segunda-feira, dezembro 27, 2010

Bancos, crimes e contravenção

Bancos, crimes e contravenções


O VEXAME da grande finança mundial não tem fim. Não obstante, o pessoal do dinheiro grosso continua por cima da carne seca, "business as usual". Ou, como escreveu Paul Krugman, que entende um pouquinho mais disso do que quase todos nós: "Os fundamentalistas do livre mercado estavam errados sobre tudo -mas agora dominam completamente a cena política [americana]" ("Quando os zumbis ganham", ontem, no "New York Times").
A começar pelo vexame mais divertido, a China reafirmou seu "compromisso" de ajudar os países quebrados ou semiquebrados da Europa. Os chineses estão comprando e vão comprar mais títulos da dívida de Grécia, Irlanda, Portugal e de outros países que foram para o vinagre ou estão à beira de ir para lá. Ou seja, a China empresta dinheiro para governos falidos da Europa, o que por sua vez ajuda a aliviar a situação de parte da banca europeia, pendurada na dívida desses países.
Por falar nisso, mais ou menos desde maio o Banco Central Europeu (BCE) financia esses bancos e governos quebrados -mais uma vez os bancos transferiram os riscos de sua incompetência para o público.
Note-se que bancos centrais não existem para financiar a dívida de governos, menos ainda de governos quebrados, o que é ainda mais escandaloso em se tratando do BCE, cheio de ares de ortodoxia e autoproclamado juiz da irresponsabilidade fiscal do mundo.
Mas, "princípios, princípios, negócios à parte". Se o BCE deixasse os juros da dívida grega, irlandesa e portuguesa (e espanhola, italiana...) explodirem, governos faliriam de vez, à vera. Haveria tumulto geral, mais bancos quebrados (aqueles que a Europa dizia serem "saudáveis" antes de a Irlanda ir à lona). O euro poderia entrar em colapso.
A novidade agora é a mãozinha interessada do novo império, a China, que ajuda o seu maior freguês. A China, sim, senhor, da heterodoxa economia ditatorial de mercado.

BANCOS DE CRIMES
A promotoria do Estado de Nova York acusa a Ernst & Young de ajudar o Lehman Brothers a cometer "maciça fraude contábil". O Lehman era o quarto maior banco de investimentos dos EUA. Quebrou em 2008 e quase arrastou o mundo com seus negócios ineptos com títulos imobiliários e excesso de endividamento. A promotoria de Nova York diz que a megaempresa de auditoria ajudou o bancão a esconder dívidas de dezenas de bilhões de dólares, enganando o mercado. Uma maquiagem de balanço, mais uma.
Lembre-se de outra onda de fraude sistêmica, a da bolha dos anos 1990, explodida em 2001. Com a ajuda de bancos de investimento, de agências de risco e de auditores (Arthur Andersen), empresas fraudavam o público e contratos. Foi o caso de Enron, WorldCom, Tyco, GlobalCrossing, Lucent e Adelphia, entre muitas outras. A fraude inflou a bolha, que inflou a fraude. Há mais.
O Deutsche Bank, maior banco da Alemanha, vai pagar US$ 553,6 milhões (R$ 935 milhões) a fim de evitar um processo criminal em que é acusado de ajudar americanos ricos a fraudar o Imposto de Renda.
Em fevereiro de 2009, o UBS, o maior banco da Suíça, admitiu que prestava serviços de fraude para clientes americanos e que fazia parte de uma quadrilha com o objetivo de fraudar a Receita dos EUA.

Texto de Vinicius Torres Freire, na Folha de São Paulo, de 22 de dezembro de 2010.

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