domingo, fevereiro 28, 2010

Racismo: el mismo y diferente

Es difícil que se puedan hallar las huellas del racismo institucionalizado en Cuba. No está en las leyes del país ni en las prohibiciones escondidas (llámese decretos, adiciones de incisos a las directivas del Comandante en Jefe) que salen a última hora para amparar a los victimarios.
En la parte oriental de la isla por mucho tiempo se ha hablado, se habla, de Holguín con un ‘fuerte componente racista’ aludiendo quizás a su población mayoritariamente. Aquí en esta provincia las atrocidades han sido más disimuladas de lo que pudiéramos imaginar.
El caso de los presos comunes y políticos desbarata cualquier argumento. Es asombroso que siete de cada diez penados sean de la raza negra según una encuesta clandestina realizada por un grupo opositor en el año 2007. Y por otro lado, los testimonios son elocuentes.
Cuando maltratan a un preso la palabra negro aparece con la primera patada o porrazo. A Zapata Tamayo, en la prisión Provincial de Holguín siempre lo insultaron por ser negro y no saber darle las gracias a la revolución por ‘haberlo salvado de la ignominia’. Jorge Luis García Pérez Antúnez dijo en una entrevista que le hizo una emisora del sur de la Florida que el pasado 28 de diciembre escuchó de parte de un alto oficial de la policía política de Holguín los insultos racistas más grandes que el ha oído en su vida de luchador por los derechos civiles..
Combatir el racismo nunca va a ser un procedimiento retórico mientras un testimonio personal quede en pie.

Texto originário do blog Cruzar las Alambradas.

Desculpem o texto em espanhol, mas acho que é possível entender.

E neste caso, o autor não está falando do Texas, ou das masmorras brasileiras. Está falando de Cuba. Países tão diferentes, racismo semelhante. A semelhança na base dos três países? A exploração do trabalho escravo, com trabalhadores sequestrados na África.

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Cuba: sistema é dependente da repressão

"Sistema é dependente da repressão"

FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

O sociólogo cubano Haroldo Dilla, professor-visitante da Universidade Porto Rico, afirma que o sistema de Havana depende de repressão e de controle dos danos causados pela crise econômica.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/images/ep.gif


MORTE DE ZAPATA
O caso faz Cuba se haver com a enérgica condenação que fez ao caso dos jovens do IRA que morreram em greve de fome protestando contra o governo Margaret Thatcher nos anos 80. E agora? Independentemente se estavam ou não estavam conspirando com os EUA, Zapata e os outros presos políticos foram condenados sem o devido processo em sentenças sumárias. E é por isso que têm de ser soltos. No caso de Zapata, dizem que ele apanhou e que não teve assistência na greve de fome.

REPRESSÃO
O sistema cubano é muito rígido, mas muito frágil. É como uma barreira para represar água, não pode ter um buraquinho ou pode virar um processo imparável... O sistema não pode admitir oposição principalmente num momento no qual a classe política está preparando seu lugar nos negócios no futuro da ilha. É muito importante que não haja nenhuma fissura. Esses feitos repressivos não são exagerados? Não são, fazem parte da lógica do sistema. Por exemplo, o governo não pode permitir internet livre. Por quê? Porque quebraria o monopólio de circulação de informação e da capacidade de convocatória política que tem. Por que não pode liberar as viagens ao estrangeiro? Porque assim perderia o instrumento de dar ou não dar visto de acordo com o "bom comportamento" político. Vários intelectuais se comportam porque essa é a única forma de cuidar de suas carreiras, terem oportunidades fora.

CRISE ECONÔMICA
A oposição em Cuba não são os dissidentes. Por mais atos heroicos que possam fazer, eles não têm contato com a população, e tudo é muito fragmentado. A oposição em Cuba está na apatia, em não ir trabalhar, em ir para os EUA. Agora, com a crise, o governo começa a ter que cortar alguns benefícios, cortar parte da relação paternalista do povo com o Estado. Então, as pessoas passam a se perguntar: vale a pena manter esse sistema? Numa mudança, perderei algo se já não tenho nada? Essa é a preocupação do regime. Mas não dá para falar em prazos. Há uma paralisia agora, mas isso pode mudar. Depende de vários fatores: o governo Chávez, a morte de Fidel, achar petróleo no golfo do México, os EUA liberarem todas as viagens...

Publicado na Folha de São Paulo, de 25 de fevereiro de 2010.

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sábado, fevereiro 27, 2010

O racismo institucional da PM baiana

Por Fernando Grassi

Beyoncé, a pista Vip e o racismo institucional

Por Jocélio Teles dos Santos*

Na madrugada do dia 10 de fevereiro um dos canais de televisão pagos projetou o filme O Homem Errado de Alfred Hitchcok (1956). Trata-se de um músico de uma casa noturna (interpretado por Henry Fonda), religioso, casado, de vida pacata e que é confundido, acusado e preso pela polícia americana por um crime que não cometeu. Ao ver o filme eu me perguntei: e se o personagem fosse de cor na sociedade americana de antanho ou na atual sociedade brasileira? Qual seria o roteiro e o desfecho? A resposta veio em menos de vinte e quatro horas.
Provocado pela mídia me desloquei com um amigo para o show de Beyoncé no Parque de Exposições em Salvador. Havíamos comprado ingressos para a pista Vip no intuito de uma visão ideal do show da mega estrela. E esta área estava restrita a quem pagasse R$370,00 por cabeça. Enquanto assistíamos ao show de Ivete Sangalo deparei-me com um fato que exemplifica o racismo institucional.

Uma guarnição da Polícia Militar abruptamente abordou o meu amigo, circundando-o e já levando-o de modo truculento, sem nada perguntar, segurando-o pelo braço por trás, pela camisa, na costumeira fila, dita indiana, da corporação do Estado. Ao me aproximar para saber o que estava acontecendo, os soldados me afastaram e não tive outra alternativa que acompanhá-los no meio da fileira, mesmo falando que estávamos juntos e procurando saber do que se tratava. A resposta do corpo policial traduziu força e ameaça, mesmo que implícita, sem nenhum texto, a não ser o gestual, demonstrando que não há verbo capaz de estabelecer um possível diálogo entre sujeitos que detém e os que devem ser alijados de alguma relação com quem personifica o poder.

O meu amigo estupefato não reagiu. Foi levado para um canto da pista VIP, próximo aos holofotes e humilhado pela revista policial, como se estivesse cometido um delito. Sendo obrigado a mostrar a carteira de identidade, teve que dizer onde residia e, por fim, após a crueldade de todo o rito da PM, ouviu a seguinte frase do responsável pela guarnição: “houve um roubo aqui na área VIP e soube que a pessoa era do seu estilo”. Qual estilo, cara pálida? Respondo: o da cor/raça. Meu amigo é negro retinto.

A área VIP era formada majoritariamente por indivíduos de classe média e branca. Se comparada com a área de pista mais barata – preços no valor de 80,00 e R$160,00 – ali havia uma proteção policial considerável, mesmo sendo uma área cara, reservada e sem grande fluxo de pessoas. Durante o evento havia sempre duas guarnições. A lógica da distribuição policial em espaços de eventos elitizados parece obedecer a critérios. Quais? Procuremos os sentidos implícitos, já manifestos a distribuição desigual da PM na capital soteropolitana.

Diante desse fato de racismo explícito, o que dizer dos olhares das pessoas diante de tal brutalidade? Mesmo que elas estivessem freneticamente dançando ao som de Sangalo, não houve reações, o que demonstra a subjetividade e a introjeção do racismo na sociedade brasileira. Ao ver um negro sendo levando por policiais, mesmo ele estando na área VIP, algo que indica um diferencial em termos de classe, um sentimento de proteção emana das cabeças ali situadas. A naturalização do racismo – uma pessoa negra sempre é suspeita – associa-se aos que imaginam estarem sempre protegidos pela corporação militar.

Exemplos como esse abundam no país. O diferencial é que foi na ala VIP de um show. Lembro-me que no debate sobre as cotas raciais nas universidades os que eram contrários insistiam em dizer que no Brasil é difícil definir quem é negro. A resposta dos ativistas atualizou-se na área VIP para ver Beyoncé: “pergunte a polícia e ela saberá”.
______
*Departamento de Antropologia e Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Estudos Étnicos e Africanos da Universidade Federal da Bahia.

http://aldeia-gaulesa.blogspot.com/


Visto no blog do Luís Nassif.

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quinta-feira, fevereiro 25, 2010

A condenação de Bordaberry

via Luis Nassif de luisnassif em 14/02/10

Por Jeová Barros de Almeida Júnior

Mais um!

O ex-ditador uruguaio, Juan María Bordaberry, que governou o país entre 1973 e 1976, foi condenado, pela segunda vez. Na primeira vez, ele havia sido condenado pela morte de 14 pessoas, mas, nessa segunda, foi condenado por atentar contra a constituição uruguaia e pelo golpe de estado.

Segundo a juíza responsável pela condenação:

“Não muda em nada o tempo de reclusão e não é nosso interesse. O tema é que é emblemático para nós, simbólico. Quando se viola a Constituição, quando se dá um golpe de Estado, com o tempo se vai pagar”.

E completou: “É um dos poucos casos de condenação de ditadores no mundo, é significativo”,

Links:

http://odia.terra.com.br/portal/mundo/html/2010/2/condenacao_a_ex_ditador_uruguaio_e_marco_na_america_latina_63699.html

http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,ex-ditador-uruguaio-e-condenado-a-30-anos-de-prisao,509942,0.htm

Visto no blog do Luís Nassif.

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Filho de líder do Hamas diz a jornal que foi 'espião de Israel'

Filho de um dos líderes do grupo militante palestino Hamas, Mosab Hassan Yousef afirmou em entrevista publicada nesta quinta-feira pelo jornal isralense Haaretz que trabalhou como espião para o serviço de inteligência Shin Bet, de Israel.

A entrevista antecede o lançamento da biografia do palestino de 32 anos, que se converteu ao cristianismo e hoje vive na Califórnia, nos Estados Unidos.

A afirmação de Mosab Hassan Yousef foi confirmada à BBC por um ex-diretor do Shin Bet. No entanto, o Hamas desmentiu as declarações e afirmou que trata-se de uma iniciativa com o objetivo de "difamar" o grupo palestino.

Yousef é filho do xeque Hassan Yousef, uma das principais figuras e co-fundador do Hamas na Cisjordânia, atualmente cumprindo pena de seis anos em uma prisão israelense.

Caso as declarações de Mosab Hassan Yousef sejam verdadeiras e ele realmente tenha participado de esforços para evitar ataques a Israel, o grupo palestino deve sair desmoralizado do episódio.

Um dos maiores motivos de orgulho do grupo é a sua disciplina ferrenha. O Hamas também se distancia da Autoridade Palestina por não concordar com a atitude de negociar a paz com Israel.

O caso de Yousef seria antigo, mas recentemente surgiram rumores de que o grupo teria sido traído, quando o líder Mahmoud al-Mabhouh foi assassinado em Dubai, em 20 de janeiro.

Conversão

Em 2007, Mosab Hassan Yousef se converteu ao cristianismo e se mudou para os Estados Unidos.

Desde então, ele se dedicou a escrever o livro Son of Hamas ("Filho do Hamas," em tradução literal), que deve ser publicado nos Estados Unidos em breve.

"Ele, como centenas de outros que lutam contra o terror, forneceu informações muito importantes", disse Gideon Ezra, ex-vice-diretor do Shin Bet, que atualmente atua como parlamentar no Knesset pelo partido Kadima.

Ezra disse que o filho do xeque Hassan Yousef foi convencido a dar informações a Israel quando ele próprio cumpria pena de prisão.

O líder do Hamas Ismail Radwan afirmou que a reportagem do Haaretz é uma "difamação infundada" para atingir o pai de Yousef.

"O povo palestino tem grande confiança no Hamas e na sua luta e não vai ser enganado por essa difamação e essas mentiras sobre a ocupação de Israel", disse Radwan à agência de notícias AFP.

O jornalista do Haaretz que assinou a reportagem, Avi Issacharoff, afirmou na quarta-feira à BBC que, por ora, Yousef não está interessado em dar outras entrevistas.

Em 2008, a conversão de Yousef ao cristianismo chocou muitos muçulmanos na Faixa de Gaza. Ele foi muito criticado por sua apostasia (abandono da fé).

Fonte confiável

Mosab Hassan Yousef era considerado a fonte mais confiável do Shin Bet sobre a liderança do Hamas, o que lhe valeu o apelido de "príncipe verde", em referência à cor da bandeira do grupo e ao parentesco com um dos fundadores do movimento, segundo o Haaretz.

Um dos contatos israelenses do suposto espião afirmou ao jornal israelense que ele teria salvado muitas vidas e que apenas uma de suas informações teria valido "mil horas de reflexão dos maiores especialistas".

"A coisa mais extraordinária é que nenhuma das ações dele foi motivada por dinheiro", disse o agente, identificado no livro como "capitão Loai".

Na entrevista telefônica ao jornal, o próprio Yousef parece estar entusiasmado com a luta de Israel contra o Hamas.


"Queria estar em Gaza agora", teria dito Yousef, da Califórnia. "Eu vestiria um uniforme do Exército e me juntaria às forças especiais de Israel para libertar Gilad Shalit (refém israelense sob poder do Hamas)."

Gideon Ezra afirma que, para Israel, não é fácil se infiltrar no Hamas, mas que o país "faz o melhor que pode".

De acordo com Ezra, Israel não tem escolha a não ser cooptar militantes palestinos para evitar ataques. Ele afirma, entretanto, que a situação da segurança na Cisjordânia melhorou sob o controle da Autoridade Palestina, do ponto de vista israelense.

O parlamentar diz ainda que há muitos motivos para palestinos aceitarem atuar como informantes.

"Depende de cada pessoa. Você não pode forçá-los com ameaças. Se eles não quiserem, não há como forçá-los."

Notícia da BBC Brasil.


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A paz que reina sobre nós

A palavra “pacificação” tornou-se, infelizmente, uma categoria da política gaúcha. Infelizmente porque o seu uso aponta na direção oposta do que parece sugerir. Chega a ser constrangedor ver como essa tese, histórica e intelectualmente indigente, deitou raízes com relativa facilidade no debate político do Estado, ganhando adeptos mais ou menos inocentes, inclusive à esquerda. Juntamente com o discurso do “novo”, a pacificação adquiriu ares de agenda política, econômica e cultural. Uma máscara, como se sabe, que esconde a verdadeira face daqueles que a ostentam. Uma máscara que é retirada do armário apenas em alguns momentos estratégicos, quando é preciso esvaziar o debate político de sentido, memória e história.

Esta fraude começou na campanha eleitoral de 2002, com Germano Rigotto (PMDB). O então deputado federal foi eleito pregando o fim da “guerra” entre o PT e Antonio Britto. Assim mesmo, entre o PT, representado por Tarso Genro naquela eleição, e Britto. O PMDB, partido que governou o Estado com Britto de 1995 a 1998 e implementou uma agressiva política de privatizações, apresentou-se na campanha de 2002 como algo novo que não tinha nada a ver com esta “guerra”. Ninguém pregou a “pacificação”, é claro, quando o PMDB declarou guerra às empresas públicas no Estado. E a paz veio. A vitória de Rigotto, o candidato da pacificação e da terceira via, prometeu uma nova era, de paz e prosperidade, para gaúchos e gaúchas.

Quatro anos após um governo insosso, a população avaliou o legado do pacificador. Reprovado! Sequer foi ao segundo turno da eleição de 2006. Ocupou seu lugar a mensageira do novo. Depois da paz, o novo jeito de governar. Mas Yeda Crusius também valeu-se do discurso da pacificação em sua campanha, pregando o fim da polarização entre PT e PMDB no Estado, a necessidade de seguir um “novo caminho”. E o Rio Grande do Sul seguiu um novo caminho. Três anos depois, instituições como Ministério Público Federal, Justiça Federal e Polícia Federal apontavam a existência de uma quadrilha instalada no aparelho de Estado para roubar dinheiro público. A ação desta quadrilha viria desde o governo anterior, o da pacificação.

Chega 2010, uma nova eleição, e, mais uma vez, os arautos da pacificação saem do armário para fazer seu trabalho. Cabe registrar a seletividade da aplicação da tese. Quando a esquerda governou o Estado, a guerra era um dever para os cruzados da direita gaúcha. E ela foi travada do primeiro ao último dia de governo. Nos Pampas, nunca se ouve o clamor pela paz quando a Brigada Militar está reprimindo manifestações de sem terra ou de algum sindicato. Neste caso, a palavra “paz” cede espaço a outros termos: baderna, perturbação. A pacificação não se aplica também às quadrilhas organizadas para roubar dinheiro público. Para estas, as quadrilhas, vale (mil vezes) o benefício da dúvida e a exigência de infinitos fatos novos e provas irrefutáveis.

Em resumo, para dizer em bom português, o discurso da pacificação é uma estratégia chinelona (para usar um termo técnico) da direita gaúcha (para usar outro termo técnico) com um duplo objetivo: colar na esquerda o adesivo da guerra e fazer da direita (que, em sua eterna invisibilidade, nunca se apresenta como tal) a mensageira da paz. Uma estratégia que obteve sucesso nos últimos sete anos, o que só depõe contra a qualidade da capacidade de elaboração política da esquerda gaúcha neste período. E este sucesso tem uma tradução bem concreta: precarização dos serviços públicos, fim de políticas sociais, desmonte da legislação ambiental, saque ao patrimônio público, apropriação de bens públicos pelo grande capital. Essa é a paz que reina sobre nós.

Texto do RS Urgente.


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A OEA e a reeleição de Insulza

A OEA autônoma conquistou seu espaço

DANTE CAPUTO

NOS ÚLTIMOS dias temos visto algumas opiniões críticas serem expressas com relação à Organização dos Estados Americanos, personalizadas na figura de seu secretário-geral, José Miguel Insulza.
O objetivo das críticas é, sem dúvida, bloquear a possibilidade de Insulza ser reeleito para seu cargo.
O que lemos -relatórios apresentados ao Senado dos EUA, informes de opinião, entrevistas- revela apenas a ponta do iceberg. Mais importante foi o que ficou invisível: as pressões que certos setores da política norte-americana e seus aliados mais tradicionais exercem, dentro e fora de seu país, sobre compatriotas e estrangeiros visando evitar a reeleição.
Os argumentos usados na crítica são fracos e pouco coerentes com os objetivos que se pretendem defender.
Na verdade, o ataque a Insulza não expressa uma polêmica sobre a melhor forma de defender a democracia -antes, é uma forma de luta para ocupar posições de poder.
Um primeiro argumento procura demonstrar que o secretário-geral da OEA não defende a democracia com eficácia e que seu viés ideológico -socialista- o leva a perdoar os erros dos amigos e exagerar os dos adversários.
As lições de democracia são francamente irritantes para os que sofreram ditaduras que mataram e torturaram, para os que foram perseguidos e tiveram que passar boa parte de suas vidas no exílio, para os que fizeram política lutando contra as ditaduras, para os que não herdaram a democracia, mas lutaram para conquistá-la.
Mais ainda quando essas acusações são feitas por pessoas que não manifestaram receios semelhantes em cultivar boas relações com os regimes autoritários do mundo.
Assim como os críticos que acusam Insulza não sabem defender a democracia, eles esquecem que ele foi perseguido pela ditadura por 17 anos, que foi gestor dos consensos no Chile e um dos principais arquitetos da transição e da complexa busca de equilíbrios entre direitas e esquerdas.
Há pouco mais de dois anos, Insulza apresentou para o Conselho Permanente da OEA uma agenda para a discussão da Carta Democrática. Nela se insinuava a ideia de que as ameaças à democracia são mais amplas do que as que existiam em décadas passadas.
Antes, o risco era a destituição dos presidentes. Hoje, podem ser o cesarismo, a pobreza, um Poder Executivo que avança sobre os outros Poderes ou sobre a própria sociedade. A sugestão de debater a questão não foi levada adiante. Apesar disso, alguns acusam o secretário-geral de não se preocupar com o desempenho dos governos democraticamente eleitos.
A impressão que se tem é que o problema é outro. Hoje, a OEA existe politicamente na América Latina e é vista como ator político. Até agora, para muitos países, a organização era a extensão da política externa de um de seus Estados-membros e, assim, sua voz não era levada em conta.
Nesse contexto, soa estranha a concepção daqueles que -em nome da promoção da democracia- querem uma OEA absolutamente alinhada, mesmo que o preço para isso seja a irrelevância da instituição. É difícil entender a utilidade de controlar uma voz que não é ouvida. A não ser que o objetivo real seja evitar que uma voz plural e crescentemente independente ocupe um espaço político na região.
A OEA plural, que recebe críticas da direita e da esquerda (alguns esquecem os epítetos lançados contra Insulza por personagens da região que, segundo os relatórios críticos, seriam seus "protegidos"), está emergindo como referência política. Ela vem levando adiante dezenas de missões eleitorais sem que um único país (nem governo nem oposição) tenha feito objeções ao trabalho da organização. Vem mediando processos de crises políticas, como na Nicarágua, salvando a paz e encaminhando o país em seu processo institucional. Vem atuando de modo preventivo, com discrição, em muitas situações delicadas, evitando a escalada de conflitos.
Essa é uma organização que trabalha sobre a base do consenso. A maior parte de suas decisões é tomada por acordos unânimes. É difícil adotar decisões operacionais com a concordância de todos, mas, quando se consegue, essas decisões têm força e legitimidade. Talvez seja o caso de discutir algumas questões novamente, mas em nenhum caso se pode ignorar essa prática essencial da OEA.
Insulza soube criar uma direção política em um sistema multilateral no qual a prática é conseguir, na medida do possível, a concordância de todos. Chama a atenção o fato de que os que têm anos de atividade política não tenham destacado a conquista que isso representa: tomar decisões sem a discordância de nenhum membro e que, além disso, sejam práticas.
A OEA autônoma, reflexo da pluralidade de seus Estados-membros, conquistou definitivamente um espaço na região. Hoje ela pode fazer mais pela democracia porque não obedece às ordens de ninguém, mas soube construir consensos no território imensamente difícil das diferenças e rivalidades políticas.


DANTE CAPUTO é ex-ministro das Relações Exteriores da República Argentina (1983 e 1989) e ex-secretário de Assuntos Políticos da OEA (2005 a 2009).

Tradução de Clara Allain .

Texto publicado na Folha de São Paulo, de 23 de fevereiro de 2010.

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segunda-feira, fevereiro 22, 2010

Manual de tortura light

Por André

Será que existe tortura light ou seria torturabranda

Da BBC Brasil

Conheça os métodos de interrogatório usados pela CIA

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos divulgou na quinta-feira quatro memorandos detalhando as técnicas de interrogatório aprovadas para uso da CIA (agência de inteligência americana) durante o governo de George W. Bush.

Os documentos contêm justificação legal para os métodos, que são internacionalmente criticados como formas de tortura.

O primeiro memorando, de agosto de 2002, descreve dez técnicas. O Departamento de Justiça concluiu que, de acordo com as leis americanas, os métodos não constituíam tortura.

Os outros três memorandos, de maio de 2005, incluíram quatro novas técnicas e confirma que a combinação dos métodos era permitida.

As técnicas seriam usadas para “vencer a resistência” de suspeitos que já estivessem acostumados ao tipo de tratamento recebido nas prisões.

Veja abaixo as técnicas descritas e seus possíveis efeitos sobre os prisioneiros, conforme foram descritos nos memorandos:

Privação do sono

“Geralmente, um prisioneiro interrogado com o uso desta técnica é algemado em pé com as mãos à frente do corpo, o que faz com que ele não consiga dormir, mas também permite que ele se mexa em uma área de cerca de meio metro de diâmetro.”

“Está claro que privar alguém de sono não envolve dor física severa (…) A privação de sono também não constitui um procedimento calculado para perturbar profundamente os sentidos desde que seja usada (…) por períodos limitados, antes que possam ocorrer alucinações ou outras perturbações dos sentidos.”

Nudez

“O prisioneiro pode ser mantido nu, desde que a temperatura ambiente e o estado de saúde dele permitam.”

“Apesar de alguns prisioneiros se sentirem humilhados por esta técnica, especialmente por conta das possíveis diferenças culturais e a possibilidade de serem vistos por oficiais mulheres, ela não pode constituir ‘dor ou sofrimento mental severo’ de acordo com o estatuto.”

Manipulação dietética

“Esta técnica envolve a substituição de comida normal por refeições líquidas comerciais, oferecendo ao prisioneiro uma dieta sem gosto e inapetente, mas nutricionalmente completa.”

“Apesar de não compararmos alguém que se submeta voluntariamente a um programa de perda de peso a um prisioneiro que tenha sua dieta manipulada como técnica de interrogação, nós acreditamos ser relevante que muitos dos programas dietéticos disponíveis nos Estados Unidos envolvem uma redução semelhante ou maior do consumo de calorias.”

Tapa na barriga

“Nesta técnica, o responsável pelo interrogatório golpeia o abdômen do prisioneiro com as costas da mão aberta. O interrogador não deve usar anéis ou outras bijuterias na mão.”

“Apesar de a técnica envolver um pouco de dor física, ela não pode (…) envolver até mesmo dor moderada, muito menos dor física severa ou sofrimento.”

“Agarrar” a atenção

“Essa técnica consiste em agarrar o indivíduo com as duas mãos, uma em cada lado do colarinho, num movimento rápido e controlado.”

“Segurar o rosto, ou ‘agarrar’ a atenção, não envolve dor física. Na falta dessa dor, é óbvio que não pode se dizer que ele inflige (…) sofrimento físico.”

Tapa no rosto

“O responsável pelo interrogatório dá um tapa no rosto do indivíduo com os dedos ligeiramente abertos… O objetivo do tapa na cara é induzir choque, surpresa e/ou humilhação.”

“O tapa no rosto não produz dor difícil de tolerar.”

Segurar o rosto

“A técnica de segurar o rosto é usada para manter a cabeça imóvel. As mãos abertas são posicionadas de cada lado do rosto do indivíduo. As pontas dos dedos são mantidas distantes dos olhos.”

Simulação de afogamento (”waterboarding”)

“O método, com o uso de um pano, produz a percepção de ‘sufocamento e princípio de pânico’, ou seja, a percepção de afogamento. O indivíduo não chega a inspirar água para os pulmões. Um pano enrolado é colocado sobre a boca e o nariz do indivíduo, e a água é continuamente aplicada a uma altura de 40 cm a 80 cm, durante 20 a 40 segundos… a sensação de afogamento é imediatamente aliviada pela remoção do pano. O procedimento, pode então, ser repetido, depois que o indivíduo respirar três ou quatro vezes.”

“Apesar de o sujeito poder sentir medo ou pânico associados à sensação de afogamento, a técnica não inflige dor física… Apesar de a simulação de afogamento constituir uma ameaça de morte iminente, os danos mentais prolongados não podem resultar em violações estabelecidas por lei que proíbem o infligir de dor ou sofrimento mentais severos. (…) o alívio é quase imediato quando o pano é removido da boca e do nariz. Na ausência de danos mentais prolongados, nenhuma dor ou sofrimento mental será infligido, e o uso desses procedimentos não constitui tortura de acordo com o significado estabelecido por lei.”

Banho de água gelada

“Água gelada é jogada sobre o prisioneiro a partir de um vaso ou uma mangueira sem bocal… A água jogada sobre o prisioneiro tem que ser potável e os responsáveis pelo interrogatório têm que estar certos de que a água não entre na boca, nariz ou olhos do prisioneiro.”

“Consequentemente, dado que não há expectativas de que essa técnica cause dor ou sofrimento severo quando usada de maneira apropriada, nós concluímos que o uso autorizado dela por um interrogador treinado adequadamente não poderia ser considerado como algo usado especificamente para obter esses resultados.”

Em pé contra a parede

“Usada para causar fadiga muscular. O indivíduo é colocado a cerca de 1 m ou 1,5 m de uma parede… Seus braços são estendidos para frente, com os dedos se apoiando na parede.” (Neste caso, todo o peso do corpo seria sustentado pelos dedos).

“Qualquer dor associada à fadiga muscular não tem intensidade suficiente para se tornar ‘dor ou sofrimento físico severo’ de acordo com a lei, nem, apesar do desconforto, pode se dizer que ela é difícil de suportar.”

Posições de estresse

“Essas posições não foram criadas para produzir dores associadas com a contorção ou torção do corpo (…) Elas foram criadas para produzir desconforto físico associado à fadiga muscular.”

Confinamento apertado

“O confinamento apertado envolve colocar o indivíduo em um espaço confinado, cujas dimensões restrinjam os movimentos do indivíduo. O espaço confinado é, normalmente, escuro.”

“Pode se argumentar que, dado que a caixa não tem luz, a colocação nessas caixas constitui um procedimento para prejudicar profundamente os sentidos. Como explicamos em nossa recente opinião, no entanto, para ‘prejudicar profundamente os sentidos’ uma técnica tem que produzir um efeito extremo no sujeito.”

“Nenhuma outra técnica corretiva ou de coerção podem ser usadas quando o indivíduo está no confinamento apertado.”

Confinamento com insetos

O documento diz que a técnica consistiria em colocar uma pessoa em uma caixa junto com um inseto que pode picá-la. Nesse caso, o responsável pelo interrogatório precisa garantir que “a picada não vai produzir morte ou dor severa.”

“Pendurado”

“O interrogador empurra o indivíduo contra a parede de maneira rápida e firme (…) A cabeça e o pescoço são apoiados com uma toalha enrolada… para ajudar a evitar um açoitamento.”

“Vocês nos informaram que o som da pancada na parede será na realidade muito pior do que qualquer possível ferimento no indivíduo. O uso da toalha enrolada em volta do pescoço também reduz o risco de ferimentos. Enquanto este método possa machucar… qualquer dor sentida não terá a intensidade associada com ferimentos físicos graves.”

“O método exaure o detento e aumenta a sensação de “estar desnorteado”, mas “não pode ser usado ao mesmo tempo que outras técnicas”.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/04/090417_memoseuadetalhesml.shtml


Texto originário do blog do Luís Nassif.


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A farsa sem vergonha da polícia do Arruda

Antes de contar o que vou contar, quero deixar claro o seguinte: sou contra a descriminalização da droga, sou careta, não aceito que meus filhos usem drogas e considero necessário um combate eficiente ao tráfico em Brasília, antes que as ilhs de miséria em torno da cidade, uma das mais altas rendas per capita do país, se tornem exército de mão de obra de reserva para o crime organizdo, como no Rio. Mas me duisponho a discutir isso em outra oportunidade. O assunto aqui é outro: a preocupante fascistização da polícia no Distrito Federal.

Agora, a história:

Sempre ouvi, em jornais, histórias de como certas polícias fazem operações de efeito, como propaganda, para encobrir a própria ineficiência. Li, no excelente Notícias do Mirandão, livro do jornalista Fernando Molica, cenas do gênero. Nunca pensei esbarrar com algo parecido. Mas fico pensando o que foi que aconteceu nessa madrugada, em Brasília, sob o nome marqueteiro de Operação Abstinência, quando guardas despreparados, com truculência parecida com a que reprimiu estudantes que se manifestavam contra o governo Arruda, intimidaram, agrediram e ameaçaram jovens moradores do Distrito Federal, com a arrogância que só os batalhões do tempo do general Newton Cruz costumavam fazer.

Resultado da operação, que intimidou centenas de pessoas, obrigou cidadãos a jogar-se no chão ou permanecer por duas horas de pernas abertas com as mãos na parede: seis prisões (vendidos à imprensa como traficantes, quem sabe são, quem sabe nem são). E a demonstração, para meus filhos, de que não podem sair de madrugada na cidade, mesmo que estejam de férias, porque na madrugada de Brasília não existem direitos, e os policiais são promotores, juízes e executivo, embora não haja nenhuma proibição legal ou implícita para que jovens aproveitem as férias jogando sinuca em um dos poucos pontos abertos na capital.

Diz o Correio, AQUI: A comercial da Asa Norte vinha sendo monitorada 24 horas por dia há duas semanas. A investigação, que envolveu mais de cem policiais infiltrados, surgiu das constantes reclamações de moradores assustados com a venda e uso de droga na região. Segundo a Direção Geral da Polícia Civil do Distrito Federal, apesar da certeza de que a maioria das inúmeras pessoas revistadas no local sejam usuários, não há nada a fazer caso não se encontre droga.

Monitoramento bacana esse, que, após semanas de investigação, com "agentes infiltrados", prendeu seis mequetrefes e aterrorizou quase 50 pessoas sem acusação formal, indício de culpa ou mesmo motivos de suspeita, além do fato de estarem se divertindo de madrugada.
Entre as pessoas ameaçadas pela polícia, abusadas e em seguida liberadas estavam meu filho (estudante de engenharia mecatrônica no terceiro ano, um dos alunos de maior nota da classe, ex-diretor da empresa júnior de mecatrônica da UnB, atualmente fazendo curso de férias de introdução à Economia na UnB), minha filha (estudante de psicologia no quinto ano, ex-estagiária da Rede Sarah, aluna exemplar, engajada em programas de atendimento a mulheres e adolescentes em situação de risco), o namorado dela, o irmão (vizinhos, ambos; o pai deles, por infeliz coincidência, amigo de um dos policiais que estiveram na "ação") e dois amigos estudantes de psicologia da UnB. Minha filha, obrigaram-na a encostar na parede com um rapaz encostado atrás dela; meu filho, um meganha agrediu entre as pernas. Cenas de horror e perplexidade para eles, a quem sempre ensinei a respeitar autoridades e condenar a relação de amigos ou conhecidos com traficantes de drogas.

O namorado, por estar com a camisa do Flamengo, recebeu a seguinte ameaça de um policial: "sai daqui, flamenguista, só pode ser traficante". Se todo flamenguista em Brasília for traficante em potencial, vaticino muitas prisões nessa Operação Abstinência. O irmão dele, de 18 anos, foi alegmado, e em seguida solto quando o irmão reclamou com os policiais. (correção: após humilhado, abusado e liberado, ele perguntou ao policial se podia sair por determinado caminho e recebeu como resposta: "vai para a PQP, seu flamenguista maconheiro").

Outra amiga chegou a ser algemada também, e apresentada à equipe de tv como membro da quadrilha de traficantes _ para, logo em seguida, ser solta, sem acusação nenhuma, sem suspeita nenhuma. Suspeita tenho eu: desconfio que havia poucos presos para mostrar às câmeras na palhaçada aparentemente montada para mostrar serviço, e o show tinha de continuar. "Foi filmada, foi filmada", disse um policial aos repórteres.

Não foi. Gostaria que o Correio requisitasse essa filmagem. E que pedisse explicações à polícia: se havia filmagens e suspeitas, porque a soltaram, sem regisrar nem o nome, sem nem sequer levar à delegacia?

Não vale argumentar que o filme a que se referiam os policiais era ds que mostram o governador do DF e deputados botando dinheiro em meia. Esses, a polícia saiu defendendo, espancando estudantes que reivindicavam justiça.

O local era uma sinuca, sítio habitual de encontro de jovens brasilienses (certamente haverá usuários de drogas entre eles; que sejam punidos os que transgredirem a lei, detidos, feito o que for legal _ e podemos discutir isso politicamente, me parece que nem a lei acolhe o que fizeram os policiais; atacar indiscriminadamente as pessoas pelo fato de estarem em determinado local, que é frequentado por brsilienses de tods as diades, até jornalistas que conheço, não usuários de droga; e não é apontado na cidade como valhacouto de criminosos ou traficantes, isso não está em lei, decreto ou código nenhum só o do fascismo policial).


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(P.S.: escrevo isso a pedido de meus filhos, que vieram me contar o episódio hoje, e me cobram o que lhes ensinei: que, se não transgedirem a lei, têm a polícia como aliada. A polícia. Não os burocratas truculentos que encobrem ineficiência com espetáculos para a midia).

Texto originário do Sítio do Sérgio Léo.


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As novelas e o comportamento do brasileiro

Economista vê aumento de divórcios


DA SUCURSAL DO RIO


As novelas brasileiras refletem um segmento específico da sociedade: setores urbanos, de classe média ou alta, independentes e emancipados. É a conclusão do economista peruano Alberto Chong, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Coordenador de dois estudos sobre as novelas brasileiras -um focado em taxas de fertilidade e outro, em índices de divórcio-, Chong e equipe analisaram 115 novelas exibidas pela Globo às 19h e às 20h, entre 1965 e 1999.
As taxas de fertilidade (número de nascidos vivos por mulher em idade reprodutiva) caíram 60% no período, enquanto os divórcios aumentaram mais de cinco vezes desde a década de 80. Nos mesmos anos, a presença dos aparelhos de TV nos domicílios aumentou em mais de dez vezes.
"Nossos resultados indicam que, mesmo levando-se em conta outros fatores ligados a desenvolvimento [do país] e similares, ainda notamos um impacto significativo das novelas em longo prazo", diz Chong.
Áreas com e sem sinal da Globo, por exemplo, têm diferenças consideradas significativas pelo economista. Caiu 0,6 ponto percentual a taxa de fertilidade em regiões que recebiam as novelas da emissora.
O contrário ocorre com o divórcio: é maior (de 0,1 a 0,2 ponto percentual) a porcentagem de mulheres separadas ou divorciadas de 15 a 49 anos em áreas de alcance do sinal.
Nas novelas, segundo o estudo, 26% das personagens principais eram infiéis.
(AF)


Texto da Folha de São Paulo, de 31 de janeiro de 2010.

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segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Sobre o Golpe em Honduras e a posse de Porfírio Lobo

O GOLPE PERFEITO
A Reuters noticiou a saída de Manuel Zelaya, em título, como "vitória dos líderes do golpe". O espanhol "El País", também no título, falou em "o golpe perfeito", destacando que o chefe militar da ação foi anistiado e o presidente "de fato" virou "deputado vitalício".
O britânico "Guardian" destacou, também no título, "o golpe infeliz", dizendo que "a oposição ao golpe perdeu, mas também todos os hondurenhos", com a economia abalada pelos sete meses de conflito.




O FIM
O "NYT", sem abrir mão de citar "o golpe de 28 de junho" no texto, publicou que a saída de Zelaya e a posse de Porfírio Lobo "apontam para um fim na crise política". De qualquer maneira, "o país permanece dividido".




UM NOVO COMEÇO
O "WSJ" concentrou seu enunciado em Lobo, que "chama para um novo início" em Honduras. Entre frases sobre "conciliação", o novo presidente prometeu, como querem os EUA, instalar uma "comissão da verdade".


Trechos da coluna Toda Mídia, na Folha de São Paulo, de 29 de janeiro de 2010.


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A Democracia Americana é uma ficção útil

Democracy in America Is a Useful Fiction

por Chris Hedges*, no
Common Dreams, por indicação do Marco Aurélio

As forças corporativas, bem antes da decisão da Suprema Corte no processo Cidadãos Unidos vs. Comissão Eleitoral Federal [nessa decisão, a maioria da Suprema Corte dos Estados Unidos reduziu os limites para as doações financeiras das corporações no processo político], deram um golpe de estado em câmera lenta. O golpe acabou. Perdemos. A decisão é apenas mais uma tentativa judicial de reduzir os mecanismos de controle corporativo. Expõe o mito de uma democracia em funcionamento e o triunfo do poder corporativo. Mas não altera o quadro político. O estado corporativo está firmemente cimentado em seu lugar.

A ficção da democracia permanece útil, não apenas para as corporações, mas para nossa classe liberal falida. Se a ficção for seriamente desafiada, os liberais serão forçados a considerar a resistência, o que não será prazeroso, nem fácil. Enquanto a fachada democrática existir, os liberais podem se engajar em posturas morais vazias que requerem pequeno sacrifício ou compromisso. Eles podem ser os líderes auto-indicados do Partido Democrata, agindo como se fossem parte do debate e se sentindo vingados com seus gritos de protesto.

Muito do protesto expresso sobre a decisão da Suprema Corte é ultraje daqueles que preferem essa coreografia. Enquanto ela existir, eles não precisam se preocupar em como combater o que o filósofo político Sheldon Wolin chama de nosso sistema de "totalitarismo invertido".

Ele representa "a chegada ao período do poder corporativo e da desmobilização política da cidadania", escreveu Wolin em seu livro Democracia Inc. O totalitarismo invertido difere das formas clássicas de totalitarismo, que giram em torno de um líder demagógico ou carismático, e encontra sua expressão no anonimato do estado corporativo.

As forças corporativas por trás do totalitarismo invertido não fazem como os movimentos totalitários clássicos, que anunciam a substituição de estruturas decadentes por estruturas revolucionárias. O totalitarismo invertido supostamente honra a política eleitoral, a liberdade e a Constituição. Mas faz isso de forma tão corrupta e manipuladora das ferramentas do poder que torna a democracia impossível.

Totalitarismo invertido não é conceituado como uma ideologia, nem é tema de políticas públicas. Ele avança através de "autoridades e cidadãos que muitas vezes parecem não se dar conta das consequências de suas ações ou inações", Wolin escreve. Mas é tão perigoso quanto as formas clássicas do totalitarismo. Em um sistema de totalitarismo invertido, como a decisão da Suprema Corte ilustra, não é necessário reescrever a Constituição, como regimes fascistas ou comunistas fazem. É suficiente explorar os meios de poder legítimos através da interpretação legislativa ou judicial.

Essa exploração assegura que grandes contribuições de campanha das corporações sejam protegidas como "direito à liberdade de expressão" sob a Primeira Emenda [da Constituição dos Estados Unidos]. Assegura que a atividade lobista organizada e pesadamente financiada pelas grandes corporações seja interpretada como protegida pelo direito da população de peticionar ao governo. Aqueles que dentro das corporações cometem crimes podem evitar a cadeia pagando grandes somas de dinheiro ao governo enquanto, de acordo com a interpretação judicial, não "admitem qualquer crime". Existe uma palavra para isso. É chamado corrupção.

As corporações tem 35 mil lobistas em Washington e milhares mais em capitais estaduais para dar dinheiro, formatar e escrever leis. Elas usam os chamados comitês de ação política para obter de seus empregados e acionistas dinheiro para dar a candidatos amigáveis. O setor financeiro, por exemplo, gastou mais de 5 bilhões de dólares em campanhas políticas, ações de influência política ou lobistas na década passada, o que resultou em profunda desregulamentação, o furto de consumidores, o derretimento financeiro global e a pilhagem subsequente do Tesouro dos Estados Unidos.

Os Fabricantes e Pesquisadores Farmacêuticos dos Estados Unidos gastaram 26 milhões de dólares no ano passado e companhias como a Pfizer, Amgen e Eli Lilly deram dezenas de milhões mais para comprar os dois partidos. Essas corporações fizeram da assim chamada reforma do sistema de saúde uma lei que vai nos forçar a comprar produtos defeituosos e predatórios.

A indústria de gás e petróleo, a indústria do carvão, os empreiteiros da Defesa e as companhias de telecomunicações bloquearam a busca por energia sustentável e orquestraram a constante erosão das liberdades civis. Políticos defendem as corporações e promovem atos superficiais de teatro político para manter a ficção de que o estado democrático está vivo.

Não existe instituição nacional que possa ser caracterizada como democrática. Os cidadãos, em vez de participar do poder, podem ter opiniões virtuais sobre questões pré-determinadas, uma forma de fascismo participativo tão sem sentido quando votar no "American Idol" [o Big Brother dos Estados Unidos].

Emoções de massa são estimuladas nas chamadas "guerras culturais". Isso nos permite assumir posições emocionais em questões que são inconsequentes para a elite política.

Nossa transformação em um império, como aconteceu com Atenas e Roma, viu a tirania que praticamos no estrangeiro se transformar na tirania que praticamos em casa. Nós, como todos os impérios, fomos destruídos pelo nosso próprio expansionismo. Nós utilizamos armas de terrível poder destruidor, subsidiamos o desenvolvimento delas com bilhões de dólares de dinheiro público e somos os maiores vendedores de armas do mundo. E a Constituição, como Wolin nota, é usada "para servir aos aprendizes do poder, não como a consciência deles".

"O totalitarismo invertido inverte as coisas", Wolin escreve. "É política o tempo todo, mas largamente despotilizada. Disputas partidárias são ocasionalmente apresentadas em público e há a constante disputa entre facções de partidos, grupos de interesse, competidores corporativos e grupos de mídia rivais. E há, naturalmente, o momento culminante das eleições nacionais, quando a atenção da Nação é exigida para fazer a escolha entre personalidades, em vez de alternativas de poder. O que está ausente é o político, o compromisso de encontrar onde fica o bem comum no meio dos interesses bem financiados, altamente organizados e que com um mar de dinheiro vivo praticam a subversão do governo representativo e da administração pública".

Hollywood, a indústria de notícias e a televisão, todas controladas por corporações, se tornaram instrumentos do totalitarismo invertido. Eles censuram ou fazem ridículo daqueles que criticam ou desafiam as estruturas corporativas. Eles saturam as ondas com controvérsias fabricadas, seja [o escândalo envolvendo o golfista] Tiger Woods ou a disputa entre [os apresentadores de TV] Jay Leno e Conan O'Brien.

Eles manipulam imagens para nos fazer confundir sensações com conhecimento, que foi como Barack Obama se tornou presidente. E o controle interno empregado pelo Departamento de Segurança da Pátria, os militares e a polícia sobre qualquer forma de dissidência interna, junto com a censura da mídia corporativa, fazem pelo totalitarismo invertido o que as tropas de choque e as fogueiras de livros fizeram pelos regimes totalitários clássicos.

"Parece um replay da experiência histórica que a distorção praticada pela mídia de hoje tenha como alvo consistente as sobras do liberalismo", Wolin escreveu. "Faz-me lembrar que um elemento comum do totalitarismo do século 20, seja Fascismo ou Stalinismo, era a hostilidade em relação à esquerda. Nos Estados Unidos, a esquerda é considerada espaço exclusivo de liberais, ocasionalmente a "ala esquerda do Partido Democrata", nunca de democratas".

Liberais, socialistas, sindicalistas, jornalistas e intelectuais independentes, muitos dos quais um dia foram vozes importantes de nossa sociedade, foram silenciados ou foram alvo de eliminação dentro da universidade, da mídia e do governo controlados pelas corporações. Wolin, que foi professor em Berkeley e mais tarde em Princeton, é um dos mais importantes filósofos políticos do país. Ainda assim seu novo livro foi virtualmente ignorado. Também é por isso que Ralph Nader, Dennis Kucinich e Cynthia McKinney, assim como intelectuais como Noam Chomsky, não fazem parte de nosso discurso nacional.

A uniformidade de opiniões é reforçada pelas emoções orquestradas pelo nacionalismo e pelo patriotismo, que descrevem os dissidentes como "fracos" ou "não patriotas". O cidadão "patriota", com medo de perder emprego e de possíveis ataques terroristas, dá apoio ao monitoramento indiscriminado e ao estado militarizado. Isso significa não questionar o 1 trilhão de dólares em gastos relacionados à defesa. Isso significa manter as agências militares e de inteligência acima do governo, como se não fizessem parte dele. Os mais poderosos instrumentos do poder e do controle estatais foram removidos das discussões públicas.

Nós, como cidadãos imperiais, somos ensinados a desprezar a burocracia governamental; ainda assim, ficamos como carneiros diante dos agentes da Segurança da Pátria em aeroportos e ficamos mudos quando o Congresso permite que nossa correspondência e nossas conversas sejam monitoradas e arquivadas. Estamos sob maior controle estatal do que em qualquer outra época da História americana.

A linguagem cívica, patriótica e política que usamos para nos descrever permanece a mesma. Demonstramos lealdade aos mesmos símbolos nacionais e iconografia. Encontramos nossa identidade coletiva nos mesmos mitos nacionais. Continuamos a deificar os Pais Fundadores. Mas os Estados Unidos que celebramos é uma ilusão. Não existem. Nosso governo e nosso judiciário não tem soberania. Nossa imprensa oferece diversão, não informação. Nossos órgãos de segurança e poder nos mantém tão domesticados e amedrontados quanto a maioria dos iraquianos. O capitalismo, como entendeu Karl Marx, quando elimina o governo se torna uma força revolucionária. E essa força revolucionária, melhor descrita como totalitarismo invertido, está nos mergulhando em um estado de neo-feudalismo, guerra perpétua e repressão severa. A decisão da Suprema Corte é parte de nossa transformação, pelo estado corporativo, de cidadãos em prisioneiros.

*Chris Hedges escreve para a Truthdig.com. Ele é autor dos livros War Is A Force That Gives Us Meaning, What Every Person Should Know About War e American Fascists: The Christian Right and the War on America. Seu livro mais recente é Empire of Illusion: The End of Literacy and the Triumph of Spectacle.


Texto visto no Vi o Mundo.


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