, não Netanyahu.

O problema é se Obama tem poder suficiente para ir mais longe e fazer mais do que qualquer outro presidente dos EUA jamais foi ou fez, desde Dwight Eisenhower. Netanyahu aposta que Obama não tem esse poder.

Os parceiros de Netanyahu nos EUA – os Republicanos derrotados nas eleições, os neoconservadores que hoje lutam nas sombras, os pastores evangélicos hoje quase silenciosos, todo o campo político que Obama derrotou – esperam recuperar seus milhões; para tanto, investem hoje em estimular o lobby judeu para que desafie Obama.

Netanyahu – que no passado já mobilizou o Congresso dos EUA contra a Casa Branca – está apostando que conseguirá fazer, outra vez, o que uma vez já fez.

Os jornais israelenses abrem manchetes entusiasmadas, com mapas e infográficos, para demonstrar que a popularidade de Obama já estaria despencando, em Israel.

Não é difícil saber que a maior parte desse noticiário sai do ministério de Negócios Estrangeiros de Avigdor Lieberman, a mesma fonte, aliás, que também alimenta os jornais dos EUA com matérias sobre uma crescente oposição a Obama em Israel.

Breve, breve, os jornais dos EUA começarão a mostrar fotos de protestos em Israel, com cartazes em que Obama aparecerá em uniforme da SS alemã. Foi o que fizeram com Yasser Arafat e Yitzhak Rabin, antes de Obama.

Claro que a batalha nada tem a ver com 20 postos avançados nem com os 20 apartamentos demolidos do Hotel Shepherd.

Cada casa em cada colônia da Cisjordânia só é construída e lá permanece para uma finalidade: destruir toda e qualquer possibilidade de paz. E todas as casas israelenses em Jerusalém Leste também só lá estão com vistas a esse sublime objetivo.

Todos os inimigos da paz sabem que nenhum líder árabe jamais assinou acordo de paz que não confirmasse Jerusalém Leste como capital da Palestina; como também sabem que nenhum líder árabe jamais assinará acordo de paz, em nenhum caso, que não declare que a Cisjordânia é território palestino.

Uma responsabilidade histórica pesa hoje sobre os ombros de Barack Obama: não se curvar, não ceder, não conceder. É preciso insistir na completa paralisação de toda e qualquer construção nas colônias – porque esse é o primeiro, necessário, indispensável passo com vistas à paz.

É passo indispensável para o futuro de Obama, tanto quanto é passo indispensável para o futuro de Israel. Como israelense, digo-lhe: Obama, yes, you can!

Nota da tradutora Caia Fittipaldi:

[1] Sobre essa casa, onde funcionou o quartel-general da OLP, fechado em 1995, ver:

http://www.orienthouse.org/press/Release/05July19.htm

Este texto é originário do Saite Vi o Mundo.

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domingo, julho 26, 2009

Temporada de caça ao hipopótamo na Colômbia

Está aberta a caça aos hipopótamos de Pablo Escobar

Marie Delcas
Em Bogotá (Colômbia)

Na foto, um grupo de militares colombianos exibe, triunfante, o cadáver de "Pepe". Era realmente preciso matá-lo? A polêmica é grande. Nem guerrilheiro nem traficante, Pepe era só um hipopótamo em fuga. Ele foi abatido, com o aval das autoridades ambientais do departamento de Antioquia (noroeste) em 16 de junho. A foto foi publicada em 10 de julho.

Desde então, ecologistas, defensores dos animais, editorialistas e cidadãos se mobilizaram na Colômbia para salvar Matilda, a fêmea de Pepe, e seu bebê, Hip. Duas instituições - o zoológico da cidade de Pereira e um parque de diversões de Bogotá - se apresentaram como aptos a capturar os animais. Mas apanhá-los não é fácil, e cuidar deles custa caro.

Hipopótamos nos Andes? É a Pablo Escobar, morto em 1993, que a Colômbia deve seus paquidermes. Nos anos 1980, o mafioso, à altura de seu poder, adaptou sua propriedade, a Hacienda Napoles, para abrigar dezenas de animais selvagens importados clandestinamente da África. Com a morte do "patrão", o governo assumiu o controle das terras e distribuiu os animais pelos diferentes zoológicos da região. Todos, exceto os hipopótamos que, por serem pesados demais para serem transportados, foram abandonados à sua sorte. E a sua libido.

Segue uma série de bebês hipopótamos que crescem e, por sua vez, têm filhotes: 22 animais pastam hoje nos verdes prados da fazenda. Dois anos atrás, o intrépido Pepe e sua companheira fugiram para descobrir as águas turbulentas do grande rio Magdalena.

Morte "muito colombiana"
As autoridades ambientais justificam a permissão de "caça controlada" dada, invocando os perigos que os animais errantes representam aos pescadores e às plantações. Mas "nenhum incidente sério foi registrado em dois anos", lembra o editorial de "El Tiempo".

O principal jornal do país considera que o governo calculou mal o impacto "de uma solução para o problema dos hipopótamos". O cronista Daniel Sampler denuncia a morte "muito colombiana" de Pepe em um país "que resolve seus problemas com tiros de fuzil".

Na internet, os internautas expressam sua indignação. "Os homens são bem mais perigosos para o planeta do que os hipopótamos", lembra um. "Se tivéssemos de matar tudo que fosse perigoso, não sobraria muita gente neste país", acrescenta outro.

Na terça-feira (14), uma manifestação estava prevista diante do ministério do Meio Ambiente em Bogotá. Cecília B. se espanta: "Quando o exército apresenta como troféu de caça o cadáver de um guerrilheiro ou de um criminoso, ninguém se comove".

Tradução: Lana Lim

Notícia do Le Monde, no UOL.

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ÁLVARO URIBE RECEBE CHANCELER DE GOVERNO GOLPISTA

ÁLVARO URIBE RECEBE CHANCELER DE GOVERNO GOLPISTA


Segundo o ministro Carlos López, o presidente colombiano disse, em encontro na segunda que só veio a público ontem, "simpatizar" com o governo de Roberto Micheletti por seu "respeito à ordem constitucional, à separação dos Poderes e aos direitos humanos". Em nota, Bogotá disse que recebeu de maneira informal uma comissão hondurenha "no âmbito do processo de facilitação da situação em Honduras, liderado pelo presidente Óscar Arias".

Notícia da Folha de São Paulo, de 23 de julho de 2009.

De alguma maneira a notícia não chega a ser totalmente surpreendente.

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sábado, julho 25, 2009

Golpe não!

GOLPE, NÃO

Ainda "Economist". No segundo editorial, a nova edição volta a defender o retorno de Manuel Zelaya ao poder em Honduras e alerta: "Não deve ser permitido manter de pé um golpe em uma região que derrubou o autoritarismo". Defende usar "pressão e persuasão", mas cobra "restaurar a legitimidade" da democracia.

Trecho da coluna Toda Mídia, na Folha de São Paulo, de 24 de julho de 2009.

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sexta-feira, julho 24, 2009

Brigada Militar desloca 12% da tropa em Porto Alegre para agenda que Yeda furou

A Brigada Militar deslocou, hoje, 200 policiais (cerca de 12% do efetivo em Porto Alegre) para fazer a segurança de uma agenda da governadora Yeda Crusius (PSDB), no centro da capital. Yeda participaria da inauguração do novo prédio da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), na avenida Farrapos. Temendo novos protestos de rua contra a governadora, a Brigada montou uma operação de guerra que chegou a causar congestionamento em uma das áreas mais movimentadas da cidade. O transtorno foi em vão: na última hora, Yeda Crusius avisou que não iria à inauguração. A causa: “dificuldades na agenda”. No entanto, segundo a agenda divulgada pelo próprio Palácio Piratini, esse era a única atividade da governadora na tarde desta terça-feira. A Brigada Militar não informou o custo da operação montada para a agenda furada por Yeda.

Texto do blog do Marco Weissheimer - RS Urgente.

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Não esqueçamos o assassinato de Natalia Estemirova!

Vocês sabem tudo. Há muito tempo. Não há nenhum mistério. Natalia Estemirova foi eliminada porque ela combatia a mentira e a obscuridade do Estado, porque ela falava demais, porque ela investigava com muita precisão, porque ela acusava os mandatários dos crimes cotidianos na Chechênia, o ditador Kadyrov, os serviços secretos do exército russo, as diversas máfias que agem livremente, e seus chefes no Kremlin. As capturas extrajudiciais executadas por homens encapuzados, as casas de civis incendiadas em "punição", às vezes com seus moradores deliberadamente presos dentro delas, as tomadas de reféns que os serviços públicos devolvem com vida ou em pedaços em troca de dólares, as mulheres violentadas diante de seus maridos.

Vocês sabem tudo. Nenhuma novidade no martírio checheno desde a primeira guerra desencadeada por Moscou em 1994. Nenhuma novidade, além do fato de que a vitória russa foi declarada, que reina a paz putiniana, e que o terror continua.

Nenhuma novidade. Diante do cadáver de Natalia Estemirova, encontro desesperadamente as mesmas palavras e os mesmos pensamentos, as mesmas emoções e as mesmas lágrimas que tive na morte de minha amiga Anna Politkovskaia. Que me apresentou sua amiga, pedindo que a apoiasse para o prêmio Sakharov (ela recebeu a medalha Schuman). Elas se conheciam desde a primeira guerra, tendo ambas partido, intrépidas, em busca da verdade sobre um massacre de longa duração, que eliminou um em cada cinco civis. Ambas, cassandras de nossos tempos, falavam para as paredes, prevendo que o caos se estenderia ao Cáucaso (o que aconteceu), e que os acertos de contas mafiosos e oficiais ganhariam a própria Rússia (o que aconteceu).

A Chechênia? Um império minúsculo, mas um caso clássico para a humanidade: um milhão de habitantes antes da guerra, 200 mil mortos, 40 mil crianças mortas (e quantos órfãos?), uma capital devastada, cidades e vilarejos reduzidos a cinzas. E depois? A educação pelo medo e pela corrupção, ou como calar o povo. Não somente os chechenos, mas os russos e se possível nós, pacíficos cidadãos das nações democráticas. As fachadas reluzentes dos imóveis reconstruídos em Grozny mentem.

Nenhuma novidade no oeste; do lado da Europa tranquila e ainda próspera, já estão acostumados. A leste, os assassinatos se sucedem, se parecem e causam em nós algumas indignações logo esquecidas. É claro, não declararemos guerra - ainda que fria - contra a grande Rússia, então voltemos logo às atividades normais. Esse tipo de conduta de evasão provoca há muito tempo a zombaria da dupla que dirige o Kremlin, que não se constrange de caricaturar publicamente nossos representantes, e suscita a ironia entristecida dos dissidentes que compartilham de nosso gosto pela liberdade e democracia.

Serguei Kovaliev, o amigo de Sakharov, pergunta para quê servem os diplomatas e as chancelarias se a única alternativa é ou a guerra, ou uma complacência definitiva com o domínio das máfias e do despotismo? Para quê servem os ministros das Relações Exteriores se eles se mostram incapazes de planejar pressões econômicas, culturais ou diplomáticas que possam civilizar os tantos preocupantes vizinhos em nossas fronteiras?

No entanto, há uma novidade. Após o assassinato ainda não solucionado de Anna Politkovskaia, Ramzam Kadyrov, protegido de Putin suspeito de ser mandatário do crime, mandou erguer na capital um epitáfio de mármore negro em homenagem aos jornalistas e combatentes dos direitos humanos "assassinados por sua liberdade de expressão". Não, vocês não estão sonhando.

Após o assassinato de Natalia Estemirova, ele tornou pública sua indignação e se colocou como chefe de uma investigação para punir os culpados. Medvedev também. O ápice dessa piada foi atingido em Berlim: Angela Merkel pediu uma investigação, Medvedev prometeu uma, e depois a chanceler alemã e o presidente russo se abraçaram, prometendo um ao outro uma amizade industrial indestrutível. Belo festival de contratos fabulosos, somente dois dias após a descoberta de Natalia, com duas balas na nunca, à beira de uma estrada.

Kadyrov sabe punir, e até gosta disso, é o que dizem. Punir quem? Seu primeiro "ato de justiça" diz muito sobre isso: ele está processando Oleg Orlov, fundador do Memorial [organização de direitos humanos] junto com Sakharov e companheiro de luta de Natalia Estemirova. Sim, Medvedev, o clone "bonzinho" de Putin, vai conduzir uma investigação para persuadir o mundo inteiro. Ele encontrou os assassinos de Anna? Ou os de Stanislav Markelov e de Anastasia Barburova? Ou os da multidão de anônimos? Ele entregou à Grã-Bretanha o assassino de Alexandre Litvinenko? Não! Ele comparece à Duma e faz zombarias na televisão. Ele jura que fará o impossível; ele, que acaba de promover a caça aos "antipatriotas", ou seja, aqueles que estudam os crimes de Stálin durante a Segunda Guerra Mundial, antes e depois.

Orwell revelou a novilíngua moderna: "Guerra é paz, escravidão é liberdade". Ele mostrava esses paradoxos particulares da propaganda totalitária. Progresso estranho: as democracias agora se empenham para não ficarem para trás de uma hipocrisia.

Em 17 de julho, uma caminhonete amarela transportou o corpo de Natalia, cercada de seus amigos, os melhores, os mais corajosos e os mais audaciosos de Grozny. Ela subiu lentamente a avenida Putin, a "Champs-Elysées" da capital, reconstruída e batizada com o nome de seu carrasco. Essa "avenida Putin" onde Natacha nunca andou quando estava viva, rejeitando a injúria cínica feita a seu povo dizimado, forçado a uma completa humilhação.

Em Moscou, prestando homenagem a Natacha, nova mártir da verdade, ao lado das mentes inconformistas do Memorial, estava a incansável Ludmila Alexeyevna, 82, figura da dissidência antissoviética. Em Paris, durante uma breve cerimônia na fonte Saint-Michel, abracei Natalia Gorbanevskaia, a poeta que protestou, com seu bebê nos braços, na praça Vermelha em agosto de 1968, contra os tanques russos que esmagavam uma Praga insurgente. Ela fora enviada a um hospital psiquiátrico.

Inabaláveis mulheres de fibra, vocês são mais determinadas do que toda essa selvageria, mais fortes que nossos retraimentos. Vocês conhecem o orgulho dos povos caucasianos, a dignidade da cultura russa que sempre foi de resistência, e se nossa humanidade tem um rosto, é o de vocês. Anna e Natacha, obrigado.

*André Glucksmann é filósofo.

Tradução: Lana Lim

Texto de André Glucksmann, no Le Monde, reproduzido no UOL.

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terça-feira, julho 21, 2009

Bancários 2009: lá vamos nós!

Notícia da Folha de São Paulo, desta terça-feira, 21 de julho, dá conta que a direção nacional do bancários já estabeleceu a pauta para a campanha salarial de 2009, cujo mês de dissídio é setembro.

A notícia informa que o reajuste pleiteado é de 10%, e outros benefícios, o que significa um aumento real próximo de 5%.

Eu comecei a escrever em blogues em 2005, com o Voltas em Torno do Umbigo. Em outubro de 2006 eu lancei um “post” com o título de “A Greve dos Bancários Acabou”, o que faz com que a cada ano, na época do dissídio este “post” volte a ser pesquisado e encontrado no Google.

Lá vamos nós de novo!

Mas, por enquanto, a greve dos bancários, em 2009, ainda nem começou!


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Honduras, Etc.

HONDURAS ETC.
O risco de violência em Honduras ocupou os sites, ontem no Brasil. E o espanhol "El País" deu o artigo "América Latina, a democracia abre fogo", dizendo que "os acontecimentos de Guatemala, Peru e Honduras tiram credibilidade da democracia liberal e reforçam popularidade de Chávez". O golpe hondurenho, de resistência ao venezuelano, acabou elevando sua "legitimidade em toda a região".

Trecho da Coluna Toda Mídia, na Folha de São Paulo, de 21 de julho de 2009.

São amostras dos “liberais” latino-americanos.

Na Guatemala se utilizaram de um assassinato de um jornalista e uma gravação em vídeo para tentar depor o presidente eleito. No Peru se tentou entregar partes da Amazônia à exploração mineral contra a vontade das comunidades indígenas dali. E em Honduras este golpe de estado.


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A direita latina contra-ataca ante a hesitação de Obama

A direita latina contra-ataca ante a hesitação de Obama

"Distração" dos Estados Unidos permite que a situação golpista em Honduras se cristalize e incentiva setores conservadores em outros países da América Central

IMMANUEL WALLERSTEIN

O GOVERNO de George W. Bush foi o momento da maior onda de vitórias dos partidos à esquerda do centro na América Latina, em mais de dois séculos. O governo de Barack Obama corre o risco de ser o momento da vingança da direita na região.
O motivo pode ser o mesmo: a combinação entre o declínio do poderio americano e a posição central que os EUA ainda mantêm na política mundial. Os EUA são incapazes de se impor, mas ainda assim são vistos como aliados necessários por quase todo o mundo.
O que aconteceu em Honduras? O país vem sendo há muito tempo um dos mais seguros pilares das oligarquias latino-americanas -uma classe dominante arrogante e insubmissa, com estreitas conexões com os EUA, em um país que abriga uma grande base militar americana. As Forças Armadas do país são cuidadosamente recrutadas de maneira a evitar qualquer contágio por oficiais com simpatias populistas.
Como oriundo da classe dominante, a expectativa era a de que Zelaya continuasse a jogar o jogo como os presidentes hondurenhos sempre jogaram. Mas, em vez disso, sua posição política começou a ganhar tons esquerdistas. Zelaya empreendeu programas internos que, na verdade, faziam alguma coisa pela vasta maioria da população -construção de escolas em regiões rurais remotas, aumento no salário mínimo, criação de clínicas de saúde. Após dois anos, aderiu à Alba, a organização de cooperação internacional fundada pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez.
Depois, ele propôs realizar um plebiscito sobre a opinião da população quanto à possível convocação de uma Assembleia Constituinte. A oligarquia berrou que isso era uma tentativa de mudar a Constituição para que Zelaya pudesse disputar um segundo mandato. Mas, como o plebiscito seria realizado na mesma data em que a eleição de seu sucessor, a alegação era claramente falsa.
Por que, então, o Exército conduziu um golpe de Estado, com apoio da Corte Suprema, do Legislativo e da Igreja Católica? Dois fatores foram decisivos: a opinião desses grupos sobre Zelaya e sua opinião sobre os EUA. Para a oligarquia hondurenha, Zelaya traiu sua classe e por isso merece ser punido, para servir como exemplo.
E quanto aos EUA? Quando o golpe aconteceu, alguns dos mais ruidosos comentaristas de esquerda da blogosfera o definiram como "golpe de Obama". Mas isso ignora a realidade. Nem Zelaya, nem seus partidários nas ruas, nem Chávez e nem Fidel Castro analisam a situação de maneira tão simplista. Todos eles percebem a diferença entre Obama e a direita americana (políticos ou comandantes militares) e expressaram repetidamente uma análise muito mais balanceada.
Parece bastante claro que a última coisa que o governo Obama desejava era um golpe como esse. O golpe, na verdade, foi uma tentativa de forçar Obama a uma atitude. E essa posição foi sem dúvida encorajada por importantes figuras da direita americana, entre as quais Otto Reich, o americano de origem cubana que assessorava Bush sobre a política regional. Foi algo parecido com a tentativa do presidente Mikhail Saakashvili, da Geórgia, de forçar uma ação dos EUA, ao invadir a Ossétia do Sul. Aquela também foi uma ação empreendida com a conivência da direita dos EUA. Mas não funcionou porque os soldados da Rússia impediram.
Obama está vacilando desde o golpe em Honduras. E por enquanto a direita hondurenha e dos EUA está contente por ter conseguido reverter a política americana. Bastam algumas de suas declarações mais absurdas como prova. O chanceler hondurenho apontado após o golpe, Enrique Ortez, afirmou que Obama era "um negrinho que não sabe nada de nada". O embaixador dos EUA protestou contra o insulto, e Ortez terminou transferido a outro posto.
A direita dos EUA é mais polida, mas não menos feroz. O senador republicano Jim DeMint, a deputada de origem cubana Ileana Ros-Lethinen e o advogado conservador Manuel Estrada vêm insistindo em que o golpe era justificado porque, na verdade, não foi um golpe, e sim uma defesa da Constituição hondurenha. E Jennifer Rubin, uma blogueira de direita, publicou um post intitulado "Obama está errado, errado, errado sobre Honduras".
A direita hondurenha está tentando ganhar tempo, até que se encerre o mandato de Zelaya. Caso consigam realizar esse objetivo, terão vencido. E as direitas guatemalteca, salvadorenha e nicaraguense estão assistindo a tudo, ansiosas por promover golpes contra os governos de seus países.
A esquerda chegou ao poder na América Latina devido ao momento econômico propício e à distração dos EUA. Agora, a distração continua, mas o momento econômico é pior. E a esquerda leva a culpa por estar no poder, ainda que na verdade haja pouco que os governos de esquerda possam fazer quanto à economia mundial.
Será que os EUA podem fazer algo mais com relação ao golpe? Bem, é evidente que sim. Primeiro, Obama poderia oficialmente classificar o golpe como golpe. Isso faria com que passasse a valer a lei americana que dispõe que toda a assistência dos EUA a Honduras seja suspensa. Ele poderia retirar o embaixador americano do país.
Poderia dizer que não há nada a negociar, em lugar de insistir em "mediação" entre o governo legítimo e os líderes do golpe.
Por que não faz tudo isso? É simples. Há pelo menos quatro outros itens de grande urgência em sua agenda: a confirmação de Sonia Sotomayor para a Suprema Corte; a confusão no Oriente Médio; sua necessidade de aprovar ainda neste ano seu pacote de saúde; e a pressão pela abertura de um inquérito sobre os atos ilegais do governo Bush. Lamento, mas Honduras ocupa o quinto lugar.
Assim, Obama vacila. E ninguém ficará satisfeito. Zelaya pode ser restituído ao seu posto, mas talvez só daqui a três meses. Tarde demais. Melhor ficar de olho na Guatemala.

IMMANUEL WALLERSTEIN, pesquisador sênior na Universidade Yale, é autor de "O Declínio do Poder Americano" (Contraponto). Este artigo foi distribuído pela Agence Global.

Texto publicado na Folha de São Paulo, de 16 de julho de 2009.

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A Marinha e os submarinos franceses

Folha de São Paulo:

Senhor Editor,

Sobre a coluna “A Empreitada das Armas”, do jornalista Janio de Freitas (14/7), o Ministério da Defesa esclarece:

Não é possível fazer comparações entre o acordo Brasil-França e a proposta da empresa alemã IKL.
A proposta alemã era apenas para a construção de dois submarinos convencionais (propulsão diesel-elétrica), sem evolução para um submarino nuclear, pois a Alemanha não os produz (detém zero por cento deste mercado). Também, não haveria transferência de tecnologia de projeto, nem de manutenção, mas apenas de construção, e de forma limitada. A “seção de vante” (proa) dos atuais submarinos brasileiros veio pronta da Alemanha e a manutenção dos sistemas de combate só é feita com presença de técnicos alemães.

Já a proposta francesa inclui a construção, no Brasil, de quatro submarinos convencionais, que servirão para a capacitação do País no desenvolvimento de um submarino com propulsão nuclear, com respectivas transferências de tecnologias, tanto de construção, quanto de projeto, inclusive de seus sistemas de combate. Essa proposta inclui, também, o projeto e a construção de um estaleiro dedicado à fabricação de submarinos nucleares (e convencionais) e de uma nova base naval, capaz de abrigar submarinos nucleares. A parte nuclear do submarino será integralmente nacional, desenvolvida pela Marinha do Brasil.

Em relação à construção de um novo estaleiro e da nova base, ela está prevista desde 1993, para a área de Sepetiba, o que torna inconsistente a acusação de ser “imposição” dos franceses. Considerar que essas obras seriam desnecessárias, implica ignorar que submarinos nucleares só podem ser construídos em estaleiros a isso dedicados e que atendam a requisitos tecnológicos e ambientais bastante específicos, que, hoje, não são atendidos por nenhum dos estaleiros existentes no Brasil. Além disso, a atual base dos submarinos convencionais, na Baía de Guanabara, sequer tem profundidade para um submarino desse tipo.

O Brasil exigiu que a base e o estaleiro fossem construídos por empresa brasileira, cabendo à responsável pelo projeto, a francesa DCNS, escolher, livremente, seu parceiro, tendo sido selecionada a construtora Odebrecht. Independentemente de quem fosse o responsável pelo projeto, não caberia licitação da obra, tendo em vista a necessidade de sigilo do projeto (plantas de instalações nucleares militares, não passíveis da divulgação pública exigida por uma licitação).

Ressalta-se que o casco do Scorpène já tem o desenho típico de um submarino nuclear e emprega tecnologia desenvolvida no projeto do submarino Barracuda, a nova classe de submarinos nucleares de ataque franceses, ainda em construção. A Marinha do Brasil dispõe, ainda, de farta documentação que mostra o elevado grau de satisfação da Armada Chilena com os Scorpène convencionais operados por aquele país.

José Ramos Filho
Coordenador de Comunicação Social
Ministério da Defesa

Esta resposta ao Jânio de Freitas, foi vista no blog do Luís Nassif.

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"No Bonde"

No bonde da história

RIO DE JANEIRO - "Somos um povo decente governado por ladrões!" Esta manchete foi repetida algumas vezes por um jornal do Rio, no tumultuado ano de 1954, que teve seu clímax em 24 de agosto, dia em que um presidente da República que não era ladrão se matou.
Alunas de um curso de comunicação me perguntaram por que a imprensa não impede a onda de corrupção oficial que as assusta, uma delas estava tratando os papéis para ir embora definitivamente, enojada da vida nacional.
Como sempre, respondi que era a pessoa menos indicada para responder a qualquer pergunta sobre política e moral, apenas que, na faixa etária em que elas estavam, eu também pensara em dar o fora, mas por outros motivos. Anos mais tarde, peguei meus trapinhos e fui parar em Havana, não aguentando a citada "vida nacional".
Mesmo assim, lembrei que a corrupção, aqui e em qualquer lugar, nasceu lá atrás, quando o Criador mandou que todos, homem e mulher inclusive, crescessem e se multiplicassem. Esta multiplicação deu no que deu. Arrependido, o Criador não deu uma entrevista exclusiva para a "Veja". Foi bem mais radical e eficiente: abriu as cataratas do céu e inundou a Terra, só salvando um justo e os animais, um de cada espécie.
Não adiantou. As filhas de Noé embebedaram o pai e deste incesto nascemos todos. Em tempos mais românticos, quando todos andavam em bondinhos puxados por burros, um cidadão ergueu a voz e começou a citar as bandalheiras da vida nacional da época. Suando de indignação, depois de lembrar casos de nepotismo, fraude eleitoral, compras superfaturadas do governo e rombos no orçamento federal, levantou-se do banco e perguntou a todos: "Afinal, senhores, aonde estamos?" O poeta e historiador Luiz Edmundo, lá atrás, respondeu: "No bonde!"

Texto de Carlos Heitor Cony, na Folha de São Paulo, de 14 de julho de 2009.


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Maioria dos alemães orientais sente que a vida era melhor no comunismo

Maioria dos alemães orientais sente que a vida era melhor no comunismo

Por Julia Bonstein

A apologia da República Democrática Alemã está em alta, duas décadas depois da queda do muro de Berlim. Os jovens e os mais ricos estão entre os que desaprovam as críticas segundo as quais a Alemanha Oriental era um "Estado ilegítimo". Numa nova pesquisa, mais da metade dos antigos alemães orientais defende a RDA.

A vida de Birger, nascido do Estado de Mecklenburg-Pomerânia Ocidental no nordeste da Alemanha, poderia ser vista como uma história do sucesso alemão. O muro de Berlim caiu quando ele tinha dez anos. Depois de se formar no colegial, ele estudou economia e administração em Hamburgo, morou na Índia e na África do Sul, e depois conseguiu um emprego numa companhia na cidade ocidental de Duisburg. Hoje, Birger, 30, planeja velejar no Mediterrâneo. Ele não quis usar seu nome verdadeiro nesta reportagem, porque não quer ser associado à antiga Alemanha Oriental, que ele vê como "um rótulo com conotações negativas."

Mesmo assim, sentado num café em Hamburgo, Birger defende o antigo país comunista. "A maioria dos cidadãos alemães orientais tinha uma vida boa", diz ele. "Com certeza, não acho que aqui é melhor." Por "aqui", ele quer dizer a Alemanha reunificada, que ele submete a comparações questionáveis.

"No passado havia a Stasi [polícia secreta da Alemanha Oriental], e hoje existe (o ministro de interior da Alemanha Wolfgang) Schäuble - ou o GEZ (o centro de arrecadação de impostos das instituições de rádio e televisão públicas da Alemanha) - que coleta informações sobre nós." Na opinião de Birger, não há diferenças fundamentais entre a ditadura e o momento atual. "As pessoas que vivem na linha de pobreza hoje não têm liberdade para viajar."

Birger não é de forma alguma um jovem sem instrução. Ele está consciente da espionagem e da repressão que aconteceram na antiga Alemanha Oriental, e, segundo ele, "não era uma coisa boa que as pessoas não pudessem sair do país, e muitos foram oprimidos". Ele não é fã do que acredita ser uma nostalgia desprezível pela antiga Alemanha Oriental. "Eu não construí um templo para adoração dos pickles Spreewald na minha casa", disse ele, referindo-se à conserva que fazia parte da identidade da Alemanha Oriental. De qualquer forma, ele não perde tempo em argumentar contra os que criticam o lugar que seus pais chamavam de lar: "Não dá para dizer que a RDA era um estado ilegítimo, e que tudo está bem hoje".

Como um defensor da ditadura da antiga Alemanha Oriental, o jovem compartilha da visão da maioria das pessoas da parte oriental da Alemanha. Hoje, vinte anos depois da queda do muro de Berlim, 57%, ou a maioria absoluta, de alemães orientais defendem a antiga Alemanha Oriental. "A RDA tinha mais pontos positivos do que negativos. Havia alguns problemas, mas a vida era boa lá", dizem 49% dos entrevistados. Oito por cento dos alemães orientais se opõem veementemente a todas as críticas à sua antiga terra natal e concordam com a declaração: "a RDA tinha, na maior parte, pontos positivos. A vida lá era mais feliz e melhor do que na Alemanha reunificada de hoje".

O resultado dessas pesquisas, divulgado na sexta-feira em Berlim, revela que a glorificação da antiga Alemanha Oriental atingiu o cerne da sociedade. Hoje, não é mais uma mera nostalgia eterna que chora a perda da RDA. "Uma nova forma de Ostalgia (nostalgia pela antiga RDA) se constituiu", diz o historiador Stefan Wolle. "A ânsia pelo mundo ideal da ditadura vai muito além das antigas autoridades governamentais." Até os jovens que quase não tiveram experiência com a RDA a estão idealizando hoje. "O valor de sua própria história está em
jogo", diz Wolle.

As pessoas estão ignorando os defeitos da ditadura, como se as críticas ao Estado fossem um questionamento de seu próprio passado. "Muitos alemães orientais percebem as críticas ao sistema como um ataque pessoal", diz o cientista político Klaus Schroeder, 59, diretor de um instituto na Universidade Livre de Berlim que estuda o antigo Estado comunista.

Ele alerta a respeito dos esforços para subestimar a ditadora SED por parte dos jovens cujo conhecimento sobre a RDA é derivado principalmente de conversas familiares, e não tanto daquilo que aprenderam na escola. "Nem mesmo metade desses jovens na parte oriental da Alemanha descrevem a RDA como uma ditadura, e a maioria acredita que a Stasi era um serviço de inteligência normal", concluiu Schroeder num estudo de 2008 feito com estudantes. "Esses jovens não podem, e na verdade não querem, reconhecer o lado sombrio da RDA."

"Retirados do paraíso"

Schroeder fez inimigos com declarações como essa. Ele recebeu mais de quatro mil cartas, algumas delas furiosas, em resposta a reportagens sobre seu estudo. Birger, de 30 anos, também enviou um e-mail para Schroeder. O cientista político agora compilou uma seleção de cartas típicas para documentar o clima opinativo no qual a RDA e a Alemanha unificada são discutidas na parte oriental da Alemanha. Parte do material proporciona um insight chocante sobre os pensamentos dos cidadãos decepcionados e irritados. "Sob a perspectiva atual, acredito que fomos retirados do paraíso quando o muro caiu", escreveu uma pessoa, e um homem de 38 anos "agradece a Deus" por ter tido a chance de viver na RDA, acrescentando que só depois da reunificação da Alemanha ele observou a existência pessoas que temiam por sua existência, pedintes e pessoas sem-teto.

A Alemanha de hoje é descrita como um "Estado de escravos" e uma "ditadura do capital", e alguns autores das cartas rejeitam a Alemanha por ser, em sua opinião, muito capitalista ou ditatorial, e certamente não democrática. Schroeder acha essas declarações alarmantes. "Temo que a maioria dos alemães orientais não se identifiquem com o atual sistema sociopolítico."

Muitos dos autores das cartas são pessoas que não se beneficiaram da reunificação da Alemanha ou que preferem viver no passado. Mas também incluem pessoas como Thorsten Schön.

Depois de 1989, Shön, um artesão de Stralsund, cidade do mar Báltico, a princípio atingiu um sucesso depois do outro. Apesar de não ser mais dono do Porsche que comprou depois da reunificação, o tapete de pele de leão que ele comprou numa viagem à África do Sul - uma das muitas que fez ao exterior nos últimos 20 anos - ainda está estendido no chão de sua sala de estar. "Não há dúvida: eu tive sorte", disse o homem de 51 anos. O grande contrato que ele conseguiu durante o período após a unificação tornou as coisas mais fáceis para Schön abrir seu próprio negócio. Hoje ele tem uma visão clara de Strelasund direto da janela de sua casa avarandada.

"As pessoas mentem e trapaceiam em todo lugar hoje"

Objetos de Bali decoram sua sala de estar, e uma versão em miniatura da Estátua da Liberdade fica ao lado do seu DVD player. Apesar de tudo, Schön senta-se no sofá e conta com entusiasmo sobre os bons e velhos tempos na Alemanha Oriental. "Antigamente, as áreas de camping eram lugares onde as pessoas desfrutavam da liberdade juntas", diz ele. O que ele mais sente falta hoje é "daquele sentimento de companheirismo e solidariedade". A economia da escassez, completada pelas trocas, era "mais como um hobby". Se ele tem uma ficha na Stasi? "Não estou interessado nisso", diz Schön. "Além do mais, seria muito desapontador."

Sua avaliação sobre a RDA é clara: "No que me diz respeito, o que tivemos naquela época foi menos ditatorial do que temos hoje". Ele quer ver salários iguais e pensões iguais para os moradores da antiga Alemanha Oriental. E quando Schön começa a reclamar da Alemanha unificada, sua voz contêm um elemento de satisfação consigo mesmo. As pessoas mentem e trapaceiam em todo lugar hoje, diz ele, e as injustiças de hoje são simplesmente perpetradas de uma forma mais astuta do que na RDA, onde não se ouvia falar de salários de fome e pneus de carro cortados. Schön não tem nada a dizer sobre suas próprias experiências ruins na Alemanha atual. "Estou melhor hoje do que antes", diz ele, "mas não estou mais satisfeito."

O pensamento de Schön envolve menos a lógica fria do que a necessidade de defender seu ponto. O que o torna particularmente insatisfeito é "o modo falso como o Oeste pinta o Leste hoje". A RDA, diz ele, "não era um Estado injusto", mas "meu lar, onde minhas conquistas eram reconhecidas". Schön repete obstinadamente a história de como levou anos de trabalho duro para ele começar seu próprio negócio em 1989 - antes da reunificação, ele acrescenta. "Aqueles que trabalharam duro também foram capazes de se dar bem na RDA". Isso, diz ele, é uma das verdades que são persistentemente negadas nos programas de debate, quando os alemães ocidentais "agem como se os alemães orientais fossem todos um pouco tolos e ainda deveriam estar de joelhos em gratidão pela reunificação". O que exatamente há para ser celebrado, Schön se pergunta?

"Memórias tingidas de cor-de-rosa são mais fortes do que as estatísticas de pessoas tentando escapar e os pedidos de vistos de saída, e ainda mais fortes do que os arquivos sobre assassinatos no muro de Berlim e sentenças políticas injustas", diz o historiador Wolle.

São as memórias de pessoas cujas famílias não foram perseguidas e vitimizadas na Alemanha Oriental, de pessoas como Birger, de 30 anos, que diz hoje: "Se a reunificação não tivesse acontecido, eu também teria tido uma vida boa".

A vida como um cidadão da RDA

Depois de se formar na universidade, diz, ele teria sem dúvida aceitado uma "posição de gerência em alguma empresa", talvez da mesma forma que seu pai, que era o presidente de uma cooperativa de fazendeiros. "A RDA não tinha nenhuma influência na vida de um cidadão da RDA", conclui Birger. Essa visão é compartilhada por seus amigos, todos eles com estudo superior e filhos de ex-alemães orientais, nascidos em 1978. "Reunificação ou não", concluiu o grupo de amigos recentemente, de fato não faz diferença para eles. Sem a unificação, suas opções de viagem seriam Moscou ou Praga, em vez de Londres e Bruxelas. E o amigo que trabalha no governo em Mecklenburg hoje provavelmente teria sido um oficial leal ao partido na RDA.

O jovem expressa suas visões de forma equilibrada e com poucas palavras, apesar de parecer um pouco desafiador em alguns momentos, como quando diz: "Eu sei, o que estou dizendo não é tão interessante. A história das vítimas é mais fácil de contar."

Birger não costuma mencionar sua origem. Em Duisburg, onde ele trabalha, quase ninguém sabe que ele é da Alemanha Oriental. Mas nessa tarde, Birger está disposto a contradizer "a história escrita pelos vitoriosos". "Na percepção do público, há apenas vítimas e carrascos. Mas as massas ficam à margem."

Eis alguém que se sente pessoalmente afetado quando o terror e a repressão da Stasi são mencionados. Ele é um acadêmico que sabe "que ninguém pode consentir com os assassinatos no muro de Berlim". Entretanto, no que diz respeito às ordens dos guardas no muro de matar os que tentassem fugir, ele diz: "Se há um grande sinal ali, você não deveria ir lá. Foi totalmente negligente".

Isso levanta uma antiga questão mais uma vez: existia uma vida real em meio à fraude? Subestimar a ditadura é visto como o preço que as pessoas pagam para preservar seu autorrespeito. "As pessoas estão defendendo suas próprias vidas", escreve o cientista político Schroeder, descrevendo a tragédia de um país dividido.

(Tradução: Eloise De Vylder)

Texto da Der Spiegel, republicado no UOL.

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Fisk: Irã dos aiatolás é um experimento político no coração da "Xia"

por Robert Fisk, no The Independent

A imagem mais nauseabunda de toda a tragédia Iraniana não mostrava corpos ensanguentados de manifestantes em Teerã; foi imagem distribuída pela Reuters, do ex-príncipe ex-coroado Reza Pahlavi, "tentando controlar as lágrimas" em Washington, e declarando que Neda Agha Sultan, a jovem morta pelos assassinos comandados por Ahmadinejad, semana passada, "estará para sempre em meu bolso". Santo deus! No bolso dele! "Juntei Neda à lista das minhas filhas" – disse ao mundo o filho do falecido Xá, brutal e impiedoso.

Nem é preciso dizer que o filho da "Luz dos Arianos" não juntou à "lista de suas filhas" as muitas, as milhares de mulheres também inocentes e jovens torturadas até a morte pela sádica polícia secreta de seu pai.

Em 1979, vi um homem que torturou uma mulher amarrada a uma chapa de metal e posta sobre bicos acessos de um fogão a gás. Chamava-se Mohamed Sadafi, levantador de pesos e lutador profissional. "Você matou minha filha", o pai daquela infeliz mulher gritou para Sadafi, à minha frente. "A pele queimou por partes, até ela ficar paralisada. Pode-se dizer que foi assada", Sadafi respondeu ao homem, sem explicar por que a moça ter-se-ia enforcado depois de sete meses de cárcere. Mas "não havia nem lençóis na prisão, nos quais ela pudesse enforcar-se" – o pai ainda berrou, furioso. Ah, sim, havia, sim, Sadafi respondeu. "Eu vi muito bem as notas da lavanderia da prisão de Evin."

Não, não acho que Reza Shah tenha posto aquela moça "no bolso". Mas tampouco a moça foi salva pelos clérigos xiitas, que se diz que apoiaram o golpe anglo-americano original contra Mohammed Mossadeq, líder democraticamente eleito no Irã em 1953. Ao mesmo tempo em que avançava o golpe, um alto clérigo de Teerã foi mandado a Qom para persuadir o aiatolá daquela época, Sayed Mohammad Hossein Boroujerdi, a lançar uma fatwa, conclamando a uma guerra santa contra os comunistas do Partido Tudeh, aos quais Mossadeq aliara-se. Dizia-se que um certo Ruhollah Khomeini fora encarregado de ordenar a Boroujerdi que tomasse essas providências.

A própria análise da CIA sobre o golpe – o qual, é claro tem sido lembrado cada vez mais entusiasticamente por Ahmadinejad e seus asseclas durante as últimas duas semanas – inclui uma entrevista pós-golpe entre Kermit Roosevelt, chefe da CIA em Teerã, e Winston Churchill, que vivia seus últimos meses como primeiro-ministro inglês. "Foi momento muito tocante" – diz o relatório da CIA sobre o encontro Roosevelt-Churchill.

"O primeiro-ministro parecia não estar em boas condições físicas e de saúde (...) com muita dificuldade para ouvir; com problemas ocasionais para articular palavras; e com o que parecia ser uma dificuldade de ver à sua esquerda. Apesar disso, mostrou grande entusiasmo pela operação. Chegou a manifestar desejo de "ter alguns anos a menos", e poder servir sob as ordens de Roosevelt: "Nossa operação deu-nos inesperada e maravilhosa oportunidade de modificar todo o panorama no Oriente Médio."

É exatamente o mesmo discurso, explícito, de Condoleezza Rice. Lembram as "dores do parto" de que Condi falava, do parto do qual nasceria um novo Oriente Médio, quando os libaneses afogavam-se em sangue, atacados pelas bombas israelenses em 2006? Pois "todo o panorama no Oriente Médio", de Churchill, só mudou, mesmo, em 1979.

Nesse caso... Que fim levou a famosa revolução? Foi realmente um florescente retorno aos valores básicos do islamismo xiita, volta aos anos dourados de Ali e Hussein, quando a autoridade islâmica jamais poderia ser imposta ao mesmo tempo que um governo secular? Essa é a narrativa que está sendo implantada agora em Teerã. Essa é a história em que o Aiatolá Khamenei diz que acredita; mediante a qual o aiatolá Khomeini – apesar dos conselhos que deu a Boroujerdi em 1953 – levou o Irã de volta à pureza das raízes islâmicas xiitas, segundo as quais ninguém deve tentar separar o poder religioso e o poder secular.

Por extraordinária coincidência, acaba de ser publicado mais um livro do professor Nader Hashemi da Universidade de Denver, e que, provavelmente, é hoje o livro mais absolutamente necessário para que se entendam os dramáticos eventos no Irã.

Reverente aos terríveis deveres acadêmicos, o prof. Hashemi deu ao livro um título que mais parece aviso de "NÃO LEIA": Islam, Secularism, and Liberal Democracy: Toward a Democratic Theory for Muslim Societies. Esqueça o título. O livro é leitura absolutamente indispensável e vale cada página. (...)

No livro está citada uma fala de Khomeini, de quando vivia exilado na cidade iraqueana de Najaf, em 1970. "Esse slogan da separação entre religião e política e a exigência de que os sábios islâmicos não intervenham nos negócios sociais e políticos são ideias formuladas e propagandeadas pelos imperialistas; só os infieis e maus muçulmanos as repetem. Quando, no tempo do Profeta, separaram-se religião e política? Algum dia houve separação, os clérigos de um lado e, do lado oposto, um grupo de políticos e líderes?"

Outra vez, em 1999, o aiatolá Abolghassem Khazali, um duro ex-membro do Conselho dos Guardiões, insistiu que "quando um juiz como o aiatolá Mesbah Yazdi" – hoje apoiador dedicado e próximo de Ahmadinejad, com forte desejo de suceder Khamenei – "pronuncia-se sobre algo, todos temos de responder 'Devo ouvir e devo obedecer'. Se há algum perigo, virá sempre dos slogans da 'sociedade civil'. A situação hoje chegou a tal ponto, que se debate a existência de deus nas universidades".

Não surpreende que a Universidade de Teerã tenha sido invadida e violada pela milícia Basij, semana passada. Não surpreende que a tendência 'secular' de Mir-Hossein Mousavi pareça hoje tão perigosa para o regime.

Mas, como Hashemi observa – e aqui está o ponto mais frágil do regime Iraniano – "Há consenso quase completo de que a doutrina Khomeini, do governo pelos juízes islâmicos, marcou rompimento significativo na tradição xiita, no que tenha a ver com o relacionamento entre religião e política. Importantes aiatolás, no mundo xiita (inclusive no Irã, naquele momento), opuseram-se fortemente à doutrina política de Khomeini, considerada inovação e rompimento radical com o papel político dos religiosos na sociedade política, papel tradicionalmente muito discreto."

Então é isso. Khomeini inventou o chamado "velayat-e faqih" (governo do líder religioso); na história do islamismo jamais houve qualquer tipo de República Islâmica. O Irã dos aiatolás é um experimento político. Um experimento que poderá ser continuado ou interrompido. As duas últimas semanas sugerem que a República Islâmica terá de trabalhar muito, se quiser sobreviver.

Enquanto isso, lembremos o que disse Mossadeq, há 46 anos: "Nenhuma nação jamais chegará a lugar algum conduzida por ditadores."

O artigo original, em inglês, pode ser lido aqui.

Este texto veio do Vi o Mundo.


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sábado, julho 18, 2009

José Simão censurado

Juiz proíbe que Simão fale de Juliana Paes

Atriz alega que teve a honra atingida; colunista vê censura e diz que decisão tolhe liberdade de expressão

DA REPORTAGEM LOCAL

O juiz João Paulo Capanema de Souza, do 24º Juizado Especial Cível do Rio de Janeiro, determinou que o colunista José Simão, da Folha, se abstenha de fazer referências à atriz Juliana Paes, confundindo-a com a personagem "Maya", da novela "Caminho das Índias", da Rede Globo, sob pena de multa de R$ 10 mil por nota veiculada nos meios de comunicação.
A atriz moveu duas ações de indenização, uma contra o jornal e outra contra o colunista. Ela alega que Simão "vem publicando reiteradamente nos meios de comunicação em que atua, sobretudo eletrônicos (internet), textos que têm ultrapassado os limites da ficção experimentada pela personagem e repercutido sobre a honra e moral da atriz e mulher e sua família".
Anteriormente, a atriz havia ajuizado ação só contra a Folha na 4ª Vara Cível do Rio de Janeiro, mas não obteve a medida liminar. No último dia 6, o juiz Carlos Alfredo Flores da Cunha indeferiu o pedido.
Segundo Flores da Cunha, "atriz famosa, a autora será alvo de comentários e críticas, isto é inevitável. E não é possível, de antemão distinguir o que é mera informação, crítica jornalística, comentário irrelevante, ofensa etc. Tratando-se, portanto, de matéria controvertida, desacolho o pleito de antecipação de tutela".
Ao conceder a antecipação de tutela, o juiz Capanema de Souza disse não ver "ofensa ou aspecto pejorativo" nas considerações do colunista "sobre a "poupança" da atriz ou sobre o fato de sua bunda ser grande", já que "sua imagem esteve e está à disposição de quem quisesse e ainda queira ver", e qualificá-la "nos limites do tolerável".
Mas considerou que o colunista ofendeu "a moral da mulher Juliana Couto Paes, seu marido, sua família", ao "jogar com a palavra "casta" e dizer que Juliana "não é nada casta"."
José Simão diz que tomou conhecimento das ações ao ler a coluna do jornalista Ancelmo Gois, na edição desta quinta-feira no jornal "O Globo".
"É censura. A pessoa não pode determinar quando e o que falar dela. Isso tolhe totalmente a liberdade de expressão", afirmou. "Na hora em que estava escrevendo, achava que estava elogiando a atriz. Não quero me retratar", disse Simão.
Segundo o colunista, "a imagem que Juliana Paes passa para o Brasil é que ela é a "gostosa", e que todo homem fica "babando". Não vejo por que o termo "casta" ofende uma mulher moderna, liberada, atriz da Globo. Para mim, casta é pudica, e eu não admiro pessoas castas. É coisa medieval", afirmou.
As advogadas Taís Gasparian e Mônica Galvão, que representam a Folha, consideram que a decisão do juiz Capanema de Souza "trata o humor como ilícito e, no fim das contas, é a mesma coisa que censura".

Notícia da Folha de São Paulo, de 17 de julho de 2009.

A decisão de proibir a menção de Juliana Paes nas colunas do humorista José Simão é absurda. Embora eu não possa dizer com certeza, acredito que a atriz seja muito referida no programa humorístico Casseta e Planeta, da mesma TV Globo onde Juliana trabalha. Ela vai entrar com ação contra os colegas?


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sexta-feira, julho 17, 2009

Velórios de vida e morte e uma ínfima lição de filosofia

Velórios de vida e morte

NUNCA FUI de curtir velórios. Na realidade, detesto ir a qualquer compromisso social: batizados, casamentos, aniversários, noites de autógrafos, estreias teatrais. Dos enterros, sobretudo, procuro conservar a máxima distância. Costumo romper relações sociais com os amigos que morrem, fico na saudade e fico bastante. Cerimônias festivas ou fúnebres, só mesmo quando não dá para arranjar uma desculpa posterior, ou quando sou apanhado em flagrante.
Acontece que esse horror aos enterros tem agora uma justificativa: é que a plebe está aproveitando a ocasião para fazer festanças. Não sei se foi sempre assim, mas a mania propagou-se e não poupa defunto, ilustre ou não. No enterro do Glauber Rocha, por exemplo, foram feitas e ditas tantas besteiras que por pouco o Glauber não se levantava e dava banana do caixão.
Aos poucos, os velórios estão ficando parecidos com noites de autógrafos, festivais disso ou daquilo, shows promocionais de lançamentos musicais, exposições de variadas artes. Tudo bem, espetáculo é espetáculo, o show deve continuar -dizem os entendidos. Para o velório de Michael Jackson, o mais recente em escala mundial, distribuíram (ou venderam) 17 mil ingressos, com direito a barraquinhas de pipoca e cachorro quente nas imediações. Até do Camboja veio equipe de tevê para gravar a cerimônia.
Muitas vezes o evento fúnebre é aproveitado para declarações de princípios, que muitas vezes não são os mesmos do falecido. Lembro o velório do Mário Pedrosa, um sujeito curioso, papa absoluto da nossa crítica de artes plásticas, que apesar dos 80 anos dava a impressão de ter quinze. Sua trajetória na cultura nacional foi marcada pela dignidade, pela paixão, pela pureza. A exaltação que colocava na política tornou-se até anedótica.
Sofreu exílios, prisões, mas foi em frente. Abriu clareiras em nosso feudo acadêmico e tal como Otto Maria Carpeaux, que ficou enjoado da literatura e nos últimos anos de vida só pensava em política, Mário Pedrosa chutou a arte para corner e meteu os peitos na participação política, que para ele era uma forma de viver superior à arte.
Mas nem Mário Pedrosa foi grande o bastante para que o pessoal ficasse calado em seu velório. O que houve de bobagem daria para encher uma biblioteca. Cito apenas o exemplo: um psiquiatra nativo (parece que nascido em Minas, mas era nativo assim mesmo) disse que havia aprendido com Mário que "não há socialismo sem liberdade nem liberdade sem socialismo".
Bem, não conheci a obra toda de Mário para conferir. De qualquer forma, creio que o psiquiatra se excedeu. A primeira parte de sua afirmação é válida. O socialismo tende à liberdade. Abolindo o lucro, ele estabelece uma relação entre a sociedade e o Estado, e entre os indivíduos entre si, desvinculada de qualquer interesse que não o social.
O lucro, no sistema capitalista, fatalmente gera compartimentos econômicos que transformam cada setor numa gaiola da qual só se sai pela droga, pelo roubo ou pela competição doentia, tornando-se selvagem.
Agora, quanto à segunda parte ("não há liberdade sem socialismo") a besteira é primária. Liberdade faz parte da "essentia" humana. O socialismo, como qualquer outro "ismo!", é "acidens". Ou seja, acidente.
Não estou aqui para ensinar lógica aristotélica de graça, mas confundir um valor essencial com um valor acidental é burrice que não pode ser atribuída nem ao Mário nem a ninguém. A liberdade não foi criada pelo ser humano, pela sociedade humana. Tal como a consciência, ela é um valor em si, uma categoria "apta inesse pluribus", ou se quiserem, universal.
Já o socialismo, como o tribalismo, o teosofismo, o catolicismo, o canibalismo, o fascismo, o filatelismo, o escotismo e o feminismo são bolações humanas, feitas pelo homem e para uma espécie de homem, são acidentais e incidentais. Algumas prestam, outras nem tanto e muitas são perniciosas. A liberdade é apenas como a vida e a morte. Um valor absoluto que se conquista durante a vida e em alguns casos só se ganha depois da morte.

Texto de Carlos Heitor Cony, na Folha de São Paulo, de 10 de julho de 2009.


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quinta-feira, julho 16, 2009

Medvedev condena assassinato de ativista na Chechênia

Medvedev condena assassinato de ativista na Chechênia

O presidente russo Dmitry Medvedev expressou "revolta" nesta quinta-feira pela morte da ativista de direitos humanos Natalia Estemirova.

Ele ordenou a abertura de um inquérito sobre o assassinato de Estemirova, que estava investigando supostos abusos de milícias apoiadas pelo governo na Chechênia.

Estemirova foi sequestrada na quarta-feira em Grozny, capital da Chechênia. O seu corpo foi encontrado no mesmo dia na região vizinha da Ingushetia. Ela foi assassinada a tiros.

A ativista, que tinha 50 anos, estava juntando provas para a organização russa de direitos humanos Memorial sobre uma campanha das milícias para incendiar casas de chechenos.

Ela era uma notória crítica do governo checheno do presidente Ramzan Kadyrov, que é aliado de Moscou.

Casa Branca

O diretor da Memorial, Oleg Orlov, culpou as autoridades chechenas pelo assassinato de Etemirova, e disse que ela já havia sido ameaçada de morte no passado.

O presidente checheno não comentou as declarações de Orlov, mas condenou o assassinato, dizendo que o autores do crime "não merecem apoio e precisam ser punidos como os criminosos mais cruéis", segundo informações da agência de notícias russa Interfax.

Ele prometeu assumir pessoalmente o controle da investigação.

Nos Estados Unidos, a Casa Branca divulgou uma nota na qual o governo americano se diz "profundamente perturbado e entristecido pelo [...] assassinato brutal".

"Um crime tão hediondo passa uma mensagem para a sociedade civil russa e para a comunidade internacional e ilustra a trágica deterioração da segurança e da lei no norte do Cáucaso nos últimos meses", afirma a nota da Casa Branca.

Estemirova trabalhou com a jornalista Anna Politkovskaya, assassinada em 2006, e com o ativista Stanislav Markelov, morto em janeiro deste ano.

Em 2007, ela ganhou o primeiro Prêmio Anna Politkovskaya, e também foi premiada pelos parlamentos da Suécia e da Europa.

O assassinato da ativista também foi condenado pelos grupos Human Rights Watch e Anistia Internacional.


Notícia da BBC Brasil.

A notícia original do assassinato, em inglês, na BBC.

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França: Trabalhadores demitidos ameaçam explodir fábrica

Trabalhadores demitidos na França ameaçam explodir fábrica de peças

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Cerca de 360 trabalhadores demitidos da fabricante de autopeças New Fabris, em Chatellerault, na França, fechada em junho, ocuparam ontem a empresa e ameaçaram explodir o local. Eles exigem das montadoras Renault e PSA Peugeot Citroën, principais clientes da New Fabris, indenização de 30 mil euros (US$ 42 mil) para cada um pela demissão.
O delegado da CGT (Confederação Geral do Trabalho), Guy Eyermann, disse à emissora France Info que botijões de gás ligados entre si serão explodidos se não houver acordo até o próximo dia 31.
Segundo os trabalhadores, cilindros ligados com um cordão inflamável foram instalados há cerca de dez dias na parte externa da fábrica.
"Se Renault e PSA se recusarem a nos dar a indenização, isso poderá explodir", disse Eyermann.
Os trabalhadores foram demitidos após a liquidação judicial da empresa, que esteve sob o controle do grupo italiano Zen por seis meses. No próximo dia 20, eles devem reunir-se com o ministro da Indústria do país.
Ainda ontem, porém, o risco foi descartado pela assessora do governo local de Chatellerault (305 km a sudoeste de Paris), Anne Frackowiak. Ela afirmou que o diretor da fábrica havia confirmado que os botijões estavam vazios.
As montadoras Renault e PSA Peugeot Citroën disseram que não cabe a elas o pagamento de eventual indenização, e sim aos acionistas e à administração judicial.
O episódio em Chatellerault segue uma série de atos de violência deflagrados na França desde o agravamento da crise global. Neste ano, executivos de empresas como Sony, Caterpillar e Molex foram feitos reféns na França por trabalhadores demitidos em razão da crise.


Com agências internacionais

Notícia da Folha de São Paulo, de 14 de julho de 2009.

E dizem que o pessoal do MST aqui no Brasil é radical...


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A empreitada das armas 2 - Jobim sinaliza vantagem da França em disputa por caças

Jobim sinaliza vantagem da França em disputa por caças

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

O ministro da Defesa, Nelson Jobim disse ontem, em Paris, que o critério da transferência de tecnologia será fundamental para decidir o país que vai vencer a concorrência para a aquisição pelo Brasil de 36 caças do projeto FX-2. Jobim deu a entender que, por este aspecto, a França teria uma posição privilegiada nas discussões.
"Há uma disposição política do governo francês para a transferência de tecnologia. É uma decisão política tanto do presidente Nicolas Sarkozy quanto do presidente Lula. Existe disposição total dos franceses em caminhar nesse sentido", disse em entrevista na residência do embaixador do Brasil na França, José Maurício Bustani.
Segundo Jobim, a disposição da França em compartilhar tecnologia foi decisiva para a assinatura dos contratos de compra de quatro submarinos do tipo Scorpène, um de propulsão nuclear e 51 helicópteros militares que serão fabricados no Brasil.
O ministro está em Paris para discutir com autoridades francesas a parceria estratégica entre Brasil e França na área de defesa, firmada no ano passado durante visita de Sarkozy ao Brasil.
Jobim também vai conhecer a linha de montagem do Rafale e voar em um modelo do caça francês, construído pela empresa Dassault, que está na disputa do projeto FX-2. Suécia e EUA também estão na concorrência.
Segundo Jobim, a decisão final deve ser divulgada em agosto ou setembro, após análise do laudo que está sendo concluído pela FAB (Força Aérea Brasileira).
Sobre uma possível vantagem do candidato francês, ele disse não ter nenhum "a priori" sobre o assunto, mas concluiu dizendo que "o único país do mundo que tem tecnologia própria para avião, para submarinos de propulsão nuclear e com capacidade de transmissão é a França".
(ANA CAROLINA DANI)

Notícia da Folha de São Paulo, de 14 de julho de 2009.

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A empreitada das armas

A empreitada das armas

OS INDÍCIOS DE manobras do Ministério da Defesa para forçar determinada escolha dos novos caças da FAB estão acompanhados, agora, da revelação de que o ministro Nelson Jobim, na França, inicia a compra de quatro submarinos e um casco por preço dez vezes maior do que outra oferta, de submarinos mais qualificados. E cujo pacote, como negócio e tecnologia, é mais adequado à Marinha brasileira.
A revelação de José Meirelles Passos, repórter consagrado por muitos anos de excelente trabalho para o "Globo" nos Estados Unidos, inclui duas exigências da vendedora francesa mas tipicamente brasileiras: a construção de uma base naval para os submarinos superados, não reivindicada pela Marinha, e a entrega da obra à empreiteira Norberto Odebrecht. Já se sabe, portanto, quem induziu o negócio escorchante no Brasil e, conhecidos os processos das empreiteiras, como foi conquistado.
Também fica compreendida uma providência: a licitação pública foi relegada.
Os submarinos da classe francesa Skorpène foram comprados por apenas dois países: Chile e Malásia, que explicam as três únicas unidades dadas como ativas no mundo. Nem a própria França os utiliza. Em contrapartida, a Marinha brasileira, com quadros técnicos formados na Alemanha, já comprovou sua capacitação tecnológica na construção de quatro submarinos com projeto alemão (são os atuais Tamoio, Tapajó, Timbira e Tikuna), mais atualizados do que o Skorpène.
Assim como na FAB há reservas à compra do caça francês Rafale, na Marinha há reservas ao amplo negócio em torno dos também franceses Skorpène. Os negócios foram articulados por Nelson Jobim e Mangabeira Unger, que para isso chegaram a viajar juntos.

Trecho da coluna de Jânio de Freitas, na Folha de São Paulo, de 14 de julho de 2009.

Comentário: o rearmamento de nossas forças armadas está dando o que falar. De fato, parece que já tínhamos encaminhado a produção de submarinos para a Marinha com tecnologia alemã. Agora temos esta notícia dos submarinos franceses.

Com relação aos novos aviões militares, havia quem dissesse que para um país com extensão continental como o Brasil, bons mesmo seriam os aviões Sukhoi russos, mas parece que o que vem mesmo são os Rafale franceses.

Vai ver que são os antigos laços de amizade entre o Brasil e a França, afinal na primeira metade do século XX recebemos uma missão militar francesa para colaborar na formação de nossos oficiais, e na década de 1970 o Brasil comprou diversos aviões Mirage.


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Eu, pecador, me confesso

Eu, pecador, me confesso

RIO DE JANEIRO - Antes, no melhor das festas, se alguém duvidasse, a imprensa já era tida como quarto poder, uma instituição que exercia um poder paralelo. Na verdade, não é um poder, mas uma força. Com as novas técnicas de comunicação e com a sacralidade das fontes, ela se transformou no escoadouro dos descontentamentos (lícitos ou não), dos ressentimentos (pessoais ou grupais), das pressões e compressões de uma sociedade heterogênea que inclui desde índios e menores inimputáveis até políticos e empresários que podem roubar.
Esse caldo em ebulição seria a matéria que justificaria a existência e a expressão do Estado que, no caso brasileiro, antecedeu a Nação.
Abriu-se um vácuo e, nele, a força da comunicação encontrou o seu espaço. E o fez com exuberante boa vontade. Não é a vida nacional que pauta a imprensa. É a imprensa que pauta a vida nacional, através de seus órgãos mais excitáveis.
Dá a régua e o compasso. A classe política empacou, ataca e se defende a esmo, desarticuladamente, de acordo com a direção e a intensidade dos petardos que recebe.
Mas quem acusa a imprensa? Quem se atreve a mostrar e demonstrar que o gigante também tem, como todos os gigantes, os seus pés de barro? Há desconforto em todas as classes, juízes, militares, empresários e policiais em relação aos jornalistas. Eles se transformaram em detetives, em esmiuçadores de contas de luz e telefone, de depósitos bancários, declarações de Imposto de Renda, despesas nos postos de gasolina e nas agências dos Correios.
Estenderam sobre a sociedade uma teia assombrosa que absorve denúncias vindas de fontes anônimas, lembrando os comitês de salvação pública da Revolução Francesa que alimentaram de sangue a guilhotina nos anos do terror.

Texto de Carlos Heitor Cony, na Folha de São Paulo, de 9 de julho de 2009.

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Dançando na Crise

Com mulata no Sambódromo e o enunciado "Dançando através da crise econômica", o "Financial Times" publica hoje um especial de quatro páginas sobre o Brasil. Em textos diversos, sugere ao governo evitar a diplomacia "Sul-Sul" e saúda como o mercado financeiro "prossegue inabalado" por aqui.
Em texto sobre os "afro-brasileiros", o escritor Oliver Balch viaja pelo país e alerta que, "quando um negro tenta entrar no mundo da política, dos negócios ou da academia a ficção da democracia racial se evidencia".

Trecho da coluna Toda Mídia, na Folha de São Paulo, de 7 de julho de 2009. Destaque do blogueiro.

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