domingo, outubro 31, 2010

O país velho e conservador que emerge da Campanha

Uma eleição para não ser esquecida | Valor Online

Maria Inês Nassif |

O novo presidente será conhecido já no domingo, tão logo contabilizados os votos das urnas eletrônicas. O novo Brasil político, no entanto, descortinou-se durante a campanha, é velho e conservador e merecerá certamente a atenção de especialistas depois do pleito. Os partidos, em especial os de oposição, conseguiram extrair da sociedade os seus mais primitivos preconceitos, por meio de uma agenda conservadora e religiosa. Qualquer que seja o resultado da eleição - e até esse momento não existem divergências entre as pesquisas dos institutos sobre o favoritismo da candidata Dilma Rousseff (PT) - o eleito terá de lidar com uma agenda de políticas públicas da qual foram eliminadas importantes conquistas para a sociedade como um todo, e na qual o elemento religioso passou a ser um limitador da ação do Estado.

A ação da igreja conservadora e de setores do pentecostalismo contra Dilma, por conta de sua posição sobre o aborto, é o exemplo mais gritante. No Brasil, a cada dois dias morre uma mulher em conseqüência de um aborto clandestino. A legislação brasileira ao menos conseguiu trazer mulheres que correm risco de vida em decorrência de um aborto que já foi malfeito para dentro do Sistema Único de Saúde (SUS) e garante que a rede pública faça com segurança os abortos aceitos legalmente - os de vítimas de estupro ou quando a gravidez coloca em risco a vida da mulher. Como assunto de saúde pública, o aborto não poderia ter ocupado o centro dos debates. Isso é uma questão de Estado. Como convicção moral, a mudança na legislação está na órbita do Congresso - e esses setores elegeram seus representantes. O debate eleitoral sobre o aborto, numa eleição para a Presidência, foi a instrumentalização política de um dogma - pelo menos dos setores religiosos conservadores - e excluiu do debate a maior interessada, a mulher. A eleição conseguiu retroceder décadas esse debate. O movimento feminista não agradece.

Campanha trouxe à tona preconceitos que pareciam abolidos

O país que se redemocratizou há um quarto de século e há 22 anos conseguiu entender-se em torno de uma Constituinte cujo produto final foi avançado politicamente, manteve uma reverência envergonhada aos atores políticos mais importantes do regime anterior - dos militares à Igreja conservadora - e um medo subjetivo de se contrapor de fato ao passado. Sem lidar com os seus fantasmas, tem reincorporado vários deles à vida política. É inadmissível que num país que viveu 21 anos sob o tacão militar, por exemplo, setores da sociedade (e os próprios militares) tenham reagido de forma tão desproporcional ao III Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), ou rejeitem de forma tão violenta o acerto com esse passado. Ao longo dos anos de democracia, determinados setores sociais passaram a reincorporar valores que pareciam ter sido abolidos do manual de como fazer política. Ao longo desses 25 anos que nos separam do último ditador militar, a direita, que se envergonhara no final da ditadura, lentamente desenterrou os velhos fantasmas e refez os preconceitos. Aliás, não apenas a velha direita. Uma nova direita, que se formou com atores que vinham também da resistência democrática, aceitou o caminho do conservadorismo ideológico para reaglutinar uma elite que ficou sem norte, e para a qual a emergência de grandes parcelas da população que estavam na base da estrutura social à classe média assusta - até porque a elite brasileira não tem historicamente experiência com realidades onde a disparidade de renda é menor e onde o aumento da escolaridade transforma pobres em cidadãos, e não em votos a serem manipulados.

Dentre todos os setores que atravessaram da esquerda para a direita nessas últimas duas décadas, o PSDB foi o que perdeu mais. Formado com um ideário social-democrático, mas sem experiência de articulação de política partidária e sem vocação para liderança de massas, chegou ao poder junto com o neoliberalismo tardio brasileiro, assimilou valores conservadores, incorporou-os ao seu tecido orgânico e sobreviveu, enquanto mantinha o governo federal, com a ajuda da política tradicional (e conservadora). Na oposição, não conseguiu voltar ao leito social-democrata. Deixou-se empurrar para a direita pelo PT, quando o presidente Luis Inácio Lula da Silva assumiu o seu primeiro mandato, e se aproximou tanto do PFL que as divergências entre ambos se diluíram ao longo do tempo, ao ponto de canibalizarem votos uns dos outros. Incorporou o discurso neoudenista, transformou-se num partido de vida meramente parlamentar, não reorganizou o partido para formar militância. O PSDB, hoje, é um partido que aparece como tal para apenas disputar eleições.

Isso é péssimo. O primeiro turno já compôs o Legislativo federal. O PT saiu das eleições mais forte. O PMDB, que é o partido que todos falam mal, mas do qual nenhum governo consegue se livrar, continua forte com a sua fórmula de funcionar como uma federação de partidos regionais e tende a incorporar o DEM, ex-PFL, e ficará mais forte ainda. Os demais, inclusive o PSDB, serão partidos médios - com a diferença que o PSB, por exemplo, é um partido médio em crescimento, e o PSDB terá que se reinventar para voltar a crescer, se não voltar a ser governo. O PT se acomodou no espaço da social democracia e o PMDB permanece no centro, se é possível atribuir a esse partido uma posição ideológica que não seja a da fisiologia. O espaço que o PSDB tem para se reinventar fora da direita é mínimo. O DEM e o PSDB deram muito trabalho ao presidente Lula, em oito anos de governo, mas carregaram no jogo neoudenista e se desgastaram demais. Além disso, a hegemonia paulista no PSDB permanece, o que obstrui caminhos de líderes não paulistas que poderiam reduzir o desgaste neste momento, como Aécio Neves (MG).

Não é arriscado apostar na emergência de um novo partido de oposição. O PSDB precisaria de lideranças muito hábeis para se reinventar, e de uma solidariedade e organicidade que nunca cultivou. E precisaria enterrar de vez os preconceitos e preceitos conservadores que têm desenterrado a cada nova eleição. Enfim, empurrar-se de novo para uma posição de centro. O passado do partido, todavia, não recomenda que se trabalhe com essa hipótese.


Texto de Maria Inês Nassif, do Valor Econômico, visto no blog do Luís Nassif.

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quinta-feira, outubro 28, 2010

Agentes 171

Os americanos criaram o agente 171

A CENA parece ter saído de um filme barato. Dois agentes americanos encrencam-se ao desembarcar num país tropical, têm seus passaportes apreendidos e são informados de que devem esperar pela decisão de um juiz. Na cena seguinte eles desaparecem. Como saíram do país? Coisa de heróis de filmes de segunda. Podem ter usado papéis inadequados. Também podem ter dado um daqueles telefonemas misteriosos, recebendo um envelope na portaria do hotel.
Não foi cena de filme. Aconteceu no Brasil. No dia 1º de outubro passado ocorreu um incidente durante o voo 128 da Continental Airlines que partiu de Houston para o Rio de Janeiro. Uma passageira (Fabíola Fantinato) desentendeu-se com as atendentes do serviço de bordo e a tripulação acionou os dois agentes da Transport Security Administration, a TSA, que viajam nas aeronaves americanas para prevenir desordens e até mesmo sequestros. Os policiais, Alan Doyle e Aaron Thomas, imobilizaram a passageira, algemando-a. Ela teria mordido um deles.
Ao desembarcar, os agentes entregaram a senhora à polícia do aeroporto, mas como ela dizia ter sido agredida e apresentara queixa, tiveram seus passaportes apreendidos. Segundo seu advogado, tinha sinais de violência nos seus braços, nas costas e no canto do olho esquerdo. Por ordem de um juiz federal, os agentes deveriam comparecer a uma audiência, marcada para a semana seguinte. A passageira é mulher do juiz estadual Marcos Fantinato.
No dia marcado, viu-se que os dois agentes evaporaram. Segundo uma versão que circula nos Estados Unidos, divulgada pela CNN, eles receavam ser constrangidos por conta do parentesco da senhora. Temiam um malfeito e, para evitá-lo, praticaram outro. Legalmente, não poderiam deixar o país sem os passaportes. Se saíram com documentos inadequados, é uma coisa. Se obtiveram papéis com as autoridades consulares americanas, é coisa pior. Em qualquer caso, se agentes estrangeiros fizerem coisa parecida nos Estados Unidos, seu governo ouvirá poucas e boas.
Talvez o embaixador Thomas Shannon não saiba, mas funcionários do governo americano já protegeram cidadãos encrencados com a Justiça brasileira.
Em 1966 quatro contrabandistas foram presos na Amazônia. Tinham contatos com um poderoso senador e armou-se um carteiraço. O general Vernon Walters, adido militar americano, foi instruído para levar o caso ao seu amigo marechal Castello Branco, presidente do Brasil. Pela narrativa do filho de Castello, dias depois as celas da Polícia Federal amanheceram abertas e os presos sumiram.
Até agora, o governo brasileiro fez de conta que não houve nada com os agentes da TSA. Há uma semana o ministro da Defesa, Nelson Jobim, esteve com Janet Napolitano, czarina da vigilância interna americana e assinou um acordo de segurança aérea. Segundo a assessoria da senhora, não trataram do sumiço. Pena, porque, no mínimo, os agentes iludiram os controles de aeroporto da Polícia Federal e debocharam de uma ordem judicial. No máximo, a embaixada americana, sabendo do ocorrido, contribuiu para a malfeitoria.
O escritor inglês Ian Fleming criou o agente 007, imortalizado por James Bond, com licença para matar. O governo americano criou os agentes 171, com licença para passar a perna nos outros.

Coluna de Elio Gaspari, na Folha de São Paulo, de 27 de outubro de 2010.


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Ficha Limpa em pleno vigor. Com grosserias, Gilmar Mendes tirou presidente do TSE do sério e agrediu a sociedade e o Parlamento

1. O Supremo Tribunal Federal (STF), depois de horas de hesitações e intermináveis citações de julgados e de doutrinadores, vivos e mortos, nacionais e estrangeiros, voltou a surpreender.

Todos imaginavam que a questão central, no julgamento de ontem e referente ao recurso extraordinário ajuizado por Jader Barbalho, seria a escolha de um critério para o desempate da votação.

Afinal, no caso Joaquim Roriz, os ministros discutiram à exaustão se a Lei da Ficha Limpa (Lei Complementar 135, de 7 de junho de 2010) deveria ou não ser aplicada nas eleições de 2010. Na ocasião, o STF ficou dividido, ou seja, a votação restou empatada com cinco votos para cada lado.

Na sessão de ontem, estava na cara que ocorreria novo empate sobre a imediata aplicação da Lei da Ficha Limpa.

Como desempatar? Isso era o que mais importava aos cidadãos brasileiros e aos pendurados fichas sujas. Aqueles cujos registros das candidaturas foram indeferidos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Com votos para se eleger ou ocupar uma suplência, eles diziam não saber o que fazer da vida. Poderiam, até, entender em deixar o país. Lógico, com exceção a Paulo Maluf, que, se sair do Brasil, será preso por força de mandado internacional de captura.

Os ministros que anteriormente (caso Roriz) votaram pela imediata aplicação da Lei da Ficha Limpa foram comedidos nas exposições dos seus votos.

O relator, ministro Joaquim Barbosa, proferiu voto sintético e os que o acompanharam declararam que mantinham o entendimento já exposto no julgamento do caso Roriz e, por escrito, juntavam aos autos as várias laudas dos ilustrados votos.

Igual proceder não adotaram os ministros que divergiram dos ministros Joaquim Barbosa, Ayres Britto, Ellen Gracie, Ricardo Lewandovsky e Carmem Lúcia. Ou melhor, aqueles mesmos ministros que, no caso Roriz, já haviam entendido, em demoradas explanações, que a lei complementar só se aplicaria depois de um ano da sua publicação e não poderia retroagir.

Durantes horas, os ministros, Gilmar Mendes, Marco Aurélio e Celso de Mello, repetiram anteriores pronunciamentos. Marco Aurélio, que também é juiz no Tribunal Superior Eleitoral e lá foi o único voto vencido sobre a questão da aplicação da Lei de Ficha Limpa, não poupou ninguém da repetição.

Gilmar Mendes, além de repetir as teses já conhecidas, incorporou o papel de tribuno. Cadenciou a voz e, no entusiasmo, ultrapassou o sinal e atacou a iniciativa popular geradora da lei e os parlamentares que a adequaram e a aprovaram.

“Sandice e desatino”, e disso Gimar Mendes conhece de cátedra, foram termos definidores por ele do móvel dos iniciadores e aprovadores do texto legal da “ficha limpa”.

O moralismo, disse Gilmar Mendes, pode conduzir ao fascismo. E a lei, casuística e oportunista, restou feita apenas para solucionar situação no Distrito Federal, disse Gilmar Mendes.

De toda a sua exposição, deve-se louvar o acerto de uma sua assertiva: “Não há limites para o absurdo”. Essa conclusão, encontrável pintada em algumas traseiras de caminhões, veio na sequência de uma pérola, de fazer tremer constitucionalistas nas sepulturas: “O povo não é soberano nas democracias constitucionais”. Depois dessa de Gilmar, fui conferir se democracia ainda era palavra grega, cujo étimo significa povo e poder.

Com efeito. Às 19h30 os ministros chegaram à conclusão de que o empate por cinco votos tinha novamente acontecido.

Até aí, Jader Barbalho, o espertalhão que havia renunciado ao mandato popular para evitar a cassação e a perda dos direitos políticos, não podia afirmar surpresa. Aliás, nem Paulo Maluf nem o paraense Paulo Rocha, as novas bolas da vez, no STF.

Alguns ministros, como Mendes, Marco Aurélio e Toffoli, aquele que foi reprovado em concurso para ingresso na magistratura estadual e serviu para o STF, entendiam que a sessão deveria ser suspensa. E o desempate, após o preenchimento da vaga aberta com a aposentadoria do ministro Eros Graus, de triste memória.

Com a reação dos demais, o presidente Cezar Peluso resolveu colocar em votação se o julgamento deveria continuar e findar naquela mesma sessão plenária. Novamente deu-se a intervenção de Gilmar Mendes e a entonação à Cícero só foi trocada pela gagueira, quando levou um tranco do ministro Ricardo Lewandovsky. Por maioria de votos, os ministros entenderam em continuar e encontrar uma solução.

Para irritação de Gilmar, Marco Aurélio e Toffoli, venceu o critério de desempate apresentado pelo ministro Celso de Mello. Uma analogia a dispositivo contido no Regimento Interno do STF. Critério expresso para solução de empate, quando em julgamento ações de inconstitucionalidade: no empate, prevalece a constitucionalidade da lei atacada. Por analogia, entendeu-se que a Lei da Ficha Limpa teria aplicação imediata e retroativa, pois era constitucional.

Não faltou nem apagão na sessão. Às 21 horas, as transmissões de imagens e sons do STF foram interrompidas. Era o horário político obrigatório. Os telespectadores, infelizmente, ficaram sem o final da fala de Gilmar Mendes.

O presidente Peluso acompanhou, depois de justificativa louvável, o ministro decano, Celso de Mello.

PANO RÁPIDO. As duas teses sobre a aplicabilidade ou não da Lei da Ficha Limpa eram respeitáveis e bem fundadas.

Agora, a repetição ninguém aguentava. E a tentativa de não se chegar a uma decisão final levaria, caso vingasse, o STF ao descrédito. Disso não se deram conta Gilmar Mendes, Marco Aurélio e Toffoli.

Depois de tudo, a sociedade saiu vitoriosa e pode gritar: Bye-bye, Jader, Maluf e demais fichas sujas.


Do blog Sem Fronteiras, de Walter Fanganiello Maierovitch.

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quarta-feira, outubro 27, 2010

De repente, a morte - Romeu Tuma, Nestor Kirchner

Nestes últimos dois dias fomos surpreendidos pela morte de dois personagens ilustres.

Ontem faleceu o senador e ex-delegado Romeu Tuma. No caso de Tuma, a morte não chega tão repentinamente assim. O senador estava internado faz algum tempo, e um portal de notícias havia divulgado sua morte tempos atrás numa barriga que não chegou a ser desmentida com o mesmo destaque da então falsa notícia de morte. O senador tinha 79 anos, e se notabilizou por ser chefe do Dops de São Paulo, no final da década de 1970, o que lançou uma certa sombra de dúvida sobre o senador nestes últimos dias. Também desempenhou o cargo de chefe da Polícia Federal no governo Sarney, e de secretário da Receita Federal. Exercia o mandato de senador desde 1994.

Mais do que o falecimento do senador Romeu Tuma, foi a notícia hoje, no final da manhã do falecimento do ex-presidente argentino, e atual secretário da Unasul, Nestor Kirchner. Kirchner foi o presidente que veio restabelecer certo equilíbrio sobre a Argentina, após o caos que se abateu sobre o país vizinho após o governo Menem. De La Rua foi eleito, mas renunciou diante de grave crise econômica decorrente da conversibilidade peso-dólar que vigorara no governo anterior. Em seguida, três presidentes se sucederam rapidamente tentando achar uma solução. A coisa mais próxima de uma solução no caso da Argentina acabou por ser a eleição de Kirchner em 2003. Kirchner acabou por renegociar uma dívida externa, que até hoje é contestada por alguns credores. E sua esposa, Cristina Fernandez, acabou por sucedê-lo. Após passar mal, foi levado ao hospital, onde veio a falecer, em El Calafate, no sul da Argentina. A notícia do IG, dá contas de lamentações por parte de praticamente todos os dirigentes dos países da América do Sul.


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Minhas histórias com o delegado Tuma

O delegado Romeu Tuma foi uma das pessoas mais educadas que conheci em minha carreira profissional. Mas também um dos grandes enigmas. Sempre foi o bom policial, em contraposição ao delegado Fleury, o mau.

Meu primeiro contato com ele foi na greve dos jornalistas em 1979. Fui detido em um piquete, depois de ter assumido a responsabilidade por um episódio com um caminhão da Folha, perpetrado pelo meu colega Nunzio Brigulio. O Nunzio combinou com o motorista encontrar-se em um local ermo para transferir para seu carro os jornais que seriam distribuídos. No meio da operação, apareceu um vigilante noturno e tiveram que chamar a polícia e dar parte. O Nunzio foi com seu carro até o piquete do Estadão. Quando chegou o investigador Lalau, do DOPS, Nunzio pediu para algum colega, que ainda não tinha sido indiciado, se apresentar como responsável pelo carro. O «laranja» aqui se apresentou e foi levado detido, primeiro para a delegacia de Santo Amaro, depois para o DOPS.

Lá houve o interrogatório. Na sala ao lado, minha mulher (que eu não sabia que tinha ido para lá), acompanhada do delegado Romeu Tuma – que foi atencioso, educado, inclusive amparando-a quando teve uma taquicardia, depois do investigador que me interrogava dizer que eu poderia levar 12 anos de prisão nas costas (blefe evidente).

Nos dias seguintes, Tuma teve papel essencial, negociando com Dom Paulo e o senador Franco Montoro, para abafar a investigação.

O segundo encontro foi no início dos anos 80, quando explodiu o caso da corretora Tieppo. A imprensa inteira enaltecendo os feitos da polícia de Tuma, que havia localizado os arquivos de Tieppo. No Jornal da Tarde, montamos uma investigação paralela que comprovou que o delegado Tuma combinou com Tieppo a entrega apenas dos arquivos oficiais. Ficou de fora o caixa 2, que identificava as operações clandestinas de remessa de dólares.

O terceiro encontro foi quando, já com a seção Dinheiro Vivo da Folha, fui alvo de um inquérito de um procurador gaúcho, me acusando de estimular a sonegação – por conta de uma matéria onde ensinava como pagar menos imposto casando duas vezes.

Tive que depor, deixar impressões digitais. Do meu lado, o delegado Tuma gentilíssimo, pedindo dicas sobre financiamento no BNH.

O quarto encontro foi mais pesado. Me enredei em uma briga monumental com o consultor-geral da República, Saulo Ramos, por ter assinado um segundo decreto do Cruzado reinstituindo a jogada da liquidação extrajudicial de bancos quebrados – um sistema que permitia ao banco congelar as dívidas com o governo e corrigir os ativos.

Foi uma luta pesadíssima que custou meu emprego na Folha, depois de negociações conduzidas pessoalmente pelo próprio Saulo. Aliás, ganhei seis meses de sobrevida porque no dia em que provavelmente seria demitido conquistei o Prêmio Esso Categoria Nacional – justamente com a série sobre o Cruzado.

No auge da guerra, identifiquei sinais estranhos no meu telefone. Por recomendação de um amigo, procurei o corregedor da Polícia Civil de São Paulo – o juiz Walter Maierovitch – que constatou o grampo e o responsável – justamente o pessoal do delegado Tuma. Avisei a Folha sobre o dia em que a Polícia Civil faria a varredura para pegar os gravadores, mas o jornal não quis dar cobertura.

Saí da Folha mas permaneci crítico ao governo Sarney no programa que tinha na TV Gazeta. Uma noite ele foi lá dar uma entrevista ao Ferreira Neto e o cobrei pelo grampo. Negou e me disse que, quando levou Saulo Ramos ao aeroporto (Saulo passou um mês de «férias», para escapar da guerra que lhe movia) até lhe disse que não entendia sua ênfase em me processar, já que eu tinha elementos para derrubá-lo. Por coincidência, uma frase que minha mulher tinha dito a um amigo pelo telefone no período em que o aparelho esteve grampeado.

O quinto encontro foi pouco tempo depois.

Dois fatos me chamaram a atenção: Naji Nahas e o advogado Edevaldo Alves da Silva (da FMU) foram detidos em Cumbica carregando dólares com eles. Como na época ainda não havia cartão de crédito internacional, era uma prática recorrente levar dólares no bolso. O que ambos tinham em comum? Eram adversários de Saulo Ramos em ações pesadas na Justiça.

Por aqueles dias, convidado pela Alcoa, fui aos Estados Unidos com uma comitiva de jornalistas. Na volta, pensei em comprar um laptop mas me lembrei dos dois casos de adversários de Saulo. Pensei comigo mesmo: o delegado Tuma estará aguardando em Cumbica.

Dito e feito. Quando descíamos do avião, encontrei no final da escadaria o grande Fernando Vieira de Mello, da Jovem Pan. Perguntei o que fazia ali. Estava esperando seu filho Fernandinho, por coincidência no nosso avião – mas não na nossa comitiva.

Ele me disse que, inclusive, o delegado Tuma estava ali. E se virou para mostrar. Mas cadê o delegado? Estava atrás de uma coluna. Fui até lá e zombei dele: Doutor Tuma, vindo investigar in loco.

Ele me disse que havia denúncias de que um doleiro estaria no avião com uma mala com cinco milhões de dólares. Ironizei: será que esse doleiro não descobriu que existe o dólar cabo (um sistema de transferência de dólares por telex)?

Bom, toda nossa bagagem foi revistada. Ainda bem que não cedi à tentação de trazer o laptop.

Depois disso, cruzamos algumas vezes em eventos. Ele sempre educado, voz mansa, tipo agradável. Mas com muitas e muitas histórias que certamente jamais registrou.


Texto do blog do Luís Nassif.

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Fotos revelam abusos de militares israelenses contra palestinos

Fotos revelam abusos contra palestinos

Militares israelenses aparecem em imagens agredindo prisioneiros durante ofensiva militar à faixa de Gaza

ONG encontrou as fotos no site Facebook; elas haviam sido publicadas pelos próprios militares suspeitos dos crimes

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

Uma organização de direitos humanos divulgou ontem mais fotos de soldados israelenses cometendo abusos em território palestino.
De acordo com os integrantes da ONG Quebrando o Silêncio, formada por militares israelenses da reserva que se opõem à ocupação, as fotos foram tiradas pelos soldados na ofensiva à faixa de Gaza, entre 2008 e 2009.
As três imagens divulgadas ontem foram enviadas pelos próprios soldados para o site Facebook, de onde a ONG as recolheu e depois divulgou para a imprensa.
Numa delas, um soldado israelense segura pelo pescoço um homem vendado e com as mãos amarradas, e com a outra mão aponta um fuzil para a cabeça dele.
Noutra, um soldado picha numa parede uma estrela de Davi e as palavras em hebraico: "voltaremos em breve".
A terceira mostra um soldado posando com seu fuzil numa cozinha, enquanto uma mulher em trajes árabes continua trabalhando, aparentemente inabalada.
Segundo Michael Manekin, da Quebrando o Silêncio, as fotos mostram um fenômeno que se espalhou nos últimos anos no Exército.
"Colocar prisioneiros em situação humilhante e depois divulgar imagens se tornou rotina", disse Michael à Folha. "O problema é que raramente são punidas com o rigor necessário", afirmou.
A revelação não é nova. Há cerca de dois meses, uma soldado israelense, Eden Abergil, causou indignação até dentro do Exército depois de aparecer sorrindo ao lado de prisioneiros palestinos vendados em fotos postadas por ela no Facebook.
Há três semanas, um episódio semelhante voltou a ganhar as manchetes. Desta vez, a imagem de um soldado dançando em volta de uma palestina vendada foi enviada ao site YouTube.
O Exército abriu investigação, e o vídeo foi duramente criticado pelo premiê israelense, Binyamin Netanyahu. Recentemente, o Exército israelense proibiu o uso de mídias sociais como o Facebook e Twitter em suas bases para evitar vazamentos.

Notícia publicada na Folha de São Paulo, de 26 de outubro de 2010.


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Direito à aposentadoria

Direito à aposentadoria

A conta da crise financeira internacional de 2008, simbolizada pela quebra do banco de investimento americano Lehman Brothers, está longe de ser paga. Pacotes trilionários de ajuda ao setor privado foram insuficientes para cobrir os rombos da especulação desenfreada. É preciso mais.
Os europeus que o digam.
Grécia, Portugal, Espanha, França e Grã-Bretanha são amostras de países que, a pretexto de não falir, passam a faca em direitos sociais diversos. Um dos alvos preferidos são as aposentadorias. O governo inglês, por exemplo, além de projetar o maior corte de gastos públicos em 60 anos e a demissão de meio milhão de servidores, quer elevar de 65 para 66 anos a idade para aposentadoria.
Embora, no conjunto, as medidas pareçam de menor amplitude, é na França que a situação está mais exacerbada. O presidente Nicolas Sarkozy declarou guerra a conquistas históricas dos sindicatos e decidiu aumentar em dois anos a idade mínima da aposentadoria. Conseguiu deslanchar a maior onda de mobilizações no país em muitos anos, envolvendo funcionários públicos, trabalhadores em geral e a juventude estudantil.
Pesquisas de opinião mostram que as manifestações têm índice de apoio da altura de Carla Bruni, enquanto a satisfação com o governo está mais para a estatura do marido. Mais de 70% dos franceses são simpáticos aos protestos.
Já o presidente bateu seu próprio recorde de impopularidade: enquete divulgada no domingo registra que só 29% dos entrevistados são favoráveis a Sarkozy.
Os "reformistas" franceses argumentam que, se em 1945 havia oito trabalhadores na ativa para sustentar um aposentado, daqui a 15 anos a proporção descerá a um para um caso nada seja feito. É mais ou menos a mesma ladainha atuarial ouvida no Brasil. Para os governos e o pessoal bem de vida, a aposentadoria -dos outros, bem entendido- passou a ser tratada como luxo a ser eliminado (ao mesmo tempo, um ótimo negócio para a banca que negocia planos de previdência privada).
Na ponta do lápis, considerando o aumento da expectativa de vida e a queda dos índices de natalidade, a conta dos "reformistas" até parece fazer algum sentido. Sentido numérico, apenas.
É difícil engolir que, diante de tanto progresso técnico e material, da capacidade internacional de gerar riqueza e do aumento de produtividade do trabalho -é difícil engolir que a saída para deixar a casa em ordem seja sempre reverter conquistas sociais. Por mais não fosse, basta lembrar a soma de recursos públicos queimados para salvar banqueiros e empresários espertalhões só nos últimos dois anos.
Dinheiro há. Resta decidir em qual bolso ele vai parar.

Texto de Ricardo Melo, na Folha de São Paulo, de 26 de outubro de 2010.


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Carta de Theotonio dos Santos a FHC

via Luis Nassif Online by luisnassif on 10/25/10

Por Carlos Américo Chaves Nogueira

Carta Aberta a Fernado Henrique Cardoso

Theotonio dos Santos

Meu caro Fernando,

Vejo-me na obrigação de responder a carta aberta que você dirigiu ao Lula, em nome de uma velha polêmica que você e o José Serra iniciaram em 1978 contra o Rui Mauro Marini, eu, André Gunder Frank e Vânia Bambirra, rompendo com um esforço teórico comum que iniciamos no Chile na segunda metade dos nos 1960. A discussão agora não é entre os cientistas sociais e sim a partir de uma experiência política que reflete comtudo este debate teórico. Esta carta assinada por você como ex-presidente é uma defesa muito frágil teórica e politicamente de sua gestão. Quem a lê não pode compreender porque você saiu do governo com 23% de aprovação enquanto Lula deixa o seu governo com 96% de aprovação. Já discutimos em várias oportunidades os mitos que se criaram em torno dos chamados êxitos do seu governo. Já no seu governo vários estudiosos discutimos, já no começo do seu governo, o inevitável caminho de seu fracasso junto à maioria da população. Pois as premissas teóricas em que baseava sua ação política eram profundamente equivocadas e contraditórias com os interesses da maioria da população. (Se os leitores têm interesse de conhecer o debate sobre estas bases teóricas lhe recomendo meu livro já esgotado: Teoria da Dependencia: Balanço e Perspectivas, Editora Civilização Brasileira, Rio, 2000).

k-->ContuContudo nesta oportunidade me cabe concentrar-me nos mitos criados em torno do seu governo, os quais você repete exaustivamente nesta carta aberta.

O primeiro mito é de que seu governo foi um êxito econômico a partir do fortalecimento do real e que o governo Lula estaria apoiado neste êxito alcançando assim resultados positivos que não quer compartilhar com você... Em primeiro lugar vamos desmitificar a afirmação de que foi o plano real que acabou com a inflação. Os dados mostram que até 1993 a economia mundial vivia uma hiperinflação na qual todas as economias apresentavam inflações superiores a 10%. A partir de 1994, TODAS AS ECONOMIAS DO MUNDO APRESENTARAM UMA QUEDA DA INFLAÇÃO PARA MENOS DE 10%. Claro que em cada pais apareceram os “gênios” locais que se apresentaram como os autores desta queda. Mas isto é falso: tratava-se de um movimento planetário.

No caso brasileiro, a nossa inflação girou, durante todo seu governo, próxima dos 10% mais altos. TIVEMOS NO SEU GOVERNO UMA DAS MAIS ALTAS INFLAÇÕES DO MUNDO. E aqui chegamos no outro mito incrível. Segundo você e seus seguidores (e até setores de oposição ao seu governo que acreditam neste mito) sua política econômica assegurou a transformação do real numa moeda forte. Ora Fernando, sejamos cordatos: chamar uma moeda que começou em 1994 valendo 0,85 centavos por dólar e mantendo um valor falso até 1998, quando o próprio FMI exigia uma desvalorização de pelo menos uns 40% e o seu ministro da economia recusou-se a realizá-la “pelo menos até as eleições”, indicando assim a época em que esta desvalorização viria e quando os capitais estrangeiros deveriam sair do país antes de sua desvalorização, O fato é que quando você flexibilizou o cambio o real se desvalorizou chegando até a 4,00 reais por dólar. E não venha por a culpa da “ameaça petista” pois esta desvalorização ocorreu muito antes da “ameaça Lula”. ORA, UMA MOEDA QUE SE DESVALORIZA 4 VEZES EM 8 ANOS PODE SER CONSIDERADA UMA MOEDA FORTE? Em que manual de economia? Que economista respeitável sustenta esta tese?

Conclusões: O plano Real não derrubou a inflação e sim uma deflação mundial que fez cair as inflações no mundo inteiro. A inflação brasileira continuou sendo uma das maiores do mundo durante o seu governo. O real foi uma moeda drasticamente debilitada. Isto é evidente: quando nossa inflação esteve acima da inflação mundial por vários anos, nossa moeda tinha que ser altamente desvalorizada. De maneira suicida ela foi mantida artificialmente com um alto valor que levou à crise brutal de 1999.

Segundo mito; Segundo você, o seu governo foi um exemplo de rigor fiscal. Meu Deus: um governo que elevou a dívida pública do Brasil de uns 60 bilhões de reais em 1994 para mais de 850 bilhões de dólares quando entregou o governo ao Lula, oito anos depois, é um exemplo de rigor fiscal? Gostaria de saber que economista poderia sustentar esta tese. Isto é um dos casos mais sérios de irresponsabilidade fiscal em toda a história da humanidade.

E não adianta atribuir este endividamento colossal aos chamados “esqueletos” das dívidas dos estados, como o fez seu ministro de economia burlando a boa fé daqueles que preferiam não enfrentar a triste realidade de seu governo. Um governo que chegou a pagar 50% ao ano de juros por seus títulos para, em seguida, depositar os investimentos vindos do exterior em moeda forte a juros nominais de 3 a 4%, não pode fugir do fato de que criou uma dívida colossal só para atrair capitais do exterior para cobrir os déficits comerciais colossais gerados por uma moeda sobrevalorizada que impedia a exportação, agravada ainda mais pelos juros absurdos que pagava para cobrir o déficit que gerava.

Este nível de irresponsabilidade cambial se transforma em irresponsabilidade fiscal que o povo brasileiro pagou sob a forma de uma queda da renda de cada brasileiro pobre. Nem falar da brutal concentração de renda que esta política agravou dráticamente neste pais da maior concentração de renda no mundo. Vergonha, Fernando. Muita vergonha. Baixa a cabeça e entenda porque nem seus companheiros de partido querem se identificar com o seu governo...te obrigando a sair sozinho nesta tarefa insana.

Terceiro mito - Segundo você, o Brasil tinha dificuldade de pagar sua dívida externa por causa da ameaça de um caos econômico que se esperava do governo Lula. Fernando, não brinca com a compreensão das pessoas. Em 1999 o Brasil tinha chegado à drástica situação de ter perdido TODAS AS SUAS DIVISAS. Você teve que pedir ajuda ao seu amigo Clinton que colocou à sua disposição ns 20 bilhões de dólares do tesouro dos Estados Unidos e mais uns 25 BILHÕES DE DÓLARES DO FMI, Banco Mundial e BID. Tudo isto sem nenhuma garantia.

Esperava-se aumentar as exportações do pais para gerar divisas para pagar esta dívida. O fracasso do setor exportador brasileiro mesmo com a espetacular desvalorização do real não permitiu juntar nenhum recurso em dólar para pagar a dívida. Não tem nada a ver com a ameaça de Lula. A ameaça de Lula existiu exatamente em conseqüência deste fracasso colossal de sua política macro-econômica. Sua política externa submissa aos interesses norte-americanos, apesar de algumas declarações críticas, ligava nossas exportações a uma economia decadente e um mercado já copado. A recusa dos seus neoliberais de promover uma política industrial na qual o Estado apoiava e orientava nossas exportações. A loucura do endividamento interno colossal. A impossibilidade de realizar inversões públicas apesar dos enormes recursos obtidos com a venda de uns 100 bilhões de dólares de empresas brasileiras. Os juros mais altos do mundo que inviabilizava e ainda inviabiliza a competitividade de qualquer empresa.

Enfim, UM FRACASSO ECONOMICO ROTUNDO que se traduzia nos mais altos índices de risco do mundo, mesmo tratando-se de avaliadoras amigas. Uma dívida sem dinheiro para pagar... Fernando, o Lula não era ameaça de caos. Você era o caos. E o povo brasileiro correu tranquilamente o risco de eleger um torneiro mecânico e um partido de agitadores, segundo a avaliação de vocês, do que continuar a aventura econômica que você e seu partido criou para este país.

Gostaria de destacar a qualidade do seu governo em algum campo mas não posso fazê-lo nem no campo cultural para o qual foi chamado o nosso querido Francisco Weffort (neste então secretário geral do PT) e não criou um só museu, uma só campanha significativa. Que vergonha foi a comemoração dos 500 anos da “descoberta do Brasil”. E no plano educacional onde você não criou uma só universidade e entou em choque com a maioria dos professores universitários sucateados em seus salários e em seu prestígio profissional. Não Fernando, não posso reconhecer nada que não pudesse ser feito por um medíocre presidente.

Lamento muito o destino do Serra. Se ele não ganhar esta eleição vai ficar sem mandato, mas esta é a política. Vocês vão ter que revisar profundamente esta tentativa de encerrar a Era Vargas com a qual se identifica tão fortemente nosso povo. E terão que pensar que o capitalismo dependente que São Paulo construiu não é o que o povo brasileiro quer. E por mais que vocês tenham alcançado o domínio da imprensa brasileira, devido suas alianças internacionais e nacionais, está claro que isto não poderia assegurar ao PSDB um governo querido pelo nosso povo. Vocês vão ficar na nossa história com um episódio de reação contra o vedadeiro progresso que Dilma nos promete aprofundar. Ela nos disse que a luta contra a desigualdade é o verdadeiro fundamento de uma política progressista. E dessa política vocês estão fora.

Apesar de tudo isto, me dá pena colocar em choque tão radical uma velha amizade. Apesar deste caminho tão equivocado, eu ainda gosto de vocês ( e tenho a melhor recordação de Ruth) mas quero vocês longe do poder no Brasil. Como a grande maioria do povo brasileiro. Poderemos bater um papo inocente em algum congresso internacional se é que vocês algum dia voltarão a freqüentar este mundo dos intelectuais afastados das lides do poder.

Com a melhor disposição possível mas com amor à verdade, me despeço

thdossantos@terra.com.br
http://theotoniodossantos.blogspot.com/

(*) Theotonio Dos Santos é Professor Emérito da Universidade Federal Fluminense, Presidente da Cátedra da UNESCO e da Universidade das Nações Unidas sobre economia global e desenvolvimentos sustentável. Professor visitante nacional sênior da Universidade Federal do Rio de Janeiro.


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Michel Temer...

Michel Temer: tanto faz

SÃO PAULO - Índio da Costa ainda não brilhou na TV de José Serra, mas Michel Temer enfim apareceu no programa eleitoral de Dilma Rousseff. Foi na terça à noite. Discursou por um minuto diante da câmera, como se fosse o fiador ou o guardião da governabilidade.
Destacou a importância de uma "maioria sólida" no Congresso para o futuro presidente e desfilou números: Dilma, se eleita, terá o apoio "de mais de 350" dos 513 deputados, e poderá contar "com mais de 50" dos 81 senadores. E concluiu, com seu típico sorriso de Monalisa no canto da boca: "Dilma poderá governar com tranquilidade".
Michel Temer...
Há quatro anos, já então presidente do partido, o vice de Dilma apoiou Geraldo Alckmin contra Lula. Mais do que isso. O PMDB, sem candidato próprio, rachou no segundo turno. O governador Sérgio Cabral fechou com Lula. E Temer foi o articulador do apoio do casal Garotinho -Anthony e Rosinha, à época no PMDB- ao tucano.
Está tudo documentado: no endereço www.folha.com/102942 você pode ver as imagens de Alckmin, Temer, Garotinhos -juntos pelo Brasil. "Nós começamos a fazer um trabalho para obter a parcela mais ampla do PMDB no apoio à Alckmin. Hoje, com Rosinha e Garotinho, foi o primeiro passo", disse Temer no dia 4 de outubro de 2006. Clarissa, a filha do casal, trajava camiseta onde se lia: "FORA LULA".
Isso deve dizer algo sobre as convicções de Temer. Entre aquele que queria mandar Lula para casa em 2006 e o que hoje se apresenta como vice de Dilma, o que mudou? Não é, afinal, o mesmo governo?
Temer seria o primeiro a acenar na direção de Serra na hipótese improvável de uma vitória tucana. Daria ao gesto um ar solene e grave, invocando a mesma "governabilidade" que serve de álibi para os negócios do partido. O presidente do PMDB é o senhor tanto faz da política brasileira. Ou são o PT e o PSDB que estão cada vez mais parecidos com a política de Michel Temer?

Coluna de Fernando de Barros e Silva, na Folha de São Paulo, de 22 de outubro de 2010.


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A política cambial café-com-leite

Saudades da política cambial café-com-leite, por José Paulo Kupfer

Reza a cartilha das boas práticas no mercado financeiro que os departamentos de pesquisa e análise econômica de bancos e instituições financeiras sejam separados das áreas de operação. Pode até haver uma separação formal – “muralha da China”, no jargão do mercado –, mas na prática, a teoria é outra. Não há muralha capaz de barrar contaminações mentais.

Só isso explica as queixas e advertências dos chamados economistas de mercado, depois que o governo começou a atuar na defesa da taxa de câmbio. Eles andam contrariados com o “desmonte” da política cambial até recentemente praticada, como declarou Tony Volpon, chefe de pesquisas para mercados emergentes da Nomura Securities, em reportagem dos colegas Fabio Graner e Adriana Fernandes, no Estadão desta segunda-feira.

Segundo Volpon, o Brasil está saindo de um sistema de câmbio flutuante “sujo”, mas transparente, para um regime mais de câmbio administrado. O economista lamenta que, nessa passagem, segundo sua avaliação, o governo está deixando de praticar uma política previsível.

Previsível? Desde quando uma política cambial tem de ser previsível? Política cambial previsível só é boa para quem está no jogo para tosquiar o carneiro.

O governo, até recentemente, fez, de fato, política cambial café-com-leite. Enxugava os excessos de dólares com leilões de compra de divisas, com dia e hora marcados. Acumulou reservas, é certo, mas essa atuação previsível colaborou para atrair mais e mais capitais especulativos – aqueles que procuram taxas atraentes e, além disso, compondo o melhor dos mundos, previsibilidade. A política previsível resultou numa acumulação de reservas que já passou do ponto.

De uns tempos para cá, porém, foram acionados outros mecanismos. Começou com mais IOF na renda fixa e o fechamento de escapes no mercado de ações e de futuros. Já abriu o leque para outras aplicações em portfólio e em futuros. De previsível na política cambial, agora, só os sinais de que, se precisar, virá mais chumbo.

Trocou o café-com-leite por um pouco mais de coerência. Depois da mudança, até aqui, felizmente, não se vê mais o Banco Central puxando para cá e a Fazenda esticando para lá no câmbio. BC e Fazenda têm operado em conjunto, sem queimar de uma vez todo o arsenal à disposição e. enfim, sem aviso prévio do momento em que seriam colocadas em campo.

Isso aumenta os custos de transação no mercado cambial e encarece as operações de hedge, até mesmo para importadores, exportadores e investidores em atividades produtivas, como advertem os reclamantes? Sem dúvida. E, além disso, como também apontam os queixosos, pode vir a elevar os riscos de redução dos fluxos de capitais, numa quadra em que os déficits em contas correntes tendem a crescer.

Contudo, desde que se tenha consciência de que esses movimentos são apenas para mitigar um problema à espera de soluções estruturais, uma ação mais contundente no mercado cambial tem tudo, no momento, para produzir mais benefícios do que custos. Só os tosquiadores de carneiros podem sentir saudades daquela política cambial tão previsível.

http://blogs.estadao.com.br/jpkupfer/saudades-da-politica-cambial-cafe-com-leite/


Visto no blog do Luís Nassif.

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terça-feira, outubro 26, 2010

O voto e o preconceito de classe

O voto e o preconceito de classe

Por Pedro Migão

Um fenômeno muito interessante que venho observando nestas eleições, em especial as presidenciais, é a existência de um declarado "ódio de classe" em especial das camadas de maior renda.

Acho que já contei para o leitor que moro em um bairro de classe média aqui no Rio. Embora seja um local da Zona Norte, suas características geográficas - é um lugar relativamente isolado e que possui a Baía da Guanabara perto e boas áreas verdes - trazem uma boa qualidade de vida e atraem pessoas de maior renda - além de alguns petroleiros que trabalham no Cenpes e na refinaria de Duque de Caxias, relativamente próximas.

Pois é. Em meu carro tenho um adesivo no vidro traseiro da candidata Dilma Rousseff - além de um da Portela e outro da Igreja Messiânica, mas isto é outra história... Com o acirramento da campanha tenho de ouvir comentários de vizinhos na linha "vai continuar a sustentar vagabundo?", "eles vão tomar o seu lugar, hein!" e coisas correlatas.

Ando pelo hortifruti onde faço compras às vezes e ouço uma senhorinha, bem jovem, com seu bebê no colo: "vê se pode, esta gentalha fazendo compra no mesmo lugar que a gente. Não pode!", apontando para um senhorzinho que comprava a carne provavelmente para o almoço de domingo.

Onde eu quero chegar: que existe uma parcela de voto conservador que defende a extinção dos programas sociais e prega a perpetuação da miséria. Isso se dá, basicamente, por dois grandes fatores.

O primeiro é social. A chamada "elite" social brasileira defende a exclusão e a ideia de que "somos os escolhidos e os demais são nossos serviçais". A ascensão social de camadas da população nos últimos anos - das Classes D e E para a Classe C e desta para a Classe B - é malvista a partir do momento que retira a "exclusividade" de pertencer à elite, ou à proto-elite - tem muita gente que mora em bairros ricos, mas passa a Guaravita com pão de forma.

Estas novas parcelas de renda mais altas são consideradas "incultas", "bárbaros" e indignos de frequentarem os mesmos ambientes que estas pessoas que se consideram uma "raça superior". Com isso há o clamor pela extinção de políticas de inclusão social e de ampliação de oportunidades; na visão destas parcelas sociais o pobre tem um destino imutável em seu nascimento e não deve ter oportunidade de progredir ou de buscar progredir. Pelo mesmo motivo a criação de empregos deve ser freada.

Eu comentei uma vez em tom de brincadeira, mas está se tornando algo sério: as pessoas tem ânsia de vômito somente de imaginar pobres fazendo supermercado, comprando seu carrinho a prestação, indo ao cinema ou ao shopping. A visão é que, com estas condutas, estas classes ascendentes estão ocupando um espaço que não é delas, não lhes pertencem e cuja presença macula os templos sagrados da velha elite.

A percepção destas pessoas é que estas deixam de ser "superiores", "exclusivas" e passa a ocorrer o maior temor destas classes: passarem a fazer parte da denominada "gentalha". Um pseudo privilégio.

A segunda razão é puramente econômica.

Indo direto ao assunto: com a oferta maior de empregos, os aumentos reais de salários daí advindos e o crescimento da economia, serviços domésticos - incluindo aí os serviços de reparos tais como pedreiros, eletricistas e outros - passaram a ficar bem mais caros que nos gloriosos tempos do tucanato.

Hoje não se encontra mais aquela empregada doméstica morta de fome que dorme no emprego, não tem carteira assinada e trabalha por meio salário mínimo mensal, nem aquela faxineira que faz a faxina e passa a roupa por uma diária de R$ 10, R$ 15.

Com a acelerada expansão da construção civil dado o crescimento da economia, profissionais como pedreiros, eletricistas e encanadores cobram bem mais caro, e tem seu tempo disponível diminuído. Esses serviços tiveram elevação substancial de preço, que acabaram impactando na "inflação" destas classes.

Vejo muita gente reclamar "que é um absurdo pagar um salário mínimo e meio mais os direitos para uma empregada que, olha que audácia, vai embora pra casa todo dia!" Percebe-se que é uma visão excludente, de que "o que importa é eu estar bem, o resto que se dane", e "do pobre a Polícia cuida". Mas garanto ao leitor que este mesmo indivíduo reclamaria se em seu emprego tivesse de chegar segunda feira de manhã e somente voltar para casa no final da tarde de sábado...

Também alerto que apesar de reclamarem horrores do Governo Lula, esta turma ganhou muito dinheiro durante os últimos anos. Talvez setores localizados da classe média tenham prosperado menos, mas as classes alta e a maioria dos pertencentes à classe média também melhoraram seu padrão.

Ou seja, resumindo grosseiramente, o importante é acumular dinheiro, ainda que para tal tenha de se explorar o semelhante. A verdade é que os setores favorecidos deste país, em média, são egoístas, mesquinhos, americanófilos e, diria até, perversos. Se estão bem, o resto pode explodir.

Por isso o apoio entusiasmado ao candidato conservador, que promete a volta aos tempos áureos do arrocho salarial, da senzala nas relações trabalhistas, dos juros elevados e da redução do emprego. Sem contar o fim de programas como o Bolsa Família, o ProUni e a reserva das universidades federais para uma minoria - pobre tem de fazer, no máximo, ensino técnico - assim ele ganha menos.

Outro ponto que percebo é que com a introdução cada vez maior da competitividade extrema desde o berço, a juventude é cada vez mais conservadora, egoísta e consumista. Depois reclamam da decadência da sociedade e dos políticos.

Resumindo, existe uma parcela forte de voto conservador calcada no puro preconceito de classe, na noção de que estes são os "escolhidos" e de que os serviços a estas mesmas classes devem custar o mínimo indispensável.

Vale lembrar que parte deste argumento explica a vitória de Serra nos estados da fronteira agrícola brasileira, onde, é bom que se frise, as condições de trabalho são análogas às da escravidão. Não surpreende ver a Senadora Kátia Abreu, líder ruralista, afirmar que o "custo do trabalho está muito alto". Com outras opções de emprego é evidente que os trabalhadores não gostarão de trabalhar como escravos acorrentados em fazendas de monocultura.

Texto visto no blog do Luís Nassif.

Confira também: http://pedromigao.blogspot.com/


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Nosso projeto, minha história

Nosso projeto, minha história

SÃO PAULO - Os debates entre Dilma Rousseff e José Serra tendem a ser provas de resistência à paciência do espectador. Protegidos por regras que restringem ao máximo a participação de jornalistas e reduzem ao mínimo a exposição a questões e temas espinhosos, os candidatos travam duelos marcados por uma enorme chatice tecnocrática.
Quem, no entanto, consegue atravessar o mar de números, siglas e promessas cruzadas, até chegar às famigeradas "considerações finais" de cada um, pode notar que existe, sim, uma diferença fundamental entre a petista e o tucano: Dilma se despede como aquela que "representa" o "nosso projeto", referindo-se ao governo Lula, do qual é uma peça, ou a protagonista acidental; Serra, por sua vez, conclui oferecendo ao eleitor a "minha história de vida" -biografia, valores, trajetória político-administrativa.
No caso de Dilma, o "nós" ocupa o primeiro plano -este é o seu trunfo e o biombo atrás do qual ela procura esconder suas vulnerabilidades. No caso de Serra, o "eu", inflado, toma a frente da mensagem política, ou se confunde com ela, como quem dissesse "la garantia soy yo", o resto se ajeita depois.
Dito de outra forma: a candidatura de Dilma é maior que a própria candidata, enquanto o candidato Serra é maior que a sua candidatura. Mas não apenas isso.
Caso se confirme o favoritismo petista, ninguém sabe ao certo, nem a própria Dilma, o que será do "projeto" quando Lula sair de cena. A campanha de Dilma celebra o presente, muito mais do que aponta soluções para o futuro.
Mas, com Serra, poucas vezes o país assistiu a uma campanha tão marcadamente personalista, o que, por ironia, o aproxima da tradição populista, que os tucanos -"técnicos", "racionais"- tanto gostam de criticar. Serra, com sua egotrip, sempre acreditou que poderia chegar à Presidência sem assumir compromissos com ninguém; desobrigou assim os aliados de assumirem qualquer compromisso com ele.

Texto de Fernando de Barros e Silva, na Folha de São Paulo, de 20 de outubro de 2010.


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quinta-feira, outubro 21, 2010

Uma alta capacidade de reproduzir preconceitos

Uma alta capacidade de reproduzir preconceitos | Valor Online

Maria Inês Nassif |

As chances de erro nas previsões eleitorais são altas, pelo simples fato de que, entre o início da campanha e seu final, um processo se coloca em movimento, e só para quando o último eleitor digitar o seu voto na urna. Esse voto, ao longo da campanha, esteve exposto a todo tipo de argumento. Afinal, uma campanha nada mais é do que a tentativa de convencimento da maioria de que o projeto de poder de um determinado partido, ou candidato, é o mais apropriado para o país.

Quando o que está em jogo é conseguir interpretar uma emoção coletiva que, traduzida em números, represente a maioria dos votos para um determinado candidato, as coisas ficam difíceis. Os movimentos são detectados de forma muito fácil pelas pesquisas de opinião quando elas apontam uma tendência constante - por exemplo, ao longo de quase todo o período em que foi divulgado o tracking diário Vox Populi-IG-Bandeirantes, em especial na antepenúltima e penúltima semanas antes das eleições, os candidatos Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) mantiveram intenções de voto praticamente estáveis. Era quase uma unanimidade, entre analistas, que Dilma venceria no primeiro turno. Na última semana, a ascensão de Marina Silva (PV) tirou o primeiro turno de Dilma - sejam quais forem as razões que levaram a essa mudança de tendência.

As primeiras pesquisas de opinião no pós-primeiro turno recuam à tendência detectada nas penúltima e antepenúltima semanas antes de 3 de outubro. Dilma volta a ser a favorita. Ao que tudo indica, a alta agressividade da campanha do tucano, em especial na última semana antes do primeiro turno, produziu resultados e chegou ao pico um pouco depois da primeira eleição, arregimentando votos que foram para Marina, e em seguida foi esvaziada em seus efeitos. Nas últimas semanas de campanha, o eleitor sofreu uma overdose de "denúncias" de várias fontes - horário eleitoral gratuito, imprensa tradicional, televisão comercial, telefonemas para suas casas, panfletos distribuídos em portas de igrejas e templos evangélicos, um súbito uso de pré-conceitos religiosos com a devida ajuda dos pastores de Deus na terra etc. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deveria colocar um outro item no rol "nunca antes na história desse país": nunca se usou tanta difamação num processo eleitoral como contra a candidata Dilma Rousseff, aproveitando-se dos preconceitos que já vêm embutidos no pacote mulher, petista, ex-militante da luta armada, ex-doente de um câncer, divorciada etc. Até que Dilma fosse candidata, sinceramente, eu achava que todo o estoque de preconceitos havia sido usado contra Lula nas campanhas de 1989, 1994, 1998 e 2002: operário, sem curso universitário, de origem nordestina. Os preconceitos da elite brasileira, no entanto, têm a insuperável capacidade de se superar.

Estoque parecia ter sido usado todo contra o operário Lula

Os excessos, todavia, têm limites. Existe uma linha muito tênue entre o medo que causa a difamação e a repulsa ao difamador. A artilharia pesada contra Dilma tende a torná-la vítima, daqui para 31 de outubro. Outra coisa é a maré. Dos dois candidatos, é Serra quem surfa contra a onda. O resultado nacional do primeiro turno não traz nenhum grande recado de desaprovação ao governo que Dilma representa. O presidente Lula, em nenhum momento da campanha eleitoral, teve reduzidos os seus índices de aprovação - e , ao que tudo indica, mantém uma capacidade de transferência inédita na história republicana brasileira.

O outro fator que pode favorecer Dilma, nessas duas últimas semanas antes do pleito, é que a agressividade da campanha do adversário tem produzido movimentos sólidos de unidade em torno da candidatura Dilma Rousseff, por parte de uma esquerda que estava dispersa desde 2002 e que à margem da militância partidária. O PT, que passou pelo processo de institucionalização e burocratização, tem vida partidária o ano todo mas perdeu capacidade de mobilizar massas, voltou a atrair contingentes que haviam se descolado do partido. Existe um óbvio receio do discurso pré-64 que foi a tônica da campanha tucana - e a reação é a unidade em torno de Dilma.

Esse é o movimento que detecto agora. Pode ser que não aconteça nada disso - a análise política, não raro, deixa escapar movimentos subterrâneos e súbitos. Pode ser que a nova classe média, que incha o meio da pirâmide social brasileira por conta da distribuição de renda ocorrida na última década, tenha se contaminado pelo conservadorismo próprio de classe, por medo da queda social. Mas, sinceramente, acho que, assim como milhões de brasileiros superaram a linha da pobreza, moveram-se também para fora de uma rigorosa linha de preconceito. O Brasil é conservador, mas não o foi quando decidiu eleger Lula, em 2002, e reeleger Lula, em 2006. O desejo de continuidade, se prevalecer nessas eleições e eleger Dilma, não terá nada de conservador, perto do discurso assumido pelo "candidato da mudança".

Maria Inês Nassif é repórter especial de Política. Escreve às quintas-feiras

Texto visto no blog do Luís Nassif.

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Os números e o futuro

Os números e o futuro


Desde a Antiguidade, os homens voltam-se aos números para tentar desvendar o futuro. Talvez haja alguma sabedoria neste comportamento. Podemos testá-lo perguntando aos números como será o Brasil depois desta eleição presidencial.
Analisemos a hipótese do candidato oposicionista, José Serra, ganhar. Seu partido conseguiu eleger apenas 53 deputados. Os outros partidos que o apoiam (DEM, PPS, PMN e PT do B) conseguiram 62 deputados. Não se vai muito longe com uma base de 115 deputados em uma Câmara com 513 membros.
Será necessário compor com partidos que fizeram parte da coligação do governo, como PMDB, PP e PR. Partidos conhecidos pelo seu perfil radicalmente fisiológico.
Políticos costumam dizer que não fazem loteamento de cargos, que são capazes de tecer alianças programáticas com os "melhores" de cada partido. Qualquer pessoa sensata, ao contrário, sabe que partidos como estes cobrarão muito alto para dar sustentação parlamentar ao governo, já que eles sabem que a maioria governista será frágil.
Todas as vezes que uma proposta importante for votada, eles colocarão a faca contra a garganta do Executivo para exigir mais um ministério de "porteira fechada".
Ainda mais porque haverá uma forte oposição (se levarmos em conta o PT mais os partidos que giram em torno dele, como o PC do B, PSB e PDT) de 165 deputados.
A situação no Senado é mais dramática, pois o possível governo Serra teria apenas 19 de 81 senadores.
Tais números, por si só, indicariam um governo refém de negociações intermináveis.
No entanto, há ainda um dado novo. É consenso que o vencedor desta eleição ganhará por margem estreita. Isto nunca ocorreu desde a redemocratização. Ou seja, a sociedade brasileira assistiria à posse do próximo presidente dividida e (a levar em conta o nível do debate atual) profundamente acirrada.
Serra teria que fazer frente à oposição popular, vinda de quem perdeu por muito pouco, apelando sistematicamente àqueles setores que impulsionaram sua campanha na reta final -a saber, a ala mais reacionária das igrejas, o "cinturão do agronegócio" e os arautos do pensamento conservador nacional. Ou seja, um governo minoritário refém de setores obscuros do atraso para fazer frente à oposição.
Mas ainda há algo que os números não mostram. Mesmo entre seus aliados, é consenso que a personalidade de José Serra é, digamos, bonapartista. Caracterizado por ser centralizador e avesso à crítica (basta ver sua coleção de reações destemperadas a jornalistas que lhe colocam perguntas incômodas), José Serra mostrou inabilidade até para sustentar sua coligação (o PTB a abandonou por se sentir desprestigiado). Sua capacidade de negociação é limitada, vide a novela da escolha de seu vice.
Governo minoritário, sociedade acirrada, presidente bonapartista. Desde a eleição de Fernando Collor, o Brasil não conheceu uma situação com tais componentes. Para não deixar muito à mostra esta realidade problemática que os números mostram, talvez o melhor seja mesmo discutir crenças religiosas e correr atrás de mulheres que abortam.

Texto de Vladimir Safatle, na Folha de São Paulo, de 18 de outubro de 2010.

Estas colunas do Vladimir Safatle têm se mostrado fundamentais no presente contexto político brasileiro.


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Expansão da tecnologia diminui quantidade de empregos, diz economista

Profissões que não podem ser robotizadas como Jornalismo, Direito e Administração serão cada vez mais disputadas, segundo estudo.

Está difícil encontrar um emprego atualmente? A culpa é dos robôs, de acordo com uma tese do economista David Autor, da universidade norte-americana Massachusetts Institute of Technology (MIT), que analisou os efeitos dos avanços tecnológicos em relação a atividades de alta e baixa qualificação.

Segundo ele, os robôs estão substituindo os seres humanos em funções onde são exercidas tarefas repetitivas, como na área indústrial, de serviços bancários e de saúde.

Seus resultados foram discutidos no site Good Magazine. Para ele a quantidade de empregos voltados para trabalhadores instruídos e de classe média estão desaparecendo lentamente desde os anos 70. "A triste realidade ... a classe média está desaparecendo principalmente porque a tecnologia está tornando as habilidades desta classe quase que obsoletas", analisou.

o especialista ainda destacou que a tecnologia influenciará lentamente outras atividades, fazendo com que empregadores precisem cada vez menos de profissionais não qualificados ou iletrados.

No entanto, o estudo ainda apresenta algumas ressalvas. Mesmo que a tecnologia possa substituir funcionários com altos salários, as empresas ainda precisarão de pessoas bem qualificadas que saibam usar os sistemas tecnológicos implantados. Mesmo nas linhas de produção, existirá a necessidade de manter empregados que saibam consertar os equipamentos caso quebrem ou apresentem algum problema. Além disso, a tecnologia precisará ser inventada - e construída - antes de ser comercializada.

Por outro lado, existem também profissões que não podem ser robotizadas, como Jornalismo, Direito e Administração, por exemplo, o que poderia encorajar parte da população a se voltar mais para estes tipos de trabalho.

Nós poderíamos estar exagerando um pouco? Nossas casas são um excelente exemplo de como tudo não pode ser legado aos robôs. Claro, que eles podem dobrar as nossas roupas ou sincronizar produtos domésticos para facilitar o cotidiano. Entretanto, mesmo assim, eles exigem alguma intervenção do usuário e, certas tarefas, os robôs simplesmente não podem executar.

Se por um lado a tecnologia criou novos empregos, ela também afetou diversas atividades, o que não significa que ela seja a única culpada pela redução nos postos de trabalho nos Estados Unidos (EUA), por exemplo. Como diz o jornal The Economist, tais avanços talvez possam incentivar as crianças a permanecer na escola.

Seja qual for o futuro, ainda haverá espaço para seres humanos e robôs trabalharem juntos em harmonia.

(Elizabeth Fish)


Texto publicado no IDGNow!

Comentário: O otimismo dos três últimos parágrafos não me pareceu convincente.



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Temporada de dissídios 2010: A greve dos bancários acabou!

A greve acabou na semana passada, na verdade.

Apenas eu não havia conseguido atualizar este blog adequadamente.

Os bancários conseguiram ao final um reajuste de 7,5% para salários até R$ 5.250,00. Quem ganha acima deste valor receberá um reajuste de R$ 393,75, ou 4,29%, o que for maior.

A maior parte dos bancários havia retornado ao trabalho na quinta-feira passada. Os funcionários dos bancos federais encerraram a greve na sexta-feira.


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quarta-feira, outubro 20, 2010

Novos Cristãos nº 2



Novamente do Angeli, na Folha de São Paulo, de 18/10/2010.

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segunda-feira, outubro 18, 2010

A heroína corrói a Rússia

A heroína corrói a Rússia


Marie Jégo


Mais mortífera que o terrorismo, mais destrutiva que o álcool, a heroína é o flagelo número um na Rússia, país de população instável, único Estado industrial onde a expectativa de vida caiu consideravelmente nesses últimos 30 anos (60 anos para os homens). Segundo o general Viktor Ivanov, chefe do serviço de combate às drogas, todo ano 30 mil pessoas morrem vítimas do consumo de heroína, ou seja, bem mais que o saldo de mortos (13.500) da guerra afegã-soviética (1979-1989).


Embora a produção mundial de ópio tenha caído (8.890 toneladas em 2007, 7.754 toneladas em 2009), a Rússia absorve 21% da heroína produzida no Afeganistão, ou seja, 70 toneladas por ano. Vladimir Putin nomeou um de seus mais fiéis aliados – Viktor Ivanov, ex-oficial da KGB, como ele – para chefiar o combate ao narcotráfico, em vão. Os serviços competentes apreendem somente 4% das cargas transportadas para a Rússia. Impotentes, os serviços de Ivanov se limitam a constatar que 2 milhões de jovens, com idade entre 18 e 39 anos, são consumidores regulares.


Essa “geração perdida”, principal vítima da contaminação pelo vírus da Aids, pode ser vista nas grandes cidades industriais dos Montes Urais, no coração do tráfego rodoviário, ferroviário e aéreo com a Ásia Central. A droga passa pela Rússia através da fronteira com o Cazaquistão, com 7.000 quilômetros de extensão, e difícil de ser controlada.


Na Ásia Central, a antiga rota da seda funciona sem parar. Os países pobres e minados pela instabilidade e pela corrupção, tais como o Tadjiquistão e o Quirguistão, são pontos de passagem obrigatórios. Osh, a grande cidade do sul do país, palco de violentos massacres anti-uzbeques em junho, está no centro do tráfico.


Um uzbeque originário de Batken (ao sul de Osh), preferindo manter-se anônimo, conta: “Desde o fim dos anos 1990, toda minha família vive do tráfico, uma verdadeira dinastia. Meus tios, meus irmãos, meus primos ganharam uma fortuna com o dinheiro da droga”. Em um país onde o salário médio não passa de 70 euros (R$ 163), o dinheiro da droga é uma tentação fácil. Comprado a US$ 1.500 no Afeganistão, o quilo da heroína atinge US$ 6 mil quando chega à fronteira do Cazaquistão, e US$ 50 mil em Moscou.


O Quirguistão, que em vinte anos foi palco de dois massacres étnicos (Uzgen em 1990, Osh e Jalal-Abad em 2010) e de duas revoluções (deposição do presidente Askar Akayev em 2005 e de Kurmanbek Bakiyev em abril de 2010), minado pela economia pálida e dependente de ajuda internacional, é um elo importante na rota da heroína. As cargas viajam da fronteira tadjique, ao sul, até Osh. De lá, duas vias são possíveis: para o Uzbequistão a oeste ou para o Cazaquistão ao norte. Para terminar na Rússia.


A divisão das tarefas se faz de acordo com as realidades étnicas do sul quirguiz: “Os uzbeques transportam, os quirguizes dirigem”, explica nosso interlocutor. Como em todo o espaço pós-soviético, as estruturas de segurança e os governadores de região estão envolvidos: “É impossível passar qualquer coisa sem o aval das autoridades locais, que recebem até 70% das transações”. Não é de se surpreender que o sul do país tenha visto a ascensão, nesses últimos anos, de barões locais prontos a desafiar o governo central.


Durante o mandato do presidente Bakiyev (2005-2010), originário do sul, o dinheiro da droga correu abundante. Em 2008, o presidente mandou fechar, sem maiores explicações, o serviço de combate ao narcotráfico do ministério do Interior. Em 2009, aboliu a Agência de Controle de Narcóticos. Ao mesmo tempo, criou um fundo de investimentos e de inovações, pouco preocupado em relação à natureza dos fundos investidos, colocando em sua direção seu filho Maxime. O presidente Bakiyev hoje vive exilado em Minsk, mas seus partidários ainda são muito poderosos. Dizem que seu irmão Janych, que dirigia os serviços de segurança, hoje passa a maior parte de seu tempo entre o sul quirguiz e o Tadjiquistão. Prova de que os pró-Bakiyev são fortes, seu partido Ata-Jourt venceu as legislativas do dia 10 de outubro. Esses “sulistas” agora são a principal força do novo Parlamento, ponta de lança do projeto de república parlamentar lançado pela nova presidente Roza Otunbayeva.


Talvez o parlamentarismo acalme a situação no cenário político quirguiz, mas não terá efeitos sobre o tráfico. “O maior problema é a corrupção”, acredita o analista russo Alexandre Zelitchenko, citado pelo jornal “Komsomolskaia Pravda” do dia 8 de outubro. Mesmo se o Tadjiquistão, o Quirguistão e o Cazaquistão começassem a controlar melhor suas fronteiras, a corrupção dos altos funcionários e dos policiais parece invencível na Ásia Central e na Rússia.


No dia 1º de julho de 2009, dois oficiais do “Narkokontrol” russo foram encontrados mortos por overdose nos recintos do centro de combate às drogas da região oeste de Moscou. A investigação se apressou em concluir uma “intoxicação alimentar”. Seria porque uma das vítimas, Konstantin Khrustalyov, era genro do general Korzhakov, veterano da KGB e ex-guarda costas de Boris Yeltsin? Não se contam mais os casos de cumplicidade entre traficantes e os serviços de segurança. O estranho nome dado ao serviço de combate ao narcotráfico talvez tenha algo a ver com isso: “Serviço Federal para Controle do Fluxo de Drogas”. Como se o problema não fosse impedir o tráfico, e sim controlá-lo!”


Tradução: Lana Lim



Notícia do Le Monde, republicada no UOL.


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Religião pautando eleição




Jean, na Folha de São Paulo, de 15/10/2010.

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sábado, outubro 16, 2010

Novos cristãos




Angeli, na Folha de São Paulo, de 14 de outubro de 2010.

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Diálogo Chinês

Diálogo chinês

O governo chinês está dando sinais muito interessantes de que deseja um diálogo mais adequado com o setor privado externo, que o ajudou e continua a ajudar a construir sua economia.
Este sente-se permanentemente ameaçado pela intensa discriminação que sofre na competição interna promovida por empresas estatais, principalmente em relação à apropriação de suas tecnologias.
Agora mesmo, a Ford e a Toyota, que desejam participar da indústria de carros elétricos na China (que deverá ser a maior do mundo), só poderão fazê-lo se se dispuserem a ceder gratuitamente a tecnologia (baterias, controles, motores etc.) que já desenvolveram (e que custaram milhões de dólares) às três empresas estatais chinesas que serão criadas para conquistar o mundo. Quem quiser aceita. Quem não quiser não precisa entrar.
A tecnologia será contrabandeada do mesmo jeito!
No dia 22 de setembro, o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, reuniu-se no Waldorf Astoria de Nova York com uma dezena de grandes empresários americanos investidores na economia do seu país para uma conversa mediada por Henry Kissinger. O diálogo foi franco e respeitoso.
Jiabao, delicadamente, fez ouvidos de bom mercador. Ele sabe o poder que tem a potencialidade do mercado interno chinês. Todos se queixaram, mas ninguém disse que sairá.
Em outra reunião, no mesmo dia, Wen disse tranquilamente que a China não busca "intencionalmente" os enormes superávits com os EUA e acrescentou que "não existe base para uma valorização drástica do yuan". E, em tom humilde, lamentou: "Vocês não sabem quantas empresas chinesas faliriam. Haveria sérias perturbações. Apenas o primeiro-ministro chinês (ele mesmo) sente essa pressão".
O pequeno problema é o seguinte: por que tantas empresas faliriam se houvesse a valorização do yuan se elas não estivessem vivendo sob a proteção do subsídio da desvalorização intencionalmente produzida pelo próprio governo?
A China, obviamente, não é uma economia de mercado, e sua organização é sustentada por um Estado-indutor apoiado numa competente burocracia (com grau normal de corrupção). O aparelhamento desse Estado pelo Partido Comunista Chinês se fez na tradição milenar.
No século 2 antes de Cristo, um imperador criou uma universidade para cooptar funcionários por concursos públicos, criar competência profissional e promovê-los pelo mérito. Ela tem objetivos claros.
Quem quiser aceitar suas regras fica, quem não quiser vai embora! Ela tem consciência do enorme poder de atração de seu mercado interno. Quem está disposto a perder as oportunidades que ele oferece?

Texto de Antonio Delfim Netto, na Folha de São Paulo, de 13 de outubro de 2010.


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quinta-feira, outubro 14, 2010

OLP pede a EUA mapa com fronteira israelense futura

OLP pede a EUA mapa com fronteira israelense futura


Por Tom Perry

RAMALLAH, Cisjordânia (Reuters) - Os palestinos querem dos Estados Unidos um mapa que indique o traçado final que Israel pretende para suas fronteiras e que deixe claro se esse traçado abrange terras e casas palestinas, disse um funcionário palestino nesta quarta-feira.

Yasser Abed Rabbo, da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), respondeu a um chamado dos EUA para que os palestinos apresentem suas propostas, em resposta à proposta israelense de que eles reconheçam Israel como Estado judaico em troca de restrições às construções nos assentamentos. Os palestinos se opõem há muito tempo a dar uma declaração de reconhecimento de Israel.

"O que é necessário da parte da administração americana e de Israel é que eles nos apresentem um mapa do Estado de Israel que querem que reconheçamos", disse Abed Rabbo à Reuters.

"Esse é o mapa das fronteiras de 1967, ou ele abrange terras palestinas e as casas em que vivemos?", ele perguntou, aludindo ao ano em que Israel capturou Jerusalém Oriental, a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, na Guerra dos Seis Dias.

A questão dos assentamentos vem sendo um obstáculo grande às negociações de paz mediadas pelos EUA, que começaram em 2 de setembro. Em visita a Kosovo, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, falou em tom de otimismo.

"Pessoalmente, estou convencida de que os dois líderes, o primeiro-ministro (Benjamin) Netanyahu (israelense) e o presidente (Mahmoud) Abbas (palestino), enxergam como sendo do interesse respectivo de cada um retornar às negociações diretas e seguir adiante com elas", disse Hillary.

Os palestinos dizem que não vão retomar as negociações mediadas pelos EUA enquanto Israel não suspender a construção de assentamentos em territórios ocupados nos quais eles visam fundar seu Estado. Um congelamento declarado por Israel da construção de casas na Cisjordânia ocupada chegou ao fim em 26 de setembro.

Netanyahu disse na segunda-feira que estaria disposto a pedir a seu gabinete a decretação de novo congelamento, se os palestinos reconhecessem Israel como Estado judaico.

Ele afirmou que isso seria "um passo construtor de confiança" enquanto alguns comentaristas palestinos e israelenses questionaram se a proposta não seria apenas uma artimanha para tentar atribuir aos palestinos a culpa por um possível colapso do processo de paz.

Os palestinos descartaram a ideia, que eles enxergam como uma grande concessão que equivaleria ao suicídio político de uma liderança cuja credibilidade já foi fortemente prejudicada pelo fracasso de negociações de paz anteriores.

Hillary disse a repórteres que "os dois lados estão testando várias abordagens diferentes, ofertas e pedidos de um lado a outro".

O pedido de mapa formulado por Abed Rabbo ecoa o chamado de Abbas por termos claros de referência nas negociações de paz.

(Reportagem adicional de Ali Sawafta)


Notícia da Reuters.

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quarta-feira, outubro 13, 2010

Temporada de dissídios 2010: a greve dos bancários se encaminha para seu final

Com a proposta de reajuste por parte da Federação dos Bancos, de 7,5% para os salários até R$ 5.250,00 , e 4,29% ou R$ 393,75 para salários acima disso, a tendência é o final da greve dos bancários, que já durava mais de duas semanas.

A Federação dos Bancários indicou que a categoria aceitasse a proposta, e nesta manhã de quarta-feira (13 de outubro), os funcionários dos bancos privados já haviam aprovado o retorno ao trabalho. Os funcionários de bancos públicos tinham assembleias para o final da tarde desta quarta.

A proposta de 7,5% é menor que os 11% desejados inicialmente pelos bancários, mas acima dos 4,29% que apenas repunham a inflação anual. Segundo boletim dos bancários de Porto Alegre, este índice significa um aumento real de 3,08% .


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quarta-feira, outubro 06, 2010

Temporada de dissídios 2010: Continua a greve dos bancários (II)

A greve dos bancários completou 7 dias nesta quarta-feira, dia 6.

Dirigentes sindicais do sindicato dos bancários de Porto Alegre informaram ontem que a greve continua crescendo. Embora seja difícil para um dirigente sindical dizer que a greve esteja perdendo força, a percepção é que a greve esteja mesmo crescendo. O saite do jornal Correio do Povo fala em 679 agências paralisadas no Rio Grande do Sul, o que equivaleria a 43 % do total de agências no estado. Talvez os bancários estejam se posicionando diante da falta de nova proposta por parte da Federação dos Bancos, que até agora ofereceram um reajuste de 4,29%.

Hoje houve uma manifestação em frente à sede do Banco do Estado do Rio Grande do Sul. Os manifestantes inclusive fecharam a Rua Caldas Júnior, no trecho entre a Rua Sete de Setembro e Siqueira Campos.


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Temporada de Dissídios 2010: metalúrgicos de Gravataí param

A notícia saiu no saite do Correio do Povo.

Funcionários da metalúrgica Dana Albarus de Gravataí estariam paralisados, apesar de terem recebido um reajuste de 7%, acima da inflação dos últimos 12 meses portanto.

O problema foi que os colegas metalúrgicos da mesma empresa, no estado de São Paulo, receberam 9% de reajuste. Os funcionários de Gravataí querem isonomia.


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terça-feira, outubro 05, 2010

Nobel da Paz é expulsa de Israel

Israel expulsa Nobel da Paz irlandesa
05 de outubro de 2010 • 10h00

A irlandesa (ao centro) estava em barco interceptado em junho

A ganhadora do prêmio Nobel da Paz Mairead Corrigan Maguire, de 66 anos, foi expulsa na manhã desta terça feira de Israel, depois de ficar uma semana detida no aeroporto internacional do país.

Maguire, que ganhou o prêmio Nobel da Paz em 1976 por seus esforços pela paz na Irlanda, chegou em Israel no dia 28 de setembro mas teve sua entrada no país negada pelas autoridades no aeroporto.

Ela afirmou que fazia parte de uma delegação de mulheres pacifistas e que iria se encontrar com mulheres israelenses e palestinas que trabalham pela paz no Oriente Médio. A ativista irlandesa se negou a deixar o país e dirigiu um apelo à Suprema Corte de Justiça de Israel para que permitisse sua entrada.

Na segunda-feira, a Suprema Corte rejeitou o apelo de Maguire, afirmando que "ela sabia que não poderia entrar em Israel e que sua chegada não foi feita de boa fé".

De acordo com porta-vozes oficiais de Israel, a razão para o impedimento da entrada de Maguire foi sua participação, em junho, no ato de protesto contra o bloqueio israelense à Faixa de Gaza do barco Rachel Corrie.

O barco foi interceptado pela Marinha israelense e Maguire, que estava a bordo, foi presa e deportada.

Segundo as autoridades israelenses, no momento daquela deportação a ativista havia sido informada de que entradas futuras em Israel estariam proibidas.

Maguire afirma que, depois de ser presa no barco de ajuda humanitária para a Faixa de Gaza, as autoridades israelenses lhe disseram que seria "repatriada", mas não proibiram suas entradas futuras no país.

Vozes contra e a favor

Outra ganhadora do Nobel da Paz, Jody Williams, que também participa da delegação de mulheres, protestou contra a decisão da Suprema Corte israelense.

"O que mais me surpreende é que as autoridades israelenses estão questionando a integridade pessoal de Maguire", afirmou Williams, em um comunicado divulgado para a imprensa.

"A vida dela é dedicada à defesa de principios morais profundos e, de fato, ela veio a Israel para ouvir mulheres que trabalham pela paz por meios não violentos", acrescentou.

"Maguire não constitui um risco para a segurança de Israel. Ela veio para apoiar pessoas dos dois lados do conflito", disse Williams.

O colunista do jornal Haaretz Gideon Levy protestou contra a maneira como a prêmio Nobel da Paz foi tratada pelas autoridades israelenses.

"Esse é o verdadeiro retrato de Israel hoje em dia... é assim que tratamos aqueles que defendem a não violência", afirmou Levy.

Já o jornalista Ben Dror Yemini, do jornal Maariv, apoiou a expulsão de Maguire.

Em um artigo divulgado pelo departamento de imprensa do governo israelense, Yemini afirmou que Maguire estava a bordo de "barcos de ódio para apoiar o Hamas, com um disfarce de ativista pacifista".

Yemini acusou a Nobel da Paz de fazer parte de um "rebanho de antissemitas que se disfarçam de antissionistas e têm a obsessão de demonizar e deslegitimar Israel".

Não é a primeira vez que as autoridades israelenses expulsam estrangeiros que criticam a atitude de Israel em relação aos palestinos.

Em maio deste ano, o linguista de renome internacional Noam Chomsky foi expulso quando tentou entrar na Cisjordânia para fazer uma palestra na universidade palestina de Bir Zeit.


Notícia vista no blog do Luís Nassif.

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