domingo, dezembro 31, 2006

Feliz Ano Novo!

Este blog deseja a todos um Feliz 2007!

sexta-feira, dezembro 29, 2006

Do Observatório da Imprensa (2): "Revistas de Variedades"

Edição 411 de 12/12/2006
www.observatoriodaimprensa.com.br
URL do artigo: www.observatoriodaimprensa.com.br

CULTURA E POLÍTICA
Dois vieses da imprensa e o debate sobre as mídias

Márcia Pimentel Coelho

Em meio ao atual debate sobre as grandes mídias, não deixa de ser de certa forma curioso que as maiores críticas à imprensa estejam restritamente voltadas àquela de perfil mais clássico, que pressupõe a centralidade da política na esfera pública. O objetivo aqui não é afirmar que tais críticas e debates não sejam pertinentes. É tão-só uma tentativa de chamar a atenção sobre a necessidade de se refletir sobre uma outra tendência paradigmática do jornalismo contemporâneo que, em aliança com representativos segmentos da vida cultural e econômica, constrói uma esfera pública cada vez mais centrada no consumo, nos temas da vida íntima e privada e na produção de realidades estrategicamente construídas para fins de comunicação.

Muito embora esse jornalismo de tendência contemporânea tenha características comuns e entrelaçadas com o viés de tipo mais clássico, nos debates sobre a imprensa costuma não ser levado muito em conta, nem muito a sério, ainda que tenha enorme penetração social.

Caminhando pelas ruas da Tijuca e do Flamengo, no Rio de Janeiro, decidi perguntar aos jornaleiros quais eram as revistas mais vendidas em suas bancas. Todos afirmaram que publicações como Caras, Quem, Contigo, Marie Claire, Flash, 7 dias, Viva! e outras revistas congêneres compunham o nicho editorial com maior força de venda em suas bancas, sendo Caras a mais citada como a de maior saída. Certamente, essa pesquisa informal não tem valor estatístico algum, mas, de alguma forma, indica a força desse mercado editorial.

No caso da revista Caras, o que chama efetivamente a atenção é a sua capacidade paradigmática de fabricação de realidades em meio a castelos, ilhas e outros cenários glamourosos e paradisíacos. Até porque para "flagrar" (?) cenas do cotidiano de um(a) colunável ou celebridade, a revista pode não mobilizar apenas repórter e fotógrafo, ou um paparazzo. Ao molde dos espetáculos, desloca - como informam Raquel Paiva e Muniz Sodré, em Cidade dos Artistas - uma equipe de produção inteira (com maquiador, figurinista, cenógrafo, iluminador) a fim de caracterizar idealmente as personagens e construir adequadamente as cenas e cenários das histórias que decidem contar. Ou seja, constroem ou adaptam a realidade em função do que querem dizer.

Estilo Quem

O corte ficcional de tais reportagens é tão presente que Paiva e Sodré constatam que até mesmo castelos e ilhas, por mais que possam pertencer concretamente à realidade histórica, não passam de cenografia. Os personagens, cenas e cenários funcionam, na verdade, como símbolos atualizados de uma narrativa que se resvala para as mitologias que giram em torno de cinderelas, príncipes, heróis, glórias, romances etc.

É verdade que, no nicho editorial apontado como "forte" pelos jornaleiros que abordei, nem todas as revistas se utilizam exatamente das mesmas estratégias ou mecanismos de produção. Mas a maioria costuma apostar em capas com celebridades midiáticas que chamam para matérias que falam sobre algum aspecto de si mesmas em meio a fotos e textos que acabam por vinculá-las a produtos, comportamentos e/ou hábitos de consumo. A edição 375 (8/12/2006) da revista Viva!, da Editora Abril, por exemplo, traz na capa a atriz Juliana Paes e a seguinte manchete: "Tinja e alise ao mesmo tempo! Tintura + escova progressiva = cabelo bonito e saudável!". No miolo da revista, a matéria estampa foto da atriz em meio a outras de cosméticos capilares, além de um texto que garante que, com os devidos cuidados, "você também pode!" chegar aos mesmos resultados que Paes.

Já a Quem, da Editora Globo, exibe em sua versão online o seu modo de entrelaçar produção cultural e mercado. Na matéria "O sonho de Cláudia Raia", que "está em cartaz em São Paulo com o musical Sweet Charity", a entrevista é centrada em perguntas como: "Como é interpretar Charity, uma mulher tão frágil, que parece ser o seu oposto?"; "Qual conselho você daria a mulheres como Charity?"; "Quando a Sophia (sua filha) entrou na história?"; "Você emendou uma novela, Belíssima, com o musical. Como ficou a vida em família?"

A chave do negócio

A matéria prossegue com "imagens exclusivas dos bastidores do ensaio de Cláudia Raia", com ela sempre em primeiro plano, e ainda com um outro "ensaio fotográfico", onde posa com vestidos e acessórios de grifes em que uma bolsa de 13.700 reais salta aos olhos. Ou seja, no contexto da revista o grande produto cultural e simbólico não é exatamente a peça, e sim Cláudia Raia, a pessoa dela, e os vestidos e acessórios do merchandising. A peça mais parece um penduricalho glamouroso que serve de gancho para que ela, produto simbólico maior, fale de si e da experiência pessoal que é protagonizá-la, ou ainda de pano de fundo que inspira a simbologia das cenas mercadológicas.

Adiciona-se a estas questões que atravessam jornalismo, cultura e consumo, o fato de que a construção de celebridades em alta, com grande capacidade de vender produtos e revistas e de criar ondas que fazem recair o interesse sobre si, rotineiramente, passa por estratégias de visibilidade midiática e de exposição da vida íntima e privada. Tal visibilidade é viabilizada e sustentada pelo colunismo social e de fofoca, por diversas editorias de jornais, sites, veículos especializados, programas televisivos, enfim por uma entrelaçada rede jornalística e de entretenimento.

Como a visibilidade não é fácil, mas é a chave do negócio, diversos artifícios, uns mais sóbrios e outros mais ousados, muitas vezes se fazem necessários para que a imagem e o nome continuem estampados nas mídias. Até porque existem muitos candidatos a celebridade na fila a fim de cavar um espaço e botar a fila para andar. Depreende-se também, por outro lado, que as mídias precisam alimentar a produção de celebridades, já que elas parecem ser produto simbólico privilegiado na alavanca do consumo.

Duas propostas

E assim, entre a realidade, a ficção, o artifício e o forjamento de "realidades" capazes de gerar notícias, fotos e notinhas, vão sendo movimentadas algumas das peças principais que movimentam a indústria cultural - o jornalismo, o consumo, o entretenimento, a celebridade, as assessorias de imprensa e de marketing, etc.

A cobertura das eleições e dos escândalos envolvendo o governo e o PT colocou, como já é mais do que sabido, a imprensa de viés mais clássico e as grandes mídias na pauta das discussões públicas. Segmentos não-conformados com certos princípios e práticas preconizadas por elas já não escondem que não depositam esperanças sobre os grandes grupos de comunicação, nem sobre a fatia da imprensa a eles alinhada. A negação de seus construtos simbólicos - sob a alegação de que se atêm apenas aos "fatos reais" - vem dificultando maiores possibilidades de diálogo. E aumentando o tamanho do fosso que separa as grandes mídias e seus aliados daqueles não crêem nem na neutralidade das versões, nem no projeto implícito nas versões midiáticas, que inclui a regulação pelo mercado de todos os âmbitos da vida, projeto não muito difícil de atestar quando se observa o argumento da maioria dos colunistas que escreve nos espaços nobres da grande imprensa.

Propostas contra "o monopólio da palavra" ou pela "democratização da comunicação" começam a surgir em meio às críticas amplificadas a partir do processo eleitoral. Bernardo Kucinski, por exemplo, fala sobre a necessidade de criação de "uma espécie de Lei Rouanet específica para projetos de imprensa escrita, internet e rádios comunitárias" a fim de incentivar "a imprensa pequena, regional, alternativa e cultural (...) que não tem como objetivo principal o lucro" (Folha de S. Paulo, 8/12/2006). Outros, como Venício A. de Lima, vislumbram ventos promissores a partir de possíveis desdobramentos do Fórum Nacional de TVs Públicas, que se realizará em fevereiro, de iniciativa, não por acaso, do Ministério da Cultura, como explicou em entrevista ao site Conversa Afiada.

Universo complexo

Não deixa de ser, contudo, curioso que o viés do jornalismo voltado aos segmentos do entretenimento, cultura e consumo, que pressupõe uma esfera pública centrada na vida íntima e privada, continue um tanto quanto livre da observação crítica. Parece até que esse nicho do jornalismo não faz parte da imprensa e que, por isso, está fora da discussão, muito embora as propostas de "democratização da comunicação" tangenciem a cultura; muito embora os veículos de comunicação sejam indústrias culturais; muito embora as maiores reclamações contra o jornalismo de viés clássico digam respeito à exacerbação de produção simbólica e às construções e adaptações da "realidade" que visam contar; muito embora os atores da política, tal como as celebridades (e candidatos a), também utilizem mil e um artifícios a fim de gerar notícias...

A ausência de maiores observações críticas em relação ao paradigmático jornalismo centrado nas esferas íntima e privada talvez ocorra em função da banalidade da maior parte de seus conteúdos. Só que esta banalidade está longe de significar inexistência de conseqüências históricas - culturais, sociais, morais e éticas. E quando o atual debate sobre as mídias começa a querer parar de engatinhar para alçar o campo das propostas (que têm esbarrado na cultura, o que era de se esperar), algumas indagações começam a ser inevitáveis.

Quais são os pressupostos culturais que sustentam as propostas que começam a se delinear? Como a proposta de lei de incentivo à "imprensa alternativa" pretende construir relacionamentos entre imprensa (alternativa), mercado e cultura? O que se pretende: uma transformação quantitativa ou qualitativa? Se a Lei Rouanet não consegue barrar os que têm o lucro como objetivo principal, a lei de incentivo à imprensa o fará? Como? Uma série de outras perguntas poderia aqui ser feita. Mas o fundamental a dizer por ora é que imprensa, política e cultura compõem um universo complexo e atravessado, que abrange um leque de discussões que precisam começar a vir criticamente a público, até para que se entenda melhor o teor das propostas que se alinhavam.


Do Observatório da Imprensa: Imprensa Trata Mal os Direitos Humanos

Edição 411 de 12/12/2006
www.observatoriodaimprensa.com.br
URL do artigo: www.observatoriodaimprensa.com.br

PAUTA ESCONDIDA
Imprensa trata mal os direitos humanos

José Reinaldo Marques

A celebração do Dia Internacional dos Direitos Humanos, em 10 de dezembro (data da aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948), nos leva a uma reflexão sobre o espaço que os principais veículos da mídia brasileira dedicam ao tema nos seus noticiários. O assunto foi debatido em diversas redações do País, com base na pesquisa "Mídia e direitos humanos", que foi realizada pela Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi) e mostra um panorama da atuação da imprensa em relação à agenda dos direitos humanos no País e assuntos correlatos.

Para chegar ao resultado da pesquisa - que teve o apoio da Unesco e da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República - a Andi analisou 1.315 textos de 57 jornais de todos os estados brasileiros, publicados ao longo do ano de 2004. E concluiu que, embora 50,8% das matérias mencionem a expressão "direitos humanos" e 80% usem a palavra "direitos", somente 0,5% do material é explícito na conceituação do tema e 2,1% abordam a perspectiva histórica da Declaração Universal. Textos que falam de denúncias de violação de direitos representam 2,7% do noticiário e as matérias investigativas (2,6%) são menos freqüentes. Geralmente, as reportagens não relacionam direitos humanos com os processos de desenvolvimento social, fazendo com que outros itens vinculados aos direitos individuais e coletivos - questões ambientais, de gênero, etnia, expectativa de vida, renda, sexualidade etc. - recebam tratamento editorial reduzido.

Diálogo

Um dos aspectos positivos do trabalho da Andi foi o interesse demonstrado pelos jornalistas em aprofundar o debate sobre a presença da agenda dos direitos humanos no noticiário. Por isso foram realizadas, em várias redações do País, oficinas sobre valores conceituais, legislação e importância histórica dos direitos humanos. Os encontros aconteceram entre julho e setembro, com especialistas no assunto fazendo palestras para chefes de redação, editores, repórteres, redatores e pauteiros dos seguintes veículos: TV Globo (RJ), O Globo (RJ), Estadão, Folha, Grupo Verdes Mares (CE), Correio Braziliense (DF), Sistema Radiobrás (DF), Grupo RBS, CBN, Grupo A Tarde (BA) e Organizações Rômulo Maiorana (PA).

De acordo com o cientista político Guilherme Canela - Coordenador de Relações Acadêmicas da Andi e responsável pela pesquisa - nos últimos dez anos a cobertura da imprensa tem melhorado, principalmente por causa das iniciativas de colaboração com os jornalistas:

- A estratégia de colaboração com a imprensa tem dado resultados positivos e por isso, desde 1996, tem melhorado a cobertura da agenda social brasileira. Nas visitas que fizemos às redações, percebemos como os jornalistas estão ávidos por informações. Não tivemos nenhuma dificuldade para realizar os workshops, porque a imprensa está aberta a esse tipo de diálogo.

Para ele, só o que pode atrapalhar esse processo de ampliação da pauta de direitos humanos é o enxugamento das equipes:

- Mas em quase todas as empresas de comunicação houve adesão dos diretores de Jornalismo e uma grande preocupação das chefias de Reportagem em garantir participação nos encontros.

Correlação

No Rio, cerca de 70 jornalistas do jornal O Globo participaram da palestra da Procuradora do Ministério Público do Estado de São Paulo Flávia Piovesan, que também é professora doutora da PUC-SP nas disciplinas Direito Constitucional e Direitos Humanos:

- O encontro foi relevante principalmente porque acho que a imprensa faz uma abordagem mais adequada dos direitos humanos do que a TV e o rádio. Apesar disso, as matérias de jornais e revistas estão sempre mais vinculadas aos direitos civis e políticos, deixando de fora os direitos econômicos e sociais e as políticas públicas, como se essas questões não tivessem qualquer relação com as outras.

De acordo com a Procuradora, boa parte dos jornalistas demonstrou ter acúmulo de conhecimento histórico sobre os direitos humanos, mas pouca informação sobre alguns documentos elaborados pela ONU:

- Percebi a existência de uma lacuna conceitual sobre o que vem a ser direitos humanos e conhecimento incipiente sobre os principais tópicos da Declaração Universal de 1948. Mas a realização do workshop provou que podemos avançar com o intercâmbio, pois os jornalistas demonstraram interesse no diálogo construtivo e isso reforça o meu pressentimento de que o jornal está à frente da mídia televisiva.

Preconceito

Nos textos pesquisados pela Andi, as organizações da sociedade civil aparecem como fonte em apenas 8,9%, enquanto o Governo é citado em 54,1% das matérias. Porém, para Adriana Carranca, repórter do caderno Metrópole, do Estadão, isso não significa que as instituições não-governamentais não estão sendo ouvidas pela imprensa:
- Não acredito que elas estejam perdendo espaço na mídia. Quando as organizações têm informações consistentes, elas são ouvidas e ganham espaço, sim. O que acontece é que, muitas vezes, elas têm discurso vazio e sem embasamento em fatos.

A jornalista acha que o público que representa os movimentos de defesa e promoção dos direitos humanos geralmente não está preparado para falar com a imprensa, que tem a missão "questionar, duvidar e esclarecer":

- Diferentemente do que acontece em Londres, onde as entidades investem em comunicação para lidar com jornalistas, as organizações não-governamentais brasileiras geralmente não dispõem de informações concretas, como dados numéricos e pesquisa. Isso provoca na imprensa um certo preconceito, pois o jornalista vê nelas fontes menos qualificadas.

Desrespeito

Para Mário Augusto Jakobskind, Conselheiro da ABI e integrante da Comissão de Direitos Humanos e Liberdade de Expressão da Casa, os dados mostrados na pesquisa não surpreendem, pois o tratamento do tema na imprensa tem deixado a desejar:

- Nas áreas carentes, os moradores têm sido desrespeitados a todo instante em seus direitos humanos, sob o pretexto do combate à criminalidade. E por que, na prática, a mídia não denuncia como deveria este desrespeito aos direitos humanos? A tortura, que na época da ditadura afetava os combatentes pela liberdade, não existe mais em termos de ocorrências políticas. Mas continua sendo uma prática corriqueira nas delegacias policiais brasileiras. O que significa silenciar diante disso? Significa que a sociedade está conivente com a tortura e o desrespeito aos direitos humanos, pois quem cala consente.

Para Jakobskind e muitos especialistas em direitos humanos - e a pesquisa demonstra isso - os jornais abordam o tema de maneira generalizante e com foco na violência, ignorando o aspecto social:

- A mídia é conservadora, tem uma visão preconceituosa sobre direitos humanos e sociais. Geralmente, os movimentos sociais são tratados de forma criminalizada, como nas recentes coberturas de eventos relacionados à reforma agrária - por sinal, atrasada em mais de 200 anos no Brasil. Que este Dia Internacional dos Direitos Humanos, que se comemora no domingo, dia 10, sirva de reflexão para os jornalistas de um modo geral. E que as batidas policiais em áreas carentes sejam cobertas sem preconceito.

O Bem Que Lula Faz ao Brasil - Folha de São Paulo, 27/12/2006

SÉRGIO MALBERGIER

O bem que Lula faz ao Brasil

QUANDO O o ainda esquerdista Luiz Inácio Lula da Silva, então 57 anos, ganhou a eleição de 2002, o dólar já havia subido 61% no ano, batendo em R$ 3,73. O risco-país tinha inchado 114% -a 1.765 pontos-, e a Bolsa, despencado 28%, a 10 mil pontos.
Quatro anos depois, com novo mandato garantido, a Bolsa chega ao recorde de 43 mil pontos, o risco cai a inéditos 198, e o dólar estanca em R$ 2,15. O mercado não perdoa, e os números não mentem: Lula presidente faz bem ao Brasil.
Se, nos próximos quatro anos, Lula não desviar muito da fórmula nada inovadora de "pai dos pobres, mãe dos ricos", estaremos em 2011 muito melhores que em 2003.
Os dados macroeconômicos nunca estiveram tão bons, e por mais que possam ser tributados ao róseo cenário externo, é bom lembrar da ilimitada capacidade autodestrutiva deste grande país. Mas Lula, auxiliado por Antonio Palocci e Henrique Meirelles, soube conter com sabedoria sexagenária a sanha "esquerdista" de outros auxiliares.
E, para muito além dos superlativos econômicos, talvez a maior conquista lulista tenha sido zerar a perigosa conta política que o Brasil tinha a acertar com nossa imensa população miserável. Um governo "socialista" era inevitável no injusto Brasil. E, olhando para a Venezuela e a Bolívia, é fácil concluir que a conta está saindo barata.
O lado "esquerdista" de Lula restringe-se à elogiada intensificação das transferências de renda aos mais pobres, via programas sociais e também priorizando aumentos reais do salário mínimo -em detrimento do controle aéreo, por exemplo. Sob Lula, a vexatória desigualdade social brasileira continuou vexatória, mas recuou mais que sob seu antecessor.
Outro mérito: Lula no poder passa à população de baixa renda a (falsa) impressão de que a democracia neste país funciona. Afinal, um operário de pouca instrução hoje comanda o Brasil e, na mão de um bom marqueteiro, pode-se dizer que o faz em nome dos pobres.
A sombra da "esquerda" saiu dos cálculos econométricos, barateando o crédito: é difícil agora vislumbrar uma força política anticapitalista chegando ao poder, ameaçando propriedades e contratos.
Não se está dizendo que Lula resolveu os problemas brasileiros nem que seu governo merece nota dez. Lula poderia ter feito muito mais. Em todos os campos. Talvez tenhamos até regredido na questão da corrupção. Mas, mérito ou não de Lula, é inegável que há muito mais gente sendo investigada hoje do que nos oito anos de FHC.
O que Lula fez, com certeza, foi superar em muito a expectativa de que iria implodir o Brasil. Pelo contrário, avançamos.


SÉRGIO MALBERGIER é editor de Dinheiro . Hoje, excepcionalmente, não é publicado o artigo de Antonio Delfim Netto, que escreve às quartas nesta coluna.

smalberg@uol.com.br

quinta-feira, dezembro 28, 2006

A Política e o Fígado

Pois esta semana eu estive conversando com um amigo, um irmão em Cristo, pelo telefone.
Obviamente, lá pelas tantas, eu perguntei a ele se quando ele havia acessado o meu blog pela última vez. Desconversas e constrangimentos depois, eu falei a ele que havia retirado os comentários sobre política do meu blog pessoal, tendo aberto um blog especificamente para comentários sobre política. E informei que o meu blog sobre política era escancaradamente petista, não porque o Partido dos Trabalhadores, o PT, fosse a grande maravilha da ciência política, mas porque, dentre os partidos existentes no quadro da democracia representativa brasileira, com sua história e políticos profissionais, era o partido que mais se adequava ao meu gosto, ou ao meu perfil.
Pois o meu amigo tão terno se transtornou com esta revelação. Disse que não podia acreditar. Questionou como eu poderia ser simpático a uma cambada de ladrões e corruptos. Eu tentei dizer que não era bem assim. Que, como diz o Macaco Simão, “não tem virgem na zona”, embora não com estas palavras. Não adiantou. Fui cortado. O meu amigo me disse que era melhor a gente mudar de assunto. Que isso deixava ele com muita raiva, e outros sentimentos baixos.
Não tive remédio, a não ser trocar de assunto. Meu amigo estava de tal maneira convencido das maldades do PT (e provavelmente da inocência dos outros partidos) que não houve jeito dele sequer tentar ouvir qualquer argumento.
Uma pena. O discurso político é algo que apela à emoção, e não à racionalidade, mas os eleitores deveriam tentar tanto quanto possível, votar com o seu raciocínio. No caso do meu amigo, a política parece que gerou sentimentos a partir dos “humores negros” gerados a partir do fígado, como talvez dissessem os médicos gregos da Antigüidade.

Vinícius Torres Freire: O Desastre da Oposição ao Governo - Folha de São Paulo, 28/12/2006

VINICIUS TORRES FREIRE

O desastre da oposição ao governo


O PFL renovou-se, segundo a análise de Fernando Henrique Cardoso em entrevista a esta Folha, no domingo passado. O partido não seria mais o restolho da ditadura, embora o ex-presidente não tenha avaliado se os pefelês teriam deixado de ser a memória viva do coronelato, eternos vira-casacas à procura de boquinhas, aglomerado de gente que jamais teve outra motivação política que a cupidez patrimonialista.
Mas FHC avalia que o PFL teria, sim, programa. Seria o primeiro partido a defender sistematicamente a redução dos impostos. De fato, tem sido essa a mais recente conversa fiada do PFL. Ressalve-se o quase inexistente PFL de São Paulo. Os pefelês paulistas talvez mereçam alguma credencial antiestatista -vide o caso de Guilherme Afif Domingos. Mas consideremos o resto dos pefelês.
Ontem mesmo, ao reagir a mais uma tolice desorientada e demagógica do governo Lula, viu-se a profundidade das convicções e a natureza do caráter dos pefelês. O que disse o PFL em relação ao acordo do salário mínimo, que provocará o aumento crescente do gasto previdenciário em relação ao PIB?
Os pefelês dizem que vão pugnar por um mínimo ainda maior, de R$ 420, diz o líder do partido na Câmara, deputado federal Rodrigo Maia, essa triste figura da obsolescência incipiente ou da renovação natimorta do conservadorismo.
Afora ser manifestação do espírito de porco mais vulgar, a defesa de tal medida estouraria de vez as contas públicas ou demandaria mais aumento de impostos.
Mas os pefelês são useiros e vezeiros em tais fraudulências. Levaram adiante a idéia do "13º salário" para os recipientes do Bolsa Família e outros exemplos mais ou menos infames de ataques ao bom senso fiscal. A história do PFL é plena dessas velhacarias. O partido defensor do contribuinte foi cúmplice do governo que mais aumentou impostos, o de FHC; apoiou a grande rapina dos cofres públicos e do dinheiro do cidadão, obra do governo de Fernando Collor.
O PSDB, a outra asa quebrada da oposição, apóia as ações velhacas do PFL. Partido supostamente dado a idéias e programas, agora torna-se coadjuvante da má-fé pefelista. O que foi feito do tucanato?
A discursalhada "ética" morreu assim que terminou a eleição. O presidente do partido, Tasso Jereissatti, apóia a carreira presidencial de um lulista de proa, Ciro Gomes. O candidato fracassado a presidente Geraldo Alckmin renegou em público seu programa já modesto de reorganização fiscal do governo, apavorado com a demagogia do lulismo-petismo. Mesmo antes de ceder ao populismo eleitoreiro, seu projeto já desconversava sobre o essencial da crise do Estado e da regulação do mercado.
Lula não tem oposição. Os movimentos sociais restantes renderam-se ao presidente. As instituições financeiras se dão por satisfeitas por terem capturado os setores do Estado que lhe parecem relevantes. Os dois partidos maiores que não se entregaram de todo à boquinha federal, PSDB e PFL, dedicam-se à picuinha e não têm projeto ou ao que dizer ao povo. Chegamos ao apagão político.

vinit@uol.com.br

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi2812200610.htm


"Antiestatal" - Folha de São Paulo, 27/12/2006

VINICIUS TORRES FREIRE

A mistificação antiestatal

NA REAÇÃO ao espetáculo de incompetência nos aeroportos houve dois tipos de chiliques sintomáticos entre "analistas" e comentaristas de mídia. Um chilique, da parte de sempiternos bajuladores de FHC, foi pespegar na vergonha aérea o apelido de "apagão", que surgira durante a catástrofe do racionamento de energia, pane muito mais grave e que na época merecera condescendência do pessoal do chilique aéreo. Mas passemos.
O outro chilique manifestou-se na indignação "cidadã" contra o Estado, no caso representado pelo governo Lula. Agora, que a autoria do vexame aéreo passou a ser assinada também por uma empresa privada, a turma do chilique antiestatal assovia, olha para o lado: ficou difícil falar mal do governo. Mas em breve virá alguém dizer que, como Lula danou as agências reguladoras, novas e antigas, a supervisão do setor privado virou bagunça. Culpa do governo.
O chilique aéreo é um aspecto da mistificação antiestatal, pensamento dominante desde os anos 90. Mas também é o reverso da medalha da ambivalente tara nacional pelo Estado, do desejo sadomasoquista de vergastar governos e a eles se sujeitar a fim de pedir benesses. O Estado é doador e culpado universal.
Considere-se o porta-voz liberalóide padrão, em bancos, mídia, partidos ou mesmo no governo. Observe-se como pronuncia, em odor de superioridade moral e intelectual, expressões do tipo "quem paga a conta da gastança é o contribuinte".
Muita vez trata-se de pose picareta de quem apenas não quer pagar imposto. Mas o que interessa mais é o fato de que, no palavrório de tais pregadores da cidadania tributária, o sagrado dinheiro do contribuinte parece desaparecer nas profundezas do inferno estatal. O Estado parece uma entidade fora do tempo e do espaço sociais e políticos. Ninguém parece se beneficiar dos fundos públicos que passam pelo Estado, ninguém influencia a coleta e a redistribuição desses dinheiros.
Mas 8% do PIB "voltam" para a sociedade em forma de benefícios do INSS. Outros 8% retornam em forma de pagamentos de juros para classe alta e instituições financeiras.
E aí já se vão dois terços do que o governo federal arrecada em impostos. Outros porcentos mais voltam na forma de subsídios para empresas, educação e saúde de ricos, para estradas que levam a casas de campo ou praia (e ninguém quer pagar pedágio, quando os há). Quase exaurido, o Estado ainda deve ser responsável por prover a sociedade, inclusive a classe alta mimada.
Há séculos se sabe que os representantes do Estado de fato também empregam as instituições de governo para seus fins particulares e, não raro, para oprimir setores sociais.
Mas no Brasil do chilique liberalóide e da morte do pensamento político, o Estado é a pura e permanente encarnação do mal, um monstro independente, em absoluto desconectado de pressões sociais. Por outro lado, é o provedor universal. É sempre culpado pela "sociedade", também tida como miticamente una, sem divisões, pela imperfeição do mundo.
Essa mesma "sociedade", ou setores sociais, vive em apatia política, tomada pelo desejo ambivalente de servidão e de rapina, de se aninhar no colo do grande pai protetor e de também violentá-lo.

vinit@uol.com.br

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi2712200605.htm


Tucanês e a coluna da Rosane de Oliveira

Coluna da Rosane de Oliveira na ZH de 27/12/2006

Tucanês legítimo: no pacote de Yeda, congelamento salarial de servidores virou postergação das elevações de salários por dois anos.

http://www.clicrbs.com.br/jornais/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&edition=6981&template=&start=1&section=Pol%EDtica&source=Busca%2Ca1383387.xml&channel=9&id=&titanterior=&content=&menu=23&themeid=&sectionid=&suppid=&fromdate=&todate=&modovisual=

quarta-feira, dezembro 27, 2006

Já Com Relação a Abel Ferreira...

...a Polícia Federal prolonga as investigações. Abel Ferreira é um empresário, que o noticiário tem constantemente ligado ao ex-ministro Barjas Negri, e ao governo FHC, do PSDB.

E a Polícia Federal Indiciou Alguém no Tal Escândalo do Dossiê

E o indiciamento foi por "lavagem de dinheiro", para alguns, "lavagem de dinheiro" e "crime contra o sistema financeiro", para outros, e o senador Aloísio Mercadante por "crime eleitoral". Claro, não li a peça da denúncia, mas a denúncia do senador petista, me parece indiciamento para tucano, quero dizer, inglês, quero dizer, a platéia ver...
E lavagem de dinheiro, e crime contra o sistema financeiro. Gostaria de poder ver como a justiça vai tratar isso. E será uma pena que a perspectiva seja de demora no decorrer do processo (digo isso porque no caso do nosso judiciário atolado de processos, sempre devemos esperar a demora), pois isso levará a dúvida tanto sobre os indiciados como sobre o trabalho da polícia para um longo período de hibernação, em que teremos suspeitos, mas não culpados. Se depois a justiça se convencer da culpa dos indiciados tanto melhor. Senão teremos isso, de suspeitos eternos. Em qualquer caso a justiça sofre, a menos que haja uma sentença rápida.

sábado, dezembro 23, 2006

Um Feliz Natal!

Este blog deseja um Feliz Natal para todos os seus visitantes e apoiadores!
O presépio da imagem abaixo, foi feito a partir da reciclagem de materiais, e foi retirada de uma newsletter da equipe envolvida com reciclagem no Banrisul, o Banco do Estado do Rio Grande do Sul. A reciclagem de materiais é um caminho para aqueles que desejam salvar o planeta.
Mas não esqueçamos que o Natal é a celebração do verdadeiro Salvador, Jesus, Deus que se fez homem.

" O anjo, porém, lhes disse: Não temais, porquanto vos trago novas de grande alegria que o será para todo o povo:
É que vos nasceu hoje, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor." Evangelho de Lucas, Capítulo 2, versos 9 e 10.


quarta-feira, dezembro 20, 2006

Lula Avaliado Como Melhor Presidente do Brasil

Pesquisa do Instituto Datafolha publicada na Folha de São Paulo deste domingo, 17 de dezembro, informa que o presidente Lula tem a melhor avaliação entre presidentes do Brasil, desde Getúlio Vargas, na década de 1950. Lula tem 35% de votação espontânea. Em segundo lugar está FHC, com 12%, depois JK, com 11%, Getúlio Vargas com 8%, e Sarney com 5%.
Que é possível dizer de tal pesquisa? 1) Lula tem apelo popular e cristaliza muitas esperanças. Os estratos mais baixos social e economicamente são os que mais o apóiam, o que deve ser sinal que sentiram melhoria de seu nível de vida nos anos de governo Lula; 2) Com relação aos estratos mais altos, econômica e socialmente falando, são mais críticos, mas tanto com Lula, como com FHC; 3) Parece que estes melhores posicionamentos de Lula e FHC ressaltam que a memória trabalha melhor com acontecimentos recentes, pois como explicar a posição de JK, que foi citado por ambos como exemplo e modelo de governo a ser copiado? 4)Chama a atenção a ausência do ex-presidente Itamar Franco. Será que a ausência dele está realmente relacionada a um pior governo, ainda que completando um mandato (Collor havia sido impedido), ou é reflexo do retrato pintado por alguns grandes meios de comunicação, como a revista Veja, ou Folha de São Paulo, ou O Globo, que o chamam de "mercurial", "irresponsável", etc?
A pesquisa também informa que é grande a expectativa que o presidente Lula faça um bom governo no segundo mandato, embora menor que a expectativa que havia antes do início do primeiro mandato. É algo como um "choque de realidade".
Para ver mais, confira:
Folha de São Paulo (para assinantes): http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1712200602.htm

"Lula é Muitos" - Opinião - Folha de São Paulo, 18/12/2006

Lula é muitos

ANTONIO NEGRI e GIUSEPPE COCCO


O governo Lula é o mais democrático pelo fato de ser não só representante dos movimentos mas também, em parte, sua expressão


LOGO NO início da crise política de 2005, uma rede chamada Universidade Nômade lançou um "manifesto pela radicalização democrática e contra a desestabilização do governo Lula". O manifesto difundiu-se rizomaticamente pela internet, com a adesão de milhares de intelectuais e militantes (Folha de S.Paulo, 28/8/05), que participaram de um movimento horizontal de mobilização democrática que não parou de crescer, enfraquecendo a capacidade de manipulação da grande mídia.
O conteúdo do manifesto continua atual. Nele, lembra-se que a radicalidade de um governo não depende unicamente de sua determinação interna, mas, sobretudo, da pressão social que renova continuamente sua legitimidade. A "corrupção", por sua vez, é fruto do próprio mecanismo de representação: a redução da potência dos muitos ao poder de poucos (sobretudo quando a mediação se dá em condições "imperfeitas" -e, no caso do Brasil, "imperfeitas" é um eufemismo) é sempre produtiva de distorções do processo democrático.
Para avançar no terreno da transformação social, é necessária uma maior mobilização democrática, ou seja, mais representação, mas também, e sobretudo, mais participação. Nesse nível, o governo Lula é o mais democrático e o mais ético pelo simples fato de ser não apenas "representante" dos movimentos mas também, em parte, sua expressão.
Nessa base, o movimento pela radicalização democrática lançou a palavra de ordem "Lula é muitos". De fato, Lula foge ao controle dos poderes fortes da elite cínica e racista não porque é carismático, mas porque expressa a capacidade de se comunicar com os muitos enquanto muitos, sem reduzi-los a um conjunto representável pela "opinião pública" (que, no Brasil, é o resultado de uma mistificação totalitária).
Lula não é decisionista! Pelo contrário, suas hesitações -cinicamente criticadas pela elite- fazem dele um chefe de Estado, no nível interno, atravessado pelos desejos dos muitos, e, no nível externo, particularmente aberto à construção de uma política da interdependência. Lula conseguiu inovar democraticamente e abrir a tesoura das obrigações internas e externas por meio de sua política externa e de suas políticas sociais. Sua inovação desloca os dois lados do discurso conservador: o -neoliberal- apologético do mercado e o -"crítico"- do desenvolvimentismo nacionalista.
O operário metalúrgico continua a marcha da liberdade que começou quando migrou do Nordeste para São Paulo. Sua política externa é pós-nacional e pós-soberana. É capaz de evitar a Alca e a hegemonia européia abrindo-se à interdependência (sul-americana e Sul-Sul), e não se fechando na procura de uma independência que necessariamente acabaria nas atrozes ambigüidades do nacionalismo identitário.
Sua política social (Bolsa Família, valorização do salário mínimo, microcrédito, reforma universitária, política de cotas) é pós-industrial. Capaz de indicar horizontes fortes de luta -ao mesmo tempo- contra a herança neo-escravagista da fome e da miséria e contra as conseqüências da modernização industrial.
A elite treme. O que lhe aparecia como um monstro é, na realidade, o anjo da multidão dos "sem", e, dessa vez, sua eleição não foi homologada por nenhum "satisfecit" prévio do establishment. A vitória de Lula é tão potente que à grande mídia não resta senão tentar dar vida a um cadáver, ou seja, à alternativa entre crescimento e estabilidade monetária.
Mas, a partir da reeleição de Lula, é possível pensar um nítido deslocamento com relação às duas abordagens: uma nova, mais intensa distribuição de renda (renda monetária e serviços de cidadania: acesso à universidade, à saúde, aos transportes etc.) deve ser a base do crescimento, de um crescimento sustentável e "integrador", porque sua dinâmica se articula com a mobilização radicalmente democrática da sociedade e, nessa exata medida, a uma guinada ética.
A elite mantém a pressão. Ela visa precisamente pautar "a posteriori" seu governo por um novo leque de constrangimentos, mesmo que, agora, se chamem "horizonte de crescimento". Para isso a elite pode contar, paradoxalmente, com o ideologismo economicista de uma suposta "esquerda", cuja imaginação se reduz a um impossível sonho neokeynesiano (chamado "pleno emprego").
É a capacidade de ver a política social como política de investimento que permitirá a Lula continuar a ser "muitos", a não ser que a coalizão dos interesses de sempre o deixe com "poucos"... cabelos brancos!


ANTONIO NEGRI , 73, filósofo italiano, é professor titular aposentado da Universidade de Pádua (Itália) e professor de filosofia do Colégio Internacional de Paris (França). Entre outras obras, escreveu, em parceria com Michael Hardt, os livros "Império" e "Multidão".

GIUSEPPE COCCO , 50, cientista político, doutor em história social pela Universidade de Paris, é professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Entre outras obras, escreveu, com Antonio Negri, o livro "Glob(AL): Biopoder e Luta em uma América Latina Globalizada".

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1812200608.htm

Observatório da Imprensa: Imprensa ignora o futuro

Edição 410 de 5/12/2006
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SUSTENTABILIDADE EM PAUTA
A imprensa ignora o futuro

Luciano Martins Costa

Ao anunciar, na quarta-feira (29/11), para um grupo de jornalistas convidados, uma mudança radical na missão do Instituto Ethos de Responsabilidade Social, o presidente da entidade, Ricardo Young, fez um comentário ácido sobre a pauta que vem sendo martelada pela imprensa brasileira desde a campanha pelo segundo turno das eleições: "O debate sobre índices de crescimento é pura estupidez". Recém-chegado de uma viagem à China, Young explicou que os 9% de crescimento anual da economia chinesa, incensada pela mídia, correspondem a um desastre de proporções igualmente consideráveis em termos de sustentabilidade.

Young e o presidente do conselho do Ethos, Oded Grajew, estavam anunciando que o instituto passará a se dedicar à agenda do desenvolvimento sustentável, um passo além do conceito de responsabilidade social que fez sua história de oito anos. À frente das cerca de 1.400 empresas associadas, eles pretendem levar a sociedade, as empresas e os governos a discutir o tema um pouco adiante do que aquilo que vem sendo proposto pela mídia.

A questão que aqui nos interessa é: nossa imprensa estará preparada para abrigar tal debate? A resposta é negativa. Com exceção de meia dúzia de repórteres, alguns recentemente convertidos ao tema da sustentabilidade, e de um punhado de outros jornalistas egressos do movimento ambientalista, em geral atuando por seus próprios meios, quase não se constata na grande imprensa a presença de especialistas ou de profissionais minimamente informados sobre os conceitos e dados a respeito dessa questão.

Editores minimamente informados ou interessados na questão que define 39% dos grandes eventos internacionais são praticamente uma ficção. A maioria deles trata os especialistas em sustentabilidade como mão-de-obra ociosa - além de estudar o tema, acompanhar a enorme sucessão de fatos e mudanças que se relacionam à complexa agenda da sustentabilidade, como a criação da norma ISO 26000, esses repórteres são obrigados muitas vezes a dobrar a jornada, na carência de recursos humanos que caracteriza nossas redações.

Nível rasteiro

Uma pesquisa realizada pelo próprio Instituto Ethos e divulgada em junho passado revela essa realidade. A imprensa não tem uma pauta para o futuro da economia, para a necessidade urgente de um novo sistema de produção e comércio, para a crise estrutural global, para a grave ameaça que paira sobre o sistema democrático.

A celebrização do triunfo do capitalismo, presente em dez de cada dez editoriais e nos artigos dos mais prestigiados colaboradores da imprensa, não deixa espaço para qualquer reflexão mais profunda sobre a urgência de mudanças no sistema que exclui bilhões de indivíduos de qualquer espécie de bem-estar, produzindo uma bomba-relógio social, e que provoca tal devastação ambiental que acaba por colocar sob ameaça a própria civilização.

Para nossa imprensa, isso ainda parece tema de ecochatos ou de esquerdistas privados de bandeiras após a queda do muro de Berlim. Acontecem em São Paulo, regularmente, pelo menos dois eventos relevantes por semana, dos quais brotariam manchetes instigantes que ajudariam a aumentar a consciência da sociedade para um assunto que lhe interessa diretamente. Jornalistas da chamada grande imprensa não são vistos por ali.

Na última semana de novembro, por exemplo, a Fundação Itaú Social promoveu o terceiro seminário internacional sobre Avaliação Econômica de Projetos Sociais. Os dados ali apresentados recomendam jogar no lixo quase todo o noticiário e a opinião que tem sido levada aos leitores e telespectadores sobre políticas sociais por nossa imprensa. Estudos do Banco Mundial e de outras instituições justificam a indignação de Ricardo Young sobre o nível rasteiro dos debates midiáticos a respeito de crescimento econômico.

Olhar para trás

Não será por pura ignorância que o noticiário circula viciosamente em torno dos mesmos economistas, dos mesmos empresários e dirigentes de entidades voltados para o umbigo de sua própria atividade, como se interesses específicos devessem se sobrepor à questão crucial da própria sobrevivência da sociedade como a conhecemos. É mais provável que a imprensa se revele assim, incapaz de se alinhar às vanguardas, ou mesmo de reconhecer as vanguardas, por ser vocacionada irremediavelmente ao conservadorismo.

O problema para os interesses específicos da imprensa como atividade econômica, ou um dos problemas mais visíveis, é que o cidadão comum parece se qualificar mais rapidamente para a compreensão dos temas que realmente dizem respeito a seu futuro e ao futuro do mundo, conforme tem sido demonstrado pelas pesquisas do Iser, instituto dedicado ao estudo dos movimentos sociais, dirigido pela pesquisadora Samyra Crespo.

Ao se negar um papel de liderança no debate sobre a sustentabilidade, ou ao rejeitar liminarmente uma melhor qualificação de sua pauta, a imprensa corre o risco de ficar irremediavelmente para trás. Ignora o futuro, vive a comentar as marolas da nau humana, como o vigia do farol de popa.

Observatório da Imprensa: Jornais de um lado, eleitores de outro

Edição 410 de 5/12/2006

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RESCALDO DAS URNAS
Jornais de um lado, eleitor de outro

Luiz Gonzaga Motta

No dia 13 de novembro de 2006, na fronteira entre o Brasil e a Venezuela, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva revelou publicamente a sua mágoa com a cobertura política da imprensa brasileira. O presidente insinuava que o tratamento que a mídia lhe dera durante o período pré-eleitoral brasileiro não fora equilibrado. Lula reverberava a tensão entre o PT e a imprensa, antecipada por declarações de Marco Aurélio Garcia, presidente do partido.

No dia 25 de outubro, em Porto Alegre, o presidente já havia expressado o seu inconformismo com a cobertura jornalística. Ele disse que a reação dos jornais sobre erros de petistas é desproporcional aos fatos. Ao mesmo tempo, completou Lula, a mídia é complacente com erros de militantes de partidos políticos liberais.

Se considerarmos os resultados revelados pelos levantamentos dos institutos de pesquisa que acompanharam o comportamento da imprensa durante o período eleitoral, Lula tem certa razão. Mais além dos radicalismos nervosos da grande mídia (a capa da revista Veja com a matéria sobre o filho do presidente duas semanas antes da eleição, por exemplo), o noticiário da imprensa não foi equilibrado: realçou demasiado os aspectos negativos de Lula e de seu partido e foi mais positivo em relação o candidato da oposição Geraldo Alckmin.

Vou examinar inicialmente o acompanhamento realizado pelo Doxa, Laboratório de Pesquisa em Comunicação, Política e Opinião Pública do IUPERJ que acompanhou a cobertura dos quatro grandes jornais brasileiros (Folha de S.Paulo, Estado de S.Paulo, O Globo e Jornal do Brasil) durante os oito meses anteriores à eleição, de 1º de fevereiro a 30 de setembro de 2006 disponível no seu portal da internet. Os dados do segundo turno ainda não estão disponíveis.

O Doxa estudou a "valência" da cobertura noticiosa (exclui os editoriais e colunas). Valência é o potencial que o conteúdo de uma notícia tem para beneficiar ou prejudicar um candidato. De acordo com tendência predominante, a notícia era classificada como neutra, positiva ou negativa para um determinado candidato. Levarei em conta apenas as estatísticas que indicam estabilidade, movimento ascendente ou descente na linha cronológica da cobertura dos jornais durante o período a respeito dos candidatos Lula e Geraldo Alckmin e ignorar as demais estatísticas.

Tendência de queda

Primeiro, vou examinar Lula candidato (as notícias sobre Lula presidente foram classificadas separadamente e não vamos considerá-las aqui). Observando a linha do gráfico no período que vai de fevereiro a outubro, as noticias consideradas neutras em relação a Lula publicadas nos jornais O Globo e Folha de S.Paulo permaneceram relativamente estáveis, caindo, no Estado de S.Paulo e no Jornal do Brasil. Nos dois jornais onde há queda no noticiário neutro em relação ao candidato Lula, esta queda é mais acentuada a partir de julho, quando a linha de noticiário neutro despenca para menos de 20% dos noticiários.

Em compensação, as notícias positivas em relação a Lula caem significativamente, especialmente a partir de julho ou agosto, enquanto as notícias negativas sobem vertiginosamente. As notícias positivas em relação ao candidato Lula no período nunca ultrapassam os 30%, mas se mantêm relativamente estáveis até julho, começando a cair a partir de agosto, não alcançando sequer 10% nos meses seguintes em alguns jornais (exceção para o JB). No Globo, as notícias positivas sobre Lula candidato caem de 30% para 15%, especialmente a partir de 21 de junho. Na Folha, caem para menos de 20% no mês de setembro, no Estadão caem acentuadamente a partir de junho.

Ao mesmo tempo, as notícias negativas aumentam significativamente. O aumento é menor no JB, de 20 para 40%, mas no Globo as notícias negativas sobem de 30% para 60% no período, na Folha, de 20% para 60%, no Estadão, de 30% para 60%. A queda de notícias positivas e o aumento das negativas são dramáticas, portanto, especialmente a partir de julho-agosto, com a aproximação das eleições.

Os movimentos das linhas que ilustram a estatística das notícias positivas ou negativas em relação ao candidato Geraldo Alckmin, com algumas exceções, seguem sentidos inversos. Na Folha de S.Paulo o movimento das linhas entre 20% e 40% indica certo equilíbrio entre notícias positivas e negativas durante todo o período, mesmo nos dois meses que antecedem a eleição. No Globo as notícias se mantêm equilibradas até meados de agosto, mas a partir daí, as positivas a respeito de Alckmin sobem de 20% para 35% enquanto as negativas caem de 40% para 10%. No JB as notícias neutras são mais freqüentes em todo o período examinado, mas a mesma tendência de queda das negativas e aumento das positivas sobre Alckmin ocorre a partir de meados de agosto. Idem para o Estado de S.Paulo onde as notícias positivas sobre Alckmin são mais altas do que as negativas em todos os oito meses anteriores às eleições e sobem de 30% para 50% enquanto as negativas caem de 40% para 20% depois de 15 de agosto.

Razão jornalística

O noticiário dos quatro grandes jornais brasileiros nos oito meses que antecederam o primeiro turno das eleições presidenciais de outubro de 2006 sobre o candidato Lula foi prejudicial ao candidato do PT e beneficiou o candidato Geraldo Alckmin, especialmente nos últimos 45 dias antes do primeiro turno das eleições. Os editores podem argumentar que neste período surgiu a controversa questão do dossiê Vedoin, de caráter negativo para Lula e o PT. Mas, se o noticiário do candidato Lula foi negativo em função dos fatos, fica sem explicar o crescimento do noticiário positivo em relação a Geraldo Alckmin na reta final em pelo menos três dos quatro jornais. Foi essa inversão do noticiário que levou a eleição para o segundo turno.

Vou examinar em seguida as estatísticas relativas ao movimento do noticiário pré-eleitoral de cinco jornais (os quatro acima citados, mais o Correio Braziliense) realizados pelo Observatório Brasileiro de Mídia durante três meses, do dia 6 de julho (início da campanha) ao dia 29 de setembro de 2006. Os dados deste acompanhamento estão agregados, permitindo inicialmente uma análise do conjunto dos cinco jornais. Novamente vou me concentrar apenas nas tendências estatísticas das notícias sobre os candidatos Lula e Geraldo Alckmin no período e ignorar os dados da cobertura sobre Lula presidente, que também estão separados no estudo original. Também aqui só estão disponíveis os dados do noticiário anterior ao primeiro turno.

Grosso modo, as tendências observadas no estudo do Doxa-IUPERJ são confirmadas pela análise do Observatório Brasileiro de Mídia. Acompanhando a evolução do noticiário em relação ao candidato Lula no conjunto dos cinco jornais as notícias neutras se mantêm entre 20% e 30% nos três meses cobertos pelo estudo. Mas, em linha gerais, embora subindo e descendo no período, as notícias positivas em relação ao candidato do PT vão progressivamente caindo de 50% para 20% enquanto as negativas aumentam de 30% para 60%.

No caso do candidato Geraldo Alckmin, a interpretação das estatísticas é um pouco mais complicada. As notícias positivas caem de 60% para 30% no curto período inicial (6 a 19 de julho), mas sobem dos 30% para 40% no resto do período, embora oscilando sempre. As notícias negativas também oscilam, mas mostram um aumento de 15% para 60% no período de 6 de julho a 25 de agosto e uma queda dramática de 60% para 20% desta data até o final do período pré-eleitoral do primeiro turno.

Os dados agregados da semana de 23 a 29 de setembro, uma semana antes do primeiro turno, mostram que o total de notícias positivas sobre Alckmin somam 43% e as negativas apenas 22%, enquanto as notícias positivas sobre Lula somam apenas 19% e as negativas 58%. Os dados relativos às notícias positivas de ambos candidatos nesta mesma semana mostram um equilíbrio no noticiário da Folha de S. Paulo (9% de notícias positivas para cada candidato). Mas, nos outros jornais, o desequilíbrio do percentual de notícias positivas tende dramaticamente a favor do candidato Geraldo Alckmin: 79% x 30% no JB; 63% x 25% no Estadão; 50% x 23% no Globo e 36% x 22% no Correio Braziliense.

Em relação às notícias negativas de cada candidato, as diferenças são ainda mais significativas: 46% negativas para Lula x 13% para Alckmin na Folha de S.Paulo; 64% x 9% no Estadão; 69% x 37% no Globo; 63% x 21% no JB e 50% x 29% no Correio Braziliense.

Os editores poderão argumentar novamente que os fatos reais (o acompanhamento do dossiê Vedoin) prejudicaram o noticiário sobre o candidato Lula na última semana antes do pleito. Pode-se argumentar, em contrário, que o noticiário do dossiê foi artificialmente amplificado naquela semana. Até porque este assunto desapareceu ou ganhou muito menor projeção nos mesmos jornais imediatamente depois do período eleitoral. E contra-argumentar, principalmente: se há razão jornalística para um aumento de notícias negativas a respeito do candidato Lula, não há razão jornalística aparente para um aumento das notícias positivas a respeito do candidato Geraldo Alckmin na última semana da campanha.

Na berlinda

As estatísticas revelam, infelizmente, que o candidato Lula tem razão quando vocifera contra o comportamento injusto dos jornais brasileiros durante o período eleitoral. Os jornais não realizaram uma cobertura equilibrada com noticiário neutro ou com um número equilibrado de notícias positivas e negativas para cada candidato. O noticiário tendeu de forma dramática para o negativo em relação ao candidato Lula e para o positivo em relação a Alckmin, revelando uma partidarização indesejável de uma mídia democrática.

Todos estes dados nos revelam que a mídia desempenhou um papel ativo como ator político na eleição presidencial de 2006. Ela fez uma clara opção ideológica e entrou na disputa presidencial com a intenção de interferir na opção dos eleitores. A posição de alguns veículos é compreensível e tolerável do ponto de vista de suas posições editoriais. Mas, elas não podem interferir nos rumos da cobertura jornalística quando a mídia reivindica uma posição de objetividade, neutralidade e imparcialidade jornalística. A opção política é livre, mas se ela orienta o noticiário, os jornais devem ser honestos e declarar isso publicamente, para conhecimento dos seus leitores.

Nesta eleição, a mídia ficou de um lado, fez uma opção, apostou na queda de Lula. Infelizmente, para ela, o eleitor brasileiro fez outra opção. Isso levanta a necessidade de fazermos reflexões a respeito da influência da mídia no processo eleitoral. Além dos êxitos e fracassos administrativos do governo, aparentemente o eleitor brasileiro tem hoje outras opções disponíveis para se informar, fora do sistema da mídia.

A existência da internet parece fazer toda a diferença. Sem considerar fatores políticos, os blogs, portais, sítios da internet, os informativos online e os e-mails parecem ter funcionado para conectar eleitores em redes independentes. Além disso, o grau formal ou informal de participação dos eleitores em circuitos da cidadania, ONGs, organizações do terceiro setor, etc., parece ter aumentado quantitativa e qualitativamente. O cidadão político brasileiro está tomando decisões de forma mais consciente e independente. Tudo isso diminui a influência da grande mídia.

Além de perder a eleição, a opção editorial da mídia acabou por ampliar a discussão a respeito do seu papel em uma sociedade democrática. As discussões saíram dos círculos profissionais e acadêmicos, ganharam a sociedade. A consciência sobre o papel da mídia aumentou junto à cidadania e ela parece quer esse debate imediatamente. A mídia amplificou fatos políticos, ignorou outros, aqueceu artificialmente alguns episódios, foi mais oposição que os partidos. Ela foi arrogante, patrulhou, desqualificou o eleitor, chamou os eleitores de atrasados, grotões. Saiu chamuscada, teve de engolir o sapo (barbudo) e agora está na berlinda. Jogou contra o eleitor, ele agora está cobrando.


terça-feira, dezembro 19, 2006

Angeli - Folha de São Paulo, 18/12/2006

Nem todos os congressistas podem ser representados por esta charge, mas...

Uma Semana Após a Morte de Pinochet

Vamos repetir a charge da Folha de São Paulo, que, na opinião deste blogueiro, tão bem sintetizou o legado do ditador.



"Web" Afetou Comportamento de Eleitores e Candidatos

O saite do "IDG Now!" informa que uma pesquisa conduzida por Clóvis de Barros Filho, Marcelo Coutinho e Vladimir Safatle, para o Centro de Altos Estudos de Propaganda e Marketing, da ESPM, chamada "A Mídia e Esfera Pública", concluiu que o Web afetou o comportamento de eleitores e de candidatos, nas eleições presidenciais deste ano.


O estudo ressalta que surgiram vários blogs comentando política, fossem de jornalistas ou não, várias comunidades no saite de relacionamentos Orkut, e vídeos publicados no YouTube. Como exemplo, citam, que surgiram mais de 600 mil comunidades contra o presidente e candidato Lula em saites de relacionamento, e que um vídeo em que o candidato Alckmin negava responsabilidades nos atentados do PCC em maio deste ano foi assistido por mais 400 mil pessoas (este vídeo esteve encaixado aqui neste blog. Se você não o assistiu ainda, pode vê-lo, clicando aqui [http://aindaamoscaazul.blogspot.com/2006/10/alckmin-foge-da-responsabilidade.html]). Além disso, os blogs serviram como tentativa de dar outra(s) versão(ões) para notícias que saíam na grande imprensa, ou como diz o texto do IDG, para mostrar uma versão sem "distorções" (aspas, neste caso, do IDG).

A notícia do IDG não é algo novo. Quem acompanha discussões, por exemplo, pelo Observatório da Imprensa (http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/), teve a percepção de que a Internet havia influenciado a campanha presidencial deste ano. O que o texto faz é corroborar é esta percepção através de um estudo acadêmico. E é interessante também que isso seja divulgado através de um saite de tecnologia, como é o caso do IDG Now!, o que sempre restringe um pouco mais o público que tem acesso, e não o que chamamos aqui de "grande mídia" (pelo seu tamanho).

Procergs

O texto já é antigo, de 2004, mas permanece atual, haja visto a fúria privatizatória do vice-governador eleito, Paulo Feijó. Na época da entrevista, o Sr. Paulo Feijó ainda era presidente da Federasul, e havia feito um discurso forte conclamando à privatização das empresas pública do estado do Rio Grande do Sul, inclusive tendo ofendido o presidente do Banrisul, Fernando Lemos. É uma entrevista com Ronei Ferrigolo, diretor de desenvolvimento da Procergs, onde ele ressalta seu papel na estatal de tecnologia da informação do estado, e oferece contra-argumentos à privatização. As pergunta e resposta abaixo encerram a entrevista, mas vale a pena ler a entrevista completa no sítio do Baguete.

Baguete - Digamos que todos os seus argumentos fossem vencidos pela decisão deste governador ou de um próximo e a Procergs fosse vendida, conforme sugere o presidente da Federasul, Paulo Afonso Feijó. Quais as conseqüências para o Estado e para a população?

Ronei Ferrigolo - Creio que em médio prazo teríamos uma fuga das informações e conhecimento aprofundado do que seja esta essência estatal referida na resposta anterior para as secretarias. Por exemplo, quando em 1997 abriu-se edital para a venda da Companhia, o Tribunal de Justiça passou a ver a necessidade de levar os dados do Judiciário para dentro do próprio TJ, criando assim sua própria estrutura. Hoje, sete anos depois, temos uma grande (e bem administrada pelo Eduardo Arruda, diga-se de passagem) estrutura de TIC naquele órgão.
O que ocorreria caso a Procergs fosse privatizada, em minha opinião, é que a Secretaria da Fazenda e todas as outras secretarias fariam movimento semelhante, criando processos redundantes, falta de economia de escala, dificuldade de interoperabilidade e, talvez, alguma descontinuidade de serviços aqui ou ali. No longo prazo, não sei concluir quais as conseqüências, pois a alternância de poder às vezes cria contramarchas neste processo. Provavelmente, em algum ponto voltaríamos a ter a idéia de "por que não juntamos todas estas pessoas de TIC em um único lugar?" "Poderíamos chamar esta área de CPED (Centro Estadual de Processamento de Dados), e voltaríamos a 1971" (Nota do Autor, a pedido: Para quem não sabe, em 1972, o CPED foi transformado em Procergs.).


O texto completo em: http://www.baguete.com.br/entrevista.php?id=84

sábado, dezembro 16, 2006

Idade da Pedra

O texto abaixo foi copiado do blog "Eu Quero Falar"

GLOBO QUER LEVAR O BRASIL À IDADE DA PEDRA


Paulo Henrique Amorim disse nesta quarta-feira, dia 13, em um debate sobre democratização da mídia, na Câmara dos Deputados, em Brasília, que a Globo quer voltar o Brasil para a idade da pedra ao fechar o país para outras mídias que não seja a televisão.

Ele participou de um debate sobre democratização da mídia na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara (clique aqui).

Estiveram na mesma mesa o diretor de jornalismo do SBT, Luiz Gonzaga Mineiro, e o diretor da Secretaria de Comunicação Social da Câmara, William França. O debate foi organizado pelo deputado Fernando Ferro (PT-SP) e mediado pelo deputado Vic Pires Franco (PFL-PA), presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara.

“Eu acho que devemos tomar muito cuidado com a legislação que está aí nessa Casa, de autoria do deputado Nelson Marquezelli, no Senado do senador Maguito Vilela, que tem a propriedade de devolver o Brasil à idade da pedra”, disse Paulo Henrique.

Segundo Paulo Henrique, a proposta utiliza a Lei de Newton naquilo que interessa à Rede Globo: que é aquilo que se refere ao cotejo de televisão contra televisão, mas fecha o Brasil para as outras mídias.

“É uma tentativa que eu considero razoavelmente inútil porque eu quero ver como é que a Rede Globo, o senador Maguito Vilela e o deputado Nelson Marquezelli vão impedir a “postação” de vídeos no YouTube daqui para frente”, disse Paulo Henrique Amorim.


Veja a íntegra da palestra de Paulo Henrique Amorim na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados nesta quarta-feira, dia 13:


Muito boa tarde. É uma grande honra estar aqui. Agradecer o convite do deputado Fernando Ferro. Dizer que tenho nesta oportunidade a grande honra e o grande prazer de reencontrar colegas de trabalho como o Mineiro com quem pude trabalhar. É com muita alegria e muito orgulho na Rede Record. Acabei de assistir aqui a exposição do meu colega na TV Globo, Evandro Guimarães e já que falo de jornalistas, eu estou gravando esta minha participação pra colocar no site Conversa Afiada e vou transformar isso num texto.

E eu quero dedicar esse trabalho que realizei para vir aqui fazer nessa Comissão ao jornalista Mino Carta, a quem quero homenagear formalmente neste momento como aquele que, na minha opinião, simboliza o melhor do jornalismo brasileiro.

Eu quero começar a falar aqui e dizer que, na minha opinião, todos os jornais foram e são contra o Presidente Lula. Só faltam ter opinião na sessão de horóscopo. Todas as revistas, com exceção da Carta Capita, são contra o Presidente Lula. Todas as rádios, com exceção das rádios comunitárias, são contra o Presidente Lula. E uma rede de TV, líder de audiência, a Rede Globo de Televisão, que mistura informação com opinião, contra a lei, portanto, levou as eleições para o segundo turno ao mostrar a foto do dinheiro que seria usado para comprar o dossiê e o lugar vazio de Lula no debate, conforme disse Marcos Coimbra, do Vox Pópuli, à revista Carta Capital.

Os jornais e a Globo, desde o dia 02 de janeiro de 2003 cobriram a queda de Lula e trabalharam para derrubar Lula. E vão continuar a trabalhar para derrubar o Presidente Lula.

Isso, na minha opinião, não é privilégio do Presidente Lula. A imprensa escrita brasileira, tal como sobreviveu até hoje, ela ajudou a derrubar e a matar o Presidente Vargas, ela tentou depor o Presidente Juscelino Kubitschek. Eu entrevistei o Presidente Juscelino Kubitschek fora do governo. Como se sabe, minissérie não faz história e o Presidente Juscelino Kubitschek me contou que entre os 20 ou 15 motivos que o levaram a trazer a capital para Brasília, um deles é que ele não agüentava chegar à área reservada ao Palácio do Catete e ouvir a Rádio Globo entregar os microfones por uma hora a Carlos Lacerda pedindo o impeachment dele.

Isso é o que aconteceu com o Governo Jago. Acabo de cruzar no corredor com um homem íntegro, chamado Waldir Pires, que trabalhou no Governo Jango e sabe disso melhor do que eu. Isso aconteceu no Governo Jango e aconteceu com o governador Brizola no Rio de Janeiro.

A mídia, especialmente a Globo, trabalharam contra Jango e contra Brizola. Portanto, elas têm uma inclinação anti-trabalhista que é histórica e uma tradição de intervir no processo político.

A imprensa escrita no Brasil é a indústria perdedora. Os jornais de 96 para cá perderam 10% da circulação, ou seja a razão média de 1% por ano. Sendo que, segundo o depoimento do professor Venício Lima, nesse livro – o professor Venício Lima é da Universidade de Brasília, publicou esse livro pela fundação Perseu Abramo (“Mídia: Crise Política e Poder no Brasil”. A circulação dos jornais brasileiros caiu 18% entre 2001 e 2003. Ou seja, é uma queda profunda e recente.



A circulação das revistas brasileiras caiu de 8,8% para 8,6% nos últimos dez anos. É uma queda mais lenta, porém é uma queda.

Produzir jornal no Brasil é hoje um negócio tão promissor quanto:

. Abrir uma fábrica em São Bernardo para produzir o carro DKW Vemag
. Produzir chapéu Côco em Londres

. Ou ter uma usina siderúrgica em Pittsburgh

Na França, os jornais sofreram a concorrência da internet e dos tablóides gratuitos que são distribuídos nas bocas do metrô. Aqui no Brasil, os jornais se valem do fato de que não temos esse fenômeno dos jornais do metrô ainda massificados como na Europa e há no momento um boom imobiliário, especialmente no Rio e especialmente em São Paulo. E esse boom imobiliário é o anabolizante que dá fôlego aos jornais neste momento. Mas quem consultar imóveis na internet verá que é melhor consultar imóveis na internet do que em jornal.

O que sobra aos jornais, como disse o professor Wanderley Guilherme dos Santos, é o poder de gerar crises e é uma situação paradoxal porque no Brasil os jornais em crise têm uma força que, segundo o professor Wanderley Guilherme dos Santos, não têm em nenhuma outra democracia no mundo. Ou seja, essa capacidade não é necessariamente de formar opinião, mas de criar crises políticas. Isso acontece, inclusive, porque a tendência é que os jornais não venham a ficar mais pluralistas ou menos conservadores por causa da sua decadência econômica. Eles têm que ser fiéis à sua clientela.

E estudos recentes feitos da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, mostram que à medida que a circulação dos grandes jornais cai, diminui a heterogeneidade da opinião, diminui a diversidade da opinião, porque é a tentativa de os jornais manterem sua clientela que existe naquele momento.



Lamentavelmente, lamentavelmente, sobretudo por influência das Organizações Globo, não foi possível criar no Brasil um Conselho de Comunicação Social como existem na França e Inglaterra. E eu estou propondo aqui instituições que são de democracias estabelecidas e maduras.

É o Ofcom – Office of Communication – na Inglaterra, subordinado ao Parlamento que tem como função distribuir canais e zelar pela pluralidade, pela pluralidade, no meio audiovisual.

E o Conseil Supérieur de L’audiovisuel, na França, que tem como obrigação zelar pela pluralidade da opinião. Inclusive está nos estatutos, na missão do CSA na França: zelar pela pluralidade sindical que tem que ser respeitada nos meios audiovisuais franceses.

Lamentavelmente esse conselho aqui no Brasil se tornou um conselho consultivo, um instituto de pesquisas da Câmara dos Deputados e do Congresso Nacional.

Essa crise nos jornais trouxe uma vantagem, porém. Eu não conheço nenhum país em que os portais da internet tenham a relevância que têm no Brasil. O brasileiro é um grande consumidor de internet. Ele é o maior consumidor de internet do mundo. O brasileiro gasta em média 20 horas e 30 minutos por mês diante da internet. O Brasil tem 37 milhões de internautas.

O problema, porém, é que esses portais dependem, em grande parte, dos noticiários que vêm de agências de notícias. E as principais agências de notícias que condicionam o noticiário dos portais são a Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo. Portanto, o poder dos jornais escritos se reproduz e se amplia e se multiplica quando ele vai para a internet.

A vantagem é que existe hoje no Brasil uma indústria nova na internet, que é a indústria do Blog. E ao contrário do que aconteceu nos Estados Unidos, em que, vindo do Rádio, os Blogs na internet se tornaram elementos da mídia conservadora, aqui no Brasil foi possível criar espaços dentro da internet e em Blogs independentes como uma mídia não conservadora, onde modestamente me incluo.

É bom lembrar que o principal Blog político dos Estados Unidos, que hoje é referência para a classe política americana, é um Blog liberal. É o Daily Koss, que tem uma importância tão grande que fez com que o Partido Democrata nos Estados Unidos consultasse o Daily Koss sobre como fazer sua comunicação na internet e hoje o Partido Democrata nos Estados Unidos usa a internet com uma força muito importante para levantar recursos para campanha e para difusão de idéias.

Felizmente no Brasil o brasileiro gosta da internet. O brasileiro se torna um grande consumidor de banda larga com a ampliação da oferta e a queda dos preços e se torna, isso é importante, um grande consumidor de computador.

A venda de computador no Brasil cresce à base de 25% ao ano, é o dobro do crescimento mundial. O que mais cresce no Brasil é o PC, o computador pessoal. E o que mais cresce no mercado de PC é o consumidor da classe C. O “Computador Para Todos”, que é o computador do Governo Federal, que custa R$ 1,4 mil, vendeu 380 mil unidades nos primeiros nove meses de 2006.

Com tudo isso, o que eu quero dizer é que a discussão sobre a democratização da mídia, que considero central, considero central na questão brasileira, concordo com todos aqueles que acham que a mídia deveria discutir a mídia. A sociedade tem que discutir a mídia. Então, diante de tudo isso, como diria o ensaísta Roberto Schwarz, nós estamos fazendo uma discussão com as idéias fora do lugar.

Na minha opinião, nós temos que levar em conta que com a massificação iminente do computador no Brasil e com o celular que teve no Brasil uma penetração importante. Nós temos hoje no Brasil cerca de cem milhões de aparelhos celulares no Brasil.

E, como disse um estudo da ITU, uma organização para telecomunicações da ONU, o celular será cada vez mais parecido com o computador do que com o telefone. O celular será um instrumento de divulgação de informação como é o computador.

E eu quero me lembrar aqui, quero me lembrar, o depoimento do Caio Túlio Costa, que é o presidente do iG, onde trabalho. Caio Túlio participou comigo de um recente seminário na Casper Líbero, no curso de pós graduação da escola de jornalismo. E o Caio lembrou que, em 2004, na eleição da Espanha, o governo de Aznar divulgou a informação de que o atentado teria sido obra do ETA e que os socialistas de Zapatero não tinham estrutura para combater o ETA e portanto ele deveria ser reeleito. Uma pequena emissora de rádio do interior da Espanha desmentiu a informação dizendo que quem fez o atentado foi um grupo da Al Qaeda. Essa informação foi multiplicada através dos torpedos, dos SMS’s dos celulares na Espanha e o senhor Zapatero ganhou a eleição.

Eu não quero dizer com isso que o SMS será a nova mídia, mas quero dizer que essa é uma das novas mídias. Mas quero dizer também para os Céticos e aqueles que defendem as Leis de Newton, como o meu brilhante e querido ex-colega de Rede Globo Evandro Guimarães, que defende a Lei de Newton para quando se trata do combate entre televisão e televisão, mas não defende a Lei de Newton quando se trata das outras mídias.

Quero dizer o seguinte: o YouTube – e todos aqui nessa sala que não tem cabelos brancos sabem o que é o YouTube – o YouTube decidiu a eleição para o Senado nos Estados Unidos. A eleição para o Senado nos Estados Unidos resultou em 51 para os Democratas e 49 para os Republicanos porque os Republicanos perderam uma eleição garantida na Virginia.

A Virginia tinha um candidato chamado John Allan, que era senador, apontado como sucessor do George Bush pelos Republicanos. Ele percebeu ao longo da campanha que tinha um negro, um “escurinho”, acompanhando os comícios dele com uma câmera. No quarto ou quinto comício ele se virou para o “escurinho” e disse: “you macaca”. O “escurinho” filmou, botou no YouTube e o senhor John Allan perdeu a eleição. O “escurinho” era um americano, nascido nos Estados Unidos, filho de indiano, com PhD em física no MIT e que tirou férias para cobrir a eleição do John Allan para o outro candidato.

Esse vídeo foi postado no YouTube, tinha 38 segundos e decidiu a eleição no Senado Americano. Nós estamos falando de novas mídias, com poder político brutal e é sobre isso que eu vou me referir agora.

Eu acho que devemos tomar muito cuidado com a legislação que está aí nessa Casa, de autoria do deputado Nelson Marquezelli, no Senado do senador Maguito Vilela, que tem a propriedade de devolver o Brasil à idade da pedra. Que é utilizando a Lei de Newton naquilo que interessa à Rede Globo e ao meu queridíssimo amigo Evandro Guimarães. Que é aquilo que se refere ao cotejo de televisão contra televisão, mas fecha o Brasil para as outras mídias.

É uma tentativa que eu considero razoavelmente inútil porque eu quero ver como é que a Rede Globo, o senador Maguito Vilela e o deputado Nelson Marquezelli vão impedir a “postação” de vídeos no YouTube daqui para frente.

Isso é muito sério e eu quero lembrar a todos aqui um episódio recente da história americana. O fato de que o presidente Franklin Roosevelt quando foi eleito pela primeira vez tinha toda a mídia impressa contra ele. Toda!

Como Lula hoje. Como Vargas, que só tinha Samuel Wayner a favor dele. Como Jango. Como Brizola. Toda a mídia impressa era contra ele.

E o Franklin Roosevelt fez um acordo com as rádios que era a nova tecnologia da época. Ele deixou a mídia impressa pra lá. Fez um acordo com as rádios, passou a fazer aquelas conversas ao pé da lareira, os firesides chats e conseguiu enfrentar a oposição integral, maciça da mídia escrita através da comunicação que ele passou a ter através das rádios.

Eu acho que esse governo, e não só este governo que tem minoria absoluta em todos os meios de comunicação, mas todos os movimentos minoritários, todos os movimentos que são contra. Todos os “Minos Cartas” da vida têm que trabalhar com essas mídias alternativas. Eu tenho muito orgulho, porque o Mino Carta hoje que é um profissional que fundou Veja, fundou Jornal da Tarde, Fundou a Quatro Rodas, Fundou a IstoÉ, fundou a revista Senhor, na sua segunda fase, o Mino Carta hoje tem o Blog que é o Blog mais lido do iG que tem um milhão de assistências por dia.

Isso eu acho que é uma revolução importante. Eu acho que nós devemos lutar como jornalistas preocupados com a democracia, com a proliferação dos meios de comunicação, com a democratização dos meios de comunicação, com a facilidade de acesso aos meios de comunicação.

Eu tenho a impressão de que eu me preparo. Como todos sabem, todos ouviram falar, conhecem a história do movimento da Revolução Industrial na Inglaterra, se lembram daquele movimento luddista daqueles operários que jogavam as máquinas novas no Rio Tâmisa para evitar a dispensa de trabalhadores e a modernização da indústria têxtil inglesa.

Eu me preparo para cobrir a primeira cerimônia luddista do século XXI. E essa cerimônia já começa a ser estruturada e organizada. Nessa cerimônia João Roberto Marinho, Roberto Civita, Otávio Frias Filho e Ruy Mesquita vão se reunir no salão nobre da Fiesp sob o busto do conde Matarazzo para promover uma fogueira e queimar o computador de 100 dólares do Nicholas Negroponte, o computador que o Brasil será o primeiro a lançar no mundo.



Muito obrigado!

Do Blog do Luís Nassif: o México e a Lição de Casa

O México e a lição de casa

Uma das melhores contribuições do trabalho FIESP-IEDI foi a desmistificação da chamada “lição de casa” em cima do que ocorreu no México.

O país fez tudo o que foi solicitado. Pré-pagou a dívida externa, conseguiu ser “investment grade” em 2002, conseguiu uma notável redução na relação dívida/PIB, derrubou a inflação, os juros... e não cresceu.

Hoje em dia, o México tem juros básicos de 7,2% ao ano, risco de 120 pontos, inflação de 3,5%. De 1998 a 2004, o PIB industrial caiu de 256 bi de pesos para 176 bi; enquanto o consumo saltava de 50 bi de peso para 139 bi.

A indústria teve queda de 0,1% em 2002, 0,2% em 2003. alta de 4,2% em 2004 e de apenas 1,6% em 2005. De 1994 a 2002 o PIB mexicano cresceu a 3% ao ano; de 2002 a 2006, depois que se tornou “investment grade”, o crescimento foi de 3,1% ao ano.

Esse levantamento desmonta o discurso reiterado do Banco Central de que as bases para o crescimento estão asseguradas com a melhoria dos fundamentos, a perspectiva do “investment grade”, e a redução dos juros.

Com o livre fluxo de capitais e o câmbio apreciado, só sobreviveram no México as “maquiadoras”. No Brasil, o câmbio só permitirá a sobrevivência de maquiadoras, que dependem fortemente de importações dos principais componentes.

http://z001.ig.com.br/ig/04/39/946471/blig/luisnassif/2006_12.html#post_18717570

sexta-feira, dezembro 15, 2006

A "The Economist", Pinochet e Tortura

É bom saber que ainda existem conservadores que rechaçam a tortura, como é o caso da revista britânica. No caso da "The Economist" ela ainda ressalta que mesmo uma valorosa administração econômica não valida a violação de direitos humanos.
Este blogueiro, por exemplo, teve o desprazer de ouvir, por exemplo, o economista brasileiro Roberto Macedo dizer em entrevista a uma rádio que, apesar das violações de direitos humanos, o ditador recém morto havia feito boa administração da economia.
Como já foi comentado aqui neste blog mesmo, pacote recessivo, feito a ferro e fogo, com maciço desemprego, e expatriamento de centenas de cidadãos.


Tortura

A coluna Toda Mídia na Folha de São Paulo de hoje, 14 de dezembro, cita o texto da revista britânica "The Economist" sobre Pinochet:
SEM SES NEM MAS
Em editorial sobre Pinochet, a "Economist" foi direta:
- Sem ses nem mas. Seja o que for que o general tenha feito pela economia, ele foi um homem mau... Mesmo se a história vier a se importar de recordar que ele privatizou a previdência, isso não vai apagar a memória da tortura.
Já a reportagem "Acabando com a impunidade" avaliou que seu "legado involuntário" é o movimento crescente por punição de déspostas. Até o Brasil, observa, "acaba de abrir a sua primeira investigação", sobre Brilhante Ulstra.