sexta-feira, julho 30, 2010

China se torna o maior consumidor de energia do mundo

China passa EUA e já é o maior país consumidor de energia

THAÍS MARZOLA ZARA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Recentemente, os temores de uma desaceleração mais acentuada da economia chinesa fizeram-se sentir sobre os preços do petróleo.
E não é para menos: segundo a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), em 2009 a China ultrapassou os Estados Unidos no consumo (incluindo, numa medida equivalente em toneladas de petróleo, todo o consumo de petróleo, carvão, gás natural, energia nuclear e de fontes renováveis), tornando-se o maior país consumidor de energia do mundo.
No ano passado, a China consumiu energia equivalente a 2,252 bilhões de toneladas de óleo, enquanto os EUA consumiram 2,170 bilhões. Comparando o consumo de energia dos dois países nos últimos dez anos, verifica-se que, enquanto o norte-americano recuou 4,5%, o chinês aumentou impressionantes 103,4%.
É certo que os Estados Unidos passaram por um ano difícil; contudo, como as perspectivas são que a China continue a crescer num ritmo muito maior que o dos Estados Unidos, mesmo considerando alguma desaceleração, o quadro não deve voltar a se inverter.
Considerando-se apenas o petróleo, os Estados Unidos ainda continuam sendo o maior consumidor -de acordo com a British Petroleum, os norte-americanos consumiram 843 milhões de toneladas em 2009, contra apenas 405 milhões da China. Mas não é difícil prever que, em 10 ou 15 anos, a China alcance a primeira posição.

PAPEL DA CHINA
Assim, a matriz energética chinesa ganhará cada vez mais importância.
Uma alteração que privilegie carros movidos a energia elétrica ou etanol, por exemplo, teria grande impacto sobre a demanda mundial de energia (não só pela própria demanda chinesa como também, num impacto secundário, pela importância como fornecedor de manufaturados do país na economia mundial).
Não só isso; mesmo que mudanças reduzindo a participação do petróleo venham a ocorrer, a demanda pelo produto deve continuar pressionada pelo crescimento chinês nos próximos anos, já que se espera que ela mantenha um ritmo de crescimento elevado, ainda que inferior ao registrado na primeira década deste século.
A boa notícia para os brasileiros é que a demanda deverá continuar crescendo, justamente no período em que a produção de petróleo extraído da camada pré-sal deverá começar a ocorrer de forma mais intensa, lembrando que deve levar de cinco a dez anos para se iniciar a produção à plena capacidade.


THAÍS MARZOLA ZARA é economista-chefe da Rosenberg Consultores Associados e mestre em economia pela USP.

Internet: www.rosenberg.com.br

Publicado na Folha de São Paulo, de 28 de julho de 2010.


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Serra vai queimar FHC

Serra vai queimar FHC

O alinhamento eleitoral se completou. Serra moveu-se para a direita -segundo a mesma coreografia do contragosto que costuma executar nessas ocasiões. Dilma pretende continuar na moita -idealmente, até o segundo turno, se não houver como evitá-lo.
É comum ouvir que Serra tem de carregar o fardo da impopularidade dos anos FHC.
Mas não se costuma ouvir o quanto essa herança ajuda a candidatura de Serra. E, para tirar Dilma da toca, Serra terá de queimar sem piedade o capital acumulado pela marca FHC.
A hegemonia tucana dos anos FHC foi construída sobre os slogans da "responsabilidade" e da "confiabilidade". É esse o branding da aliança demo-tucana, é o seu principal patrimônio eleitoral.
A ideia, claro, sempre foi a de fazer do polo petista o lugar da "irresponsabilidade". E nisso pelo menos a força demo-tucana se faz sentir até hoje. Mesmo depois de oito anos de governo, o PT continua atemorizado pela ideia de não parecer "confiável".
Um negativo disso aconteceu no único episódio até agora em que a campanha de Dilma saiu da defensiva: quando tentou colar em Serra a intenção de acabar com o Bolsa Família. A resposta do candidato simplesmente desnorteou a campanha governista. Serra trucou e retrucou: disse que dobraria o número de famílias atendidas pelo programa. Aí veio uma espantosa e inesperada reação da campanha de Dilma: essa não seria uma proposta realista e factível! O slogan de campanha de Serra parece anódino -"O Brasil pode mais". Mas pode bem não ser. Serra começa a dizer com todas as letras que o governo Lula é tímido. Que Dilma é uma candidata sem ideias novas, sem visão de futuro. Que, como no caso de sua proposta de ampliação do Bolsa Família, é possível "fazer muito mais". Na saúde, na educação e na segurança, principalmente.
Perguntado sobre os recursos para implantar sua proposta relativa ao Bolsa Família, Serra recorreu ao velho truque do quanto o país paga de juros. Basta pagar menos juros.
Nisso, só faz seguir na trilha aberta pela atuação demo-tucana no episódio recente do aumento do salário mínimo pelo Congresso. A oposição "confiável" e "responsável" ajudou a derrotar o projeto de Lula e a aprovar um aumento maior e mais extensivo. E jogou o resultado nas costas do próprio Lula, que acabou sancionando um aumento que dizia antes ser impossível.
Serra não tem nada a perder senão a eleição. Vai queimar todo o estoque de "confiabilidade" herdado dos anos FHC.
Sem medo de ser tachado de "irresponsável" ou "populista". Afinal, "isso é coisa do PT".

Texto de Marcos Nobre, na Folha de São Paulo, de 27 de julho de 2010.

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quarta-feira, julho 28, 2010

Estados Unidos pagam à mídia afegã para divulgar conteúdo favorável aos Estados Unidos

Documentos do WikiLeaks mostram que Estados Unidos pagam mídia Afegã to divulgar histórias amistosas

The Upshot

John Cook descobriu documentos mostrando que estações de radio afegãs foram contratadas para levar ao ar conteúdo produzido pelos Estados Unidos. Outros relatos mostram militares americanos aparentemente se referindo aos repórteres afegãos como “nossos jornalistas” e lhes indicando como fazer o trabalho deles.



WikiLeaks documents show US pays Afghan media to run friendly stories

The Upshot

John Cook found documents showing that Afghan radio stations were under contract to air content produced by the United States. Other reports show U.S. military personnel apparently referring to Afghan reporters as "our journalists" and directing them in how to do their jobs.

Origem: http://www.poynter.org/column.asp?id=45&aid=187610


Mais no Yahoo News (em inglês).


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Autoridades ainda resistem a condenar tortura no Brasil, diz relatório

Autoridades ainda resistem a condenar tortura no Brasil, diz relatório

Daniella Jinkings
Da Agência Brasil
Em Brasília



O Relatório sobre Tortura: uma Experiência de Monitoramento dos Locais de Detenção para Prevenção da Tortura, elaborado pela Pastoral Carcerária, mostra que juízes e promotores ainda resistem a combater esse tipo de prática no Brasil. De acordo com o documento, as denúncias dos presos raramente são levadas a sério. A Agência Brasil teve acesso à integra do relatório, que será divulgado na próxima segunda-feira (2).

“Fica patente que as autoridades competentes para investigar, processar e condenar os torturadores – juízes, delegados de polícia e promotores de Justiça – geralmente têm pouca ou quase nenhuma motivação para fazer cumprir a lei e as obrigações assumidas pelo Estado brasileiro de debelar e prevenir a tortura”, diz o documento.

De acordo com o assessor jurídico da Pastoral Carcerária, José de Jesus Filho, a entidade denunciou 211 casos de tortura entre 1997 e 2009. Porém, a maioria dos torturadores não sofreu punições. “Os juízes e promotores acham que estão enfraquecendo a autoridade pública. O que o criminoso diz é sempre mentira. Em vez de julgar com isenção, eles preferem julgar a favor do agente público”, disse.

Para José de Jesus Filho, o sistema prisional passa por um momento crítico. “Há uma tensão entre agentes públicos que ainda carregam a tradição ditatorial e praticam a tortura e aqueles que querem mudar isso e se colocam contra esse tratamento cruel”, afirmou o assessor jurídico, que coordenou a elaboração do relatório.

O documento contém um trecho da pesquisa da coordenadora-geral da Ação dos Cristãos para Abolição da Tortura (Acat-Brasil), Maria Gorete de Jesus. A entidade analisou 51 processos criminais de tortura na cidade de São Paulo, no período de 2000 a 2004. Dos 203 réus, 127 foram absolvidos, 33 foram condenados por tortura e 21 por outros crimes (lesão corporal ou maus-tratos).

“O que significa dizer que apenas 18% foram condenados e 70% foram absolvidos. Dos 203 réus, 181 eram agentes do Estado acusados de crime de tortura. Entre os 12 civis acusados, a metade foi condenada”, afirma o relatório.

Segundo o documento, nos casos de tortura envolvendo agentes do Estado, a produção de provas é frágil e o corporativismo policial interfere diretamente na apuração das denúncias. Além disso, o governo raramente coloca em prática os mecanismos internacionais contra tortura ratificados pelo Brasil.

“Nas sentenças é comum encontrar questionamentos quanto às lesões constatadas na vítima, colocando em dúvida não somente a palavra da pessoa agredida, mas também a autoria do crime. Chega-se ao ponto de dizer que a própria vítima teria sido responsável pelos ferimentos”, diz o texto.

A Pastoral Carcerária registrou casos de tortura em 20 Estados brasileiros, sendo o maior número de casos em São Paulo (71), no Maranhão (30), em Goiás (25) e no Rio Grande do Norte (12). De acordo com o coordenador nacional da Pastoral Carcerária, padre Valdir João Silveira, em alguns estados, as equipes ainda não estão treinadas para fazer o levantamento de dados e o acompanhamento dos casos.

“[Os dados] foram levantados por agentes da Pastoral Carcerária, pessoas que semanalmente vão aos presídios para evangelizar e catequizar, mas, perante a violência nos presídios, buscam também o direito das pessoas que estão aprisionadas, que o Estado está tratando com tortura e maus-tratos.”



Notícia publicada no UOL.


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Divulgação de documentos sobre o Afeganistão mostram imagem interna da guerra

Divulgação de documentos sobre o Afeganistão mostram imagem interna da guerra



Matthias Gebauer, John Goetz, Hans Hoyng, Susanne Koelbl, Marcel Rosenbach e Gregor Peter Schmitz



Em um desdobramento sem precedente, perto de 92 mil documentos confidenciais relacionados à guerra no Afeganistão foram vazados. A “Spiegel”, o “New York Times” e o “Guardian” analisaram uma série dos documentos mais confidenciais. Os diários de guerra expõem a verdadeira escala da presença militar ocidental – e os problemas que atormentam a Bundeswehr alemã no Hindu Kush.

Um total de 91.731 relatórios dos bancos de dados militares dos Estados Unidos, relacionados à guerra no Afeganistão, estará disponível publicamente na Internet. Nunca antes foi possível comparar a realidade no campo de batalha de forma tão detalhada com o que a máquina de propaganda do Exército americano está divulgando. O WikiLeaks planeja postar os documentos, a maioria confidencial, em seu site.

O jornal britânico “The Guardian”, o “New York Times” e a “Spiegel” checaram o material e compararam os dados com relatos independentes. Todos os três órgãos de imprensa concluíram que os documentos são autênticos e fornecem uma imagem sem retoques da guerra no Afeganistão – do ponto de vista dos soldados que a estão travando.

Os relatórios, de soldados envolvidos no combate em andamento, foram resumidos de forma sucinta e enviados rapidamente. A maioria é de autoria de sargentos – mas alguns foram redigidos por um tenente ocasional em um posto de comando ou analistas do serviço de inteligência militar.

A divulgação dos documentos ocorre em um momento em que os pedidos para retirada das tropas do Afeganistão estão crescendo – mesmo nos Estados Unidos. Na semana passada, representantes de mais de 70 países e organizações se reuniram em Cabul para uma conferência sobre o Afeganistão. Eles asseguraram ao presidente Hamid Karzai que seu país estaria em posição, até 2014, de garantir a segurança utilizando seus próprios soldados e policiais.

Um quadro sombrio


Mas essas demonstrações de otimismo parecem cínicas diante das descrições da situação no Afeganistão fornecidas pelos documentos confidenciais. Quase nove anos após o início da guerra, eles pintam um quadro sombrio. Eles retratam as forças de segurança afegãs como vítimas desafortunadas dos ataques do Taleban. Eles também oferecem uma impressão conflitante da utilização das aeronaves não-tripuladas, notando que as armas americanas milagrosas também são totalmente vulneráveis.

E elas mostram que a guerra no norte do Afeganistão, onde as tropas alemãs estão posicionadas, está se tornando cada vez mais perigosa. O número de alertas sobre possíveis ataques do Taleban na região – alimentados pelo apoio do Paquistão– aumentou dramaticamente no ano passado.

Os documentos oferecem uma janela para a guerra no Hindu Kush –uma que promete mudar a forma como pensamos sobre a violência em andamento no Afeganistão. Eles também serão indispensáveis para qualquer um que busque se informar sobre a guerra no futuro.

Apesar dos repetidos pedidos, a Casa Branca se recusou a fornecer qualquer comentário dentro do prazo para a edição impressa da “Spiegel”. Na noite de sábado, entretanto, um funcionário da Casa Branca forneceu finalmente respostas por escrito para uma seleção de perguntas sobre o conteúdo dos relatórios obtidos, mas se recusou a conceder uma entrevista.

Ben Rhodes, o vice-conselheiro de segurança nacional para comunicações, disse: “Desde que assumiu o cargo, o presidente Obama tem sido muito claro e franco com o povo americano sobre os desafios que enfrentamos no Afeganistão e no Paquistão. O presidente e altos funcionários do seu governo falaram aberta e repetidamente sobre os santuários que existem no Paquistão, a segurança e os problemas de governança no Afeganistão, além das dificuldades que nos esperam. (...) É importante notar que o período refletido nos documentos é de janeiro de 2004 a dezembro de 2009. A guerra no Afeganistão contou com recursos insuficientes por muitos anos. (...) Em 1º de dezembro de 2009, o presidente Obama anunciou uma nova estratégia e novos recursos para o Afeganistão e Paquistão, precisamente por causa da gravidade da situação lá”.

Respondendo à intenção da WikiLeaks de disponibilizar online os documentos, Rhodes disse: “Nós condenamos fortemente a revelação de informação confidencial por indivíduos e organizações, que colocam as vidas de militares americanos e da coalizão em risco e ameaçam nossa segurança nacional”. Ele disse que a WikiLeaks “não fez esforço para contatar o governo dos Estados Unidos a respeito desses documentos, que podem conter informações que colocam em risco as vidas de americanos, nossos parceiros e da população local que coopera conosco”.

Os editores-chefe da “Spiegel”, do “New York Times” e do “Guardian” concordaram que não publicariam informação particularmente sensível do material confidencial – como os nomes dos informantes afegãos das forças armadas americanas ou informação que pudesse criar riscos de segurança adicionais para os soldados estacionados no Afeganistão. Os publishers foram unânimes em sua crença de que há interesse público justificado no material, porque ele fornece um entendimento mais amplo de uma guerra que continua até hoje, após quase nove anos.

A “Spiegel Online” resumiu uma seleção das revelações mais importantes nos dados.

Os membros da Força-Tarefa 373, uma tropa dos soldados de elite americanos que inclui os SEALs da Marinha e membros da Força Delta, recebem suas ordens diretamente do Pentágono e são independentes da cadeia de comando da Força Internacional de Assistência para Segurança (ISAF, na sigla em inglês) no Afeganistão. A missão deles é desativar altos terroristas e talebans, os matando ou capturando.

Por anos, um grande esforço foi feito para manter em silêncio os detalhes de suas missões. Com os vazamentos dos diários de guerra no domingo, entretanto, o trabalho deles passou a ser um segredo aberto.

Os relatórios de missão também oferecem uma informação considerável sobre a lista confidencial de inimigos das tropas da coalizão. A “Lista Priorizada Conjunta de Ações” (JPEL, na sigla em inglês), como é chamada nos círculos militares, contém os nomes de talebans, barões das drogas, fabricantes de bombas e membros da Al Qaeda –cada um com um número de processo e um nível de prioridade. A decisão sobre prender ou matar um alvo frequentemente cabe aos próprios caçadores.

Um total de 84 relatórios sobre ações da JPEL podem ser encontrados entre os milhares de dados. Especialistas consideram um fato que assassinatos intencionais estão ocorrendo na guerra no Afeganistão. Mas nenhum alto oficial militar está disposto a discutir o assunto. Os dados recém divulgados mostram o que unidades como a Força Tarefa 373 estão fazendo a cada noite – e como as coisas podem dar terrivelmente errado.

Um relatório de 17 de junho de 2007, por exemplo, inclui um alerta na segunda sentença que essa operação da FT 373 deve permanecer “protegida”. Detalhes sobre a missão não poderiam ser fornecidos para outros países que contribuem para a ISAF.

A meta era matar um membro proeminente da Al Qaeda, Abu Laith al Libi. As forças especiais suspeitavam que o alto terrorista e vários de seus seguidores estavam presentes em uma escola do Alcorão que os soldados estavam vigiando há dias.

Mas após o impacto de cinco foguetes americanos, em vez de encontrarem Al Libi, as forças em solo descobriram seis crianças mortas nos escombros da escola. Uma outra criança gravemente ferida também foi encontrada, mas não pôde ser salva.

Os documentos recém divulgados não contêm qualquer informação sugerindo que as tropas alemãs estiveram envolvidas em excessos de violência contra a população civil ou em qualquer operação clandestina ilegal. Todavia, elas oferecem uma imagem das forças armadas alemãs, a Bundeswehr, que ainda assim é devastadora, porque descrevem militares alemães que ingressaram no conflito com grande ingenuidade.

Os alemães acharam que as províncias do norte onde seus soldados estão posicionados seriam mais pacíficas em comparação a outras províncias e que a situação permaneceria assim.

Eles estavam errados. Já no final de 2005, a resistência contra a presença de tropas internacionais começou a crescer –os moradores locais ou eram ameaçados pelos talebans e poderosos senhores da guerra ou seu apoio era comprado. O senhor da guerra Gulbuddin Hekmatyar, por exemplo, instigou o combate ao oferecer 100 mil a 500 mil afeganis (US$ 2 mil a US$ 10 mil) para o líder de qualquer grupo insurgente. Os apelos de Hekmatyar e doações de dinheiro estão cuidadosamente documentos nos relatórios.

No início de sua missão, alguns soldados da Bundeswehr chamavam brincando a pequena cidade de Kunduz de “Bad Kunduz”, com “Bad” sendo a palavra em alemão concedida oficialmente a cidades spa. Mas os dias pacatos de Kunduz, onde um grande número de soldados alemães está estacionado, há muito são coisa do passado. No mínimo, a tranquilidade acabou em 19 de maio de 2007. Naquele dia, três soldados alemães foram mortos por um homem-bomba enquanto tentavam comprar refrigeradores em um mercado local. Oito civis afegãos também morreram no primeiro ataque mortal voltado deliberadamente contra os alemães na região.

Em um “relatório de ameaça” datado de 31 de maio de 2007, tropas alemãs com sede em Kunduz relataram sobre a situação geral após outro ataque suicida. “Diferente de todas as expectativas do Comando Regional do Norte, os ataques dos insurgentes em Kunduz estão prosseguindo como previsto pela Equipe de Reconstrução Provincial de Kunduz e mencionado várias vezes antes”, declara o documento alemão, acrescentando que mais ataques, particularmente contra tropas da ISAF, “são altamente esperados”.

Os soldados parecem ter sido corrigidos para sentirem que estavam sob estado de sítio. Os documentos que foram obtidos envolvem principalmente os chamados “relatórios de ameaça”, milhares de cenários de risco e alertas concretos sobre os ataques planejados. Esses relatórios fornecem um quadro mais claro da deterioração da situação de segurança no norte do Afeganistão do que a informação fornecida pelo governo alemão ao Parlamento federal, o Bundestag, que ordena o envio do Bundeswehr ao exterior. Os postos de controle da polícia são constantemente atacados ou são alvos de tiros, patrulhas são alvo de emboscadas mortais e bombas de estrada explodem.

Eles também mostram quanto o norte do Afeganistão deteriorou para próximo de uma nova guerra civil e quão pouco os alemães realizaram durante sua presença no Hindu Kush.

O relatório de situação confidencial da região no leste do Afeganistão parece inicialmente uma transcrição de rotina: “17 de outubro de 2009: Aproximadamente às 13h o ANA (Exército Nacional Afegão) recebeu inteligência de que aproximadamente 20 insurgentes estavam se movimentando ao sul de sua posição no wadi (leito seco de rio). Aproximadamente às 14h o Raven foi lançado e voou diretamente para FB. Nós não observamos nenhum inimigo no wadi”. Mas então problemas foram detectados no voo do Raven, uma aeronave de reconhecimento não-tripulada americana. “Enquanto fazia a volta, aproximadamente a 300 membros da FB (base de fogo) – a ave repentinamente perdeu altitude e caiu”, declara o relatório.

Então, a situação ficou agitada: “Nós tentamos imediatamente enviar uma patrulha da FB para proteger a ave, e preparar uma patrulha de 6 americanos (soldados) 40 ANA (soldados afegãos)... e pedimos CCA (cobertura área) imediata para vigilância do local do acidente e tentar obter imagem do Raven. Durante preparação da SP (condução de uma patrulha de busca), o ANA ficou temeroso e decidiu que faria a patrulha desmontada”.

No final, os soldados partiram para procurar a aeronave que caiu, mas tiveram que voltar porque insurgentes já estavam esperando pela oportunidade de uma emboscada aos soldados enquanto tentassem resgatar a aeronave.

Falhas de sistema, nos computadores e erro humano

De fato, os memorandos secretos revelam as desvantagens de uma arma que tem sido elogiada pelos militares americanos como uma panaceia, uma opinião partilhada pelo presidente. Em seu pouco tempo no cargo, Barack Obama já lançou o dobro de missões com aeronaves não-tripuladas do que as ordenadas pelo seu antecessor, o aparentemente beligerante George W. Bush.

A assassina não-tripulada pode voar por mais de 20 horas e matar à velocidade de um raio. Mas elas nem sempre são confiáveis. De acordo com relatórios oficiais, 38 aeronaves Predator e Reaper caíram enquanto estavam em missões de combate no Afeganistão e no Iraque, enquanto outras nove caíram durante os voos de teste em bases militares nos Estados Unidos. Cada acidente custa ao governo entre US$ 3,7 milhões e US$ 5 milhões.

Os relatórios de acidente do Departamento de Defesa americano mostram que falhas no sistema, no computador e erros humanos são ocorrências comuns durante as missões das aeronaves não-tripuladas. Parece que os problemas sérios foram ignorados por causa da necessidade das aeronaves serem empregadas o mais rapidamente possível. A demanda pela nova arma era intensa após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 e o início apressado da invasão ao Afeganistão.

“As aeronaves não estavam prontas para entrar em combate”, diz Travis Burdine, gerente Força-Tarefa para Sistemas de Aeronaves Não-Tripuladas da Força Aérea. “Nós não tivemos tempo para resolver os problemas.” A declaração de Burdine é apoiada por relatos nos diários de guerra. Na verdade, os assassinos silenciosos pareciam ter um monte de defeitos.

Não são apenas os custos causados por esses acidentes que preocupam os militares americanos. Mesmo as aeronaves de reconhecimento menores possuem tecnologia de informática complexa – avanços que os militares não querem que caia em mãos inimigas. Tanto os Reapers quanto os Predadores têm uma chamada função para “zerar”, que permite que os dados sejam apagados remotamente. Infelizmente, esse recurso às vezes falha. E com medo de que informações importantes possam cair nas mãos do Taleban, cada acidente com aeronave não-tripulada exige operações de resgate elaboradas e perigosas.

Os Interserviços de Inteligência (ISI), o serviço secreto do Paquistão, inicialmente ajudou a formar e implantar o Taleban no Afeganistão, após este mergulhar em uma guerra civil fratricida e amargo entre os mujahedeen, que prevaleceram sobre os soviéticos e forçaram sua retirada. Apesar de todas as garantias dos políticos paquistaneses de que os antigos laços seriam cortados, o país ainda segue uma política ambígua na região – servindo ao mesmo tempo como aliado dos Estados Unidos e dando apoio aos inimigos destes.

Há uma abundância de novas evidências para apoiar esta tese. Os documentos mostram claramente que a agência de inteligência paquistanesa é a cúmplice mais importante do Taleban fora do Afeganistão. A guerra contra as forças de segurança afegãs, os americanos e seus aliados da ISAF ainda está sendo conduzida a partir do Paquistão.

O país é um importante refúgio seguro para as forças inimigas – e serve como base para lançamento de suas missões. Novos recrutas para o Taleban atravessam a fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão, incluindo os temidos combatentes estrangeiros, entre eles árabes, tchetchenos, uzbeques, uigures e até mesmo muçulmanos europeus.

De acordo com diários da guerra, emissários dos ISI estão presentes quando os comandantes insurgentes realizam conselhos de guerra – e até mesmo dão ordens específicas para realização de assassinatos. Entre eles estavam as ordens para tentar assassinar o presidente afegão, Hamid Karzai. Por exemplo, um relatório de ameaça datado de 21 de agosto de 2008 alertou: “O coronel Mohammad Yusuf dos ISI instruiu o oficial taleban Maulawi Izzatullah para que cuide do assassinato de Karzai”.

O ex-chefe de inteligência do Paquistão, o general Hamid Gul, desempenha um papel proeminente nos documentos dos ISI. Depois deixar o cargo, Gul passou a imagem na imprensa ocidental de ser uma espécie de propagandista do Taleban. Nos documentos, Gul é retratado como uma importante fonte de ajuda ao Taleban e até mesmo, em um relatório, como um “líder” dos insurgentes. Um relatório de ameaça de 14 de janeiro de 2008 afirma que ele coordenou o seqüestro planejado de funcionários da ONU na Estrada 1, entre Cabul e Jalalabad.

Os memorandos declaram que Gul ordenou ataques suicidas e também descrevem o ex-chefe de inteligência como um dos mais importantes fornecedores de armas para o Taleban. Um relatório menciona um comboio de 65 caminhões carregados de munições que Gul supostamente preparou para o Taleban. Outro afirma que os ISI entregaram 1.000 motocicletas para os Haqqanis, uma família liderada pelo senhor da guerra Sirajuddin Haqqani, que –juntamente com o Taleban e Hekmatyar– estão entre os maiores oponentes das forças ocidentais no Afeganistão. Outro menciona 7 mil armas que foram enviadas para a província de fronteira de Kunar, incluindo rifles, morteiros e foguetes Strella.

Ainda assim, mesmo aqueles que redigiram os relatórios não sabem ao certo de sua veracidade. Este tipo de incerteza é frequente nos documentos. Elas revelam a grande fraqueza da estratégia de comunicação americana.

Falando sobre as facetas do Paquistão, Rhodes, o funcionário da Casa Branca, respondeu: “O status quo não é aceitável, precisamente o motivo para os Estados Unidos se concentrarem tanto neste desafio. O Paquistão está se movendo na direção certa, mas é preciso fazer mais. Os santuários para os grupos extremistas violentos dentro do Paquistão continuam a representar uma ameaça intolerável para os Estados Unidos, ao Afeganistão e ao povo paquistanês, que sofreram muito com o terrorismo. O governo paquistanês – e os serviços militares e de inteligência do Paquistão– deve dar continuidade à sua mudança de estratégia contra os grupos extremistas violentos dentro das suas fronteiras e permanecer na ofensiva contra eles”.

As agências de inteligência dos Estados Unidos estão se afogando em um mar de dados. Temendo a repetição dos erros de inteligência que ocorreram antes do 11 de Setembro, os analistas parecem estar relatando cegamente cada mínimo detalhe.

Especialistas em segurança vêm reclamando há algum tempo de que esses inúmeros relatos se concentram em excesso nas opiniões e movimentos do inimigo –neste caso, o Taleban no Afeganistão.

Analistas demais e voos de reconhecimento demais parecem estar preocupados em esboçar a hierarquia das redes dos insurgentes e criar listas de inimigos que devem ser mortos ou capturados. Agentes da inteligência estão constantemente coletando depoimentos de informantes locais, cuja avidez em agradar os americanos muitas vezes supera a sua confiabilidade.

No entanto, os problemas mais graves são muitas vezes negligenciados: a proteção dos civis afegãos, a análise do ambiente político e a busca por uma solução para este conflito interminável.

Uma coisa, porém, é certa. Estes milhares de documentos secretos indicam que, após quase nove anos de guerra, uma vitória no Hindu Kush parece mais distante do que nunca.

Tradução: George El Khouri Andolfato


Texto do Der Spiegel, republicado no UOL.

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No Paquistão, elite isenta-se de impostos

No Paquistão, elite isenta-se de impostos

Por SABRINA TAVERNISE

ISLAMABAD, Paquistão - Na maior parte da capital do Paquistão, veículos esportivo-utilitários passam por portões reforçados de residências elegantes com vários andares, que são cuidadas por criados. A roupa lavada nunca é pendurada do lado de fora para secar.
Mas, por trás da opulência, espreita um fato perturbador. Muito poucas dessas famílias pagam Imposto de Renda. Isso ocorre principalmente porque os políticos que fazem as regras também são os cidadãos mais ricos do país e são tarimbados em encontrar maneiras de se isentar.
"É um país muito bom para o homem rico", disse Shabbar Zaidi, sócio da firma de contabilidade A.F. Ferguson & Company, em Karachi. "Motoristas, empregados, casas grandes. A pergunta é: quem está pagando? O homem comum."
Isso seria um problema em qualquer país. Mas, no Paquistão, a falta de um sistema fiscal eficaz alimenta algo mais ameaçador: uma crescente desigualdade na sociedade paquistanesa, onde a riqueza de seus membros mais poderosos nunca é redistribuída ou aplicada em algo que reverta ao bem comum. Isso cria condições que ajudam a disseminar a insurgência que atormenta o país e complica a política americana na região.
Também é um triste desempenho para um país que está entre os maiores receptores de ajuda americana, pagamentos de bilhões de dólares que sustentam as finanças do país e deveriam ajudar seus líderes a combater a rebelião.
Embora as autoridades tenham tentado expandir a rede nos últimos anos, taxando os lucros dos mercados de ações e imóveis, setores inteiros da economia continuam isentos, como a agricultura, um grande gerador de dinheiro para a elite.
"Este é um sistema da elite, pela elite e para a elite", diz Riyaz Hussain Naqvi, autoridade aposentada que trabalhou na coleta de impostos durante 38 anos. "É um sistema corrupto em que o homem pobre subsidia o rico."
O custo médio dos parlamentares paquistaneses é de US$ 900 mil, com os deputados mais ricos superando US$ 37 milhões, segundo estudo de dezembro do Instituto Paquistanês de Desenvolvimento Legislativo e Transparência.
Enquanto a receita fiscal do Paquistão em 2009 foi a menor da história do país, segundo Zafar ul-Majeed, diretor da Câmara Federal de Receita, os ativos dos atuais deputados quase duplicaram em relação aos dos membros do Parlamento anterior, revelou o estudo.
"Os impostos são o calcanhar de aquiles dos políticos paquistaneses", disse Jahangir Tareen, empresário e deputado que tenta colocar os impostos na agenda pública. Ele pagou US$ 225,5 mil em IR em 2009, número que divulgou no Parlamento no mês passado. "Se você não tem renda, está bem, mas depois não apareça dirigindo um Land Cruiser."
As regras definem que qualquer pessoa que ganhar mais de US$ 3.488 por ano deve pagar IR, mas poucas o fazem. Tareen disse que, quando ele tentou pagar pela primeira vez, os coletores se recusaram a aceitar, por não querer perturbar o status quo. Ele teve de escrever uma carta a uma autoridade superior para que fosse aceito.
Akbar Zaidi, economista baseado em Karachi, estima que 10 milhões de paquistaneses deveriam pagar Imposto de Renda, mas só 2,5 milhões estão registrados.
Zaidi culpa os EUA e suas constantes ajudas ao Paquistão. "Os americanos deveriam dizer: 'Basta. Resolvam a coisa vocês mesmos. Ponham sua casa em ordem primeiro'", afirmou. "Mas vocês [EUA} são covardes. Têm medo de aproveitar essa oportunidade."
Os coletores de impostos tentam ser duros. Quando Naqvi chefiou a autoridade fiscal, ele tentou realizar uma ampla auditoria, provocando uivos de protesto.
Majeed disse que seus coletores hoje usam as contas individuais de eletricidade para localizar os evasores ricos, supondo que contas altas significam o uso de ar condicionado, o que representa riqueza. Eles recentemente emitiram centenas de avisos para casas ricas em Islamabad. Mas perseguir os políticos é complicado, disse Majeed. "Pelo menos enquanto eles estão no poder", agregou, sorrindo.
Sem vontade política para coletar o IR, o Paquistão recorre a medidas mais fáceis, como um imposto sobre consumo considerado menos justo porque atinge os pobres tanto quanto os ricos.
Muhamed Azhar, 26, motorista em Karachi que tem um salário mensal de US$ 123, paga o mesmo imposto sobre consumo que um membro do Parlamento que ganha US$ 1.400 por mês mais benefícios. Os ganhos com imóveis e terra raramente são declarados.
"Os grandes que nos governam têm casas e empregados e deveriam pagar impostos", disse Azhar, observando a fila de veículos caros que passam a caminho do Parlamento.

Colaborou Salman Masood

Notícia do The New York Times, reproduzida na Folha de São Paulo, de 26 de julho de 2010.

Ou seja, este tipo de coisa não acontece apenas no Brasil...

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segunda-feira, julho 26, 2010

O estigma de ser uma dona de casa

O estigma de ser uma dona de casa

Katrin Bennhold
Estocolmo (Suécia)

Quando o jornalista sueco Peter Letmark tentou recentemente encontrar uma dona de casa para uma série sobre os pais do século 21 para o jornal “Dagens Nyheter”, ele fracassou.

“As donas de casa”, ele explicou, “são uma espécie quase extinta na Suécia. E as poucas que ainda existem realmente não ousam vir a público com isso”.

Na vizinha Noruega, a Associação das Donas de Casa mudou seu nome para Associação de Mulheres e Família à medida que seu número de membros despencou de 60 mil para 5 mil. “A referência a dona de casa era embaraçosa demais”, disse a economista feminista Charlotte Koren, do Instituto Norueguês de Pesquisa Social, uma ex-associada e mãe de dois.

Quando não é mais socialmente aceitável ser uma dona de casa, teria o feminismo errado seu alvo?

Nos anos 50, esperava-se que as mulheres permanecessem em casa e aquelas que queriam trabalhar eram frequentemente estigmatizadas. Hoje é praticamente o inverso, colocando as mulheres umas contra as outras segundo as divisões de convicção, classe econômica, necessidade e, frequentemente, etnia.

Por todo o mundo desenvolvido, as mulheres que permanecem em casa são cada vez mais vistas como antiquadas e um fardo econômico para a sociedade. Se seus maridos são ricos, elas frequentemente são repreendidas por serem preguiçosas; se são imigrantes, por impedirem as crianças de aprender a língua e os modos de seu país anfitrião.

Suas tarefas diárias de limpar, cozinhar ou criar seus filhos sempre foram ignoradas pela medição da atividade econômica nacional. (Se um homem se casa com sua empregada e para de pagar pelo seu trabalho, o PIB cai. Se uma mulher para de amamentar e compra alimentos prontos para seu bebê, o PIB sobe.) No debate sobre as mulheres alcançando os homens na educação e no mercado de trabalho em termos de crescente produtividade e crescimento econômico, as mães que permanecem em casa são cada vez menos valorizadas. Isso apesar do fato de, da Noruega aos Estados Unidos, os economistas colocarem o valor de seu trabalho não remunerado acima do valor do setor manufatureiro.

Nos países em que as mães ainda lutam para combinar carreira com família e deixam o trabalho menos por convicção e mais por necessidade, elas costumam ser duplamente punidas. Na Alemanha, a maior economia na Europa, a maioria das escolas ainda encerra as aulas antes do almoço, e creches em tempo integral para crianças com menos de 3 anos são escassas. Mas nesta geração de mães jovens, é mais provável encontrar mulheres dizendo que estão em licença maternidade prolongada ou entre empregos do que dizerem que são donas de casa.

Apenas entre os ricos é visto como um status de classe quando a mãe altamente educada leva as crianças para aula de chinês ou de violino.

“É difícil encontrar um equilíbrio entre a não romanceação e não estigmatização da dona de casa”, disse Nancy Folbre, uma professora de economia da Universidade de Massachusetts, em Amherst. “Apesar de muitas mulheres ainda permanecerem em casa, uma mudança cultural as colocou na defensiva.”

Tendo em mente que as mulheres atualmente trabalham tanto porque querem quanto porque a maioria das famílias precisa de duas rendas, ela disse, “é assim que as normas sociais funcionam: elas colocam pressão para as pessoas se adequarem”.

Na Suécia, o fim da dona de casa é impressionante. Os pais cumprem licença paternidade, os jardins de infância são altamente subsidiados e o modelo universal de arrimo de família é profundamente entrincheirado – do local de trabalho à cultura popular.

Antes o mercado chave para anunciantes no horário diurno da televisão, donas de casa felizes promovendo produtos de limpeza agora raramente aparecem nas propagandas de TV.

Elas são um “segmento inexistente”, disse Jonas Andersson, consultor de marca da The Brand Union, uma empresa de design de marca sueca. De vez em quando propagandas internacionais precisam ser dubladas para remover as menções ofensivas a “dona de casa”, ele disse. Andersson e seus colegas se concentram no que ele chama de segmento de “mulher com pouco tempo”.

“De chocolate a carros, você quer ter como alvo as mães que trabalham fora”, ele disse.

Os políticos nórdicos há muito se concentram nas mães que trabalham fora, dando a elas subsídios para asilos de idosos, creches e, mais recentemente, incentivos financeiros para que dividam a licença maternidade com os homens.

No geral, essas políticas aumentaram o crescimento econômico, aumentaram a arrecadação tributária e deram às mulheres que querem trabalhar mais independência financeira, mais benefícios sociais, mais realização pessoal –resumindo, o que muitas chamariam de mais liberdade.

Mas a engenharia social é uma ferramenta cega e alguns temem que a liberdade das mães que trabalham fora ocorreu à custa de transformar em pária uma minoria que deseja fazer as coisas de modo diferente.

Jorun Lindell, uma mãe de três e esposa de um empreendedor sueco, tentou ser dona de casa e não conseguiu fazer com que desse certo. “Ridicularizada”, ela disse, por sua convicção de que seus filhos deveriam ter sua mãe em casa, ela descobriu que não poderia colocá-los em uma creche pública algumas poucas horas por dia ou semana por ser reservada para famílias em que ambos os pais trabalham, estão à procura de trabalho ou estudando.

Ela acabou se matriculando em uma universidade sem qualquer interesse no curso, “desperdiçando recursos para obter algo pelo qual nossos impostos já pagam”, ela disse.

Não há forma fácil de consertar as consequências não intencionais de uma política bem intencionada.

Algumas medidas, como o auxílio que a Suécia e a Noruega pagam para os pais que ficam em casa e que optam por não utilizar o sistema de creches, frequentemente apenas reforçam o estigma associado às donas de casa: preocupações de que essa ajuda, popular entre as famílias operárias e imigrantes, atrapalha a mobilidade social ao manter os filhos dos pobres e estrangeiros de fora das creches socializadoras a transformou em controversa.

Uma forma mais barata e possivelmente mais eficaz poderia ser finalmente reconhecer formalmente a contribuição das donas de casa à economia, disse Hélène Périvier, uma economista do Institut d’Études Politiques, em Paris.

“Não se trata de ser remunerada”, disse Périvier, notando que o valor econômico que as donas de casa criam permanece dentro de seu lar, “mas sim de ser valorizada”.

Se há um momento para a inclusão do trabalho doméstico não remunerado nos números do PIB é agora, ela disse. As mães que trabalham fora também ganham com isso: elas ainda realizam grande parte do trabalho não remunerado em seus lares – mesmo na Suécia.



Tradução: George El Khouri Andolfato


Texto do International Herald Tribune, publicado no UOL.

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O clube dos países atômicos

Em política internacional, se uma ação parece imprudente ou insensível e os responsáveis por ela não são malucos de carteirinha, em geral é porque foi feita para parecer assim, de propósito. Para mandar um recado.

Veja-se por exemplo o ataque de Israel em águas internacionais contra uma frota de barcos civis, que resultou na morte de nove passageiros turcos. Havia muitas maneiras que não implicavam o uso de violência para impedir que ela chegasse a um porto de Gaza; ou então, se os israelenses não se importavam em matar um ou dois passageiros para mandar um aviso de primeiro nível todos os candidatos a amigos humanitários de Gaza, poderiam ter esperado até que a frota tivesse efetivamente violado o bloqueio e atingido águas territoriais, onde se poderia dizer que Israel o direito de patrulhar e controlar, tornando qualquer possível dano que se abatesse sobre o responsabilidade dos que tentavam furar o bloqueio, e dando às ações de Israel pelo menos uma aparência de legalidade. Mas não, preferiram fazê-lo em águas internacionais, de um modo que garantisse a erupção de violência. E mataram nove civis desarmados no processo.

Pode-se dizer qualquer coisa sobre os militares israelenses, exceto que são incompetentes - e com certeza não são malucos. De modo que todas as desculpas esfarrapadas dadas depois sobre a “reação inesperada" das vítimas e o inquérito unilateral obviamente tendencioso sobre o incidente fazem parte do espetáculo: Israel não cometeu um "erro" ao decidir atacar a frota como o fez, nem os que executaram o ataque foram incompetentes. O recado foi bem claro: faremos o que for preciso para evitar o furo do bloqueio a Gaza, e não nos importamos com o que o resto do mundo pensa. Tão claro que, apesar das manifestações de indignação internacional sobre a morte de nove civis em águas internacionais, e apesar de toda a barulheira sobre o envio de "centenas" de novas frotas, até agora nada foi feito para responsabilizar Israel pelas suas ações, e os moradores de Gaza continuam abandonados à própria sorte, sendo coletivamente punidos por terem votado errado há quatro anos.

Acessoriamente, outro recado foi mandado: os israelenses são cães raivosos, vejam o que eles fizeram e pensem no que podem fazer se não forem apaziguados. Que esse “apaziguamento", sob a forma de sanções contra o Irã, tenha servido outros propósitos é apenas parte do jogo: nós arranjamos uma desculpa para vocês, vocês cobrem as nossas costas, e nós dois falamos sobre outra coisa enquanto fazemos o que temos de fazer. Mais do que nunca, o que se faz não importa, o importante é que se é visto fazendo - e "ver" está aberto a manipulações de todo tipo.

A invasão do Iraque em 2003 é outro exemplo, em uma escala maior. Depois de criado o precedente do Afeganistão e montada a base de propaganda pró-guerra sobre uma base de provas frágeis e – como foi revelado depois – francamente falsas, mesmo diante das maiores manifestações de massa em todo o mundo na história recente, o plano de guerra foi executado até a invasão e a ocupação de um país soberano, resultando na destruição quase completa da infra-estrutura econômica do Iraque e em incontáveis milhares de mortes de civis. Novamente, o recado foi claro: não ligamos a mínima para o que o mundo pensa, nem para as leis internacionais: vamos travar guerras preventivas de agressão contra qualquer país, no momento em que bem entendermos, por qualquer razão que julguemos adequada.

Quem disse que Israel limitou-se a empregar os meios à sua disposição impedir que artigos potencialmente perigosos chegassem às mãos dos "terroristas" de Gaza tinham razão afinal de contas, e nós estávamos errados, como de costume: a perigosíssima idéia de que cidadãos comuns possam passar por cima dos governos e tomar a questão de Gaza nas suas próprias mãos para acabar com o bloqueio precisava ser extirpada por qualquer meio, mandando um recado que matasse no berço quaisquer outras iniciativas semelhantes no futuro – o que estava em jogo era a segurança dos que controlam Israel e o uso do seu poderio militar. E aqueles que contrapunham as necessidades de "segurança mundial" às acusações de "roubo de petróleo" como a força motriz que conduziu à invasão do Iraque também estavam certos, e nós, outra vez errados: a guerra contra o Iraque não aconteceu por causa de petróleo (apesar de que ter o controle direto da terceira maior reserva de petróleo do mundo é um efeito colateral não desprezível): tratava-se de mandar um recado, e criar um precedente: temos o direito de decidir quem pode fazer o que, e vamos fazer cumprir este direito por qualquer meio, inclusive com guerras de agressão e matanças de civis. E, mediante manipulações, chantagens e ameaças, vamos fazer isto com o pleno apoio das instituições internacionais criadas justamente para nos impedir de o fazer.

Em um momento em que a emergência de novas potências mundiais começa a desafiar os proprietários deste mundo em todas as frentes, era urgente impor um limite: podemos aprender a conviver com a concorrência comercial e até mesmo incentivá-la dentro de certos limites para nos tornarmos mais competitivos, mas não vamos entregar o controle total que temos sobre os destinos do mundo. Continuaremos a tomar as decisões finais, e vocês vão continuar a cumpri-las. Podem fazer o que quiserem com os seus próprios vizinhos, contanto que nós possamos continuar fazendo o que quisermos com vocês - e, através de vocês, também com os seus seus vizinhos.

Há uma guerra acontecendo, e as potências nucleares vêm se preparando para ela, e tomando posições estratégicas, desde antes mesmo que os seus adversários percebessem que havia uma disputa. O Irã é o atual campo de batalha desta guerra, o lugar onde eles vão dar mais um passo para garantir o seu poder. É por isso que a Turquia e o Brasil não poderiam ser autorizados a negociar uma saída para o impasse nuclear iraniano, é por isso que a Declaração de Teerã tinha de ser ignorada e uma nova rodada de sanções precisava ser imposta ao Irã: a única solução aceitável para eles é que os iranianos renunciem ao direito de desenvolver a sua própria tecnologia nuclear para fins civis, independentemente de esse direito estar consagrado nas leis internacionais e em tratados internacionais em vigor. E essa "solução" tem de ser alcançado pelos seus próprios esforços e meios, e não pela intervenção de novatos intrometidos como o Brasil ou a Turquia. Esses países têm de ser mantidos no seu lugar como parte do problema e nem por um momento devem achar que podem ser parte da solução.

A meta atual das potências nucleares, que a vêm perseguindo com diligência nas duas últimas décadas, passo a passo, é fazer com que o desenvolvimento do ciclo completo da tecnologia nuclear para fins civis seja um monopólio de quem já o domina, os "estados nucleares" do Tratado de Não Proliferação. Os meios para esse fim são o Protocolo Adicional do TNP, tornando as inspeções intrusivas da AIEA obrigatórias para todos os países (exceto os estados nucleares, é claro), e a proibição de transferências internacionais de tecnologia nuclear, mediante novas regras sobre o comércio nuclear impostas pelo Grupo de Fornecedores Nucleares (GFN). Depois de estabelecido o precedente iraniano, fixando o “direito” das potências nucleares a forçar um país a renunciar aos seus direitos, eles vão resolver os "problemas" restantes: Brasil, Turquia, Argentina, Coreia do Sul, Paquistão, África do Sul e, em última instância, a Índia, já objeto de pesadas pressões americanas nas negociações do NSG, apesar de ter firmado em 2008 um acordo de cooperação nuclear com os Estados Unidos.

A justificação das potências nucleares para a tentativa de torpedear o Tratado de Não Proliferação é que este conteria “lacunas” que permitiriam que os seus signatários desenvolvam programas nucleares paralelos, clandestinos, para a confecção de armas atômicas. Esta alegação, porém, não resiste à análise: nenhum signatário do TNP jamais desenvolveu armas atômicas. A Coreia do Norte retirou-se do Tratado e expulsou os inspetores da ONU do país antes de desenvolver os seus fogos de artifício nucleares, e os únicos países possuidores de um arsenal nuclear além dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança são a Índia, o Paquistão e Israel, nenhum deles signatário do TNP, e todos aliados dos EUA. E, pelo menos no caso de Israel, esse arsenal atômico foi desenvolvido com o apoio ativo dos Estados Unidos, enquanto a Índia e o Paquistão beneficiaram-se do silêncio cúmplice das potências nucleares enquanto desenvolviam os seus brinquedos atômicos. Essa tentativa, feita pelos maiores responsáveis pela proliferação de armas atômicas e baseada em premissas falsas e portanto com objetivos não revelados (mas óbvios), precisa ser combatida com determinação pelos países para os quais o fim do TNP e a imposição de restrições ao desenvolvimento independente de tecnologia nuclear serão mais prejudiciais: Turquia, Egito, Coreia do Sul e Indonésia, entre outros. E, mais ainda que estes, o Brasil, por ter atingido, ao contrário do Irã, um estágio de domínio da tecnologia nuclear em que o desenvolvimento de armas atômicas é uma possibilidade concreta, não uma acusação infundada e desonesta.

Apesar de ser um dos principais interessados em combater essa tentativa, enquanto a Turquia assume uma posição firme no NSG contra mais restrições sobre o comércio internacional de tecnologia nuclear e continua forte e publicamente envolvida nas negociações do programa nuclear iraniano, o Brasil queima o capital político adquirido e, cedendo a pressões não declaradas de partes não esclarecidas, fica em casa lambendo os dedos queimados e em geral promete comportar-se direitinho de agora em diante. Porém, como mostra claramente o exemplo iraniano, "comportar-se" não é uma garantia de ser deixado em paz, e os brasileiros podem ter a certeza de que serão os próximos na fila para este tipo especial de imposição de “conformidade” se abandonarem o campo de batalha agora e permitirem que a violação dos direitos do Irã seja levada a termo.

Como já foi dito inúmeras vezes, a defesa dos direitos iranianos à tecnologia nuclear pacífica não é um capricho do presidente, nem uma tentativa da diplomacia brasileira de “projetar” o país no cenário internacional, ela é antes de mais nada uma defesa dos nossos próprios direitos a um desenvolvimento independente e, neste sentido, é vital para a nossa política externa. Abandoná-la agora atenta contra o interesse nacional, compromete o nosso futuro como nação desenvolvida plenamente autônoma e põe a perder a nossa reputação internacional de seriedade e honestidade. Se estamos sendo pressionados para sair de cena, o governo tem a obrigação de esclarecer quem o faz, e como o faz, para manter a nossa tradição de transparência nas relações internacionais e para que os cidadãos brasileiros possam decidir com conhecimento de causa se querem ceder a elas.


Texto de Tomás Rosa Bueno, disponível no blog do Luís Nassif.

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sexta-feira, julho 23, 2010

Apesar de progresso, Brasil permanece um dos mais desiguais do mundo, diz ONU

Apesar dos progressos sociais registrados no início da década passada, o Brasil continua entre os países mais desiguais do mundo, segundo atesta um relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), que será divulgado nesta sexta-feira.

O índice de Gini - medição do grau de desigualdade a partir da renda per capita - para o Brasil ficou em torno de 0,56 por volta de 2006 – quanto mais próximo de um, maior a desigualdade.

Isto apesar de o país ter elevado consideravelmente o seu índice de desenvolvimento humano – de 0,71 em 1990 para 0,81 em 2007 – e ter entrado no grupo dos países com alto índice neste quesito.

O cálculo do indicador de desigualdade varia de acordo com o autor e as fontes e a base de dados utilizados, mas em geral o Brasil só fica em melhor posição do que o Haiti e a Bolívia na América Latina – o continente mais desigual do planeta, segundo o Pnud.

No mundo, a base de dados do Pnud mostra que o país é o décimo no ranking da desigualdade.

Mas os dados levam em conta apenas 126 dos 195 países membros da ONU, e em alguns casos, especialmente na África subsaariana, a comparação é prejudicada por uma defasagem de quase 20 anos de diferença.

Na seleção de países mencionada no relatório do Pnud, os piores indicadores pela medição de Gini são Bolívia, Camarões e Madagascar (0,6) e Haiti, África do Sul e Tailândia (0,59). O Equador aparece empatado com o Brasil com um indicador de 0,56.

Colômbia, Jamaica, Paraguai e Honduras se alternam na mesma faixa do Brasil segundo as diferentes medições.

Desigualdade e mobilidade

O relatório foca no problema da desigualdade na América Latina, o continente mais desigual do mundo, segundo o Pnud. Dos 15 países onde a diferença entre ricos e pobres é maior, dez são latino-americanos.

Em média, os índices Gini para a região são 18% mais altos que os da África Subsaariana, 36% mais altos que os dos países do leste asiático e 65% mais altos que os dos países ricos.

O documento traça uma relação entre a desigualdade e baixa mobilidade social, caracterizada pelo círculo de aprisionamento social definido pela situação familiar de cada indivíduo.

No Brasil e no Peru, por exemplo, o nível de renda dos pais influencia a faixa de renda dos filhos em 58% e 60%, respectivamente.

No Chile esse nível de pré-determinação é mais baixo, 52% - semelhante ao da Inglaterra (50%).

Já nos países nórdicos, assim como no Canadá, a influência da situação familiar sobre os indivíduos é de 19%.

Alemanha, França e Estados Unidos (32%, 41% e 47%, respectivamente) se incluem a meio do caminho.

No campo educacional, os níveis de educação dos pais influenciam o dos filhos em 55% no Brasil e em 53% na Argentina. No Paraguai essa correlação é de 37%, com Uruguai e Panamá registrando 41%.

A influência da educação dos pais no sucesso educacional dos filhos é pelo menos duas vezes maior na América Latina que nos EUA, onde a correlação é 21%.

"Estudos realizados em países com altos níveis de renda mostram que a mobilidade educacional e o acesso à educação superior foram os elementos mais importantes na determinação da mobilidade socioeconômica entre gerações", afirma o relatório.

Para o Pnud, a saída para resolver o problema da desigualdade na América Latina passa por melhorar o acesso das populações aos serviços básicos – inclusive o acesso à educação superior de qualidade.

O relatório diz que programas sociais como o Bolsa Família, Bolsa Escola e iniciativas semelhantes na Colômbia, Equador, Honduras, México e Nicarágua representaram "um importante esforço para melhorar a incidência do gasto social" na América Latina, sem que isso tenha significado uma deterioração fiscal das contas públicas.

"No que diz respeito à distribuição (de renda), as políticas orientadas para o combate à pobreza e à proteção da população vulnerável promoveram, na prática, uma incidência mais progressiva do gasto social, que por sua vez resultou em uma melhor distribuição da renda."


Notícia da BBC Brasil.

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quinta-feira, julho 22, 2010

Rio Jordão está poluído demais para celebração de batismos

O rio Jordão está tão contaminado que seria perigoso celebrar batizados no local onde Jesus recebeu o primeiro Sacramento, segundo a tradição cristã, denunciou esta quarta-feira a associação Amigos da Terra/Oriente Médio.

"Pedimos às autoridades regionais que cessem os batismos no baixo Jordão até que a qualidade da água esteja ali conforme as normas exigidas para as atividades turísticas", afirmou em um comunicado a associação de defesa ambiental, que menciona a possibilidade de um risco sanitário.

Até agora, o ministério israelense de Meio Ambiente não comentou estas denúncias.

O local onde Jesus foi batizado por São João Batista, há dois mil anos, segundo a tradição cristã, é conhecido com o nome de Qasr al-Yehud, e fica em uma região controlada pelo exército israelense, que proíbe o acesso perto da cidade palestina de Jericó, na Cisjordânia.

Nos últimos anos, após pressões do ministério israelense do Turismo, o exército tem autorizado a visita de peregrinos, por meio de solicitações especiais.

Em maio, a Amigos da Terra já havia denunciado em um relatório que o Jordão "se reduziu a um simples riacho no sul do lago de Tiberíades, seco pela exagerada exploração das águas e devastado pela contaminação".

Segundo a organização, 98% de suas águas foram desviadas por Israel, Síria - que explora seu afluente, Yarmuk - e Jordânia.


Notícia do UOL.

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quarta-feira, julho 21, 2010

O Retorno do anti-semitismo e o Estado de Israel

O Retorno do anti-semitismo e o Estado de Israel


Na semana passada, o UOL reproduziu notícia do semanário alemão Der Spiegel*, mostrando o extremismo anti-semita comum a neo-nazistas e imigrantes muçulmanos na Alemanha. A notícia informava que durante um festival nos arredores de Hanôver, um grupo judeu de dança, chamado Chaverim, foi impedido de se apresentar, hostilizado por um grupo de migrantes muçulmanos e seus descendentes.


Normalmente os ataques contra a comunidade judaica na Alemanha são perpetrados por grupos neo-nazistas, com a mesma base ideológica da época de Hitler. Esta agressão que impediu a apresentação do grupo de dança judeu por parte de um grupo de imigrantes muçulmanos, muitos deles adolescentes e crianças, é um fato novo, decorrente das agressões do Estado de Israel aos palestinos.


No ano passado, o Pedro Dória comentou no seu weblog uma notícia que lhe chamou a atenção: um grupo de socialistas argentinos atacou um grupo de judeus quando saíam da embaixada de Israel lá, após celebrarem os 61 anos da fundação do estado de Israel. Dória achou o incidente muito estranho, pois sempre houve judeus envolvidos com socialismo, a começar pelo próprio Marx, e o Estado de Israel, nas suas fundações, era em grande parte inspirado por ideais socialistas.


Parece que ambas as coisas são decorrência das políticas míopes do Estado de Israel, com relação, principalmente, aos palestinos. Dória comenta esta possibilidade: “Incompetência, paranóia sem limites, perda de noção do razoável e falta de diplomacia transformaram Israel, principalmente nos últimos anos, em um Estado agressor.” E um Estado agressor costuma atrair antipatia de todo lado.


Infelizmente, enquanto a paz duradoura não for atingida na Terra Santa, e enquanto Israel posar como prepotente e agressor (com todo apoio dos Estados Unidos), a tendência é que estes eventos venham a se tornar mais e mais frequentes.


21/07/2010.


*Infelizmente, só para assinantes do UOL.

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sábado, julho 17, 2010

Gigolôs de Infrator - sobre o novo Código Florestal Brasileiro

Gigolôs de infrator

ROBERTO SMERALDI

Surpreendentemente, não é o Código Florestal que sai mais ameaçado pelo relatório aprovado na Comissão Especial da Câmara dos Deputados, criada por iniciativa de deputados ruralistas. As principais ameaças são para o Estado de Direito e para a competitividade da agropecuária.
Após o alarde sobre as mazelas do Código, os parlamentares acabaram aprovando um texto que enfraquece um de seus pilares -a proteção de cursos d'água e solos vulneráveis-, mas não afeta de forma expressiva o arcabouço legal.
Claro, é paradoxal num país que contabiliza centenas de mortos e bilhões de prejuízo com aluviões, enchentes e deslizamentos. Mas não é o ponto principal. O texto promove o que de pior se pode fazer com a lei: premiar o descumprimento.
Propõe anistia de abrangência jamais concebida: não apenas perdão de todas atividades ilegais até 2008 -legitimando assim a expectativa de que isso se repita indefinidamente- mas também dispensa da recuperação dos ativos ilegalmente destruídos em imóveis até quatro módulos, ou seja, em qualquer lugar, pois um imóvel pode ser desdobrado pelo mesmo dono.
A proposta é uma afronta para os produtores rurais que trabalham dentro da lei. Há uns dias, o presidente da empresa brasileira líder mundial em celulose me questionou: "Por que nós respeitamos a reserva legal, faturamos R$ 28 bilhões por ano e distribuímos dividendos, enquanto outros seguem impunemente desmatando e até geram pouco emprego?".
A ironia é que, enquanto isso, nem sequer se realizam as atualizações do Código que seriam razoáveis, após meio século de vigência.
Exemplo mais usado no discurso ruralista é o da injustiça com culturas que utilizam parcialmente encostas, como videira, maçã e café.
Se adotados cuidados como cobertura do solo, curvas de nível, banquetas etc., elas não contribuem para degradação.
Mais ainda: podem até representar, no conjunto, uma oportunidade de valorização do ambiente, por formar arranjos produtivos articulados com turismo, águas minerais e outros serviços.
Seria bem a hora de adaptar a lei às peculiaridades da multiplicação e da complexidade dos territórios.
Mas na proposta da comissão não entrou nada que esteja baseado em diversidade, critério técnico, desempenho ou incentivo para melhores práticas.
Restrições ao desmatamento e à grilagem da terra são os principais vetores para investir na revolução tecnológica de produtividade que é necessária para atingir mais lucratividade e competitividade no segmento da produção primária.
Algumas cadeias já fazem isso com sucesso. Na pecuária, que ocupa 80% de nossa área cultivada, o desafio é especialmente urgente. A proposta aprovada na comissão desconsidera esse aspecto crucial e que se aplica, com devidas diferenças, tanto para agricultura familiar quanto para a grande fazenda.
Assim, desestimula o investimento em produtividade, que poderia se beneficiar de nossa capacidade avançada de pesquisa.
Enquanto buscam anistias em Brasília, os que se erguem a defensores da agricultura sabotam abertamente, em seus Estados, os programas de regularização que sanariam os passivos florestais sem precisar desmoralizar a lei.
Inovação, produtividade e tecnologia no campo requerem investimento, incentivo, competição leal e liderança. E até melhora no Código Florestal. É debate difícil de se fazer no grito, sem ouvir a ciência, entre ruidosos gigolôs de infrator buscando votos.


ROBERTO SMERALDI, 50, jornalista, é diretor da OSCIP Amigos da Terra - Amazônia Brasileira e autor do "Novo Manual de Negócios Sustentáveis" (Publifolha, 2009).

Texto publicado na Folha de São Paulo, de 15 de julho de 2010.

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sexta-feira, julho 16, 2010

O Fim da Edição Impressa do Jornal do Brasil

O Fim da Edição Impressa do Jornal do Brasil


A informação que se espalhou pela Internet é que o Jornal do Brasil, JB para os íntimos, deixará de ter circulação impressa, talvez a partir de setembro, ficando restrito a um sítio na Grande Rede, com material exclusivo para assinantes. O JB existe desde 1891, e segue caminho semelhante ao americano Christian Science Monitor.


Hoje (14 de julho) pude ler muitos lamentos a respeito do final da edição impressa do jornal. Textos de Ruy Castro e Fernando Gabeira, na Folha de São Paulo. Um longo texto de despedida de Luiz Gonzaga da Silva no blog do Luís Nassif. Muita tristeza. Não é à toa, na verdade. Grandes e antigos nomes do jornalismo brasileiro trabalharam no JB. O Elio Gaspari, que eu tanto admiro, trabalhou lá, bem como os referidos Ruy Castro e Fernando Gabeira. O jornalista Alberto Dines, hoje um dos coordenadores do Observatório da Imprensa também. Até não muito tempo atrás, o JB era considerado um dos quatro grandes jornais de nível nacional do Brasil (os outros seriam O Globo, O Estado de São Paulo e a Folha de São Paulo). Mas desde o final da ditadura militar entrou em decadência, com tiragens diárias decrescentes.


O pessoal exalta muitas coisas do velho Jornal do Brasil, mas principalmente o projeto gráfico que, nas palavras do pessoal, “revolucionou” o formato do jornal no final da década de 1950, e que fez os outros jornais seguirem-no, e uma capa da edição do dia 14 de dezembro de 1968, dia seguinte ao decreto do AI-51, onde, entre coisas, falava do “clima sufocante” na previsão do tempo (e nisso pensava no “clima” político) , e lembrava que o dia anterior era o “dia dos cegos” (mas certamente não era com os deficientes visuais que o jornal estava preocupado naqueles dias).


Mas como diz o ditado, “aos amigos tudo, aos inimigos os rigores da lei”. Ninguém lembrou do envolvimento da família Britto Nascimento, então proprietários do jornal, na conspiração civil-militar que culminou no golpe militar que pôs fim ao regime constitucional do Brasil em 1964, depondo o presidente João Goulart2. Faz parte. O antigo Correio da Manhã, outro jornal carioca, clamou pelo golpe e saudou-o quando ele veio (o golpe). Posteriormente o Correio da Manhã acabou fechado por conta das pressões contra o jornal por parte do regime autoritário que fora antes invocado.


Mas, de fato, acho que é digno de lamentação que o velho jornal deixe de circular. A tendência é que ele fique ainda menos relevante, e muita gente venha a perder o emprego.


É difícil saber em que grau o surgimento da Internet e a má administração do jornal se combinaram para este fim.


E há aquela questão, os jornais estão sumindo, mas o que está assumindo seu papel, os sítios eletrônicos, não costumam ser agregadores como estes velhos diários.



14/07/2010.


jar

1O AI-5 é considerado, como “o golpe dentro do golpe” (civil-militar de 1964). Cassou o direito ao habeas-corpus, e deu poderes discricionários ao presidente da república, tais como cassar o mandato de parlamentares.

2Pelo que me lembro, é o que informa René Dreyfuss, em seu livro “1964, A Conquista do Estado”, publicado no início da década de 1980.

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Novo índice aponta menos pobres no Brasil do que o governo

Novo índice aponta menos pobres no Brasil do que o governo

Um novo índice de medição da pobreza, que não leva em consideração direta a renda, indica que o Brasil tem menos pessoas pobres do que aponta a medição oficial do governo.

O novo Índice de Pobreza Multidimensional (MPI, na sigla em inglês), divulgado nesta quarta-feira, diz que 8,5% da população brasileira pode ser considerada pobre.

A avaliação leva em conta o acesso da população a dez itens relacionados à saúde, à educação e ao padrão de vida.

A porcentagem de pobres apontada pelo MPI é maior do que a enxergada pelo Banco Mundial (Bird), que diz que 5% dos brasileiros vivem abaixo da linha da pobreza absoluta (têm renda inferior a US$ 1,25 por dia, de acordo com a regra adotada pelo Bird).

Mas ela é bem menor de que a proporção de brasileiros em pobreza absoluta divulgada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, órgão ligado ao governo), que é de 28,8%. Segundo a regra adotada pelo Ipea, estão em pobreza absoluta os membros de famílias com rendimento médio por pessoa de até meio salário mínimo mensal.

O MPI foi desenvolvido pelo centro de pesquisas britânico The Oxford Poverty and Human Development Initiative (OPHI), com o apoio das Nações Unidas, e deverá ser utilizado pela ONU em seu relatório anual de desenvolvimento humano.

Para os criadores do novo índice, ele apresenta um quadro mais preciso da pobreza do que a simples medição do nível de renda.

Números absolutos

A nova medição, que no caso do Brasil toma como base dados coletados em 2003, indica um total de 16,2 milhões de pessoas consideradas pobres no país – o 13º maior número absoluto entre os 104 países em desenvolvimento incluídos na pesquisa.

No mundo todo, esse total chega a 1,7 bilhão de pessoas, 400 milhões a mais do que na medição da pobreza absoluta pelos critérios do Banco Mundial.

A medição indica que somente na Índia há 645 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, quantidade superior à soma de todos os países da África subsaariana. Apesar disso, a Índia tem a 31ª maior proporção de pobres (55,4% da população) entre os países avaliados.

O Níger é o país com a maior proporção de pobres no mundo, segundo o novo índice (92,7%), seguido de Etiópia (90%), Mali (87,1%) e República Centro-Africana (86,4%).

Os países com a menor proporção de pobres são Eslováquia e Eslovênia (próximo a 0%), República Checa (0,01%), Belarus (0,02%) e Letônia (0,3%).

A China, país mais populoso do mundo, com 1,3 bilhão de habitantes, tem um índice de pobreza pelo MPI de 12,5%.

Entre os países da América Latina, o Uruguai é o que tem a menor proporção de pobres pelo novo índice (1,7%), seguido de Equador (2,2%), Argentina (3%) e México (4%).

Ponto fraco

Entre os itens medidos pelo novo índice, a educação aparece como o ponto fraco do Brasil.

Segundo o relatório do OPHI, 20,2% da população brasileira tem algum tipo de privação nessa área, contra 5,2% no setor de saúde e 2,8% nos itens de padrão de vida.

Para efeito de comparação, na China a proporção de pessoas com privações é bem menor do que no Brasil na área de educação (10,9%), mas superior nos setores de saúde (11,3%) e de padrão de vida (12,4%).

O estudo da OPHI também mede a intensidade da pobreza, ao analisar a proporção das pessoas consideradas pobres em relação à quantidade de itens nos quais têm privações.

O MPI considera pobres aqueles que têm privações em três ou mais dos dez itens considerados, o que engloba 8,5% da população.

Mas apenas 2,3% da população tem privações em quatro ou mais itens, 0,9% em cinco ou mais e 0,3% em seis ou mais itens. A proporção de pessoas com privações em mais de sete itens é próxima de zero.

No Níger, país com a maior proporção de pobres no mundo, segundo o estudo, 7% da população não tem acesso a nenhum dos dez itens considerados.



Notícia da BBC Brasil.

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Laboratório Farmacêutico ocultou pesquisa sobre efeitos colaterais graves de remédio para tratamento de diabetes

Laboratório ocultou os riscos de medicamento para diabetes

Agência reguladora dos EUA pode proibir a venda do remédio

GARDINER HARRIS
DO "NEW YORK TIMES"

Em 1999, a farmacêutica SmithKline Beecham lançou, em segredo, um estudo para descobrir se seu remédio Avandia, para diabetes, era mais seguro para o coração que o rival Actos, da Takeda.
Os resultados do estudo, completado no mesmo ano, foram desastrosos. O Avandia não era melhor que o Actos e, pior, provocava ainda mais riscos cardíacos.
Em vez de publicar os resultados, contudo, a empresa passou os 11 anos seguintes tentando acobertá-los, segundo revelam documentos aos quais o "New York Times" teve acesso.
A empresa não publicou os resultados nem os transmitiu aos reguladores de drogas, como manda a lei.
"Atendendo ao pedido da direção da empresa, esses dados não devem ser vistos por ninguém fora da GSK [a sucessora corporativa da SmithKline]", escreveu um executivo da SmithKline, Martin I. Freed, em e-mail de 29 de março de 2001, falando dos resultados do estudo obtidos pelo jornal.
Os riscos de ataque cardíaco decorrentes do uso do Avandia vieram a público pela primeira vez em 2007, com um estudo de um cardiologista da Clínica Cleveland.
Ele usou dados que a empresa foi forçada a postar em seu site por ação judicial.
Nos meses seguintes, diretores da GlaxoSmithKline admitiram que sabiam dos riscos potenciais de ataque cardíaco ligados ao medicamento pelo menos desde 2005.
Mas os documentos mais recentes mostram que a companhia sabia disso desde que a droga foi posta no mercado, em 1999, e esforçou-se para impedir sua divulgação.
Em um documento, a empresa procurou calcular quanto perderia em vendas se os riscos do Avandia à segurança cardiovascular "se intensificassem". O custo seria de US$ 600 milhões entre 2002 e 2004.
Mary Anne Rhyne, uma porta-voz da GlaxoSmithKline, disse que a empresa não divulgou os resultados porque eles "não contribuíram com novas informações".
A empresa disse que o Avandia é seguro e que Freed não trabalha mais para a GlaxoSmithKline.
Uma comissão da FDA (agência reguladora de remédios nos EUA) está reunida desde ontem para decidir se o Avandia deve continuar a ser vendido.
Houve época em que ocultar os resultados de testes clínicos negativos era prática amplamente difundida na indústria farmacêutica.
Em 2007, o Congresso aprovou uma lei que torna obrigatória a divulgação dessas informações. Mas os posts divulgados com frequência não passam de referências de compreensão difícil, de maneira que a questão está longe de resolvida.

Tradução de CLARA ALLAIN

Texto do The New York Times, reproduzido na Folha de São Paulo, de 14 de julho de 2010.


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quarta-feira, julho 14, 2010

14 de julho - Dia da Queda da Batilha



E os Rafale sobrevoando Paris no Dia Nacional da França, na foto de Boris Horvat, para a AFP. O álbum completo das comemorações francesas no UOL.

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O nome das coisas: tortura

EUA mudam forma de noticiar tortura de prisioneiros

Estudo afirma que o "waterboarding", ou simulação de afogamento, deixou de ser tido como tortura após 2004

Mudança ocorre a partir das denúncias do uso da técnica pelas tropas dos EUA no Iraque, com aval da Casa Branca de Bush

DE SÃO PAULO

Um estudo elaborado na Universidade Harvard mostra que alguns dos principais jornais dos EUA mudaram a forma como definem "waterboarding", a tortura por simulação de afogamento, a partir de 2004.
A data coincide com a divulgação das primeiras denúncias sobre a ocorrência da prática na prisão de Abu Ghraib (Iraque), que recebeu o aval do governo de George W. Bush (2001-2009).
A análise foi feita por alunos da universidade com base em reportagens e artigos dos quatro jornais de maior circulação do país, "The New York Times", "The Wall Street Journal", "Los Angeles Times" e "USA Today".
Eles dizem que, durante quase 70 anos, "a lei americana e os grandes jornais classificavam o "waterboarding" como tortura". Depois dos ataques de 11 de setembro de 2001 em Nova York e em Washington, porém, houve uma "dramática mudança" na cobertura.
Entre 1931 e 1999, o "NYT" classificou a prática como tortura em 81,5% dos artigos que mencionavam o termo. Já entre 2002 e 2008, o "waterboarding" recebeu a mesma classificação em apenas dois de 143 artigos.
Os números são parecidos no "Los Angeles Times", que mencionou o "waterboarding" como tortura em 96,3% dos artigos entre 1935 e 2001, mas o fez em apenas 4,8% entre 2006 e 2008.
Desde 2004, o "USA Today" nunca citou a prática como tortura. E o "Wall Street Journal" a classificou dessa forma em um de 63 artigos de 2005 a 2008.
Após 2004, "a maioria dos artigos passou a usar [...] palavras como "duro" ou "coercitivo" para descrever o "waterboarding", ou simplesmente não deu nenhum tratamento à prática", afirma o estudo.
Em sua conclusão, os autores do estudo dizem que, por quase um século, houve consenso na mídia de que "waterboarding" era tortura.
"Uma vez que o uso de "waterboarding" pela CIA e outros abusos pelos EUA vieram à tona, esse consenso já não existe mais."

Notícia publicada na Folha de São Paulo, de 8 de julho de 2010.


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Assentamentos ilegais israelenses controlam 42% da área da Cisjordânia

Assentamentos controlam 42% da Cisjordânia

DE JERUSALÉM

Os assentamentos judaicos controlam 42% da Cisjordânia ocupada, segundo um estudo da organização israelense de direitos humanos Betselem, embora a área construída represente apenas 1% do total.
Isso ocorre porque as fronteiras municipais dos assentamentos são dez vezes maiores que a área habitada. De acordo com o documento, a população de colonos quase triplicou desde 1993, de 110 mil para 301,2 mil.
A organização acusa o governo israelense de descumprir o compromisso assumido com o governo dos EUA do ex-presidente George W. Bush, em 2003, de congelar todas as construções.
A expansão das colônias é o maior ponto de atrito entre Israel e os EUA, e o estudo foi apontado pelos críticos da Betselem como uma tentativa de sabotar o encontro entre o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, e o presidente Barack Obama.
Para Dani Dayan, chefe do Conselho de Comunidades Judaicas da Cisjordânia, o fato de o estudo ter sido divulgado ontem mostra a intenção do Betselem de "prejudicar os interesses de Israel".
A iniciativa foi comparada ao vazamento da aprovação de uma construção israelense em Jerusalém Oriental em março, feito pelo movimento Paz Agora, apenas uma hora antes do encontro entre Netanyahu e Obama.
(MN)

Notícia da Folha de São Paulo, de 7 de julho de 2010. Destaque do blogueiro.

O detalhe curioso, que destaquei, é que 1993 é o ano dos Acordos de Oslo, supostamente acordos que buscavam implementar uma paz duradoura na região, viabilizando a criação de um estado palestino, e a segurança permanente do estado de Israel. Se a população dos assentamentos ilegais israelenses na Cisjordânia triplicou de lá para cá, isso seria um sinal de dupla intenção por parte de Israel?


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quinta-feira, julho 08, 2010

Um novo lado da Alemanha

Alemães revelam um novo lado

JOHANNESBURGO, África do Sul

Os países podem mudar? Eles podem retroceder, como o Zimbábue, o Congo ou, na maior parte do século 20, a Argentina. Podem avançar rapidamente, como a Coreia do Sul ou, hoje, a China. Mas eles podem modificar seu caráter fundamental?
Venho meditando sobre essa questão enquanto observo o time mais empolgante da Copa do Mundo, a Alemanha. É um grupo de grande talento, que ostenta jogadores como Mesut Özil, Sami Khedira e Jerome Boateng, nomes que não seriam tradicionalmente associados ao Volk alemão.
Quando me mudei para Berlim, em 1998, a cidade estava prestes a se tornar novamente a capital, após a temporada do pós-guerra em Bonn, e o Reichstag mais uma vez abrigaria o Parlamento alemão. Olhando para o Reichstag, fiquei surpreso com a frase lá gravada em 1916: "Dem Deutschen Volke" -"Para o Povo Alemão".
A palavra "Volk" sempre havia encerrado uma carga especial, explorada com fins racistas pelo nazismo e mais tarde usada na definição do pós-guerra de um cidadão alemão, por meio da linhagem. A imagem da Alemanha como uma comunidade de sangue, apesar da grande presença de estrangeiros, ainda resistia cerca de 12 anos atrás.
Mas a mudança estava no ar, sob um recém-eleito governo de centro-esquerda de social-democratas e verdes.
Em 1999 o governo aprovou a legislação que liberalizou muito o acesso à cidadania. As exigências para a residência foram reduzidas pela metade, e a cidadania tornou-se automática para qualquer estrangeiro de terceira geração nascido na Alemanha.
Houve advertências terríveis, é claro, principalmente pelos democratas-cristãos, hoje no governo. Mas, em um sentido, a Alemanha só estava reconhecendo a realidade de uma sociedade cuja população era 9% estrangeira. Lembrando aquele momento, vejo-o como a última etapa do longo processo de pós-guerra, em que a Alemanha chegou a um acordo com seu passado e sua nova existência, desfazendo suas inflexibilidades, adotando uma forma de orgulho diferente.
Chega Özil, um desses alemães de terceira geração e um jovem que será lembrado como um dos mais animadores novos astros da Copa do Mundo. Ele tem uma facilidade com a bola que só ocorre nos maiores jogadores, os que misteriosamente têm mais tempo que todos os outros.
Ele cresceu com outros garotos imigrantes da Turquia e da Bósnia, gosta de recitar versos do Corão antes de jogar e manifestou a simbiose frutífera da imigração desta maneira: "Minha técnica e meu sentimento pela bola são o lado turco do meu jogo. A disciplina, a atitude e o [ato de] sempre dar tudo de mim são a parte alemã".
Chame-a de escola de futebol Essen-sobre-o-Mediterrâneo. É lindo de se olhar.
Boateng tem origem em Gana (seu irmão escolheu jogar por Gana, criando o primeiro caso de irmãos em equipes opostas em um campeonato mundial). Khedira tem pai tunisiano. Outros têm pais nigerianos ou brasileiros. Ao todo, 11 dos 23 jogadores da equipe poderiam ter escolhido jogar por outros países.
Nunca vi um time alemão como este. O "Mannschaft" sempre foi formidável em sua energia inesgotável. Mas seu toque é tão novo quanto sua aparência -um reflexo da Alemanha que se reconheceu no final dos anos 1990.
Então, os países podem mudar? A Inglaterra sempre imagina que pode quando chega a Copa do Mundo, só para redescobrir suas inibições e limitações fatais. A Argentina sempre conta mais com o talento individual -muitas vezes escandaloso- do que com a coesão, um reflexo apropriado do país.
Uma nova França parecia ter surgido com a equipe negra, branca e norte-africana de 1998, só para o país voltar ao tipo rebelde, amargo e arrogante neste ano.
Afinal, a não ser por traumas devastadores, não acho que as nações modifiquem sua natureza fundamental. A Alemanha, é claro, conheceu esse trauma, assim como o Japão. Os últimos 65 anos foram de reconstrução e definição da nova identidade alemã. Democracia, transparência, liberdade e antimilitarismo se tornaram valores fundamentais. A estes, deve-se acrescentar agora o pluriculturalismo de uma terra de imigração.
É adequado que o "país arco-íris" de Nelson Mandela ofereça o lugar para essa revelação.

Texto de Roger Cohen, do The New York Times, reproduzido na Folha de São Paulo, de 5 de julho de 2010.


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