terça-feira, outubro 31, 2006

Da Coluna Toda Mídia - Folha de São Paulo, 31/10/2006

"HOSTILIDADE EXTRAORDINÁRIA"
Nos canais de notícias pelo mundo, lá estava Lula ontem no Telesur, de Chávez, mas sobretudo -e repetidamente- na CNN, que falou em "vitória esmagadora", "festa no Brasil" e "um sonoro "sim" para o presidente Lula". Na BBC também, expressões como "vitória decisiva" ou "segunda vitória esmagadora" -que "foi ainda mais marcante porque Lula enfrentou hostilidade extraordinária da elite política tradicional e de muitos dos aliados dela na mídia".

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc3110200658.htm

segunda-feira, outubro 30, 2006

Alckmin, De Onde Veio o Dinheiro?

A eleição já terminou, mas agora o presidente-candidato Lula poderia perguntar ao candidato Geraldo Alckmin:
- Geraldo, de onde veio o dinheiro?
O dinheiro neste caso são 427 mil reais encontrados com membros do comitê de campanha do então candidato ao governo da Paraíba, Cássio Cunha Lima, em João Pessoa, PB. 325 mil foram encontrados no apartamento de um militante, na sexta-feira, dia 27. Ontem foram mais 102 mil reais, no mesmo local.

Mais informações:
Correio da Paraíba: http://www.portalcorreio.com.br/capa/?p=noticias&id=20728
Folha de São Paulo: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/especial/fj3010200658.htm
Blog do Mello: http://blogdomello.blogspot.com/2006/10/jogaram-r-325-mil-pela-janela-na.html

A Mídia Cometeu Suicídio...

Este texto vem em segunda ou terceira mão, do blog "Eu Quero Falar" (http://vera13.blogspot.com). É uma entrevista com o jornalista Luís Nassif.

Grande imprensa cometeu suicídio nestas eleições, diz Nassif




Por André Cintra e Priscila Lobregatte


Ao adotar um pensamento único, elitista e anti-Lula, a mídia entrou numa rota suicida. Esse estilo, "inédito em termos de grande imprensa", criou "um clima muito pesado de patrulhamento, ataques, macarthismo"". O diagnóstico é de Luis Nassif, jornalista há mais de três décadas e ex-membro do conselho editorial da Folha de S.Paulo.


Nassif: "Os colunistas foram inibidos"
Nassif se tornou uma das vozes mais avessas aos descalabros que tomaram conta do jornalismo. Em sua opinião, a mídia sequer se esforçou para entender um fenômeno como o Bolsa Família - e sai dessa eleição desiludida com a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


Na entrevista que concedeu ao Vermelho - e que abre a série "Mídia x Mídia", o jornalista mineiro atacou o presidenciável tucano Geraldo Alckmin. "A gestão dele em São Paulo, do ponto de vista administrativo, foi absolutamente medíocre e nunca foi avaliada". De acordo com Nassif, "Alckmin não tem discernimento" e sofre de "incompetência gerencial".

As declarações de Nassif foram tomadas nesta quarta-feira (25/10), num escritório da Avenida Paulista, em São Paulo, onde o jornalista coordena a Agência Dinheiro Vivo. Confira os principais trechos dessa entrevista exclusiva.

Por que essa onda anti-Lula e anti-PT ficou cada vez mais forte na grande mídia?
No começo do ano passado, alguns colunistas - não oriundos da imprensa propriamente dita -, intelectuais e pessoas do showbiz, basicamente o (Arnaldo) Jabor e o Jô (Soares), começaram uma crítica mais pesada ao Lula e ao PT. Essa crítica, num determinado momento, resvalou para uma posição de intolerância e teve eco na classe média.

Quando teve eco, aconteceu algo que, para mim, é o mais inacreditável que eu já vi em mais de 30 anos de jornalismo: a Veja entra na parada e começa a usar aquele estilo escabroso. É inédito em termos de grande imprensa - e é um suicídio editorial. Agora, aquele estilo acabou batendo aqui, em São Paulo, em alguns círculos do Rio de Janeiro, induzindo a mídia a apostar na queda do Lula. Quando não conseguiu derrubar Lula, a mídia enlouqueceu. E então todos os jornais caminhavam na mesma direção. Isso não existe. Todo mundo endoidou.

Criou-se um clima muito pesado de patrulhamento, ataques, macarthismo . Os colunistas, de uma maneira quase unânime, entraram nesse clima - até por constrangimento. Aquela posição relativamente diversificada que existia nos jornais, através de seus colunistas, acabou. Os colunistas foram inibidos. Há jornalistas aí, com 40 anos de carreira, que escreveram 365 artigos, um por dia, sobre o mesmo assunto, todo dia pedindo a cabeça do Lula.

Não dá. Criou-se uma guerra santa que é incompatível com o papel da mídia. Isso era para os jornais dos anos 50. Partiu-se para um festival de ficção, de arrogância, de agressividade e falta de civilidade que é veneno puro na veia na imagem dos jornais e das revistas que entraram nessa.

E, mesmo assim, o Lula não caiu...
Porque, no começo dos anos 90, tivemos um fenômeno: começou a surgir a "banda B" da opinião pública. As classes D e E começaram a ter voz. É a história dos descamisados - e Collor percebeu muito bem isso. Começa a haver nessas classes um novo campo. À medida que o país vai evoluindo, aquela mediação feita pelos coronéis tende a se diluir. Este foi um primeiro ponto. Quando Lula lança o Bolsa Família - que é um programa muito bem-feito e que tem, sim, contrapartida -, ele pega esse fenômeno, que ganha corpo. O Fernando Henrique, que é sociólogo e tal, por conta de sua postura imperial, não percebeu esse novo cidadão emergente.

Outro ponto é que, na medida em que se criou essa unanimidade na mídia, você descartou públicos: o público engajado, que tem seu pensamento - a favor do Lula e do governo -, e que de repente percebeu que não havia nenhum veículo que fosse justo; e o segundo é um público menor, mas muito influente, que é o público dos formadores de opinião bem informados. Com aquela simplificação com que veio a cobertura, estes setores acabaram se desiludindo com a imprensa. Tudo isso surge num momento em que a internet já tinha massa crítica aí, com os blogs e tudo, para fazer contraponto. E entre os blogs tem de tudo.

Aquela diversidade que os jornais ainda tinham e perderam, o pessoal foi buscar na internet. E uma coisa a gente aprende com os blogs: se houver 20 blogs falando "A", basta um blog falando "B" de forma consistente, que ele inverte e desmascara. Há a interação entre os blogs e seus leitores. Os blogs emergiram como uma alternativa. E isso culminou com a matéria do Raimundo Pereira na CartaCapital. Em outros momentos, a Carta teria feito a matéria e ninguém falaria nada. Agora a matéria teve um alarido infernal, de tudo quanto é blog discutindo. E o tema não morreu.

A ponto de a Globo ter de se explicar...
É, tentou, tentou, mas não conseguiu responder. (Ali Kamel) é um rapaz inteligente, mas há coisas que, se você não consegue explicar, é melhor não tentar. Se você precisa de mais de uma lauda para explicar, não tente. Ele tentou e ficou chato, porque estava claro que era uma armação do delegado visando a Globo.

E aí se entra em outro aspecto: qual o interesse jornalístico de uma foto? Uma foto de dinheiro é igual a uma foto de dinheiro. Não há informação nisso. Essa foto ainda foi maquiada para dar maior fotogenia. O único interesse era como ela ia repercutir nas eleições, como no caso da Roseana Sarney. A gente sabia que esse dinheiro existia há semanas. O fato de aparecer a foto não tem significado nenhum.

Mas os jornais e TVs queriam dar a imagem para saber o efeito eleitoral da foto. Se o único interesse sobre a foto era esse, é evidente que a parte mais relevante do ponto de vista da notícia era saber como vazou a foto. E não deram isso. Manipularam e protegeram o delegado (Edmilson Bruno Pereira). Isso é um episódio marcante. Um golpe como esse, não temos paralelo em nossa história.

A mídia, cumprindo esse papel, é suicida . Ela não tem como ganhar. Se ela derruba o Lula, ela fica com a pecha de golpista para o resto da vida. Todo problema que surgisse seria imputado à mídia. Ou seja, se ela ganha, ela perde. Se não derruba o Lula - que foi o que aconteceu -, ela mostra que perdeu o poder que ela tinha.

Existe nisso um preconceito de classe?
Houve um claro preconceito de classe. No momento da internacionalização da economia brasileira, o Fernando Henrique passa a se cercar de uma corte que é minoritária em São Paulo, mas que tem muita ressonância. É um pessoal que se julga internacionalista, mas é da ''geração Daslu'' - de um esnobismo altamente provinciano visto por um estrangeiro, mas que aqui dentro pegou muitos setores, inclusive da imprensa. Esse deslumbramento cresceu de uma forma muito ampla nesse período, em cima de um conjunto de colunistas muito próximos ao Fernando Henrique.

O grande pecado do Fernando Henrique, lá atrás, foi quando ele começou a desqualificar as críticas e começou a tratar tudo que não era internacional como caipira e provinciano. Ou seja, criaram-se ali as bases para essa visão entre modernos e anacrônicos. O fator Veja foi fundamental para trazer esse componente. A Veja já vinha num crescendo de grosserias e ataques pessoais, mas, no ano passado, explodiu.

E veio até aquela capa absurda de que o PT emburrece o país...
Quando se entra nesse preconceito monumental, a crítica fica desqualificada. Aquele papel da mídia, de ser mediadora, deixa de existir. E o Lula fez uma coisa de gênio político. Quando começaram os escândalos, ele mandou apurar tudo. Na medida em que o pessoal acusado foi tirado do barco, passou a sensação de que era possível reconstruir o governo Lula sem os barras-pesadas que passaram por seu governo.

Então você tem o Bolsa Família mudando a realidade brasileira, com a incorporação das massas excluídas. O Lula não é salvo pela política do Palocci ou do Banco Central, mas pelo Bolsa Família. E não apenas pelos que são beneficiados - mas também por aqueles que estão de fora e percebem que esse programa vai mudar a história do Brasil. Os jornais não se deram conta disso.

Quando ficou claro que o Lula não ia cair, começaram a falar: ''Ah, mas o eleitor do Lula é nordestino, é analfabeto''. E quem fica com eles (os jornais)? Uma classe média muito paulistana, preconceituosa e anacrônica - porque quem é minimamente sofisticado não entra nesse jogo.

Você pega essa prepotência da Veja - esse negócio de "eu sou imbatível". Veja aquele rapaz, o diretor, que entrou um dia e disse: "Hoje derrubamos o presidente!".

Quem?
O Eurípedes (Alcântara), né? Acho que foi quando saiu aquela matéria do Palocci. Ele (Eurípedes) é que é o grande responsável por toda essa mudança que teve - essa adjetivação, esse clima todo.

A sensação de poder se dá pelo seguinte: você tem canais de TV, jornais, revistas - todos falando a mesma coisa. Só que, quando abre a cortina, tem um monte de gente espiando atrás da cortina. É um olhando pro outro, é um negócio auto-referenciado. Poucas vozes ousaram investir contra esse clima.

Os jornais apostaram na beligerância entre PSDB e PT?
Essa guerra acabou. Os jornais, com amadorismo, achavam que esse clima duraria até a queda do Lula. No dia seguinte às eleições, saem de cena Fernando Henrique, (Jorge) Bornhausen, (Tasso) Jereissati e os jornais e revistas que entraram nessa - eles só prosperam em tempos de guerra. As forças para pacificação são mais fortes do que as forças da guerra.

Fernando Henrique é outro que se queimou. Poderia ser um pacificador... Itamar e Sarney deram declarações, como ex-presidentes, com responsabilidade perante o país. E de repente vem o Fernando Henrique e solta a franga de uma maneira que deixa de ser referência.

Por que as irregularidades do governo Alckmin ficaram completamente fora da pauta da grande mídia, ao menos até as eleições?
A gestão dele em São Paulo, do ponto de vista administrativo, foi absolutamente medíocre e nunca foi avaliada. Então você pega a Secretaria de Educação. Numa entrevista, perguntei para ele: ''Governador, qual a sua proposta para as universidades federais?''. Ele respondeu: ''Vamos criar indicadores de acompanhamento'' . E por que não criou nas universidades estaduais? ''Ah, porque isso poderia conflitar com o conceito de autonomia universitária''.

Olha o Rodoanel: quatro anos para resolver uma questão ambiental. Isso não existe. Mas, como precisava criar um anti-Lula, jogam o Alckmin como bom gestor - coisa que ele não era. Tem outras virtudes, mas não essa. E aí precisa vir o Lembo e dizer que o estado está vendendo estatal para pagar contas. Imagina se isso fosse com o governo Lula? Aí começa a ficar explícita a perseguição da mídia.

Você acha que Alckmin não tem condições de governar o Brasil?
Não. O Alckmin não tem discernimento. O Serra e o Aécio pegam gente eficiente, se cercam de bons quadros. E o que o Alckmin faz aqui? Na esfera federal, essa falta de discernimento do Alckmin seria complicada - e estamos falando do que ele já fez no estado, não num país. Não tenho informações sobre desonestidade da parte dele. Agora, no que diz respeito à incompetência gerencial, sim.

http://vera13.blogspot.com/2006/10/grande-imprensa-cometeu-suicdio-nestas.html

Ombudsman da Folha de São Paulo: Poder da Imprensa - 29/10/2006

O rolo compressor

Que poder ainda resta aos tradicionais meios de comunicação (jornais, rádios, revistas e TVs) na formação da opinião pública e na opção eleitoral?

TERMINADA A CAMPANHA eleitoral, é de se imaginar que os ânimos arrefeçam e que, aos poucos, seja possível uma avaliação menos passional do papel da imprensa nesta eleição presidencial. Há questões que ficaram no ar a exigir de jornalistas, leitores, institutos de monitoramento e da academia, superadas as emoções, estudo e reflexão.
Uma primeira questão é a da influência: que poder ainda resta aos meios tradicionais (rádios, jornais, revistas e TVs) na formação da opinião pública e na opção eleitoral?
Os palpites oscilaram conforme o humor dos fregueses. Houve quem tenha visto nos meios os protagonistas de um golpe contra a reeleição do presidente Lula. E houve, não necessariamente outros, os que chegaram à conclusão de que os meios tradicionais já não têm qualquer importância. Amordaçá-los ou depreciá-los?
E a Internet e os blogs, que papel tiveram de fato? O jornalista Luís Nassif, por exemplo, avaliou que estas eleições marcaram "definitivamente o fim do poder absoluto da grande mídia sobre o mercado de opinião brasileiro". Será que havia antes um poder absoluto? E será que o poder que tinha realmente chegou ao fim?
A esperança é a de que, com um pouco de distanciamento, consigamos fugir dos extremos e seja possível entender que papel a imprensa está tendo e que erros e acertos cometeu.
O próprio presidente da República e os caciques da oposição contribuíram decisivamente para um entendimento confuso do papel da imprensa numa democracia, como a nossa, em construção. Ora os ataques reativos ao noticiário negativo beiraram a irresponsabilidade, ora o rito e as circunstâncias os obrigaram a reafirmar seus compromissos democráticos.
A campanha eleitoral praticamente ignorou um outro ponto importante, o da (alta) concentração dos meios de comunicação e seus corolários (como a democratização dos meios e a discussão regulamentação versus auto-regulamentação).
É um assunto que incomoda os veículos e os candidatos. Houve uma pergunta pertinente, em um dos debates, mas as respostas foram insatisfatórias, e o assunto morreu ali. Quanto mais clareza houver em relação a esta discussão, melhor para a imprensa e para a sociedade. Não é possível adiar o assunto indefinidamente.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ombudsma/om2910200601.htm

sábado, outubro 28, 2006

Debatédio na Arena Peripatética Global

Ao contrário do que preconizou o José Simão da Folha de São Paulo, não apareceu a mulata globeleza nua para animar o último debate presidencial das eleições de 2006. E também ao contrário do que previu o Jean, chargista da Folha, não houve sorteio de automóveis zero quilômetro ao final de cada bloco para manter platéia acesa.

Debatédio foi o neologismo criado pelo José Simão para descrever a infinidade de debates que houve antes deste segundo turno da eleição. E arena peripatética global porque a novidade deste debate foi que os candidatos foram obrigados a responder às perguntas caminhando para lá e para cá, dentro de uma espécie de arena, cercada por eleitores. Mais adiante havia lugares, uma espécie de platéia, onde ficaram as comitivas dos dois candidatos. Pelo que eu me lembrava, peripatética era a escola de filosofia de Aristóteles, porque Aristóteles e seus discípulos ficavam caminhando enquanto filosofavam. E caminhar em grego era "peripatos". Mas tive oportunidade de checar a Enciclopédia Larousse Cultural, e a enciclopédia informou que o local onde eles se reuniam se chamava "peripatos". Global porque estava na Rede Globo, oras!...

Que é possível dizer do debate em si? Outro empate técnico? Se eu avaliar apenas pensando na forma, eu diria que o candidato Geraldo Alckmin teve uma leve vantagem. Sempre didático, na medida do possível para a televisão, tinha respostas que eram mais objetivas com relação às perguntas que ele devia responder. O candidato Lula tendia a produzir respostas mais longas e menos objetivas. Para mim, que pude entender, as palavras de Alckmin eram mais objetivas, mas como eram com vocabulário mais sofisticado, não sei se isso não contou contra ele. Afinal há menos eleitores com maior educação formal...

Mas como eu disse, a vantagem de Alckmin foi leve. A firmeza dele esteve realmente no ponto. Não pareceu arrogante, nem agressivo, nos três blocos que assisti.

Contudo, e sempre há este contudo, o candidato Geraldo Alckmin é um homem com pouco carisma. Não me deu a impressão de ser candidato a presidente. Parecia mais candidato a ministro da fazenda, ou a ministro do exterior. Aquele técnico que sabe muito, mas não parece que seja o líder político de uma nação.

E ainda. Para quem conhece um pouco da administração pública, ou os números que os jornais nos informam todos os dias nos cadernos de economia, o discurso do candidato Geraldo Alckmin não fecha. Ele quer baixar juros, mas não explicita se dará uma forçada de mão no Banco Central, que é quem realmente define os juros, desde o governo Fernando Henrique. Quer baixar impostos, mas não diz o que fará com a monstruosa dívida pública interna, aquela que no governo Lula diminuiu proporcionalmente ao PIB, mas aumentou em termos absolutos (alguém consegue imaginar uma dívida de 1 trilhão de reais?). Repete à exaustão que governar é optar, mas quer aumentar as dotações de habitação popular, investir na melhoria do transporte público nas grandes cidades, aumentar o efetivo da Polícia Federal, e, de novo, baixar os impostos. Ele pretende dar calote na dívida pública? Se não for isso, a conta não fecha...

Então é isso. Didático, bem colocado, mas não racional de acordo com os números.

Posto isso. Que posso dizer? Quem pretendia votar em Lula antes do debate, votará em Lula. Quem pretendia votar em Alckmin antes do debate, votará em Alckmin. Quanto aos indecisos, se acreditarem em Alckmin, votarão em Alckmin.

Esta é a opinião deste blogueiro.


sexta-feira, outubro 27, 2006

Este blog Apóia Olívio para Governador


Talvez Olívio Dutra não seja o candidato dos sonhos, mas a alternativa, conforme pensa este blogueiro, é bem pior.
Não conheço pessoalmente a candidata concorrente, Yeda Crusius. Sei que ela foi professora de economia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e conheci alguém que achava ela uma boa professora. Mas não vejo cabimento em alguém que está na política há vários anos, dizer que ela é "o novo" na política. Que novo cara pálida? O vice-governador de Antônio Britto, Vicente Bogo, era do PSDB, partido de Yeda. O vice-governador de Germano Rigotto, Antonio Hohlfeld, foi até quase o final do governo do PSDB. A candidata Yeda gosta de dizer que o candidato Olívio expulsou a montadora da Ford, do estado, mas não gosta de ser lembrada que ela votou a favor dos incentivos fiscais para a mesma fábrica ser transferida para a Bahia. Apesar de ter uma história, que ser a candidata sem passado, a candidata do "novo". Como disse o blog do Marco Aurélio Weissheimer, o RS Urgente (http://rsurgente.zip.net/), parece um embuste.

Este blog Apóia Lula para Presidente



Talvez o governo Lula tenha trazido um monte de desilusões, mas a alternativa, conforme pensa este blogueiro, é muito pior.
Lula representa o que mais com cara de povo chegou ao Palácio do Planalto, desde que Brasília foi inaugurada. Se pensarmos no Catete, a afirmação continua verdadeira. É o primeiro presidente que eu me lembre que pratica peladas nos fundos do Palácio da Alvorada, e churrasco com pinga e cachaça na Granja do Torto. Não que quem vá assistir à ópera ou ao Cirque du Soleil no teatro municipal não seja povo. Mas certamente há mais gente correndo atrás uma bola de futebol, do que indo ao teatro no país.
É o primeiro presidente que entra no Palácio dizendo que é necessário acabar com a fome, mesmo que tenha sido denunciado por muitos como uma "jogada de marketing". Depois da Assembléia Constituinte, que com a nova constituição permitiu que milhares de trabalhadores rurais recebessem pensões e aposentadorias, sem terem contribuído com o sistema previdenciário, foi o presidente que levou mais auxílios sociais a excluídos e semi-incluídos na renda brasileira. Abriu novas universidades públicas federais (aqui no Rio Grande do Sul tivemos a Unipampa, no estado de São Paulo foi aberta uma na região do ABC). Praticamente extinguiu a dívida externa pública. Manteve sob controle a dívida pública interna. Houve o escândalo no Congresso, que boa parte da mídia chamou de "mensalão", mas é um escândalo pequeno comparado aos escândalos da era FHC, com o Sivam, a Sudene, a Sudam, ... E naquele tempo, o governo federal teve força suficiente para segurar as CPI's, e o Procurador Geral da República, Geraldo Brindeiro, ganhou a alcunha de "engavetador geral da república" pela dificuldade demonstrada de levar processos ao Supremo Tribunal Federal. Ou seja, agora se investiga mais. Com diria o próprio presidente e candidato Lula, nunca neste país a Polícia Federal trabalhou tanto como sob o governo Lula.
Acho que teria mais coisas para elencar, mas estas são suficientes para justificar a opção.

Da Agência Carta Maior: Quem é Que Está Mentindo, Lula ou FHC?




Quem é que está mentido, Lula ou FHC?



BERNARDO KUCINSKI

FHC disse outro dia que o PT mente, mente, mente, até que a mentira se torne verdade. Depois, foi a vez de seu candidato repetir a acusação. Fui conferir. Descobri que não é bem assim. Localizei facilmente quatro mentiras importantes que os tucanos é que vêm repetindo ad nauseam.
Data: 26/10/2006


Fernando Henrique disse outro dia que o PT mente, mente, mente, até que a mentira se torne verdade (veja abaixo a nota 1). Depois, foi a vez de seu candidato repetir a acusação (2). Fui conferir. Descobri que não é bem assim. Localizei facilmente quatro mentiras importantes que os tucanos é que vêm repetindo ad nauseam, conseguindo que se tornem verdades, com a ajuda de nosso preguiçoso e desmemoriado jornalismo.

Primeira mentira, a do aparelhamento do Estado. Essa foi espalhada pelos tucanos logo no início do governo Lula e repetida pela mídia. Acusaram o governo Lula de manter 40 mil cargos de confiança (os que não precisam ser preenchidos por servidores de carreira). Mentira grosseira: em 2005 havia 19.925 cargos de Direção e Assessoramento Superior, chamados DAS ou cargos de confiança. Menos da metade do que dizia o tucanato. Desse total, apenas 7.422 foram preenchidos ou substituídos por indicados pelos partidos da base de sustentação do governo (3). E pelos dados disponíveis no site do Ministério do Planejamento, 68,9% dos DAS em novembro de 2005 continuavam sendo ocupados por funcionários públicos de carreira, praticamente a mesma proporção de novembro de 2001 (70,5%), apesar da profunda virada política que representou a vitória de Lula. E mais: cerca de 80% vão de DAS1 a DAS3, que dão ao servidor uma gratificação de apenas R$ 1.000 a R$ 1.500. São servidores ocupando funções que exigem confiança, mas relativamente modestas, como secretárias (4).

Qual a função dessa mentira? Em primeiro lugar, desviar a atenção do estrangulamento do Estado a da terceirização generalizada dos serviços públicos revelada quando Lula assumiu. É o governo Lula que está promovendo grandes concursos públicos para preenchimento de cargos que o governo FHC deixou vagar ou terceirizou. Mas o principal objetivo dessa mentira é bloquear a indicação de lideranças populares e sindicais para cargos de direção e para conselhos. O mega-operador de mercado de Soros, Armínio Fraga, pode ocupar a presidência do Banco Central que isso não é “aparelhar”. Mas se o Paulo Okamoto ocupa a presidência do Sebrae, isso é aparelhar. Uma questão de classe.

A mentira do “brutal” aumento da carga tributária. Os tucanos dizem que o governo Lula aumentou absurdamente a carga tributária. Mentira. Eles é que aumentaram absurdamente a carga tributária: o insuspeito Instituto de Planejamento Tributário diz que a carga aumentou de 28,61% do PIB, no último ano do governo Itamar Franco (1994), para 35,84% do PIB, no último ano do governo FHC (2002). Um aumento de 7,23 pontos percentuais ou mais de 25%.

E qual foi o aumento no governo Lula? Apenas 2,01 pontos percentuais, segundo o mesmo instituto, ficando em 37,85% do PIB (5). E mais, os maiores aumentos relativos no governo Lula foram dos impostos estaduais e municipais. A carga federal aumentou apenas 1,2 ponto percentual, de 25,37% do PIB para 26,55%. Sob os tucanos a carga tributária aumentou brutalmente, mudou de escala, e sob Lula ela variou apenas na margem. Essa bandeira pegou. E pegou tão fundo que Afif Domingues quase derrotou Suplicy na disputa da vaga do Senado por São Paulo, levantando essa bandeira mentirosa do aumento brutal da carga tributária do governo Lula. Qual a função específica dessa mentira, além de ajudar a eleger mentirosos? Provavelmente, influir a favor dos empresários, nas disputas pela realocação de alíquotas e impostos, que naturalmente o governo Lula teria que promover para cumprir o compromisso com os qual foi eleito de “mudar o Brasil”.

A mentira da maior corrupção de todos os tempos. Essa é uma mentira muito grave, porque mexe com a imagem e a reputação das pessoas as pessoas, de suas famílias, seus filhos, seus amigos.Os tucanos dizem que nunca houve tanta corrupção no Brasil como no governo Lula, mas até hoje foram poucos e de pequena monta os casos de corrupção comprovados dentro do governo federal. Um dos poucos casos foi o do funcionário dos Correios Maurício Marinho, flagrado pegando grana e devidamente demitido depois de uma sindicância. Eram três mil reais (6). Em contraste, no governo FHC foram vários e de grande monta os casos de corrupção, quase todos na casa dos bilhões de reais: o prejuízo de R$ 1,54 bilhão do Tesouro no socorro aos bancos Marka e Fonte-Cindam, levando à demissão do então presidente do Banco Central, Chico Lopes, e à fuga para a Itália, onde está até hoje, do banqueiro Salvatore Cacciola; o desvio de R$ 2 bilhões de recursos da Sudam no período 1994 a 1999, que levou à renúncia do ex-presidente do Senado, Jader Barbalho, e o desvio de R$ 1,4 bilhões do Finor em 653 projetos da área da Sudene, através do uso de notas frias; o desvio de R$ 168 milhões na construção da nova sede do TRT de São Paulo, levando à prisão do juiz Lalau e de Fábio Monteiro, que conseguiam as liberações de verbas diretamente do então secretário da Presidência, Eduardo Jorge (o que não significa de necessariamente que Eduardo Jorge soubesse dos desvios) (7); o pagamento comprovado de R$ 200 mil aos deputados Ronivon Santiago e João Maia para que votassem a favor de Emenda da reeleição, levando à expulsão dos dois do PFL e renúncia de seus mandatos (8).

A mãe de todas as mentiras, a de que o governo Lula não combate a corrupção. Essa é pesada. É o governo FHC que nunca combateu a corrupção e não permitiu que fosse investigada. Não têm paralelo com o governo FHC as dezenas de operações de desbaratamento de quadrilhas no serviço publico, ou com ramificações na Receita Federal, no Ibama, na Previdência e na Polícia Rodoviária Federal, todas originárias dos tempos do governo FHC ou até de antes; destacam-se a operação vampiro e a operação sanguessuga, que desbaratou esquemas de corrupção que vinham desde 2002.

E mais, Fernando Henrique adotou como política geral impedir investigações de corrupção.Talvez porque as privatizações exigiam um ambiente de permissividade. Em vez de mandar investigar as fraudes da Sudam e da Sudene, FHC extinguiu as duas agências de desenvolvimento regional, com o que tornou praticamente impossível qualquer investigação futura. Uma modalidade de “queima de arquivo” institucional. Em vez de investigar as acusações de fraudes no DNER, extinguiu da mesma forma o DNER. Quando um grampo revelou malandragem de funcionários do BB e da Previ nas privatizações, a ponto de caírem os altos funcionários e até o ministro das Comunicações, FHC não permitiu a instalação de uma CPI da Privatização da Telebrás, usando o truque regimental de prolongar o funcionamento de várias CPIs fantasmas.

Tudo isso está na internet. Qualquer jornalista pode refrescar facilmente a memória e relembrar que eles mesmos chamavam o procurador-geral da República do governo FHC de engavetador-geral da República. Memória, pesquisa, contextualização e hierarquização adequada dos fatos. Isso é jornalismo. O resto é mentira.


Notas
1) Em discurso para 1.300 lideranças empresariais e políticos da coligação PSDB-PFL... Fernando Henrique usou um argumento recorrente entre apoiadores de Alckmin, de que os petistas usam de técnicas nazistas de propaganda, repetindo mentiras até que virem verdade. "Não se cansam de repetir mentiras, na velha técnica nazista de mente, mente, mente que pega. E pega mesmo, porque [Adolf] Hitler foi eleito. E depois?", comentou o ex-presidente.Folha On Line, 22/10/06
2) Conf. Folha de S. Paulo, 26/10/06
3) Conf. Luiz Weiss. Em O Estado de S.paulo, 25/10/06
4) Conf. Fábio Kerche e Rui Barbosa, em Valor Econômico. 28/09/06. Aparelhamento de Estado?
5)Ver http://www.ibpt.org.br
6) Crtamente alguns outros acabarão comprovados, mas o que há hoje é muita acusação , lançamento generalizado de suspeição, e pouca prova.
7) Esta lista só inclui casos comprovados pela justiça ou pelas conseqüências que geraram. Não inclui muitas outras acusações que foram engavetadas ou ficaram obscuras, e que o autor não endossa necessariamente. Entre elas: a acusação de favorecimento da Raytheon na licitação do projeto Sivam, a acusação de que diretores do Banco do Brasil receberam propina de R$ 15 milhões para induzir fundos de pensão a participarem das privatizações da Vale e da Telemar; a acusação de favorecimento no pagamento de precatórios pelo DNER em troca de propinas de 25% do valor pago.
8) Transação gravada pelo repórter da Folha. Outros três deputados acusados de vender seus votos foram absolvidos pelo plenário da Câmara.


* Artigo produzido com a ajuda de Mauricio Hashizume e Nelson Breve, entre outros.

http://agenciacartamaior.uol.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3372&boletim_id=151&componente_id=2791

Outro Debate dos Candidatos a Governador do Rio Grande do Sul

Ontem na RBS TV, a retransmissora da Rede Globo aqui no Rio Grande do Sul, houve outro debate com os candidatos a governador, Yeda Crusius, pelo PSDB, e Olívio Dutra, pelo PT.
Como nos outros debates, números para lá, números para cá, acusações para lá, acusações para cá. O de sempre. Mas devo dizer que achei a candidata Yeda Crusius, um tom acima da firmeza. Ou seja, seu tom beirava algo entre o nervoso e o arrogante. E neste debate, me pareceu que Olívio Dutra estava no tom certo. Como ele não estava diferente de como agiu no debate da retransmissora local da TV Bandeirantes, nem no debate da TV Pampa, foi o desempenho da candidata Yeda Crusius que decaiu. E parece que ela decaiu MESMO!
Parece que esta campanha fez mal à candidata Yeda Crusius. Teve crises de afonia que a impediram de participar de debates e entrevistas em emissoras de rádio. E ontem ela parecia bem mais desfigurada do que nos debates da Bandeirantes e da Pampa. Assim, me parece que se alguém dependia do debate de ontem para decidir em qual candidato a governador votar, deve ter escolhido Olívio Dutra.

Um show a parte no debate de ontem, foi o mediador, jornalista Lasier Martins. Parecia o assistente daquele erudito professor de mitologia grega, vivido pelo Agildo Ribeiro, no programa Planeta dos Homens, da Rede Globo. O quadro foi repetido algumas vezes no atual programa Zorra Total. Para quem não viu, ou não se lembra, o tal professor tinha o hábito de desviar do assunto de sua palestra, para falar "da Bruna", que no caso era a Bruna Lombardi (A Bruna Lombardi continua linda no esplendor dos seus 50 e poucos anos, ou talvez eu que fiquei mais velho). Para que ele voltasse ao assunto, o assistente batia numa campainha. Ele fazia isto várias vezes durante o quadro. Até que o professor perdia a paciência e xingava ele "Pára com isso, ô Múmia Paralítica! Coisa mais chata, fica aí fazendo 'plim', 'plim', 'plim'!". Pois ontem, como os candidatos insistiam em exceder os tempos combinados, o Lasier freqüentemente falava "Réplica! Réplica!", ou "Tréplica! Tréplica! Tempo esgotado! Tréplica!" . Fiquei aguardando que em algum momento, algum dos candidatos fosse dizer "Pára com isso de 'Réplica!', 'Réplica!'. Parece uma Múmia Paralítica!".

Abaixo os links dos comentários dos debates estaduais anteriores:
http://aindaamoscaazul.blogspot.com/2006/10/yeda-venceu-o-debate-de-ontem.html
http://aindaamoscaazul.blogspot.com/2006/10/debate-regional.html


quinta-feira, outubro 26, 2006

Jânio de Freitas: O Vício Resiste - Folha de São Paulo, 26/10/2006

O vício resiste



Nas circunstâncias atuais, a pretensão de impeachment de Lula disfarça mal a idéia de um golpe branco

A SIMULTANEIDADE de eleição presidencial e caso dossiê trouxe de volta uma idéia que muitos diziam para sempre extinta na vida política brasileira. Não importa que esteja restrita a uma parte das eminências do PSDB, como a um pequeno grupo pefelista, e aparentemente a um ou outro meio de comunicação. Nem faz diferença que se apresente como um recurso de ordem judicial, amparado em preceitos legais. Nas circunstâncias em que se apresenta, a pretensão de impeachment de Lula, mesmo no decorrer do previsto segundo mandato, disfarça mal a idéia de um golpe branco.
É possível argumentar que as ações judiciais já entradas contra Lula nasceram das ocorrências do dossiê, e não do propósito de afastá-lo da Presidência. Os contra-argumentos não são escassos. A começar de que a idéia de impeachment emergiu, inclusive publicamente, antes de haver qualquer indício de comprometimento direto de Lula ou mesmo indireto, do seu gabinete, na história ainda inconvincente do dossiê.
O que Tasso Jereissati, Jorge Bornhausen, Fernando Henrique Cardoso e Geraldo Alckmin apresentam como comprometimento são adulterações de certos fatos ou ficções de sua autoria. Como dizer, por exemplo, que se "o chefe-de-gabinete da Presidência telefonou a Jorge Lorenzetti para saber de informações, Lula sabia de tudo" (Tasso Jereissati, mas não só ele). Se ligou para saber do que se tratava, até prova em contrário, é porque nenhum dos dois sabia. O comprometimento de Lula, ou de alguém que o comprometa de fato, é possível como tantas outras possibilidades, inclusive a armação de oposicionistas, mas nada fundamentou tal hipótese, até agora. Fatos por fatos, a armação até se aparenta menos aérea.
No Estado de Israel, o presidente está em processo criminal, sob a acusação de violentar uma mulher e importunar, com propósito semelhante, outras nove ou dez. O primeiro-ministro Ehud Olmert, notabilizado pela investida militar no Líbano, está sob a acusação de colaborar para atos de corrupção. Nos Estados Unidos, é notório o envolvimento do vice-presidente Dick Chenney, acobertado por Bush, com empresas postas sob graves acusações de desvios que chegariam a US$ 1 bi, no Iraque. Todos esses casos levam, nos seus países, a falar de investigação (muito mais em Israel do que nos EUA) e, se couber, julgamentos judiciais. Em nenhum há ação judicial com objetivo de impeachment.
Por que, no Brasil, antes mesmo que a investigação ao menos progrida um pouco, e se livre de seus aspectos estranhos, políticos com grandes responsabilidades adotam, afoitos, a idéia e os passos iniciais para impeachment? Por que, se a essência desse movimento não se confundir com a idéia de golpe branco?
"Lula não pode sair incólume dessa fraude", pregava anteontem o senador Tasso. "Não sair incólume" é uma expressão que não permite duas interpretações. No caso de um candidato à reeleição, é que não possa chegar ao segundo mandato. No caso de presidente eleito ou reeleito, a única maneira de "não sair incólume" é perder a Presidência.
Pelo que se sabe do caso dossiê, a idéia de impeachment (ou de invalidação da candidatura) fica entre os desatinos. Mas revela bastante. Ou confirma.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc2610200606.htm

Debates - Charge da Folha de São Paulo, 25/10/2006

quarta-feira, outubro 25, 2006

A Revista Veja e a Oposição

A propósito da piadinha do José Simão ("post" anterior), nas duas últimas semanas, a revista Veja e os partidos de oposição ao governo federal (PSDB-PFL) estão fazendo uma tabelinha que é uma beleza.
Na semana passada, a revista veio com capa sobre uma possível limpeza do dinheiro que o governo estaria fazendo no dinheiro que seria usado para comprar o tal dossiê contra José Serra, insinuando que poderia ser um tiro pela culatra. A revista dizia que o ministro da justiça estaria se mexendo para que o governo federal não fosse envolvido no escândalo. Logo os presidentes do PSDB, Tasso Jereissati, do PFL, Jorge Bornhausen, secundados pelo presidente do PPS, Roberto Freire quiseram requisitar a presença do ministro no Congresso para prestar esclarecimentos. Acabaram se perdendo porque o delegado Sandro Avelar, presidente da associação dos delegados da polícia federal, disse que o ministro da justiça não estava tentando tutelar a investigação, e o inquérito dirigido pelo delegado Diógenes Curado estava seguindo os padrões adequados a uma investigação da polícia federal (é possível ver mais sobre isso, no blog do jornalista Josias de Souza, da Folha de São Paulo: http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/arch2006-10-15_2006-10-21.html ).
Esta semana a capa da revista Veja veio com os negócios do filho do presidente Lula, o "Lulinha", com uma empresa de software, a Gamecorp, e os investimentos da Telemar. Segundo a revista, Fabio Luiz, o Lulinha, estaria recebendo investimentos da Telemar, porque seria lobista junto ao governo do pai, e a Telemar é uma concessionária de serviços públicos na área de telefonia. Se há algum comportamento criminoso na atuação de Fábio Luiz, a oposição deve investigar, mas certamente não para fazer fofoca. O blog RS Urgente (http://rsurgente.zip.net/arch2006-10-22_2006-10-28.html) comenta que está noticiado no blog do Xico Sá (http://ponteaereasp.nominimo.com.br/) que o PSDB está copiando a reportagem da Veja para fazer farta distribuição. Maledicência. Pois é!...

A Revista Veja no Monkey News

De acordo com o José Simão, em seu programa na Internet, o "Monkey News" (ver "post" anterior), os petistas disseram que a revista Veja, na verdade agora é uma sigla, um acrônimo, assim: Vote Em Jeraldo Alckmin - V.E.J.A.

José Simão Mostra em Seu Programa na Internet Placa do Carro de Geraldo Alckmin nos Estados Unidos.

Outro Debate Presidencial

Outro debate presidencial, e este eu perdi. Assim não posso fazer comentários. Pior ainda, perguntei para duas ou três pessoas sobre o debate (este debate de 23 de outubro, na TV Record), e não encontrei ninguém tivesse assistido. Uma das pessoas as quais perguntei foi aquele eleitor de Geraldo Alckmin, que disse que não assistiria ao debate do SBT, pois já estava decidido. Pelo mesmo motivo ele disse que não assistiu ao debate de ontem. Outra pessoa, que não conheço a opção eleitoral, me disse que também não assistiu, e "que já estava cheio de tanto debate". Outra ainda, eleitora de Lula, também não havia acompanhado o debate. Uma quarta pessoa a quem perguntei, também eleitora de Lula, também não viu, mas disse que os comentários em saite da Internet (http://www.agenciacartamaior.com.br) foram positivos para o debate em si.
Um texto de Nelson de Sá, na Folha de São Paulo de hoje, informa que o debate foi um pouco de mais do mesmo, sendo que Geraldo Alckmin, que parecia "no ponto", em determinado momento voltou a parecer arrogante. Enquanto Lula tentava se esquivar, e parecia um pouco nervoso. O que para mim, representa um pouco a reedição do debate na TV Bandeirantes, no dia 8.
Assim, parece que em três debates tivemos leve vantagem para o candidato oposicionista Geraldo Alckmin, o que satisfaz os eleitores dele, mas não rouba votos do candidato Luis Inácio.

segunda-feira, outubro 23, 2006

Abel Ferreira Informa que os Vedoin Tinham Dossiê Contra Mercadante

A notícia veio na Folha Online esta tarde (http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u85628.shtml), o empresário Abel Ferreira, amigo do ex-ministro da saúde, Barjas Negri, no governo Fernando Henrique, disse em seu depoimento que os Vedoin teriam oferecido a ele um dossiê contra o senador pelo PT de São Paulo, Aloísio Mercadante. Ele disse que recusou a oferta.
Será que tem mais caroço embaixo desse angu? Dependendo das conclusões da polícia federal, fica até possível que o dossiê escândalo-crise midiático possa ter sido uma armadilha. Vamos esperar para ver a continuação das investigações.

João Sayad: O Teatro da Política - Folha de São Paulo, 23/10/2006

A política como teatro



COMO PERSONAGEM , Lula faz o papel de operário-presidente, a vitória da democracia, um ícone do passado quando, apesar da desigualdade, havia grande mobilidade social no Brasil.
Alckmin, o antagonista, representa uma classe média que chegou um pouco antes que Lula, adquiriu modos urbanos e é vista, por isso, como mais próxima dos "donos do país".
Do ponto de vista programático, as diferenças são sutis. Como personagens dramáticos, são muito diferentes. Um personagem é demolidor de regras, pessoal, faz contato direto com o eleitor e agride a elegância sintática da oposição. O outro é determinado, organizado, racional e distante. Fala menos, representa com "naturalidade" apostando na credibilidade. No teatro, o "natural" parece menos real do que o expressivo e dramático.
A imprensa analisa peça e personagens em dois níveis. Num primeiro nível, reportagens e colunas indignadas tratam os candidatos como personagens -bandido e mocinho, vilão e herói. Cobram promessas não cumpridas, consistência e respostas ante questões de apelo popular. Comportam-se como espectadores de novelas capazes de agredir o ator na rua, confundindo-o com o personagem. Escrevem para o eleitor fanático que vive o drama como real.
Num segundo nível, colunas e blogs analisam ator e peça como obra de arte. Como o ator desempenhará papel tão difícil? Como se relacionará com a oposição? Como se relaciona com o próprio partido? Cortará gastos, reduzirá juros, o que fará com a Previdência? Fará novas privatizações? Reconhecem que o candidato-personagem está limitado à fala eleitoral que exclui qualquer maldade.
O presidente improvisa, não obedece as marcações do diretor nem o texto da peça. Alckmin segue o texto com rigor, mas deixa transparecer as discordâncias entre direção, os partidos de apoio, e o ator.
Nesse segundo nível, a imprensa age como a crítica teatral e dirige-se aos leitores ilustrados. É mais compreensiva e empática com os candidatos que no outro nível e, inclusive, mais humana com os políticos do que a verdadeira crítica teatral com os atores.
Personagens que atuam em contraposição são classificadas como Augusto ou Branco. Augusto é gozado, trapalhão,mas lidera a ação dramática. Branco é bonito e racional e tenta controlar as estripulias do augusto. Jerry Lewis é augusto, Dean Martin, branco. O Magro é augusto, o Gordo, branco. O presidente, mais gordo, faz o papel do Magro. O ex-governador, apesar de magro, atua como o Gordo. Quem terá a preferência da platéia?

jsayad@attglobal.net

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2310200606.htm

O Crime

No relatório preliminar entregue à justiça, o delegado da polícia federal Diógenes Curado, aponta o sr. Jorge Lorenzetti como o articulador da tentativa de compra do dossiê, pede mais tempo para investigações, e indicia o sr. Gedimar Passos, no artigo 305 do código penal brasileiro, ocultação ou destruição de documentos. Então tá.
Estou curioso sobre como a justiça irá acatar tal acusação.

sábado, outubro 21, 2006

O Medo do PT - 3

E não nos esqueçamos.
Este tal "dossiêgate" é um escândalo midiático à espera de uma tipificação criminosa. Isto é, eu ainda estou aguardando para ver em qual acusação serão enquadradas as pessoas que queriam comprar informações com dinheiro de origem ignorada (até agora).

O Medo do PT - 2

Ou talvez seja o caso de dizer como o José Simão, humorista e colunista da Folha de São Paulo, que o povo tem tanta fé no Lula, que se for tirada uma foto com Lula tendo dinheiro nas mãos, próximo de um cofre, vão dizer que ele está ali guardando o dinheiro no cofre, e não pegando.
:)

O Medo do PT

Como foi dito no post anterior, o ambiente é bastante favorável ao candidato Luis Inácio Lula da Silva. A única aflição que ele deve estar sentindo agora é se nenhum outro petista será causador de algum escândalo. Ou se a polícia federal não encontrará alguma revelação bombástica no chamado "dossiêgate". Até agora só suposições.

Novo Debate, Nada Novo

Ontem houve novo debate presidencial, apresentado desta vez pelo SBT, tendo como mediadora a jornalista Ana Paula Padrão.
Quando pude me sentar em frente à televisão para assistir o programa, a jornalista anunciou que era o tempo para as considerações finais. E disso que eu vi, posso considerar que a palavra final do candidato Geraldo Alckmin foi mais agradável, mais convincente, embora a palavra final do candidato Luis Inácio Lula da Silva não tivesse sido ruim. Se eu dependesse apenas desta última palavra para votar, meu voto iria para Alckmin, mas não é o caso.
Chegando atrasado para ver o debate, o negócio foi procurar informação de outras pessoas. O primeiro comentário que pude ler foi do repórter Kennedy Alencar, na Folha Online (http://www.folha.uol.com.br/), que disse que foi um debate "civilizado", e sem vencedor saliente. O jornalista Josias de Souza, em seu blog (http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/) também interpreta o debate como um virtual empate, o que, segundo ele, seria ótimo resultado para Lula. E na Folha de São Paulo de hoje, tanto petistas quanto tucanos festejam cada qual o seu candidato.
Perguntei a duas pessoas, o que tinham achado do debate. Uma, eleitora de Lula, disse que mais uma vez Alckmin havia transpirado autoritarismo no debate. Para essa pessoa Alckmin não consegue esconder que é uma pessoa autoritária. A outra, eleitora de Alckmin, disse que já estava decidida, e não iria perder mais tempo com debates, ou programas eleitorais.
Levando em consideração as palavras dos jornalistas citados, mais o muito pouco que vi, e as palavras das pessoas que ouvi, parece mesmo um virtual empate. Faltando 10 dias para as eleições, e com ampla vantagem nas pesquisas, certamente tal situação favorece o presidente e candidato à reeleição Luis Inácio.

Yeda é Gaúcha

Numa campanha eleitoral se deve analisar as propostas e a história de cada candidato, para poder com consciência. Eventualmente os adversários mostram coisas que não se gostaria de ver reveladas, e se forem reais podem extrair votos.
Agora, o que muita gente tem feito com a candidata ao governo do estado pelo PSDB, Yeda Crusius, de chamá-la de "paulista" como se isso fosse pejorativo, para tentar desqualificá-la no pleito é uma coisa baixa. Deve ser reflexo do desejo separatista de alguns, ou a imaginação que os gaúchos são melhores que os paulistas. A sra. Yeda vive aqui no Rio Grande há mais de 20 anos, foi professora na UFRGS, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Façam o favor!...
Podem não querê-la eleita por vários outros motivos. Eu não votaria nela por outros motivos. Mas não por este.

Do Blog do Jean Scharlau: Tanto Faz...

No blog do Jean Scharlau (http://jeanscharlau.blogspot.com/), um comentário sobre posicionamentos de jornalistas, comentaristas, e outros istas, como, por exemplo:

- Tanto faz o salário mínimo ser 250 ou 350 reais - eu não recebo salário mínimo.
- Tanto faz que o tal salário mínimo compre uma ou três cestas básicas - eu nem sei o que é uma cesta básica.
- Tanto faz que o governo esteja instalando luz para todos – minha casa sempre teve energia elétrica.
- Tanto faz que a polícia federal esteja prendendo 50 vezes mais corruptos e ladrões – eu não sou corrupto nem ladrão.

Para ver a lista completa:
http://jeanscharlau.blogspot.com/2006/10/tanto-faz-lula-ou-alckmin-yeda-ou-olvio.html

Alckmin em Uberaba assina carta

Esta foto foi recebida pelo correio eletrônico. Pelo jeito, é um comprometimento do candidato à presidência pelo PSDB, Geraldo Alckmin, a não privatizar algumas estatais.
.

Carlos Heitor Cony: O Gosto da Liberdade - Folha de São Paulo, 20/10/2006

CARLOS HEITOR CONY

A vaia e a liberdade



Já vaiei um presidente da República; com o AI-2, não tinha onde berrar, a não ser na rua

A VAIA -um lugar-comum bastante usado entre cultas gentes- é o aplauso dos que não gostam. Nesse sentido, pode-se dar razão àquele controvertido provérbio de origem oriental, atribuído pelos eruditos a Confúcio: é preferível ter mau hálito a não ter hálito nenhum. Na certa, por deficiência mental da minha parte, não consegui até hoje compreender os dois anexins (admito que fica até difícil entender o que seja um anexim). O que demonstra que não compreendo muitas coisas neste mundo e que, quanto mais os anos passam, entendo menos e pior.
Razão para a vaia existe, em qualquer ponto do território nacional, perante qualquer autoridade municipal, estadual ou federal, desde o cabo de polícia de Cabrobó até o minuto de silêncio no Maracanã. Mas há razões e desrazões que escapam ao jogo político ou esportivo e passam a fazer parte do drama existencial daquele que vaia alguma coisa ou pessoa. Digo isso e explico aquilo:
Já vaiei um digno presidente da República. Era o Marechal Castelo Branco, e a época foi novembro de 1965. Dias antes, o governo editara o Ato Institucional nº 2, e o número dos que não estavam satisfeitos com a situação era grande. Por ocasião do primeiro Ato Institucional, quem quis e quem pôde berrar contra o sistema fez sua obrigação, e eu fiz a minha. Mas, com o segundo "AI", eu não tinha onde berrar, a não ser na rua.
Em reunião clandestina, onde ninguém se ofenderia se fosse chamado de intelectual, deliberou-se promover uma manifestação pacífica, mas veemente contra o governo, em frente ao Hotel Glória, aqui no Rio. Ali se realizaria uma complicada reunião da Organização dos Estados Americanos, e o marechal-presidente compareceria. Se conseguíssemos vaiá-lo com eficiência, teríamos excelente e bem nutrida platéia internacional.
Durante as chamadas reuniões preparatórias (em qualquer conspiração, essas reuniões são mais importantes do que a própria conspiração), ouvi edificantes argumentos, todos profundos, epistemológicos; a nossa vaia teria transcendentes sentidos morais e gerais. Não faltaram teóricos que, citando Merleau-Ponty e Walter Benjamin, garantiram-me que o nosso movimento seria a primeira investida contra a bastilha. Por Júpiter!, enxotaríamos o arbítrio, arrebentaríamos o sistema com meia-dúzia de pingados gatos à porta do Hotel Glória. Um dos nossos companheiros -que se tornara notável pela profundidade com que descobrira nos sambas do Zé Kéti o resumo das teses de Ricardo que tanto influenciaram Karl Marx- explicou-me com menos notável profundidade o óbvio: nenhum governo resistiria a tanta e tamanha vaia, desfechada diante dos chanceleres das três Américas -que nas três Américas são chamados pelo feio nome de cancileres. Apesar de tanto adjutório, no momento em que me competiu votar (vota-se até na hora de se servir o cafezinho nessas reuniões clandestinas), declarei com inútil solenidade: "Desconfio que essa vaia não resolverá problema algum do país ou do povo. Mas resolve o meu problema".
Nas reuniões preliminares, fui minoria de um só. Todos, exceto eu, garantiam que o regime não suportaria a vaia de uma elite cultural como a deles. Abalaríamos os alicerces do totalitarismo aos gritos de "abaixo a ditadura".
Elementos do velho partidão garantiram a presença de uns cinco mil operários e estudantes, que engrossariam a manifestação, que seria a primeira realmente popular contra o AI- 2, que, no fundo, nem chegava a ter a malignidade do futuro AI-5. Não apareceu um só operário ou estudante, a não ser nós mesmos -que, de certa forma, éramos sociologicamente operários e estudantes.
Foi prevista uma grossa pancadaria entre a polícia e os manifestantes, o que aumentaria a expressão e o tamanho da vaia que iríamos dar. A hipótese de um morto também foi levantada. Não levada a sério, mas possível, no caso da exaltação dos ânimos. Enfim, a ditadura estava não com os dias, mas com as horas contadas.
Lá fui para o Hotel Glória, vaiamos o marechal, fomos presos, trancafiados nas enxovias da Polícia Especial, alguns jornais nos chamaram de moleques e baderneiros, o Partido Comunista nos acusou de pequeno-burgueses, atribuiu-nos inconfessáveis desvios, gramamos dias e noites na pior e, pelo já invocado Júpiter, nenhum problema da nação foi resolvido, a não ser o meu. Garanto que nunca um prisioneiro sentiu tão fortemente, na alma e na carne, o gosto da liberdade.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2010200632.htm

sexta-feira, outubro 20, 2006

Heráclito Fortes e os Amigos de Plutão

Ontem foi publicado aqui neste blog, o texto de Carlos Brickman, sobre a "Sociedade dos Amigos de Plutão", e de como uma "brincadeira" do jornalista Carlos Chagas chegou a gerar um discurso de condenação do senador Heráclito Fortes (PFL-PI), ne plenário do Senado. Pois o vídeo abaixo flagra este discurso.
No princípio este blogueiro ficou sem entender o que significavam a vinheta do PT no início do vídeo, e a palavra do presidente licenciado do PT, Ricardo Berzoini, dizendo "estamos no caminho certo". Bom, a minha conclusão é que o videozinho foi montado como peça de campanha, para desmoralizar o PT. Afinal, o governo do partido, havia dado R$ 7,5 milhões de reais para uma ONG de "companheiros", para fazerem moções para restaurar o statu quo de Plutão. Um absurdo.
Como a notícia da ONG foi desmentida pelo seu publicador inicial, o vídeo como peça de difamação é um tiro pela culatra.

O vídeo:


URL: http://www.youtube.com/watch?v=pjDhpNifTC4

quinta-feira, outubro 19, 2006

Da Agência Carta Maior - Flávio Aguiar: Minority Report


Colunista: Flávio Aguiar

19/10/2006

DEBATE ABERTO

O dossiê do dossiê (IV): Minority report

A eleição está deixando meu amigo Saul Leblon com incontinência epistolar. Olhem só a mensagem que ele me mandou, citando o filme ‘Minority report’ e a última edição da revista Veja, que tenta arrastar Freud Godoy à cena do dossiê e ainda chama o Marco Aurélio Garcia de 'bin laden'.

Data: 16/10/2006

“Meu caro Flávio:

Você se lembra daquele filme com Tom Cruise, o “Minority report”? Nele
um serviço de segurança do futuro dispunha de meios para identificar e
prevenir crimes. Quando aparecia o nome do criminoso potencial lá na
bola de cristal deles, as equipes saíam à cata do suspeito para detê-lo
e impedir a consecução do malfeito. No filme tudo acaba dando errado,
pois o serviço se baseia numa presunção de culpa típica das sociedades
autoritárias, além de outros problemas que não vou adiantar aqui para
não tirar o suspense de quem ainda não o viu. Em todo caso, a idéia de
impedir o crime se justificava no filme pela sua natureza: tratava-se
sempre de um homicídio. Se não houvesse prevenção, a vítima iria para o
beleléu.

Nesta semana várias coisas me trouxeram o filme à memória. Uma delas foi
o clima inquisitorial da revista Veja, com sua matéria de capa “Limpeza
de alto risco”, em que tenta arrastar Freud Godoy à cena do crime, quero
dizer, à cena do dossiê, e logo explicarei a diferença. Clima inquisitorial? Não só isso: deselegante ao extremo. Lá pelas tantas (pág. 58) chama o presidente interino do PT de “O bin laden Marco Aurélio Garcia”. Ora, qualquer um que conheça Marco Aurélio sabe da inadequação da referência.

Mas o macartismo explícito vem numa frase da reportagem de capa, depois
de tentar mostrar, com base em documentos anônimos (como anônima era a fonte das famosas fotos do dinheiro no hotel, que no fim não era tão
anônima assim) que Freud negociou com Gedimar Passos e com outras gentes (há até insinuações sobre dinheiros) o desmentido deste quanto à
participação do primeiro no episódio desastrado da tentativa de compra
do dossiê Vedoin/Serra/Barjas Negri.

A frase diz (pág. 49): “A favor de Freud, é claro, se pode levantar a
hipótese de que um homem inocente tem o direito de tentar de todas as
maneiras, mesmo as mais desesperadas, provar sua inocência”. Que ato
falho do redator de plantão, hein, Flávio? Além de declarar Freud
inocente, a frase transforma um direito numa hipótese, e inverte o
princípio consagrado de que a prova cabe à acusação, não ao acusado. Ou
seja, ela saiu diretamente dos princípios que norteavam os processos do
Santo Ofício, mais conhecido como Inquisição, em que o ônus da prova era
sempre do acusado que, em geral, nem sabia qual era a acusação que
pesava contra ele.

Mas há mais, meu caro Flávio. A leitura da matéria brilhante de Raimundo
Pereira em Carta Capital, em que ele conta como foi a urdidura da trama das fotos e da ocultação de quem era a fonte, o delegado Edmilson Bruno, por parte da imprensa envolvida, também me lembrou do filme Minority report, mas por outra razão. Edmilson Bruno foi quem deteve os
aqualoucos, como diz você, do PT naquele hotel em S. Paulo.

Mas veja bem, meu caro Flávio, esta operação da PF não seguiu seu padrão usual. Vamos voltar no tempo, meu caro, vamos recordar cenas mostradas à larga de casos semelhantes, em que vai se pagar uma propina em troca de um favor. A filmagem é feita até completar-se o delito, a troca de mãos do dinheiro e do objeto ou a promessa do favor. Depois a polícia intervém e pega os caras com a mão na botija, no caso, no dossiê. Neste caso não. Curioso, hein, Flávio? Os agentes envolvidos agiram como no “Minority Reporto”. Os supostos vendedores do dossiê foram barrados
antes, e o flagra no hotel deu-se apenas com os atrapalhados compradores.

Começa, caro, que comprar informação não é crime. Tratou-se portanto de
um flagra em cima de um não-crime, que sequer chegou a acontecer: o
não-crime que não aconteceu! Crime poderia estar na obtenção da vultosa
soma, se irregular. Assim mesmo, para caracterizar o ilícito completo,
mister se fazia testemunhar a operação em execução, não apenas o projeto de eventualmente executá-la: teria que haver diálogos, troca de idéias, avaliações, mostrando a intenção de usar de modo ilícito o tal de dossiê – que na verdade nem chegou a S. Paulo.

A forma da operação mostra que, no fim de contas, seu objetivo era e seu
resultado foi */exibir o dinheiro e preservar o dossiê/* – se é que ele
existe de fato. De quebra, envolveu-se Freud. Tanto era esse o objetivo
da operação comandada pelo delegado Edmilson que, como seu objetivo
falhou, pela intervenção republicana da cúpula da PF, o delegado
tenazmente mentiu aos colegas, foi ao local onde se encontrava uma pilha
de dinheiro, e a fotografou, entregando-a com aqueles salamaleques de
palavrões acobertados pela imprensa aos seus destinatários primevos: os
jornalistas de plantão. Na entrega, só faltaram os emissários da equipe
de TV da campanha de Alckmin, que estavam na sede da PF quando os
detidos e a grana lá chegaram. Se o flagra fosse dado no hotel durante
ou após a troca de mãos entre o dinheiro e o tal do dossiê, obrigação
seria mostrar ambos – dossiê e dinheiro – e isso não estava, como pode
se deduzir por sua forma, nos planos da operação. O dossiê que chegou às
telas da internet e das emissoras de TV era uma bobajada de cenas
constrangedoras, sim, mas inócuas do ponto de vista de incriminação.
Examinado pelos supostos compradores, talvez a conclusão pudesse ser a
de que não valia a pena, e o flagra não teria razão de ser.

Diz-se em comentários na imprensa que sim o dossiê existe de fato, que o
deputado Fernando Gabeira o tem, mas este ultimamente só se dedica a
enxovalhar Lula e os petistas e a preservar os tucanos, diz-se também
que a PF do Mato Grosso o tem e que a CPI também o tem, mas enfim, o
dossiê parece mais resguardado que o famoso segredo de Fátima, ou que a verdade sobre a morte de Kennedy.

Meu caro Flávio, por hoje chega. Mas mais teremos, porque a capacidade
de gerar culpados na imprensa, sem direito à “hipótese” da defesa, só
parece se igualar à capacidade de alguns petistas em colocar os pescoços
– o deles e o nosso – na guilhotina”.

http://cartamaior.uol.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3359

Boa Noite Pro Porco: Assim é se lhe parece


Do blog "Boa Noite Pro Porco" (http://boanoiteproporco.blogspot.com):

Assim é, se lhe parece

"As I was saying, that seems to be done right -- though I haven't time to look it over thoroughly just now -- and that shows that there are three hundred and sixty-four days when you might get un-birthday presents --
Certainly, said Alice.
And only one for birthday presents, you know. There's glory for you!
I don't know what you mean by 'glory', Alice said.
Humpty Dumpty smiled contemptuously. Of course you don't -- till I tell you. I meant "there's a nice knock-down argument for you!
But 'glory' doesn't mean 'a nice knock-down argument', Alice objected.
When I use a word, Humpty Dumpty said in rather a scornful tone, it means just what I choose it to mean -- neither more nor less.
The question is, said Alice, whether you can make words mean so many different things.
The question is, said Humpty Dumpty, which is to be master - - that's all".

Lewis Carroll. Through the looking glass, chapter 6 – Humpty Dumpty.



Este texto nasceu de um desconforto com uma série de argumentos que atualmente pululam na internet através de correntes, mensagens individuais, coletivas e afins. Tais argumentos têm, em geral, a forma "Vote em Geraldo Alckmin porque o governo Lula foi corrupto", admitindo as variantes "Vote em Geraldo Alckmin porque o PT é um partido corrupto" e "Se os petistas são corruptos, então vote em Geraldo Alckmin". Uma sua variante mais benevolente, e isso pelo fato de conceder ao menos alguma sorte de reconhecimento ao governo Lula, é o "Voto em Geraldo Alckmin porque não concordo com o 'rouba, mas faz'". O que os unifica, como pode ser visto de uma maneira muito clara, é o fato de que, em função de atos de corrupção verificados no governo petista, deve-se votar em Geraldo Alckmin. O argumento da corrupção, portanto, aparece em tais raciocínios como razão suficiente para se eleger Alckmin e não Lula.
O objetivo deste texto é mostrar que tal argumento não é o caso, uma vez que sua conclusão é contraditória. Por conseguinte, sua defesa pública ou bem envolve uma generosa dose de ignorância, ou bem uma não menos generosa porção de má-fé. O ponto a ser defendido aqui é que se atos corruptos passados são razão suficiente para não se eleger um dos dois projetos políticos que atualmente se oferecem ao eleitorado brasileiro, então pela mesma razão nenhum deles pode ser eleito. É importante que isso fique claro porque não se discutirá aqui se atos corruptos passados são razão suficiente não se eleger qualquer projeto político.
Uma das primeiras coisas que precisam ficar claras é que não estão em jogo no cenário nacional projetos pessoais de Lula e de Geraldo Alckmin, mas sim projetos partidários. Portanto, um voto em Geraldo Alckmin é um voto no projeto do PSDB para o Brasil e no histórico de administrações tucanas, assim como um voto em Lula é um voto no projeto do PT para o Brasil e no histórico de administrações petistas. Seguramente uma das maiores tragédias de nossa democracia é o voto que se dá ao candidato x em função de determinadas suas qualidades ou características, em geral a "honestidade", a "simpatia", a "seriedade", a "humildade", o grau de parentesco ou o fato de algum dia o referido candidato ter prestado alguma sorte de socorro ou ajuda ao seu eleitor, ou simplesmente ter cumprido sua obrigação como detentor de um cargo ou como profissional de mercado. Ainda que algumas dessas qualidades sejam altamente desejáveis e necessárias, nem sempre são suficientes para se desenvolver um trabalho satisfatório como representante, uma vez que interesses partidários obscuros podem ditar as regras do comportamento da bancada e estar acima, por exemplo, da honestidade de um de seus membros.
O governo de Fernando Henrique Cardoso, político do PSDB, entre os anos de 1995 e 2002, cometeu no mínimo tantos deslizes éticos quanto os cometidos pelo governo petista de Luís Inácio Lula da Silva entre 2003 e 2006. Geraldo Alckmin, governador afastado do Estado de São Paulo que abafou 69 CPIs em seus seis anos de governo e que levava seu pitbull para passear de helicóptero oficial, é candidato à presidência da república pelo PSDB, partido que, durante a gestão FHC, esteve envolvido (i) com a compra de votos de Ronivon Santiago e João Maia, do PFL do Acre, por R$ 200 mil cada, a favor do projeto de Emenda que viabilizaria a reeleição de FHC, entre outros acusados que foram absolvidos em plenário, (ii) com a manutenção artificial da quase paridade entre o real e o dólar até o final do processo eleitoral de 1998, a fim de criar um clima favorável à reeleição, paridade que durou até o começo da desvalorização da moeda, logo depois das eleições, com indícios de vazamento de informações do Banco Central a fim de favorecer 24 bancos que lucraram com a mudança cambial e outros quatro bancos que registraram movimentação especulativa suspeita às vésperas do anúncio das medidas, (iii) com a extinção, sem investigação, dos órgãos públicos SUDAM (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia) e SUDENE (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), envolvidos em escândalos de desvio de mais de 3, 5 bilhões de reais, à época administrados por partidos aliados ao PSDB, (iv) com denúncias de formação de caixa-dois de campanha nas eleições de 1994 e 1998 e de cobrança de propinas durante o processo de privatizações e, finalmente, (v) que supostamente viu nascer, sem tomar as providências cabíveis, os escândalos das máfias das ambulâncias e sanguessugas e dos vampiros. A diferença em relação ao governo Lula? O fato de que, durante os anos FHC, a oposição, representada basicamente pelo PT, não obtinha assinaturas suficientes para abrir CPIs, dificuldade essa não enfrentada pela oposição ao governo Lula. Nada além disso.
Luís Inácio Lula da Silva, presidente da república que não abafou sequer uma CPI e que levou sua poodle para a petshop em veículo oficial, é candidato à reeleição pelo PT, partido que esteve envolvido (i) com o escândalo do alcunhado "mensalão", esquema que pagava uma quantia variável a parlamentares em troca de votos favoráveis a projetos de interesse governamental, subsidiado com verbas públicas desviadas para tal fim a partir de licitações frias, ganhas por empresários que antes haviam financiado a campanha petista ao governo, (ii) e com o escândalo de uma suposta tentativa de compra com dinheiro supostamente não declarado de um suposto dossiê que hipoteticamente envolveria até o pescoço com a máfia das sanguessugas e das ambulâncias José Serra, político do PSDB que foi ministro da saúde no governo FHC. A diferença em relação ao governo Fernando Henrique Cardoso? O fato de que, durante os anos Lula, a oposição, representada basicamente pelo PSDB e PFL, obteve assinaturas suficientes para abrir CPIs, dificuldade essa enfrentada pela oposição ao governo FHC. Nada além disso.
Portanto, se atos corruptos passados são razão suficiente para não se eleger especificamente um dos dois determinados projetos políticos que atualmente se oferecem ao eleitorado brasileiro, então logicamente são razão suficiente para não se eleger nenhum deles, pois ambos cometeram atos corruptos em suas administrações. Ou seja, uma vez que se trata de um comportamento geral, de um comportamento verificado em ações de ambos os particulares que configuram tal universo de candidaturas, o argumento da corrupção não pode valer para um seu particular sem simultaneamente valer para o universal sem contradição. Se estivéssemos tratando de atos corruptos passados de especificamente um dos dois referidos projetos apresentados ao eleitorado brasileiro, então tais atos seriam uma boa razão para não elegê-lo e, em contrapartida, eleger aquele deles livre. Porém, como ambos têm sua biografia maculada, o argumento segundo o qual se deve eleger o projeto psdbista porque atos de corrupção foram verificados no governo petista não pode ser enunciado sem contradição, pois sua razão suficiente, ou seja, a premissa que lhe fundamenta suportando o peso de sua conclusão, distribui-se e está contida na sua própria conclusão, uma vez que atos de corrupção também foram verificados durante as gestões tucanas.
Por conseguinte, assumir publicamente tal argumento subentende ou bem errar por ignorância ou bem agir por má-fé. Errar por ignorância, dependendo de quem profere o referido argumento, é perfeitamente tolerável e compreensível, desde que tal sujeito não tenha acesso algum à informação e desconheça totalmente a história política brasileira dos últimos 20 anos. Errar por ignorância fora de tal contexto é injustificável, uma vez que a carga de informação existente a respeito da história política dos referidos últimos 20 anos seria suficiente para duas Bibliotecas de Alexandria. Agir por má-fé, por seu turno, é intolerável e injustificável. Age por má-fé quem, embora saiba ou não queira ver que a razão suficiente de seu argumento não é capaz de suportar sua conclusão, ainda assim o utiliza, e isso porque tal argumento convenientemente camufla uma série de outras razões, as quais seu enunciador julga suficientes tanto para justificar seu uso perante suas crenças irrefletidas quanto para justificar seu uso público. Entre tais veladas razões podemos encontrar (i) a equivocada crença de que o PT representa uma ameaça potencial à ordem democrática, operação lentamente em curso e a cargo de corruptos parasitas de Estado capazes de subverter a lógica natural dos direitos humanos e à propriedade, crença que responde pela alcunha de antipetismo e que, embora já se encontre diluída em determinadas regiões do Brasil entre uma reacionária pequena burguesia urbana e rural de variados matizes, é uma crença de uma elite econômica e social cuja gênese remonta à sua necessidade de se sustentar como classe hegemônica a fim de garantir sua auto-reprodução e a perpetuação de seus privilégios e interesses de classe, (ii) o preconceito social dessa mesma elite, com reflexos também entre a pequena burguesia, que não admite nem a hipótese da inversão da lógica hegemônica tradicional por conta da protagonização popular e nem um torneiro-mecânico nordestino deficiente físico com ensino fundamental como seu dirigente e catalisador de tal inversão, e (iii) fundamentalmente a necessidade de reconquista do poder político, essencial para a manutenção da hegemonia da elite econômica e social, mecanismo garantidor e perpetuador de seus privilégios e interesses.
Não há sentido algum, portanto, em se utilizar o argumento da corrupção como justificativa para se eleger Geraldo Alckmin, uma vez que ele conduz a uma conclusão contraditória. Quem quiser utilizar o argumento da corrupção a fim de justificar seu voto em qualquer dos dois projetos atualmente apresentados ao eleitor brasileiro não pode fazê-lo sem contradição. Quem quiser operar honesta e corretamente com tal argumento a fim de decidir seu voto inevitavelmente deve anulá-lo ou votar em branco, pois do contrário estará (i) ou bem legitimando o projeto petista para o Brasil, com seus erros, acertos e virtudes, (ii) ou bem legitimando o projeto psdbista para o Brasil, também com seus erros, acertos e virtudes. Todo o resto é ignorância ou má-fé.

http://boanoiteproporco.blogspot.com/2006/10/assim-se-lhe-parece.html

quarta-feira, outubro 18, 2006

Yeda Venceu o Debate de Ontem

Ontem, 16 de outubro, à noite, na TV Pampa aqui de Porto Alegre houve um debate entre os candidatos ao governo do estado, visando ao segundo turno.
Eu não estive acompanhando com 100% de atenção, mas pelo que me foi possível ver, a deputada Yeda Crusius causou melhor impressão. Como dizem alguns comunicólogos, a televisão tende a enfatizar tanto qualidades quanto defeitos de quem se apresenta ao telespectador. E a candidata Yeda me pareceu que conseguiu dosar melhor a sua indignação e as suas posições. Diria que ela teve uma atuação na dose certa, enquanto o candidato Olívio Dutra não acertou o seu posicionamento.
Com pessoas com quem falei a respeito, comentei sobre isso, e acrescentei que não deve ser fácil debater com uma mulher, pois qualquer sinal de indignação a mais, pode soar como autoritarismo, arrogância, ou mesmo covardia, por parte do homem. O que talvez tenha levado o candidato a não ter boa calibração para o debate.
O que me fez comentar também que provavelmente o presidente Lula tenha feito melhor em não ir aos debates do primeiro turno, pois teria de enfrentar uma candidata, Heloísa Helena, que era "um poço até aqui de mágoas". Como ele iria se posicionar diante de uma situação assim?

Observatório da Imprensa - 4


Ufa! Outro fartão, hein?
Mas pode ficar tranqüilo que, a princípio, amanhã não tem mais Observatório da Imprensa aqui. :)

Carlos Brickmann: Sociedade Amigos de Plutão - A força exponencial do erro

Há alguns anos, um grupo de amigos do noivo mandou imprimir centenas de convites para a festa do casamento - festa que, nos planos dos casadoiros, seria uma cerimônia íntima, só para os padrinhos, num pequeno apartamento. Apareceram dezenas de convidados; e, quando o porteiro do prédio dizia que não haveria festa, enfiavam-lhe o convite na cara, mostrando o que estava escrito.

A palavra escrita sempre foi a que mereceu mais crédito. Admite-se, no rádio ou TV, ao vivo, uma gaguejada do repórter, uma frase desconexa; na reportagem escrita, este mesmo erro é inadmissível. Hoje, com a possibilidade de multiplicação das mensagens escritas, via internet, o jornalista tem de redobrar seus cuidados: qualquer falha e se cria uma situação sem controle.

Uns dias atrás, o colunista Carlos Chagas escreveu uma crônica sobre a multiplicação das ONGs (já tivemos, sob governo tucano, uma organização não-governamental inaugurada numa sede de governo). Falou de uma suposta Sociedade Amigos de Plutão, destinada a protestar contra o rebaixamento do planeta; dizia que o governo Lula já tinha entrado com R$ 7,5 milhões para ajudá-la; que a ajuda seria complementada por empresas estatais federais; e, finalmente, que a ONG teria 800 diretores, cada um com salário mensal de 20 mil reais.

Era brincadeira, evidentemente; mas, nestas eleições, não estamos em tempos de brincadeira. A crônica, como se tratasse de temas verdadeiros, foi amplamente divulgada pela internet, junto com comentários do tipo "pior que o dossiê"; um senador, Heráclito Fortes, do PFL piauiense, chegou a fazer discurso no Congresso condenando o governo Lula por gastar dinheiro com ONG tão absurda. Fora isso, pipocaram mensagens indagando se o fato era ou não verdadeiro.

E nós com isso? Nós temos de pensar no "marketing viral" que pode ser feito com aquilo que escrevemos. Nossa responsabilidade se multiplicou: não se trata apenas do que escrevemos, mas também de como o que escrevemos será lido e utilizado por outros difusores de notícias. Anote: e a coisa ainda vai piorar.

Edição 402 de 10/10/2006
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Matilde Eugenia Schnitman: Por que não comemos a "farofa" da imprensa

ELEIÇÕES 2006

Com ar quase patético, os "analistas políticos" das emissoras de televisão tentam explicar o retorno à cena política brasileira, pelo voto, dos chamados "mensaleiros" e "sanguessugas". Tentam explicar a votação expressiva que teve o massacrado Partido dos Trabalhadores, nesta eleição o mais votado para a Câmara dos Deputados - quase 14 milhões de votos de norte a sul do país. A imprensa escrita vai pelo mesmo caminho, aqui e lá fora. Algumas explicações desrespeitam a nós, brasileiros, achincalham o processo político brasileiro e nossos legítimos representantes, o que não é estranho. Estão autorizados pelo comportamento da nossa mídia - fonte para as matérias lá de fora. Outras explicações tentam um "sociologismo" ou um "antropologismo" de mesa de bar. Algumas, mais bem-humoradas, ressuscitam Macunaíma.

Em todas um único foco - buscar critérios lógicos, ou pelo menos razoáveis, para explicar o perdão e a punição daqueles definitivamente sentenciados por eles mesmos, analistas e âncoras dos noticiários, antes mesmo que a Justiça se pronunciasse. E mais atônitos devem estar, ou ficar, conscientes que estão de terem sonegado espaço aos absolvidos. Do grande espaço para a "condenação" a nenhum espaço para o resultado do julgamento da Justiça quando os "sentenciados" pela mídia são absolvidos pelas instâncias competentes. Ou, no mínimo, são beneficiados por um princípio do Direito que afirma: na dúvida, pró-reu. Claro, isto é para os juristas. Para a imprensa, na dúvida, o "réu" é culpado mesmo - desde venda o jornal!

Apesar do silêncio, o povo fez seu próprio julgamento. "Mensaleiros" e "sanguessugas" estão de volta no cenário político pelo voto popular. Não seria novidade se atentarmos para o caso de Antonio Carlos Magalhães - que voltou ao Senado pelo voto popular -, de José Roberto Arruda, nesta eleição alçado a governador do Distrito Federal, ou o próprio Paulo Maluf - o deputado campeão de votos. Além de Collor, agora como senador da República, só para citar os mais conhecidos. Paralelamente, um outro punhado de deputados e senadores associados aos muitos "escândalos" foi cassado pelo voto popular. Curiosamente, o povo cassou também alguns dos "paladinos da moralidade", os que nas CPIs vociferaram pela "ética" - Arthur Virgílio entre eles.

Como explicar?

Uns punidos, outros perdoados, quando a imprensa tupiniquim, "imparcialmente", tratou a todos igualmente - tutti ladri! Partidos e políticos. O que autoriza os colegas lá de fora a nos darem o mesmo tratamento. Matéria da BBC Brasil comentando comentários de jornais de alguns países sobre os resultados das eleições no Brasil diz:

Aos eleitores não parece importar muito a decência de seus líderes e assim, juntando a fome com a vontade de comer, alguns protagonistas máximos da política se sentem de posse de uma "licença para roubar" equivalente à "licença para matar".

E continua:

Os partidos políticos se converteram em um manto acobertador de seus militantes em vez de serem atentos e rigorosos vigilantes da idoneidade política e moral de cada um deles.

[Fonte: BBCBrasil. "Eleitores dão licença para roubar, diz jornal". Atualizado em 3 de outubro, 2006, 10h43 GMT (7h43 Brasília)]

Vale registrar que lá fora já disseram que não somos um país sério, recentemente fomos chamados de país de bêbados e, agora somos um país de ladrões!!!

Algumas explicações dos nossos lentes vão nesta linha. De falta de memória à leniência, de leniência à conivência ou à simples ignorância. "Brasileiro não sabe votar", vaticinou um dia o Pelé, e o presidente do TSE ratificou em seu discurso aos brasileiros às vésperas deste sufrágio. Aberta as urnas, contados os votos, a surpresa - o Partido dos Trabalhadores continua vivo!?! Os "condenados" estão de volta!?! Como explicar?

O recado das urnas

Nenhuma das explicações é suficiente, mesmo aquelas com ares de teoria. Formam uma espécie de círculo vicioso, viciado, do qual não conseguimos nos desvencilhar. Parece um tipo de cegueira de quem olha mas não vê. As análises partem sempre dos mesmos pressupostos, juntos ou isoladamente: ignorância, leniência, conivência... Às vezes misturados ao "fenômeno" carnaval.

Ao que tudo indica, falta um elemento, falta uma variável nas análises - a própria mídia, o papel da mídia neste imbróglio. Afinal, a imprensa presta um serviço de utilidade pública. Concordamos todos que é importante informar para dar à população meios de se posicionar criticamente. E o que não faltou foi "informação" neste ano eleitoral. Nunca antes o jornalismo brasileiro foi tão "investigativo", tanto e de tal modo a ponto de pautar as investigações das CPIs. Incapazes de processar tanta "informação", a maioria deu em "pizza". Desperdiçaram todo o "extraordinário apoio" e "esforço investigativo" da imprensa para a população formar a opinião sobre os políticos, sobre o governo e sobre "como votar" nestas eleições.

E nunca, como agora, a população brasileira se posicionou e votou. Criticamente. A imprensa precisa entender o recado das urnas! Precisa se perguntar que tipo de serviço vem prestando à sociedade brasileira!

Edição 402 de 10/10/2006
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Gilson Caroni Filho: Veja & Época, dupla com DNA lombrosiano

ELEIÇÕES 2006

As teses positivistas de Cesare Lombroso já não encontram respaldo na criminologia moderna. Não cabe mais, felizmente, falar de portador de patrimônio genético causador de criminalidade - uma espécie de subtipo humano, resquício patológico de estágio primitivo. Por isso, crime como expressão de anomalia morfológica é descartado na psiquiatria forense. Para algumas publicações semanais, porém, as teses do médico e pesquisador italiano parecem fazer sentido.

Certamente haverá, nas redações de Veja e Época, profissionais sérios que se sentem objeto de forças emancipadas de seu arbítrio e decisão. Determinadas características somáticas das famílias proprietárias permitem antever em que momentos surgirão reportagens editorializadas, distorcendo falas e ocultando fatos. Este determinismo editorial é produzido pela conjugação de dois fatores: a lei do valor e os vínculos orgânicos dos donos dos veículos com a elite liberal-conservadora.

A qualquer custo

Estamos longe de ver o campo jornalístico como instância de intermediação. O que temos, principalmente em períodos eleitorais, é uma prática autoritária de empresas que precisam maximizar seus lucros, mantendo os velhos sócios de projeto de poder. Pluralidade e diversidade, em sociedade fracionada como a brasileira, na qual o arremedo de democracia liberal mal consegue esconder a política enfeudada pelo mercado, não passam de estratégias de marketing editorial. O que vale é o consenso fabricado. A colonização continuada do imaginário de parcela da classe média. Para tanto, a pauta condiciona apuração, redação e edição. Não há, pois, procedimentos gratuitos.

Se para Lombroso, de forma grosseira, a predisposição criminosa estava na cara, em Veja e Época, publicações que perdem a credibilidade para não perder os "amigos" de classe, o crime está na capa. Não há qualquer preocupação com sutilezas que ocultem o real móvel das matérias. Não existem motivos para se esconderem atrás de enquadramentos sutis. As duas revistas não têm leitores: reúnem, principalmente a primeira, militantes. E é para eles que o protofascismo de um Diogo Mainardi ou de um Reinaldo Azevedo soam como sinfonia. Além de fazê-los se sentirem portadores de uma cultura imaginária.

Mas se o crime está na capa, o que nos informam as publicações que estão nas bancas? Tanto a Abril como a Globo, em capas semelhantes, mostram quem é o seu candidato. Aquele que deve ser blindado a qualquer custo. Ao contrário de outras edições, a empreitada não é desconstruir Lula, mas formatar o candidato tucano para o leitor. Estetizá-lo para quem já o escolheu. Reinventá-lo para quem está indeciso. É ourivesaria que não consta de nenhum manual de redação. É matéria, crônica e opinião, tudo misturado, como em restaurante a quilo.

Roteiro amável

Olhar severo, sorriso contido, Alckmin surge na capa da Veja (edição 1.977, de 11/10/2006) sobre um sugestivo "O desafiante" como chamada. O pomposo título - "O fenômeno Alckmin" - e a matéria obedecem à marcha batida dos Civita: não esconder intenções ou negacear apoios que possam ferir preceitos éticos caros à imprensa. O trecho a seguir foi extraído da matéria assinada por Marcelo Carneiro e Camila Pereira. Notemos que, quando um texto jornalístico se esmera em juízo de valor, duas coisas se fazem ausentes: juízo e valor.

"Sua candidatura vinha experimentando um crescimento lento, mas robusto, havia alguns meses, graças a uma campanha que, se não primou pela empatia, enfatizou a necessidade de uma agenda positiva para o Brasil. Com a eclosão do dossiêgate e, em grau menor, as demonstrações de arrogância de Lula, cuja condição de favorito o fez fugir dos debates televisivos, esse crescimento ganhou, pouco antes da votação".

Ao qualificar a agenda do candidato tucano como positiva temos, por antinomia, que seu oponente ou não tem nenhuma ou ela é negativa para o Brasil. Melhor, impossível. Lembrando que a cobertura do "dossiêgate" foi assimétrica na apuração do conteúdo, é importante frisar que a "arrogância" de Lula é uma formulação da revista. Uma percepção subjetiva transformada em anátema. Chamamos a isso jornalismo?

E o roteiro continua:

"Além de recatado, Alckmin é descrito como centralizador. 'Ele sofre para delegar comandos', diz Meirelles. Na semana passada, ao saber que faltavam adesivos com sua foto em um dos comitês de São Paulo, pegou o telefone e reclamou pessoalmente da falha com o responsável pelo escritório. Um trabalho que seria da secretária".

Aqui o procedimento discursivo tende a "humanizar" o estilo do candidato: centralizador e capaz de iniciativas que ignoram formalismos hierárquicos. Estamos longe de um simples relato. Trata-se de construção ideológica. É a mídia exercendo o seu papel de ator político. Operando na centralidade que, paradoxalmente, pode lhe trazer, em curtíssimo prazo, severos revezes. Em suma, estamos falando da Veja e do DNA de uma das famílias mais importantes do baronato midiático. O campo jornalístico e l'omertà nele existente seriam de grande interesse para o Dr. Cesare.

Nada de bom


Época, "que só podia ser da Globo", convida o leitor a um devaneio. "Como seria o Brasil de Alckmin" é a chamada da capa. A matéria assinada por David Friedlander, Guilherme Evelin e Leandro Loyola é um primor de desfaçatez. O trecho a seguir é outro exemplo de prestidigitação pobre. Todo mundo vê o coelho e a cartola furada. Mas ouvem-se aplausos consentidos.

"De Lula, depois de quatro anos de governo, já se sabe o que esperar. Mas e de Alckmin? O que pode mudar no Brasil se ele for eleito? Como seria um eventual governo Alckmin no campo da economia, da saúde, da educação ou da política externa?"

Inédito exercício de futurologia está embutido em "de Lula já se sabe o que esperar". Caberia aos jornalistas escrever o que há de tão previsível em um segundo mandato do atual presidente. Algo a que nem analistas políticos conceituados se aventuram de forma categórica. A menos que a conotação negativa da expressão tenha servido para editorializar o texto. No caso, para ser mais explícita, a formulação correta seria: "Já se sabe que não se deve esperar nada de bom".

Clãs decididos

Outro trecho é emblemático para mostrar o caráter propagandístico da matéria.

"Ideologicamente, Alckmin parece demonstrar mais inclinação que Lula para levar adiante mudanças estruturais no Estado".

O que seriam essas "mudanças estruturais no Estado"? Se o ex-governador guarda alguma coerência ideológica com o programa de seu partido e com a própria gestão à frente de São Paulo, é preciso destacar que é de minimização e desmonte que estamos falando. Não vejam críticas ao candidato nessa conclusão. É apenas constatação de que faltou pesquisa na elaboração da matéria. Se há algo nem um pouco imprevisível é o desdobramento econômico de uma eventual vitória tucana. De Alckmin, depois de cinco anos de governo estadual, já se sabe bem o que esperar. E a família Marinho, a mais poderosa do ramo, espera com ansiedade.

L'uomo delinquente foi publicado em 1876 e teve forte influência no Direito Penal. Resta saber se a ação da mídia, nos últimos meses, não deslocará seu foco para estudos centrados na comunicação de massa. Afinal, estamos lidando com alguns dos mais respeitáveis clãs do país. Gente que não costuma hesitar.

Edição 402 de 10/10/2006
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Antonio Albino Canelas Rubim: A mídia, a política e o voto

ELEIÇÕES 2006

O primeiro turno da eleição 2006 teve como sua marca essencial a despolitização. Isto é, a não discussão das alternativas políticas em disputa no Brasil. Em lugar do debate de projetos alternativos ou das políticas implementadas e formuladas para o país, a grande mídia, sob o pretexto de um compromisso com a ética na política, conseguiu a proeza de empobrecer a agenda pública, agora reduzida a uma dimensão apenas moral. Em lugar de uma pretensa busca pela ética na política, uma triste cena eleitoral com uma hipertrofiada moral, que alija a discussão política deste cenário.

Mais grave: esta descomunal dimensão moral acaba sendo irresponsavelmente partidarizada. Deste modo, a mídia tanto abandonou seu legítimo papel de informar e de analisar criticamente as políticas realizadas e propostas, cumprindo sua função democrática de subsidiar a cidadania em sua decisão autônoma de votar, quanto abdicou de enfrentar a sério a questão ética, pois com sua ostensiva partidarização ela perdeu a autoridade para desempenhar esta tarefa vital ao aprofundamento da democracia no país.

A grande mídia abriu mão da eqüidistância e da contundência necessárias para forçar a mudança de modo radical da organização do sistema político que, todos sabemos, corrói e corrompe praticamente todos os partidos, muitos políticos e parcela da sociedade brasileira. Partidarizada, ela esqueceu a luta essencial por ética na política e se tornou um coadjuvante de peso na disputa eleitoral utilizando a moral como arma seletiva - que atinge os adversários e, de modo vergonhoso, redime seus aliados ao esconder deliberadamente todos os graves casos de corrupção que os envolvem.

Dois projetos

Mais uma vez fica patente que os grandes grupos de comunicação do país estão completamente orientados por seus interesses políticos e econômicos e que entre suas vítimas estão as regras mais elementares do jornalismo comprometido com a transparência, a investigação, a cidadania e a democracia. O tema da democratização da mídia no país emerge aqui com toda sua potência. Mais uma vez é preciso afirmar que sem a democratização da mídia dificilmente teremos uma real democracia na sociedade contemporânea, no Brasil ou em qualquer país do mundo atual.

O segundo turno das eleições abre a possibilidade de, por certo como muita luta, reverter este quadro de despolitização, colocando em cena a discussão dos dois projetos contrapostos que pretendem governar o país nos próximos quatro anos. Quiçá a política volte à cena nestas eleições para que a população brasileira possa exercer de modo autônomo e livre seu direito de escolha - e com isto ajudar a consolidar a democracia no país.

Edição 402 de 10/10/2006
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