terça-feira, novembro 30, 2010

Capitalismo ou crueldade?

Capitalismo ou crueldade?

LONDRES - A crise irlandesa, talvez mais que qualquer outra, é uma contundente demonstração de que há algo de profundamente errado no capitalismo de predominância financeira.
 
A Irlanda cresceu uma barbaridade de 1995 a 2007 (6% ao ano na média). Cresceu em boa medida ao amparo de um "boom" imobiliário. Aí veio a crise de 2008 e seus bancos quebraram, todos. Haviam financiado descuidadamente construtoras e compradores.
 
Consequência, para resumir a história: o governo estatizou os prejuízos da banca, mas manteve privados os lucros, o que é, de resto, história recorrente na crise de 2008. Contando todos os tipos de ajuda, inclusive as europeias, formaram uma colossal pilha de 286 bilhões (R$ 672 bilhões), uns 170% do PIB irlandês.
 
Cada cidadão doou aos bancos, involuntariamente, 63 mil. Uma barbaridade.
 
Claro que as contas públicas -déficit e dívida- estouraram sem contemplação. O déficit só das operações normais do governo já é brutal (12% do PIB). Contando a ajuda à banca, vai a incríveis 32%.
Agora vem a cobrança. Os próprios mercados que financiaram a farra elevam brutalmente o juro que exigem para rolar os títulos da dívida, ameaçam quebrar o país e, por extensão, danificar seriamente (ou fatalmente) o euro, a segunda moeda de reserva do planeta.
 
Os engenheiros de obra feita ainda ficam dizendo que os irlandeses é que são culpados, porque consumiram demais. É verdade, mas o capitalismo não é, essencialmente, consumo? Toda a propaganda, no mundo inteiro, pede, exige, insinua que bom sujeito não é quem não consome. Para consumir, é preciso renda e crédito, mais crédito que renda.
 
Os irlandeses foram, portanto, capitalistas até o mais fundo d'alma. Agora, o capitalismo ameaça devorar o bom aluno. Cruel.



Marcadores: , , ,

Web ultrapassa jornal, revista e rádio como fonte de informação nas eleições 2010

A internet foi um dos principais meios usados pelos eleitores brasileiros para se informar sobre política durante a campanha eleitoral deste ano. De acordo com uma pesquisa do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a web, citada por 9,9% dos respondentes, perdeu apenas para TV (56,6%) e conversa com amigos e parentes (18,4%).

O jornal impresso aparece em quarto lugar, com 6,4%, rádio (4,2%), revista (0,7%), cartazes em pontos de ônibus (0,6%) e totens digitais nos aeroportos (0,3%).

Com a campanha regulamentada na internet, o movimento na web foi intenso e coordenadores das campanhas digitais reconheceram o papel da internet nos resultados. O jornalista Caio Tulio Costa, que dirigiu a campanha online da senadora Marina Silva (PV), então candidata à presidência da República, chegou a afirmar que a web foi responsável pelo segundo turno entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB).

Segundo turno muda de figura
Para o segundo turno, 44,2% dos eleitores responderam que já estavam decididos sobre seus candidatos. Apenas 18,8% usaram os debates na TV e rádio para ajudar na decisão do voto; 15,5% os programas dos candidatos na TV; 6,2% opinião de amigos, colegas de trabalho e parentes; 4,4% programa dos candidatos no rádio; 3% noticiário de emissoras de televisão e rádio; 1,7% leitura de jornais e revistas; 1,7% internet; e 1% comentário de jornalistas/comentaristas, articulistas.

TV
A TV, que aparece em primeiro lugar, os entrevistados destacaram a Globo como a mais assistida, com 79,6%, seguida pela Record (60,4%), SBT (37,8%), Bandeirantes (25,6%), Rede Vida (12,3%), TV Cultura (10,4%), Gazeta (8,2%) e TV Educativa (7%).

A pesquisa do TSE foi realizada com duas mil pessoas em 24 Estados nas cinco regiões do País, entre os dias 3 e 7/11. A margem de erro de 2,2% para mais ou para menos.


Notícia do Comunique-se

Marcadores: , , , ,

segunda-feira, novembro 29, 2010

Reino Unido pagará indenizações a prisioneiros de Guantánamo


Londres indenizará presos de Guantánamo
Acordo é com 16 ex-detentos que processam o Estado por sessões de tortura que afirmam ter sofrido na prisão

As cifras a serem pagas não foram informadas, mas especula-se que sejam cerca de R$ 2,7 milhões para cada um 

VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES
O governo do Reino Unido fechou um acordo e irá indenizar 16 ex-prisioneiros de Guantánamo. Eles processam o Estado britânico por participação ou cumplicidade nas sessões de tortura que afirmam ter sofrido na prisão, que é controlada pelos Estados Unidos.
Todos foram detidos por agentes britânicos após o 11 de Setembro, sob acusação de terem ligações com redes terroristas.
Segundo o governo, foi melhor fazer um acordo agora que enfrentar um processo demorado que poderia ser ainda mais custoso para os cofres públicos.
Além disso, a ação judicial iria tornar públicos métodos utilizados pelos serviços de inteligência e ocupar pessoal envolvido na segurança nacional, afirmou o ministro da Justiça, Ken Clarke.
Segundo ele, havia o risco de colocar em xeque a reputação dos britânicos como um povo que defende os direitos humanos.
Não foram fornecidos detalhes sobre os valores das indenizações.
Segundo o ministro, foi firmado um acordo de confidencialidade entre as partes que proíbe a revelação das cifras. Especula-se que cada um possa receber mais de 1 milhão de libras (cerca de R$ 2,7 milhões).
Os ex-detentos afirmam que foram presos com falsas acusações e que eram submetidos a privação de sono, excesso de barulho e de frio, que ficavam pendurados e que sofriam ameaças de que seriam mortos durante os interrogatórios.
O governo diz que o acordo não significa uma admissão de culpa.
Um inquérito independente será aberto para investigar se britânicos tomaram parte nas sessões de tortura ou se foram cúmplices. Os trabalhos começam no fim deste ano e devem ser concluídos em um ano.
A diferença é que neste inquérito os papéis serão analisados e as pessoas ouvidas a portas fechadas, sem acesso do público ou da mídia.
O acordo de indenização pode servir de precedente, uma vez que há mais processos de pessoas que acusam membros dos serviços de inteligência do Reino Unido por prisões ilegais e práticas de tortura durante interrogatórios em países como Paquistão, Afeganistão, Etiópia, Síria, Egito e Bangladesh.

GOVERNO PASSADO
A negociação para as indenizações começou em julho, quando a Justiça britânica mandou que fossem analisados 500 mil documentos secretos sobre as prisões.
Na época, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, disse que era o momento de resolver essa questão de uma vez.
Era uma referência a acusações de cumplicidade com a tortura feitas contra o governo britânico durante a administração do Partido Trabalhista, que já estava no poder em 2001 e continuou até maio deste ano.
Alguns documentos que vazaram indicam que o ex-premiê Tony Blair e o ex-ministro das Relações Exteriores Jack Straw tinham conhecimento de prisões ilegais e das torturas.
Segundo os mesmos documentos, eles teriam também participado das decisões para a entrega de alguns prisioneiros para os soldados americanos. Os dois negam.

FECHAMENTO
A prisão de Guantánamo virou um pesadelo para os governos britânico e norte-americano devido às acusações de tortura e à prisão de inocentes.
O presidente dos EUA, Barack Obama, chegou a anunciar que fecharia a prisão um ano após sua posse. Mas ainda não cumpriu a promessa. Continuam lá 174 detentos.


Marcadores: , , , ,

Contra a tortura


Contra a tortura

LONDRES -QUEM está cansado de Londres está cansado da vida. Obrigado, Dr. Johnson. Acordo num domingo perfeito -cinzento, frio, chuvoso-, no quarto de sempre do meu amado e velhinho Dukes. Ao longe, escuto nove badaladas no Big Ben. E, antes de me lançar selvaticamente ao café da manhã que promete estourar com o meu colesterol, passo os olhos pelo "Telegraph". Para ler Janet Daley, um das minhas prosadoras favoritas.
O assunto de hoje é sério: tortura. Conta Daley que o premiê britânico, David Cameron, criticou George Bush sobre o assunto. Parece que Bush, com a sutileza que todos lhe reconhecemos, defendeu o uso de certas "técnicas coercivas" para combater o terrorismo e extrair informações de prisioneiros. Como o "waterboarding", uma forma de encharcar o suspeito, simulando afogamento. Disse Bush que técnicas como essa impediram vários ataques em solo britânico.
Cameron não comprou a ideia. Disse que era impossível provar tal coisa. E depois avançou com duas proposições de peso. Primeiro: a tortura é moralmente errada. E, depois: é inútil: nunca fornece informação relevante ou decisiva.
Janet Daley acerta em cheio ao apontar a natureza contraditória das afirmações de David Cameron. Porque, se a tortura é moralmente errada, não vale a pena acrescentar a sua presumida inutilidade. "É pior que um crime; é um erro", dizia o cínico e realista Talleyrand (1754-1838). Será Cameron um cínico igual? Duvidoso. Melhor ficar pelo imperativo moral. O imperativo moral chega.
O problema é que os imperativos morais nunca chegam, escreve Daley. E raramente sobrevivem à realidade. Mentir é errado? Certo. Mas quem não mentiria para salvar a pessoa que ama? "Entre a justiça ou a minha mãe, escolho a minha mãe", dizia Albert Camus (1913-1960). Eu também. E que me perdoe o sr. Immanuel Kant (1724-1804).
Mas existem princípios morais e princípios morais. "Mentir" e "torturar" não habitam a mesma categoria -e aqui afasto-me de Daley, que recorre ao dilema clássico sobre a necessidade da tortura na proteção das liberdades e vidas humanas.
Imagine o leitor: o suspeito tem informação relevante sobre a bomba; a bomba irá provocar incontáveis mortes; devemos torturá-lo de forma a extrair informação que salvará todas essas vidas?
Melhor ainda: se a tortura é um atentado aos direitos humanos, que dizer dos direitos humanos de todas as vítimas que o poder político foi incapaz de proteger, torturando um só suspeito?
Entendo o dilema. Acontece que o dilema não é propriamente um dilema, é uma armadilha. Toda a formulação está já construída para uma resposta positiva. Se o suspeito sabe; se o suspeito se prepara para matar; se a confissão do suspeito pode impedir o massacre de inocentes, então será mais fácil tolerar um aperto aqui, uns choques acolá, uma simulação de afogamento a seguir. Tudo em nome do bem comum.
Infelizmente, uma armadilha não nos leva longe. Um suspeito não passa disso: um suspeito. Jamais saberemos, com rigor e certeza inabaláveis, se temos na nossa frente a chave da ameaça. Podemos ter um cúmplice -ou não. Podemos ter um inocente -ou não. Existe uma diferença moralmente decisiva entre o que julgamos poder saber -e o que saberemos depois do serviço feito.
Bem sei que, em todos os países do mundo, e em particular nos países ocidentais, a tortura policial continua a ser praticada portas adentro. E seria ingenuidade acreditar que lições de ética seriam capazes de alterar essa aberração.
Mas não custa tentar: a civilização em que vivemos só foi possível pela renúncia a certas leis da selva. A lei de sermos juízes em causa própria. A lei de dominarmos os fracos pela força. A lei de nos apropriarmos indevidamente dos bens de outro. Mas também a lei de o torturarmos para cumprir um qualquer desígnio pessoal ou tribal.
Sim, sou capaz de mentir para defender minha mãe. Mas não torturo para protegê-la, desde logo porque nunca saberei se a estarei protegendo ou só mutilando um inocente.
Há riscos nessa espécie de absolutismo moral, eu sei. Às vezes, podemos estar errados. Às vezes, o preço a pagar é trágico. Às vezes, o suspeito era realmente cúmplice. Mas quem disse que viver em sociedades civilizadas era fácil?
Não é, leitor. Fácil é viver na selva e seguir os instintos dos animais.


Marcadores: , ,

quinta-feira, novembro 25, 2010

Amarrem os cintos!

Amarrem os cintos!

O encontro do G20 em Seul, na Coreia do Sul, foi uma reunião lítero-musical de qualidade duvidosa. O seu resultado, pífio. A "solução prática" foi a cínica entrega da questão aos cuidados do FMI.
No ano que vem, ele deve apresentar um programa factível que distribua equanimente os custos do ajuste. Em poucas palavras e sem nhe-nhe-nhem: cada um que volte para casa, trate de cuidar dos seus interesses e ponha as barbas de molho.
Há uma grande dificuldade em dar peso adequado ao problema dos EUA e às malfeitorias da China, o que provoca ataques cruzados.
Os EUA meteram-se numa grave crise e, desde 2007, destruíram 10 milhões de empregos. Para retornar à taxa de desemprego aceitável de 5%, precisam reconstruí-los. Devido ao crescimento da população, para manter apenas o inaceitável nível atual de desemprego, de 9,6%, precisam criar 1,5 milhão de empregos por ano, ou seja, 125 mil por mês.
Mesmo que haja uma rápida recuperação e a economia possa absorver 600 mil empregos por mês (que é o dobro da média dos anos 90!), serão precisos dois anos antes que se volte ao nível de 2007.
Não se trata de um problema de liquidez, mas de confiança: as empresas não financeiras têm em caixa US$ 3 trilhões e não investem a não ser em tecnologias poupadoras de mão de obra. As instituições financeiras têm excesso de reserva de US$ 1 trilhão e não emprestam porque não há tomadores (o nível de endividamento das famílias é da ordem de 100% do PIB).
O único tomador de recursos é o próprio Tesouro dos EUA, cujo endividamento só poderá ser sustentado com a volta ao crescimento, que, por sua vez, depende do investimento do setor privado e do consumo das famílias.
Os EUA pagam agora o preço de sua miopia. Aumentaram o emprego nas finanças e na habitação enquanto transferiam alegremente (graças à valorização do dólar) para a China suas fábricas e seus empregos industriais e para a Índia os do setor de serviços.
Com a explosão das duas "bolhas", no setor financeiro e no imobiliário, o emprego no primeiro talvez nunca se recupere, e o do segundo demorará muito tempo. Uma coisa é certa. Se a demanda interna nos EUA não se recuperou, porque o governo foi incapaz de restabelecer a confiança no circuito econômico interno, só lhe resta a saída das exportações e a substituição do petróleo importado por biocombustíveis. Ele vai persegui-la com a desvalorização do dólar.
Devemos "amarrar os cintos" e aguentar a competição que vem por aí! Parece que com a taxa de câmbio de R$ 1,60 já podemos importar o etanol de milho dos EUA...

Coluna de Antônio Delfim Netto, na Folha de São Paulo, de 17 de novembro de 2010.


Marcadores: , , , ,

sábado, novembro 20, 2010

A Irlanda como exemplo

A Irlanda como exemplo

Por Juan Torres López

Durante vários anos, o “modelo” irlandês esteve na moda e foi recomendado com insistência aos demais países: uma política de impostos reduzidos sobre o capital (quase a metade da média europeia), a ampla liberalização da atividade econômica e as privatizações, a contenção salarial e a grande liberdade de ação dos capitais eram considerados a chave de seu sucesso e constituíam a receita que qualquer outro país deveria adotar caso quisesse se tornar tão próspero e dinâmico quanto o então "tigre celta". Claro que estávamos a falar de um êxito cuja única medida era o crescimento vertiginoso do PIB, e não na diminuição das desigualdades ou no desnível entre os padrões de bem-estar do país com relação à média europeia.

Os governos conservadores facilitavam a atividade dos bancos que se dispunham a criar dívida e a financiar a atividade especulativa desenfreada, sem que a aqueles ou a estes preocupasse a geração de bolhas imobiliárias ou a rarefeita base real do crescimento que se sucedia.

Na verdade, a Irlanda não fazia nada além de aplicar, como um bom aluno, as políticas de ajuste estrutural que o FMI vem propondo, há muitos anos, para favorecer o crescimento dos rendimentos do capital. Por isso, o Fundo aplaudia o que ali se executava, afirmando que a política econômica da Irlanda oferecia lições úteis a outros países (FMI. IMF Concludes 2004 Article IV Consultation with Ireland: http://bit.ly/aiaxUw).

Como muitos de nós, economistas críticos, vimos afirmando, estas políticas neoliberais estão na raiz da última crise e também por isso não foi por acaso que o aluno europeu que as aplicou mais fielmente tenha sido precisamente o primeiro a entrar em recessão em 2008, quando se desencadeou a crise das hipotecas-lixo.

Também não é por acaso que o país que tenha primeiramente lançado mão de planos de austeridade como resposta à crise seja novamente vergastado por ela neste momento.

Na verdade, a Irlanda é, nos dias que correm, uma espécie de laboratório que permite comprovar o efeito das políticas neoliberais de austeridade impostas pelo fundamentalismo dominante há anos na Europa.

Embora poucos agora se recordem, a Irlanda aprovou, antes de todos os demais, um grande pacote de austeridade e contenção de despesas: reduziu em 20% os vencimentos dos funcionários públicos e em 10% os benefícios sociais, além de efetuar cortes em diversos programas de gastos públicos e sociais. Enquanto isso colocou à disposição de bancos quebrados dezenas de bilhões de euros que jogaram às nuvens o déficit e a dívida do Estado.

Ao tomar estas medidas, a Irlanda foi novamente citada como um exemplo a ser seguido por outros países. Os meios de comunicação neoliberais, a Comissão Europeia e – claro – o FMI aplaudiram sua política de austeridade e contenção de gastos frente à crise.

Este último organismo, gabando-se de sua forma desavergonhada de fazer prognósticos econômicos, afirmou, para poder aplaudir as medidas adotadas como se tivessem fundamento, que graças a estas a economia irlandesa cresceria cerca de 1% em 2009.

Sem embargo, seu efeito real foi diverso, como os economistas críticos previam que iria ocorrer, tanto ali como em outros países onde aquelas políticas fossem aplicadas: em 2009, o PIB irlandês, em vez de crescer, baixou 11%.

Com essa queda estrepitosa, uma redução de 30% nos níveis de investimento e de mais de 7% no consumo, a economia não foi capaz de gerar recursos suficientes; tornou-se mais difícil fazer frente à dívida e esta seguiu crescendo, o que fez, ainda por cima, com que os mercados a punissem, elevando seus custos de refinanciamento.

Mais ainda: por deixar de levar a cabo uma verdadeira reforma financeira, a situação patrimonial dos bancos continuou se agravando e agora é necessária uma nova e generosa dose de injeção de liquidez para reerguê-los: uns 50 bilhões de euros, só para eles.

Ao cabo de todos estes acontecimentos, a Comissão Europeia e o FMI não deram o mais remoto sinal de autocrítica: depois de afirmar que aquilo que a Irlanda fazia era exemplar, nada têm a dizer quando o seu “modelo” voa pelos ares, como era inevitável suceder em consequência de tais políticas. Em vez disso, limitam-se a pressionar o país para que se ponha a seus pés e a informar previamente quem pagará a conta: “A UE exigirá à Irlanda a elevação de impostos para que o resgate seja pago”, anunciam hoje os meios de comunicação europeus.

A Irlanda é, efetivamente, um bom exemplo. Daquilo a que conduzem as políticas neoliberais antes da crise, e para onde levam o país agora, quando são novamente impostas sob a forma de austeridade orçamentária, de um lado, e do outro, de plena liberdade e apoio aos bancos para que continuem a agir como bem entendem.

O autor é professor titular de Economia Aplicada da Universidade de Sevilha: www.juantorreslopez.com


Texto visto no blog do Luís Nassif.

Marcadores: , , ,

Mães da Praça de Maio marcharam pela 1.700ª vez por seus filhos desaparecidos



As Mães da Praça de Maio realizaram nesta quinta-feira (18/11) a 1700ª marcha em protesto por seus filhos desaparecidos durante a ditadura militar argentina (1976-1983), como fazem todas as semanas, desde o auge da repressão até o período democrático.

Pontualmente, às três e meia da tarde, ali estavam elas, persistentes e a postos, levando a mensagem “aparição com vida dos desaparecidos” bordada nos panos brancos que sempre amarram na cabeça e cobrem os cabelos da mesma cor, para iniciar a volta na pirâmide localizada no centro da praça, em frente à sede do governo.

A marcha foi acompanhada por um grupo de admiradores que todas as quintas-feiras protestam com elas, carregando bandeiras e gritando “presente!” a cada vez que um nome é lido pela narração que acompanha o protesto e lembra um por um dos filhos que sofreram a “desaparição forçada”.

“Chegamos aqui pela primeira vez desesperadas pelos nossos filhos. Não sabíamos que passariam tantos anos, achávamos que conseguiríamos encontrá-los”, afirmou Hebe de Bonafini, presidente da Associação Mães da Praça de Maio, em referência ao dia 30 de abril de 1977, quando fizeram seu primeiro protesto. Como os militares tentavam reprimir a manifestação pedindo que circulassem, as Mães começaram a tradição de caminhar dando voltas na praça, com cartazes que pediam a aparição com vida dos presos desaparecidos.

“Quem poderia acreditar naquele grupinho de loucas que enfrentou a ditadura? Nunca uma organização, em todo o mundo, marchou 1.700 quintas-feiras sem deixar de ir a nenhuma”, registra a associação em seu site oficial. Ao fim de cada protesto, gritavam as consignas: “Com vida os levaram, com vida os amamos” e “Aparição com vida”.

Hebe confessou em um discurso feito após a marcha que a idade já pesa para ela e suas companheiras: “Acordamos de manhã cheias de dor, doem nossas pernas, os olhos, o joelhos, o rim, o coração, tudo.” O avanço dos anos, no entanto, não foi suficiente para diminuir a persistência de suas reivindicações: “Mas mesmo assim, quando se aproxima das três da tarde, vamos correndo pra frente do espelho para colocar o pano na cabeça e quando chegamos na praça já não sentimos dor nenhuma. Por isso eu digo que nossa saúde mental está aqui, na luta”, garantiu Bonafini.

Protesto político

Na marcha 1.700, a faixa carregada pelas mães dizia “Apoiamos o projeto nacional e popular”. A nova mensagem passou a incorporar a marcha após a morte do ex-presidente Néstor Kirchner, refletindo o alinhamento da associação com o governo liderado por Cristina e da participação das mães na política do país, que ganhou ainda mais força com o início do mandato do Kirchner.

Com o passar dos anos e a diminuição da possibilidade de que seus filhos fossem encontrados com vida, os protestos das Mães da Praça de Maio ganharam cada vez mais caráter político. Algumas das faixas levadas à frente das marchas nos últimos anos traziam mensagens como: “Lutemos contra a riqueza da oligarquia terra tenente”, “Trabalhemos pela reforma agrária”, “Viver combatendo a injustiça” e “Distribuição da riqueza já”.

Foi devido a esta inclinação a reivindicar mais que o aparecimento dos filhos que divergências ideológicas internas começaram a surgir. Finalmente, em 1986, o grupo se dividiu em duas correntes: a Associação das Mães da Praça de Maio e a Associação das Mães da Praça de Maio – Linha Fundadora. A primeira conta atualmente com subsídio do governo e possui cerca de 200 integrantes em todo o país. A segunda, que reúne a maior parte das mães que originaram esta tradição, se declaram “independentes”, e conta com aproximadamente 100 membros.

Nas quintas-feiras, assim como se repetiu na marcha 1.700, as mães da linha fundadora não deram voltas ao lado do grupo de Bonafini, mas do lado oposto e em um número reduzido. Apesar das diferenças, estas cerca de 300 mães dedicaram a vida a um objetivo comum: encontrar seus filhos desaparecidos e exigir justiça. “Um caminho foi marcado por estas mães que estão aqui hoje: não faltar nas quintas-feiras”, declarou Bonafini.

Ao final de seu discurso, a presidente da associação majoritária lembrou que as cinzas das Mães da Praça de Maio que morreram estão espalhadas pela praça. “Pedimos que fizessem isso com todas, porque vamos estar aqui sempre. Quando nossas companheiras vão morrendo, sentimos que estão aqui e que marcham apertadas com nossa faixa, assim como sentimos com nossos filhos, que estão nos apoiando”, afirmou.


Notícia do Opera Mundi. Foto de Luciana Taddeo, vista no Opera Mundi.

Marcadores: ,

quinta-feira, novembro 18, 2010

Israel detém vice-presidente do Parlamento palestino

As forças de segurança israelenses detiveram, na manhã desta quarta-feira, Mahmoud Al Ramahi, deputado do grupo islâmico Hamas e vice-presidente do Conselho Legislativo Palestino.

Ramahi foi detido em uma operação em Ramallah, na Cisjordânia. Segundo um comunicado dos militares, ele foi detido por envolvimento em "atividade do Hamas", sem maiores detalhes. Israel considera o Hamas uma organização terrorista.

O deputado fora libertado em março de 2009, após 32 meses. Ele foi preso junto a dezenas de membros do movimento islamita, em ação israelense após a captura, em junho de 2006, do soldado israelense Gilad Shalit, que ainda permanece sob poder de milícias na faixa de Gaza.

O deputado Ahmed Bahar, vice-presidente do Parlamento em Gaza, classificou a prisão de "parte de uma guerra ampla e sistemática contra nossa nação". O Hamas classificou a detenção do deputado como um "novo crime israelense" e afirmou que a medida não levará a concessões no caso Shalit. O Hamas exige a libertação de mil presos palestinos em troca do soldado.

A mulher de Ramahi confirmou a prisão e disse que alguns dos militares tinham o rosto coberto por máscaras.


Notícia da Folha.com .

Marcadores: , , , ,

sábado, novembro 13, 2010

Un inocente fue ejecutado por la justicia de Texas cuando Bush era gobernador

Un inocente fue ejecutado por la justicia de Texas cuando Bush era gobernador


Pruebas de ADN revelaron que los cabellos encontrados en la escena del crimen, única prueba contra el inculpado, no eran suyos.


La justicia de Texas ejecutó a un reo inocente en el año 2000, confirmaron estudios de ADN, los cuales revelaron que los cabellos utilizados como prueba definitiva para inculpar al acusado no eran suyos.

Los resultados de los exámenes desacreditan las pruebas que condujeron a la ejecución de Claude Jones en diciembre de 2000, y plantean el hecho de que Texas aplicó la pena de muerte a un hombre inocente.

El bisemanario 'Texas Observer' dio a conocer este jueves los resultados de los exámenes de ADN, efectuados luego de que la publicación -junto con abogados del Proyecto Inocencia (orientado a combatir errores en la aplicación de justicia)- ganara una batalla legal para realizar los análisis.

Jones, de 60 años, recibió la inyección letal en diciembre de 2000 por el supuesto robo y homicidio, en 1989, de Allen Hilzendager, el propietario de una licorería ubicada a un lado de una importante carretera en el Condado de San Jacinto, en el este de la entidad.

Un puñado de cabellos recogidos en el mostrador de la tienda fue la única evidencia utilizada por las autoridades de dicho condado para sostener que Jones estuvo en el lugar del crimen y ligarlo con el homicidio.

Los exámenes de ADN no habían sido desarrollados aún en 1989 cuando Jones fue procesado y sentenciado.

En el juicio en su contra, un especialista testificó que bajo examen de microscopio el cabello “sería similar” al de Jones, pero indicó que otras personas podrían tener cabello con las mismas características.

El 6 de diciembre de 2000, un día antes de su ejecución, Jones pidió a través de sus abogados posponer la aplicación de la sentencia, de forma que el puñado de cabello pudiera ser sometido a exámenes de ADN.

La petición de Jones fue negada por el entonces gobernador de Texas, George W. Bush.

Este año, una década después de la ejecución, el 'Texas Observer' junto con abogados del Proyecto Inocencia inició una batalla legal para obligar a las autoridades del Condado de San Jacinto a entregar la evidencia de cabello, a fin de someterla a exámenes de ADN.

En junio pasado, un juez estatal ordenó a la oficina del procurador del Condado de San Jacinto entregar un fragmento de cabello recuperado en el lugar del crimen para que pudieran realizarse los exámenes.

Los exámenes de ADN, realizados por el laboratorio privado Mitotyping Technologies en Pensylvania, revelaron que el cabello pertenecía a la víctima del crimen, Allen Hilzendager, el propietario de la licorería.

“Los resultados de ADN demuestran que el testimonio acerca de la muestra de pelo en la que se basó todo este caso estaba mal”, dijo en un comunicado Barry Scheck, cofundador del Proyecto Inocencia.

“Una ciencia forense no confiable y un revisión totalmente insuficiente después de la condena, costó a Claude Jones su vida”, dijo Scheck.

“Si las pruebas de ADN se hubieran llevado a cabo antes de su ejecución, Jones todavía podría estar vivo hoy”, indicó.

Los exámenes de ADN han permitido dejar en libertad a unos 20 reos sentenciados a la pena de muerte en todo Estados Unidos antes de ser ejecutados, pero hasta ahora no se ha demostrado por este método la inocencia de ninguno de los que han recibido la inyección letal.

En el caso de Jones, dado que las pruebas no implican a ninguna otra persona, éstas no prueban que él fuera inocente. Sin embargo el cabello era la única pieza que lo ligaba con el lugar del crimen.

Fuente: http://www.jornada.unam.mx/ultimas/2010/11/11/un-inocente-fue-ejecutado-por-justicia-de-texas-cuando-bush-era-gobernador

Via Blogoleone.

Marcadores: , , , ,

terça-feira, novembro 09, 2010

O negócio da mídia e a sociedade

QUEM FISCALIZA O FISCAL?

Paulo Nogueira, do blog Diário do centro do mundo

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/

Há, na Inglaterra, uma guerra fria entre os políticos e os jornalistas que cobrem política. Os políticos entendem que os jornalistas não receberam mandato da sociedade – votos, em suma – que lhes dê legimitidade nos comentários ou nos debates.

Em seu bom livro sobre jornalismo, My Trade, ou Meu Ofício, Andrew Marr, editor de política da BBC, detém-se longamente nesta discussão. Há alguma coisa nela, feitas as devidas adaptações, que vale para o Brasil.

Quais os limites do jornalismo e dos jornalistas?

Vejamos a Folha de S. Paulo, por exemplo. Ela procura se colocar, em editoriais e em publicidade, como uma espécie de fiscal sagrado dos governos. Tudo bem. Mas é preciso não perder de vista que ela não recebeu essa incumbência da sociedade.

o foi votada. Não foi eleita.

Fora isso, existe fiscal que não é fiscalizado?

Jornalismo é, como todos os outros, um negócio. Em geral, quem investe em jornalismo não está atrás de dinheiro. Os lucros não costumam ser grandes. O que o jornalismo dá é prestígio, influência. Empresários interessados em recompensas mais palpáveis fazem suas apostas em outras áreas. No começo da década de 2000, quando a internet já desaconselhava investimentos em papel no Reino Unido, um empresário russo comprou o jornal inglês The Evening Standard, em grave crise financeira, examente por isso: para ganhar respeitabilidade.

É um jogo antigo.

Na biografia semioficial de Octavio Frias de Oliveira, está publicado um episódio revelador. Nabantino, o antigo dono da Folha, estava desencantado porque se julgara traído pelos jornalistas que fizeram a greve de 1961. (Meu pai era um deles.) Decidiu vender o jornal. Um amigo comum de Nabantino e Frias sugeriu que ele comprasse. “Dinheiro você já tem da granja”, ele disse. “O jornal vai dar prestígio a você.” Na biografia, a coleção de fotos de Frias ao lado de personalidades mostra que o objetivo foi completamente alcançado. Um granjeiro não estaria em nenhuma daquelas fotos.

Sendo um negócio, o jornalismo não está acima do bem e do mal. É natural que prevaleçam, nele, as razões de empresa. Essas razões podem coincidir com as razões nacionais – ou não. Observe o mais carismático – não necessariamente o melhor ou mais escrupuloso – empresário de jornalismo da história do Brasil, Roberto Marinho, da Globo. Quem garante que o que era melhor para ele era o melhor para o país? Roberto Marinho era tão magnânimo a ponto de pôr os interesses nacionais à frente dos pessoais?

Como a sociedade não elegeu empresas jornalísticas, seus donos não têm que dar satisfação a ninguém sobre coisas como o uso dão ao dinheiro que retiram. Se decidem vender o negócio, nada os impede. Essa é a parte boa de você não ter um vínculo ou uma delegação direta da sociedade. Não existem amarras burocráticas para seus movimentos. Mas você não pode ficar com a parte boa e dispensar a outra – a que não lhe garante tratamento privilegiado apenas por ser da imprensa. Liberdade de expressão não é um conceito que tenha valor em si e sim dentro de um contexto. Na Inglaterra, você não pode publicar um artigo que exalte o terror islâmico, por exemplo. Mesmo no célebre Speaker’s Corner – o canto no Hyde Park tradicional por abrigar qualquer tipo de manifestação de gente que suba num caixote ou numa escada – se você louvar Bin Laden é preso assim que pisar no chão.

No Reino Unido, a mídia é acompanhada, como toda indústria. Há, por exemplo, um órgão regulador independente para a tevê e para o rádio, o Ofcom. A independência é vital. Se o Ofcom fosse manipulado por interesses políticos, seria um problema e não uma solução. Também não prestaria para nada se fosse controlado pelas próprias emissoras. Em poucas atividades há tanta autocomplacência como na auto-regulamentação. Outro fator relevante no acompanhamento da mídia entre os britânicos é a existência de grupos de pressão como o Mediawatcher, uma associação de espectadores que esperneia sempre que acha oportuno.

É curioso que não haja nada desse tipo no Brasil. As pressões do público são desogarnizadas, como vimos, por exemplo, no movimento que sugeriu a Galvão Bueno calar a boca.

Jornalismo é um negócio como todo outro. Apenas, em vez de vender sabão, você vende notícias e análises. Isso dá prestígio – mas não pode dar imunidade. Um modelo de acompanhamento semelhante ao britânico – em que não exista manipulação política do governo, como acontece em ditaduras – seria um avanço para o Brasil. Não se pode confundir acompanhamento com censura: os brasileiros ainda têm clara na memória a agressão ao noticiário sofrida na ditadura militar, e sabem o que aconteceu em países como a Rússia. Mas nada disso pode servir de impedimento para uma discussão adulta que eventualmente conduza da auto-regulamentação para uma regulamentação independente nos moldes da britânica.

Há dois grandes desafios aí. Um é vencer a resistência da mídia em sair da área de conforto da auto-regulamentação. Devem prevalecer aí não os interesses particulares e sim os do país. O outro é neutralizar a tentação dos governo de tomar a si um acompanhamento que só faz sentido se for genuinamente independente.


Visto no blog do Luís Nassif.

Marcadores: , , , , , , ,

Hora da verdade para Netanyahu

Hora da verdade para Netanyahu


Roger Cohen

Jerusalém


Todos os últimos primeiros-ministros israelenses fizeram coisas que nunca sonharam em fazer. Não vou listar de um a um, mas considere a reviravolta que deu Yitzhak Rabin, que falava em “quebrar os ossos deles” e se tornou o príncipe da paz; a decisão de Ariel Sharon de retirar-se de Gaza, e a conclusão dolorosa de Ehud Olmert que um acordo com os palestinos vai requerer uma “retirada de quase todos, se não todos” os territórios ocupados.

O que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu nunca sonhou, mas está disposto a fazer? Recentemente chegou a “dois Estados para dois povos”, mas isso era só para recuperar o atraso. Por trás de toda a absurda negociação das últimas semanas em torno do que acontecerá na Cisjordânia nos próximos 60 dias está a questão central de onde Netanyahu imagina que ficará o Estado palestino.

Os palestinos foram claros: as fronteiras de 1967 e algumas trocas de terras de comum acordo, significando um Estado na Cisjordânia e em Gaza, com Jerusalém Oriental como sua capital. Em troca, disse o presidente Mahmoud Abbas, os palestinos retirarão todas as suas “demandas históricas” e viverão ao lado de Israel seguro e em paz.

Netanyahu e os israelenses têm muitos motivos para duvidar, a começar pela divisão no movimento nacional palestino entre Fatah-Hamas e a forma como a retirada de Gaza levou a ataques do Hamas.

O presidente Barack Obama terá que superar esse ceticismo para que suas palavras na Assembleia Geral da ONU há cinco semanas não sejam apenas uma adição à longa lista de discursos bem intencionados que nada significaram no Oriente Médio. As palavras foram: “Quando voltarmos aqui no próximo ano, poderemos ter um acordo que trará um novo membro à ONU – um Estado soberano independente da Palestina, vivendo em paz com Israel”.

No ano que vem! Ou seja, setembro de 2011. Os EUA – junto com a Rússia, União Europeia e Organização das Nações Unidas- também endossaram há cinco semanas um relatório do Banco Mundial que dizia: “Se a autoridade Palestina mantiver seu atual desempenho na formação de instituições e fornecimento de serviços públicos, estará bem posicionada para o estabelecimento de um Estado a qualquer ponto de um futuro próximo”.

A qualquer ponto de um futuro próximo! Ou seja, há declarações internacionais solenes estabelecendo um organograma firme para o Estado palestino e refletindo a impaciência mundial, mas ainda assim as negociações entre israelenses e palestinos está empacada.

Talvez as eleições de meio de mandato forneçam uma oportunidade para Obama pensar. Ficar cavando mais fundo no fracasso é a definição da estupidez. As brigas sobre uma possível extensão da moratória de construção de assentamentos israelenses tornaram-se uma humilhação norte-americana. Obama tem que olhar para o horizonte e fazer a Netanyahu a seguinte pergunta:


“Senhor primeiro-ministro, compreendo suas preocupações em relação à segurança. Os EUA sempre estarão com Israel. Mas diga-me o seguinte: se todas as preocupações com segurança forem abordadas, todas elas, qual fronteira vocês querem para Israel?”

Isso tem que ser respondido para se poder avançar. Os acordos de 1978 do Campo David com o Egito foram firmados depois que o presidente israelense Menachem Begin deixou claro que estava pronto a se retirar do Sinai – sob as condições certas. Ainda assim, uma autoridade israelense disse-me recentemente: “Por razões psicológicas e políticas não definimos nossa atual posição de terras pela paz”.

Netanyahu vai empacar. Ele vai dizer que a direita de sua coalizão de centro-direita quebraria se explicitasse as fronteiras de Israel. Ele vai dizer que precisa de garantias de segurança antes de falar das fronteiras. Mas sem uma resposta, os esforços de paz de Obama estarão mal-fadados.

Na questão da moratória na construção de assentamentos, os palestinos só podem ter flexibilidade se os EUA derem garantias que as fronteiras serão abordadas logo. Quando as fronteiras entrarem no foco, não importará se Israel construir dentro delas.

Então Obama tem que fazer sua pergunta ser respondida. Ele pode dizer, esquece sua coalizão, Bibi, traga o Kadima. Ele pode pensar de que forma pode garantir aos israelenses sua segurança: dois discursos para o mundo muçulmano podem ser complementados com um em Israel. Ele pode trazer para o centro do processo a secretária de Estado Hillary Clinton: suas convicções sobre o Estado Palestino se intensificaram e ela dá segurança aos judeus (como faz seu marido). Mas tudo isso pode não ser suficiente.

Não acredito que Israel ainda tenha que chegar onde o mundo está: a inevitabilidade de um Estado palestino. Não acredito que a ilusão de Judá e Samaria – toda a terra - tenha morrido inteiramente em Netanyahu.

Então qual, por fim, é a influência de Obama sobre Netanyahu? Algumas medidas possíveis americanas são politicamente inconcebíveis. Mas talvez uma obsessão israelense na recente barganha sirva de pista: sua insistência que os EUA não assinem no ano que vem nenhuma resolução da ONU hostil a Israel.

Os israelenses estão com medo que Obama diga para o primeiro-ministro, se não cooperar com o prazo de 2011: “Neste caso, senhor primeiro-ministro, não tenho escolha, se não concordar com Medvedev, Sarkozy, Cameron e Hu que vamos ao Conselho de Segurança buscar uma resolução estabelecendo um Estado palestino dentro das fronteiras de 1967, e sugerir que todos o reconheçam”.

Essa preocupação israelense é um trunfo. Netanyahu tem que entender que é hora de definição.


Tradução: Deborah Weinberg


Texto do International Herald Tribune, republicado no UOL.

Marcadores: , , ,

O pesadelo dos gerentes

O pesadelo dos gerentes


ACONTECE EM TODO lugar, mas videolocadoras são, ou eram até recentemente, as campeãs neste tipo de coisa. Você entra, os funcionários são muito jovens, estão mais interessados na própria conversa do que em atender o cliente, não fazem ideia do filme que você está pedindo e, na hora de pagar com cartão de crédito, o "sistema caiu".
Essa, pelo menos, era minha experiência desde os tempos do VHS e, ao que tudo indica, nos Estados Unidos ocorre o mesmo. Pois o exemplo da videolocadora aparece no capítulo inicial de "Não Tenha Medo de Ser Chefe", livro do consultor de negócios Bruce Tulgan, publicado no Brasil pela editora Sextante.
Por que seriam tão ruins os serviços daquela videolocadora hipotética? A culpa não é dos funcionários, nem do dono da empresa, responde Tulgan. A culpa é do gerente.
A questão, diz ele, é que estamos vivendo uma "epidemia de subgerenciamento". Teorias modernas de administração insistiram exageradamente na ideia de que é preciso delegar funções, atribuindo metas aos funcionários, sem orientá-los e acompanhá-los de perto.
Prêmios, penalidades, ordens precisas, baixa tolerância com a mediocridade: só assim, diz o livro, as coisas vão começar a funcionar.
Volto ao exemplo da videolocadora, entretanto, e penso em outra hipótese. O gerente, de fato, nunca está por perto em estabelecimentos desse tipo. Mas penso no funcionário que me atende.
Não se trata, necessariamente, de alguém com baixo nível de instrução. O que parece predominar nesse tipo de serviço é a figura do empregado temporário, muitas vezes um estudante. Basta você atrasar a devolução do DVD que todas as caras na locadora já mudaram. Provavelmente, o gerente também é outro.
O sociólogo Richard Sennett, em "A Corrosão do Caráter" (ed. Record), dá o exemplo de uma padaria, hoje totalmente informatizada, que ele tinha estudado há questão de 20 ou 30 anos.
O trabalho tornou-se muito menos exaustivo; o ambiente é asséptico como o de um laboratório. Produz-se uma quantidade muito maior e mais variada de pães.
Os empregados, entretanto, perderam comprometimento com a profissão. Não se consideram mais "padeiros". Apertam botões em um computador, cujo funcionamento desconhecem. Sabem que dali a alguns meses arranjarão outro serviço -numa locadora, provavelmente.
Pobre do gerente que quiser "liderar", como se diz, equipes desse tipo. A mão de obra tornou-se transitória como nunca num sistema de produção marcado pela extrema tecnologia. A velha "ética" do trabalhador, tanto na relação com seus colegas quanto com o resultado de seus esforços, pulverizou-se no que, com certa visão moralizante, gosta-se de denominar o "hiperindividualismo" contemporâneo.
O "hiperindividualismo" existe, antes de tudo, porque o próprio trabalho deixou de ser algo coletivo e perdeu o pouco sentido que antes possuía. Como exigir "motivação" de quem não passa de um apertador de botões e passador de cartões de crédito?
Na outra ponta, o alto dirigente tampouco está feliz. Em "O Executivo sem Culpa" (ed. Lua de Papel), João Ermida narra como passou por uma longa síndrome de pânico depois de muito sobe e desce no mercado financeiro. É dos que lamentam a "crise de valores" na sociedade contemporânea.
Infelizmente, para superá-la -adotando comportamento mais sábio e menos imediatista-, não bastam, a meu ver, transformações individuais. Seria preciso, antes de mais nada, avisar a concorrência.
Enquanto isso, o leitor interessado no assunto pode ler "Como Enrolar Seu Chefe", de João José da Costa (ed. Matrix). Entre as recomendações, na aparência humorísticas, mas bastante profundas de seu livro, estão a de tomar o máximo de cafezinhos por dia, participar de tudo quanto é curso de reciclagem, preparar um Power Point "multivalente" para sair dando palestras por aí, entrar em toda reunião inútil. O objetivo, claro, é trabalhar o menos possível.
Por trás de tudo, está o fato de que o trabalho se autoinventa; criam-se funções e projetos para justificar o que nunca teve tão pouco sentido; o desemprego, ou na melhor das hipóteses, o trabalho temporário, é o pesadelo do qual todos, gerentes ou não gerentes, gostariam de acordar.

Texto de Marcelo Coelho, na Folha de São Paulo, de 3 de novembro de 2010.


Marcadores: , , , ,

quinta-feira, novembro 04, 2010

Primeira mulher rabino em 75 anos é ordenada na Alemanha



Pela primeira vez em 75 anos, uma mulher foi ordenada rabino nesta quinta-feira na Alemanha, marcando a retomada de uma comunidade judaica devastada pela Shoah (Holocausto).

Alina Treiger, 31 anos, originária da Ucrânia, tornou-se sacerdote do culto judaico durante cerimônia emocionante em uma sinagoga do oeste de Berlim, que contou com a presença do presidente, Christian Wulff.

Ela é a segunda mulher ordenada na Alemanha. A primeira, também do mundo, a conseguir o título foi Regina Jonas, em 1935 - assassinada em Auschwitz em 1944, aos 42 anos.

Com cabelos ondulados loiros escuros e um grande sorriso, Alina era o centro das atenções, mesmo que outros dois estudantes rabinos estivessem sendo ordenados ao mesmo tempo.

"Enchamos nossos corações de amor. Estejamos unidos no amor pelo Bem e pela vontade de impedir a violência e o conflito", disse durante uma "oração para a Alemanha" pronunciada ao término de sua ordenação.

No fim de novembro, Alina Treiger deve assumir a direção da comunidade da cidade de Oldenburg, próxima à Holanda.

Ela afirma encarnar "a união de três culturas: judaica, alemã e a da antiga União Soviética". Nascida em Poltava, uma cidade de 300 mil habitantes que hoje pertence à Ucrânia, Alina Treiger estudou no colégio Abraham Geiger de Postdã, próximo a Berlim. Criado em 1999, foi o primeiro seminário rabínico da Europa Continental desde o Holocausto.

A trajetória da jovem mulher é símbolo da comunidade judaica alemã que, das cinzas da Shoah, tornou-se hoje uma das mais dinâmicas do mundo e é 90% composta por membros originários da extinta URSS.

Após a queda do Muro de Berlim, a Alemanha abriu suas portas para os judeus do antigo império soviético, vítimas de um forte antissemitismo, fornecendo a eles a nacionalidade alemã.

"Na Ucrânia, a religião era esquecida pela metade", contou Alina Treiber.Desde 1989, cerca de 220 mil judeus da extinta URSS chegaram à Alemanha que contabilizava, na época, 30 mil judeus, contra cerca de 600 mil antes de Adolf Hitler chegar ao poder em 1933.

Uma boa parte deles partiu, principalmente para Israel. As comunidades judaicas na Alemanha contam hoje com 110 mil membros, quatro vezes mais do que há 20 anos, segundo o Conselho Central de Judeus da Alemanha.

Essa migração em massa permitiu em algumas regiões, principalmente da ex-República Democrática Alemã, a recriação das comunidades aniquiladas pelo Holocausto.

Em Berlim, a comunidade judaica conta 11 mil membros, dois terços derivados da eentão URSS.

No entanto, a integração desses judeus vindos da União Soviética levanta problemas e suscita conflitos. Alguns judeus alemães os acusam de serem "desjudaizados".

A chegada desses refugiados teve fim no dia 31 de dezembro de 2004, quando a Alemanha impôs restrições à migração deles. O número de candidatos começou a cair drasticamente.

A ordenação, chamada semikha, é acessível às mulheres unicamente no judaísmo liberal. As raras mulheres rabinos estudaram, em sua maioria, nos Estados Unidos.

"É um dia extraordinário!", entusiasmou-se o rabino Daniel Freelander, vice-presidente da União do Judaísmo Progressista da América do Norte. As primeiras ordenações de rabinos na Alemanha depois do Holocausto ocorreram em 2006.


Notícia da AFP, no Terra. Foto com crédito para a AFP.

Marcadores: , , ,

Sinais trocados: a mídia censora

Papéis trocados: a mídia censora

Ativistas assumem a função de jornalistas e os jornais os censuram

“Como de costume, os árabes sabiam”, escreveu Robert Fisk sobre o vazamento pelo site WikiLeaks de 391.832 documentos secretos dos EUA sobre a Guerra do Iraque. Como também sabia, minúcias e estatísticas à parte, quem duvidou da palavra de Washington e Londres e buscou informação além dos grandes órgãos da mídia ocidental.
Os EUA diziam não fazer “contagem de corpos”. Pois os documentos vazados detalham 109.032 mortes, 66.081 das quais civis – e é um balanço parcial. Revelam pelo menos 14 assassinatos de civis pelos mercenários da Xe (ex-Black­water). Iraquianos torturaram e mataram centenas de prisioneiros entregues pelos comandantes estadunidenses, sob seus olhos complacentes. Abusos nas prisões dos EUA prosseguiram após as revelações de Abu Ghraib. De 832 pessoas abatidas em postos de controle dos EUA, apenas 120 eram supostos insurgentes: os demais incluíam famílias e crianças. Vídeos retratam helicópteros a liquidar friamente inimigos rendidos ou civis indefesos. Manuais de tortura.

E barbaridades também do outro lado, como mulheres e meninos com síndrome de Down ou outros problemas mentais usados como mulheres-bomba e homens-bomba: um médico vendeu à Al-Qaeda uma lista de pacientes como esses. A guerra como é, sem edição da CNN e Fox News.

Um precedente foram os “Papéis do Pentágono”, 14 mil páginas de estudos secretos sobre a Guerra do Vietnã vazados pelo analista militar Daniel Ellsberg. Publicado em 1971 pelo New York Times, depois pelo Washington Post, revelou ações secretas que incluíam bombardeios aéreos do Laos, ainda oficialmente neutro, e ataques contra o território do Vietnã do Norte. Os dois jornais enfrentaram uma batalha judicial contra o governo Nixon, que tentou proibir a publicação. Agentes da Casa Branca tentaram desmoralizar Ellsberg, roubando os arquivos de seu psiquiatra e drogando-o para fazê-lo parecer louco. Ellsberg foi processado por traição e absolvido, enquanto seus algozes, punidos por arrombamento. A epopeia gerou o documentário O Homem Mais Perigoso da América, de Judith Erlich e Rick Goldsmith.
É um sinal de decadência da imprensa escrita e da mídia dos EUA que, desta vez, a denúncia só tenha sido possível por intermédio de um site mantido por uma ONG quase clandestina, perseguida pelo Pentágono e pela Casa Branca. Mais grave ainda é que os jornais que protagonizaram o vazamento de 1971 procuram minimizar as revelações ou desmoralizar os responsáveis por sua divulgação, desempenhando o papel que há 40 anos foi de Nixon e seus capangas. E a mídia mais conservadora quer que os responsáveis pelo vazamento sejam executados ou caçados como terroristas, nada menos.

Ao se referir aos arquivos, o New York Times produziu como manchete um primor de contorcionismo: “Detidos se deram pior nas mãos de iraquianos, dizem os arquivos”. E as análises do material, de cuja veracidade ninguém duvida, foram acompanhadas por uma minuciosa tentativa de assassinato da reputação do WikiLeaks e seu editor-chefe, o australiano Julian Assange.

O artigo de John Burns – um dos jornalistas integrados nas tropas, entusiasta da ocupação – retrata Assange pela visão de detratores e “ex-camaradas” que “o estão abandonando pelo que consideram um comportamento errático e autoritário, um certo delírio de grandeza não acompanhado da consciência de que os segredos digitais que revela podem ter um preço em carne e sangue”. De assassinos, torturadores e colaboracionistas, presume-se, embora o WikiLeaks tenha tido muito mais cuidado com suprimir seus nomes do que o Pentágono com evitar os massacres e torturas que protagonizaram. Põe em dúvida sua saúde mental com o empenho do Nixon de 1971: cita detratores segundo os quais “ele não está no seu juízo perfeito” e boatos sobre sua vida pessoal, provavelmente armados pela CIA – como o de que teria violentado duas suecas, acusação pouco verossímil e retirada pelas supostas vítimas.
Em agosto, nas páginas do Washington Post, o comentarista Marc Thiessen afirmou, depois do primeiro vazamento de documentos sobre o Afeganistão, que o WikiLeaks “não é organização noticiosa, mas empresa criminosa” e exigiu que Assange fosse preso antes de “causar mais dano à segurança nacional”. Ante o fato consumado, o editorial fez de conta que não tinha a menor importância: “Os documentos demonstram que a verdade sobre o Iraque já havia sido contada”, mas critica “o enfoque impulsivo e politicamente motivado de Assange, que produz pouca luz, mas causa grandes danos”.

Foram ignoradas as cobranças de investigação da ONU, da Anistia Internacional e do vice-primeiro-ministro britânico Nick Clegg, entre outros. O título mais destacado foi “Papéis do WikiLeaks apoiam alegações de Bush sobre o papel do Irã na Guerra do Iraque” – embora, na verdade, os documentos mostrem que as evidências são mais vagas e ambíguas do que o Pentágono deu a entender.

A CNN fez uma entrevista com Assange que ele interrompeu, indignado com os jornalistas que questionavam boatos sobre sua vida pessoal em vez das informações sobre mais de 100 mil mortes. O editorial da Fox News diz que os funcionários do WikiLeaks precisam ser considerados “combatentes inimigos” e submetidos a “ações não judiciais”. Pede que seus fundos sejam congelados, como se faz com organizações terroristas e que o site seja derrubado pelos hackers do Pentágono. Seu noticiário destacou um deputado que pediu pena de morte para o analista militar Bradley Manning, de 22 anos, preso como suspeito de parte dos vazamentos – ou seja, de ter feito o papel de Ellsberg.

Fora dos EUA foram mais comuns matérias relatando a cumplicidade dos militares com a tortura e os pedidos de investigação, mas viu-se pouca investigação do vasto material além dos pontos destacados pelo próprio WikiLeaks, cuja existência está em risco. O site Moneybookers, que coletava grande parte das doações que lhe eram destinadas, encerrou-lhe a conta, aparentemente a pedido de Washington. O governo sueco negou visto de permanência a Assange, provavelmente pelo mesmo motivo. O jornalismo investigativo nunca foi mais frágil.


Texto da CartaCapital.

Marcadores: , , , , , , , ,

Tema de debate no Brasil, benefícios sociais foram fundamentais para desenvolvimento da Suécia

Kenneth Nelson não esquece sua viagem ao Brasil em novembro do ano passado. Sociólogo sueco especialista em políticas de proteção social, ele foi convidado para um seminário em Belo Horizonte onde falou sobre o modelo nórdico de redução da pobreza e desigualdade. Saiu de lá espantado com a desconfiança de que as ideias que apresentou pudessem ser aplicadas à realidade brasileira.

”Foi estranho ouvir coisas como: 'Mas isso é a Europa, é bem diferente do Brasil' ou 'nunca vai funcionar aqui'. Acho que algumas pessoas têm uma visão errada da realidade europeia. A Suécia era um país muito pobre 100 anos atrás, com a maior parte da população vivendo na área rural. Mas conseguiu mudar esta situação em apenas 30 anos, graças a uma série de políticas públicas”, explicou Nelson ao OperaMundi.

O pesquisador da Universidade de Estocolmo voltou para casa tentando entender a razão da incredulidade brasileira. A explicação que encontrou foi uma possível incerteza em relação a algo novo, que ainda não faz parte do dia a dia da sociedade. Ele lembra que um dos grandes desafios da implantação do Estado de Bem-Estar Social sueco, que deu origem ao chamado ”modelo nórdico” sobre o qual falou em Belo Horizonte, foi justamente provar que políticas sociais eram uma forma de investimento em desenvolvimento, não um custo aos cofres públicos.

Mais de meio século depois, mesmo os críticos mais ferrenhos à forte participação do Estado admitem os avanços ocorridos no país. Em setembro, quando o tradicional Partido Social-democrata perdeu a segunda eleição seguida e alcançou seu pior resultado em quase um século, ninguém temeu pelo fim dos benefícios. A vitoriosa Aliança de centro-direita havia compreendido que para voltar ao poder não poderia criticar as conquistas do passado, e sim falar em aperfeiçoá-las.

Instituições suecas permanecem intocadas. É o caso do barnbidrag, espécie de ”Bolsa Filho”, e da licença maternidade-paternidade sem diferenciação de tempo para pais e mães. Ruben Egerot é professor de História e tem 32 anos. No momento, ele está de licença-paternidade tomando conta da pequena Doris, de 14 meses, desde que a mulher, Lova, voltou ao trabalho. O Estado é responsável pelo pagamento da licença, equivalente a 80% do salário de Ruben. Além disso, ele recebe 1.050 coroas suecas (cerca de R$ 270) pelo barnbidrag. O benefício é pago mensalmente aos pais de toda criança que vive na Suécia até que ela complete 16 anos, independentemente de ter ou não cidadania local. Além disso, é um benefício não-atrelado à renda familiar.

”O fato de ser algo a que todos têm direito, independentemente do salário ou da contribuição, faz com que as pessoas tenham uma maior aceitação em relação aos benefícios. Assim as classes mais altas também se sentem atendidas pelo sistema”, afirmou Ruben.

Bidrag é uma palavra sueca que ao português traduz-se como contribuição, benefício ou subsídio. Um morador da Suécia terá direito a uma série de bidrag ao longo da vida. No caso de Ruben, aos 32 anos, além do barnbidrag que seus pais receberam quando ele era criança e que agora é pago por causa de Doris, ele também já recebeu o studiebidrag, pelo tempo em que esteve na escola entre os 16 e 20 anos, e posteriormente o chamado studiemedel, espécie de bolsa-universitária cuja quantia varia como um empréstimo. Quando mais você utiliza acima do valor mínimo, mais terá de pagar de volta no futuro.

Um dos orgulhos do Estado de Bem-Estar Social sueco, a licença maternidade-paternidade também é paga para famílias desempregadas. O tempo total do benefício é de 16 meses, cabendo aos pais decidirem a forma como irão dividi-los. As mulheres ainda tiram três vezes mais dias de licença do que os dos homens, mas a proporção vem diminuíndo a cada ano.

”Quando eu nasci, ainda estranhavam o fato de o meu pai tirar licença. Hoje em dia é o contrário. As pessoas vão achar estranho se você não tirar, como se você pensasse que tomar conta do filho é função da mulher. Vai pegar muito mal”, contou Ruben.

Acomodação

Existem dois tipos de bidrag que um morador da Suécia espera jamais ter que solicitar. O bostadsbidrag (auxílio-moradia) e o socialbidrag (auxílio-social) são os benefícios a pessoas ou famílias vivendo em dificuldade e sem condições de se sustentar. São também os que mais têm sido alvo de críticas e mudanças em tempos recentes.

”Mesmo na Suécia existem os que acreditam que os benefícios podem tornar as pessoas dependentes e menos interessadas em buscar seus próprios meios de sustento. Imigrantes e estudantes são em geral os alvos dessas críticas, por serem vistos de forma generalizada como grupos que contribuem menos para a economia. No entanto, ninguém contesta o fato de que deve haver uma contribuição que garanta um mínimo de sustento para pessoas vivendo em pobreza extrema”, explicou Nelson.

Ruben não faz parte do grupo dos que associam benefícios com acomodação. Para ele, a maioria dos que recebem auxílio-social provavelmente escolheriam não precisar dele.

”É estranho imaginar alguém que seja contra a ajuda a pessoas em dificuldade extrema. Pode até ser que exista uma pessoa que não se importe em viver por conta do socialbidrag, mas não acho que ninguém se orgulhe disso e nem que seja motivo para que deixem de recebê-lo. O retorno para a sociedade é a diminuição da desigualdade”.

Pegando o exemplo do barnbidrag citado por Ruben, Kenneth Nelson afirma que para vencer a desconfiança de certas camadas da população em relação aos benefícios é preciso universalizar alguns deles. Funcionou na Suécia, na maior parte da Europa e ele garante que pode funcionar também no Brasil.

”A chave é fazer com que a classe média sinta-se incluída, com que ele veja que também recebe algo em retorno, e que não apenas aqueles em maior dificuldade estão sendo atendidos. É a melhor maneira de conseguir que os que ganham mais aceitem a ideia de contribuir mais. Não é fácil, mas é possível”, afirmou o sociólogo.


A origem do texto é do Opera Mundi, mas veio mesmo do Pátria Latina, via Blogoleone.

Marcadores: , , , , ,

quarta-feira, novembro 03, 2010

A relação capital-trabalho na política

Por Guido

Nassif olha uma boa análise:

Dilma diante de uma aliança delicada

Autor(es): Marcus Figueiredo

O Estado de S. Paulo - 01/11/2010

A relação entre capital e trabalho, administrada com habilidade durante a era Lula, pode se deteriorar caso surjam sinais de tempestade

Os dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva serão motivo de inúmeras interpretações. Só este fato já revela a sua importância na história política contemporânea brasileira. O primeiro debate contrapõe Lula a Getúlio Vargas. Para uns, Lula revive Vargas. Para outros, não. Para estes, Lula supera Vargas.

Estou entre os que veem na era Lula uma nova macro-ordem política no Brasil. Ao contrário de Vargas que construiu uma ordem política de cima para baixo, conciliando os interesses do capital e do trabalho, ambos urbanos, caracterizada pela aliança PTB-PSD que governou o país de 1945 a 1964.

Essa aliança rompeu-se em 63 quando o PTB pareou sua força congressual à do PSD. Deu-se, então, o que ficou conhecido como "a paralisia do Congresso" por conta do confronto em torno da demanda pelas "reformas de base" opondo as duas maiores forças políticas de então.

Estava rompida a aliança capital-trabalho construída por Vargas. João Goulart, então presidente, recusou-se a reprimir as lideranças radicais do PTB, capitaneadas por Leonel Brizola, e o movimento sindical - a base popular do PTB que pressionava o Congresso. As tentativas de conciliação de Tancredo Neves, San Tiago Dantas e, finalmente, do Plano Trienal, proposto por Celso Furtado, acabaram sendo atropeladas pela radicalização entre esquerda e direita.

A eleição de Lula em 2002 vem de uma história totalmente diversa, num mundo social e político também distinto. O PT foi criado à margem do sistema partidário vigente cujos partidos remontavam às linhagens pré-64 e outros criados pela ditadura, de cima para baixo. Golbery do Couto e Silva tentou reviver Vargas estimulando novos partidos para conformar uma nova aliança capital-trabalho, com bases partidárias. Embora reconhecido como grande estrategista, seu plano não deu certo. Não estavam em seus planos o surgimento do PT nem do PDT de Brizola.

A história política recente, depois de 20 anos de democracia, acabou produzindo um sistema partidário cujos partidos têm nítidas posições. Suas práticas congressuais, suas bases sociais preferenciais, seus discursos e seus programas são de fácil classificação no eixo esquerda-direita, ainda que muitos intelectuais considerem como obsoleta essa divisão do sistema partidário na sociedade contemporânea.

É verdade que da metade do século passado para cá o radicalismo arrefeceu, mas é também verdade que o conflito fundamental na sociedade capitalista continua sendo o mesmo velho conflito entre capital e trabalho. Hoje os nossos partidos estão alinhados tendo o PT liderando a esquerda e o PSDB e Democratas liderando a direita. As tentativas de conciliação e alianças pelo alto entre capital e trabalho desaparecem do cenário mundial no pós-guerra. Juntos desapareceram também o getulismo e o peronismo, só para ficarmos por aqui.

Em 2002, Lula apresenta-se à sociedade encarnando essa nova conjuntura histórica com objetivos e estratégias políticas novas para a alegria de uns e tristeza de outros. O objetivo era promover a aliança capital-trabalho e, para isso, o PT alia-se estrategicamente a um pequeno partido de direita, representante do capital, tendo como seu vice, José Alencar, um grande empresário. Ambos à margem das linhagens tradicionais de há muito incorporadas ao establishment. Em seus dois mandatos, o governo Lula pautou-se pela construção da aliança capital-trabalho, claramente representada em seu gabinete. Assuntos do capital, coordenados pelo capital; assuntos do trabalho coordenados pelo trabalho.

Este trajeto relembra o trajeto construído pelos partidos socialistas e social-democratas europeus cujo resultado foi a construção da social-democracia europeia. Se o PT e o Brasil de Lula tornaram-se social-democratas será um debate que durará muito tempo, temo que sem um consenso. O fato é que o macro projeto do governo Lula caracterizou-se por três políticas fundamentais: estabilidade econômica e monetária, desenvolvimento econômico e inclusão social, com iguais prioridades.

O apoio da sociedade a esse projeto foi tão amplo que pautou as eleições de 2010. Os candidatos da oposição o absorveram de tal forma que José Serra e Marina Silva o adotaram como projeto de país. Claro, no embate eleitoral, fizeram críticas aqui ou acolá, sempre, porém, com a premissa da aceitação do projeto ao qual pretendiam apenas oferecer melhorias. Pouco produtiva essa estratégia eleitoral, como sabemos e os resultados demonstraram.

Dilma Rousseff terá pela frente uma tarefa política igualmente gigantesca. O projeto de país está desenhado e suas bases assentadas. Sua principal tarefa será consolidar esse projeto e transformá-lo em projeto de Estado e não apenas de governo. Ela terá Lula no máximo como conselheiro e aliado para controlar o PT. No dia a dia do governo e no controle de seu maior aliado, o PMDB, os conflitos estarão sempre presentes.

O PMDB não foi co-autor do projeto político que está sendo legado por Lula, mas o PT e seus aliados preferenciais, o PSB e o PC do B, sim. Embora a oposição tenha perdido força eleitoral, ela continuará politicamente forte. Dilma terá uma tarefa histórica pela frente. Sustentar uma aliança social delicada: a aliança capital-trabalho, construída de baixo para cima e não de cima para baixo. Essa aliança pode ter vida longa num ambiente de afluência. Mas, apesar de sua história distinta da do passado, a aliança social fundamental para o projeto social-democrata de hoje pode trincar aos primeiros sinais de tempestade. O conflito capital-trabalho explode na escassez. O caminho vivido no passado ainda está fresco na memória: em 54 o Brasil perdeu Getúlio Vargas, em 64, perdeu João Goulart.

Lula continuará sendo o avalista desta aliança. A ele caberá a missão de controlar os radicais de direita e de esquerda, tarefa que construiu e da qual sabe que não poderá abdicar.


Texto do blog do Luís Nassif.

Marcadores: , , ,

Fecha-se o ciclo em que o vencedor foi Lula

É das mais instigantes a entrevista de André Singer ao Valor, sobre o novo momento político. Ele identifica uma mudança estrutural, com o realinhamento das bases sociais, a classe média indo maciçamente para o PSDB e as bases populares para o PT, movimento que deverá perdurar por décadas, segundo Singer.

Não sei até que ponto a classe média um dia chegou a ser PT. Talvez Singer tenha se influenciado pelo ambiente em que freqüenta, de classe média mais intelectualizada. Havia, de fato, em São Paulo uma classe média e classe alta intelectualizada com pendores de esquerda. Mas nunca chegou a ser numericamente expressiva.

Mesmo assim, esses setores migraram para um anti-petismo radical. No mapa das eleições, via-se Serra com 70% dos votos de bairros tão díspares como Vila Maria e Higienópolis.

Não se pode dizer que a classe média tenha sido beneficiada por sucessivos governos, desde FHC. Foi penalizada com tributação excessiva, deterioração dos serviços públicos, estagnação do mercado de trabalho até alguns anos atrás.

Mas a explicação mais satisfatória para essa radicalização é a resistência à ascensão das novas classes sociais, como bem pontua Singer e como bem colocou Lula em sua coletiva de ontem.

É como se todos os preconceitos e intolerâncias saíssem do armário no qual foram guardados das diretas para cá. Perdeu-se o pudor em relação ao preconceito contra nordestinos, negros e pobres e às minorias em geral, esse "povinho que está invadindo as lojas, com as transferências sociais, as universidades, com o Prouni e as cotas.

Esse sentimento foi alimentado nos últimos anos por comentaristas de televisão, pela velha mídia, como que querendo parar o rumo das águas com uma peneira. E se constituiu na última bóia para políticos que perderam a batalha da sua geração, especialmente Fernando Henrique Cardoso e José Serra.

Diferença de modelo

O ciclo que se encerra agora começou com a resistência democrática dos anos 70, acentuou-se nos anos 80 com as diretas e com o movimento de reerguimento da sociedade civil.

Singer lembra outro dado para mostrar a relevância dos anos 80: o intenso movimento social, a eclosão de greves e outros sinais de vitalidade da sociedade civil, que permitiram a aprovação de uma constituição moderna e inclusiva.

No rastro dessa movimentação, nascem o PSDB e o PT com projetos até certo ponto semelhantes, com bandeiras sociais, propostas modernizantes, um de centro-esquerda, outro de esquerda.

Com o governo FHC as diferenças começam a aparecer. Internamente, no PSDB, assumem o comando os mercadistas, em detrimento do grupo mais desenvovimentista.

FHC demonstra total incapacidade ou sensibilidade para entender processos de construção nacional. Mas não apenas ele. Mesmo entre desenvolvimentistas havia ampla insensibilidade em relação aos processos de construção social, a criação de redes sociais e econômicas entre setores da sociedade, pequenas empresas, cadeias produtivas, movimentos sociais.

É aí que se dá a diferença fundamental de modelo.

No século 19, os Estados Unidos lograram criar uma sociedade de consumo de massas – no mesmo processo ensaiado agora no Brasil. Mas, ao aumento da massa consumidora correspondeu também uma febre de criação de organizações sociais, de voluntariado, de participação ativa dos cidadãos na vida dos seus municípios e das suas comunidades, independentemente da disputa partidária.

O PSDB ignorou solenemente esse fenômeno. Em meu livro "Os Cabeças de Planilha" publico longa entrevista com FHC, apontando esses diversos fatores que estavam no cerne das mudanças que o país experimentaria nos anos seguintes, como as políticas sociais, o papel das micro empresas.

Suas respostas às questões foram desoladoras. O único modelo de país que entendia era o de grandes empresas, sob orientação de novos empreendedores (os banqueiros de investimentos) modernizando a economia e trazendo atrás de si, automaticamente, os novos agentes econômicos, a nova organização social.

Era um míope escondendo a falta de visão atrás de citações supostamente eruditas.

Lula compreendeu perfeitamente os novos tempos. Entendeu que não se construiria um grande país sem povo. Enquanto Palocci, Dirceu e Meirelles tratavam de acalmar mercado e grandes empresas, Rossetto, Patrus e as secretarias sociais colocam em marcha políticas sociais que mudariam a face do país.

E aí se entra em um campo dos mais relevantes: a tecnologia social, a compreensão sobre o universo de dificuldades da agricultura familiar, dos miseráveis.

É nesse momento que ficaram claras as diferenças entre o projeto do PSDB e do PT. Nem que desfraldasse bandeiras de promoção social o PSDB conseguiria implementá-las pela falta de base social.

Nesses anos todos, esse know-how era apenas dos movimentos de base da Igreja Católica, do MST e outras organizações que trabalhavam o mundo rural, da ampla gama de movimentos sociais que se abrigaram debaixo do guarda-chuva do PT.

Essa tecnologia social é um dos ativos mais preciosos do país e de qualquer sociedade em desenvolvimento. É ela que permite modelos que avançam além do mero assistencialismo. De nada adiantariam os financiamentos para o programa do biodiesel, os apoios fiscais e creditícios, se na ponta não houvesse especialistas para organizar os pequenos agricultores.

De nada adiantariam as verbas orçamentárias se o Bolsa Família não trouxesse modelos de coordenação e implementação. Aliás, com uma falta de dogmatismo tal que incorporou um elemento caro aos liberais: o direito do pobre escolher no que gastar o dinheiro.

Os derrotados

Os anos 80 e 90 foram riquíssimos para o aparecimento de novos conceitos, novas ideias. As sementes plantadas no período foram se transformando em plantas, crescendo, criando possibilidades para os novos transformadores trabalharem em cima de possibilidades nunca antes imaginadas.

FHC foi incapaz de entender o momento, Lula entendeu. Essa a diferença.

Muito se fala sobre o papel do estadista, o que leva pessoas a identificar os caminhos acertados e criar as condições políticas adequadas.

Nos últimos três anos tivemos possibilidade de acompanhar ao vivo e em cores esse processo. Não se pende que o Lula que assumiu o governo em 2002 tivesse o mesmo grau de conhecimento do Lula que deixa o governo consagrado.

O estadista é fundamentalmente um intuitivo. Trabalha em cima das circunstâncias. Mas não basta saber se equilibrar. Tem que possuir a intuição sobre os processos básicos, os princípios que constroem civilizações.

Provavelmente Lula não tinha idéia dos desdobramentos econômicos dos seus programas sociais. O que o movia era a solidariedade com seu povo, algo inimaginável para o internacionalismo frio e distante de FHC.

Tinha claro, sim, a maneira como o potencial das pessoas é desperdiçado quando não lhes são oferecidas condições básicas para evoluir. Ele é o exemplo máximo. Seu complexo permanente com a falta de oportunidades de se instruir formalmente se transformou no principal aríete de sua conduta. A cada dia precisava provar a si e a terceiros que conseguiria recuperar o tempo perdido quando teve que trocar a possibilidade de aprimoramento no estudo pela luta incessante pela sobrevivência.

Foi essa confiança no homem, no seu potencial, foi por se ver em cada miserável do país, que Lula avançou nas políticas sociais. E à medida que avançava ia se dando conta de que o verdadeiro desenvolvimento só seria possível com a inclusão e a promoção social.

FHC e Lula começaram juntos a caminhada, cada qual ao seu estilo Chega-se agora ao final do ciclo com Lula se consagrando como um dos grandes estadistas da história. E FHC explorando o lado obscuro das transformações: os conflitos, os preconceitos inerentes a essas grandes mudanças

Agora, o grande desafio não é a mais quem conquistará o poder. Nesse ciclo, a vitória é do modelo Lula. O desafio será quem conduzirá a oposição.

De um lado, tem-se um jovem senador que conseguiu definir um modelo de gestão para seu Estado, propor a discussão em torno de pontos programáticos e de formas de governar o país. Do outro, o eixo FHC-Serra promovendo o preconceito, o discurso negativo, o racha.

Não serão nem FHC nem Serra os protagonistas dos novos tempos. Será a nova geração, de Aécio Neves, Eduardo Campos, Cabral.


Texto visto no blog do Luís Nassif.

Marcadores: , , , , ,

Eleitores dos EUA votam sobre maconha, língua oficial e aborto

Além de eleger políticos para cargos públicos nos âmbitos estadual e federal, os eleitores nos Estados Unidos votam nesta terça-feira (2) alguns polêmicos projetos que envolvem a sociedade americana, como a legalização da maconha e do aborto e o estabelecimento do inglês como língua oficial.

Como costuma ser habitual em pleitos nos EUA, a jornada eleitoral para nomear representantes públicos serve também para promover consultas populares sobre iniciativas locais impulsionadas por parlamentares ou grupos civis que buscam o apoio social para introduzir reformas nas leis dos estados.

Neste ano, a Califórnia concentra grande parte do interesse midiático não só pelo fim da carreira de Arnold Schwarzenegger como governador, mas também porque os cidadãos terão de decidir sobre a legalização da maconha.

A descriminalização dessa droga, que atualmente é legal na Califórnia quando usada sob prescrição médica para fins medicinais, autorizaria seu cultivo, posse, consumo e compra por parte dos maiores de 21 anos. Se ratificada, a medida significaria uma importante fonte de renda do Governo, por meio de impostos.

As últimas pesquisas de opinião estimam, no entanto, que a maioria da população deve se opor ao consumo livre da maconha, diante dos temores de que sua banalização aumente o risco de acidentes, tenha consequências no ambiente de trabalho ou crie uma plataforma legal para os traficantes na Califórnia.

Conhecida como Proposição 19, essa medida entraria em contradição com as leis federais, que continuariam considerando a maconha como uma substância proibida.

Outros estados, como Arizona e Dakota do Sul, decidirão nas urnas se legalizam a maconha para fins medicinais, tal como já ocorre em 14 dos 50 estados americanos. Illinois, Massachusetts, Nova York, Carolina do Norte, Ohio e Pensilvânia também poderiam se somar a essa lista por meio de projetos de lei.

Além de votar sobre a maconha, os cidadãos do Arizona decidirão se reformam a constituição estadual para incluir a caça e a pesca como um direito fundamental, algo que também será votado no Tennessee e no Arkansas.

Tal medida foi qualificada de "ridícula" pelos opositores, mas os defensores a consideram necessária para garantir, por lei, atividades que poderiam ser ameaçadas no futuro por grupos ambientalistas.

Em Oklahoma, se tentará aprovar uma emenda constitucional para reconhecer o inglês como idioma oficial do território e o único, junto às línguas dos índios americanos, possível de ser usada pela Administração estadual.

Trata-se de uma tentativa das autoridades de consolidar o inglês no estado, diante do aumento da imigração hispânica. Se aprovada, a iniciativa tornaria Oklahoma o 31º estado a adotar o inglês como língua oficial.

No Colorado, os eleitores terão de se posicionar sobre a questão do aborto. Eles devem responder basicamente se consideram o feto uma pessoa.

A proposta, promovida por grupos antiaborto, pretende modificar a constituição para que as leis protejam "todos os seres humanos, desde o início de seu desenvolvimento biológico".

Os habitantes de Rhode Island responderão nas urnas uma questão de identidade local, se aceitam ou não modificar o nome oficial do estado.

Atualmente, o território é denominado em sua constituição como "State of Rhode Island and Providence Plantations". Os legisladores consideram que chegou o momento de o estado se chamar simplesmente "State of Rhode Island".

Uma consulta popular também será submetida na Carolina do Norte, onde se discute a proibição de que ex-presidiários possam se candidatar a xerife em algum dos condados.

No próximo dia 2 de novembro, estarão em jogo as 435 cadeiras da Câmara dos Representantes, 37 dos 100 assentos no Senado e 37 vagas de governadores, além de outros cargos locais e estaduais.

*Com agências internacionais


Do UOL Notícias.

Comentário: Acho ótimo que os eleitores nos Estados Unidos possam votar a respeito de tantas coisas em relação às suas comunidades.

Marcadores: , ,

Lula venceu

Lula venceu


ALGUNS FATOS devem ser analisados em sua enunciação bruta, sem "mas", "entretanto", "mesmo assim" ou condicionantes do gênero.
O resultado destas eleições é um destes casos. Lula venceu. Como se não bastasse, transformou-se no primeiro presidente da história brasileira a conseguir fazer seu sucessor em uma eleição realmente livre.
O nível de acirramento social, infelizmente, dificulta reflexões isentas sobre o que foi a era Lula, quais seus maiores legados e desafios. Esta é uma tarefa para a qual será necessário tempo.
Por enquanto, fica óbvio que ao menos duas características fundamentais do governo Lula foram decisivas para seu sucesso eleitoral.
Primeiro, Lula compreendeu claramente que programas de assistência social não são apenas programas de assistência social. Vinculado ao aumento efetivo dos salários, eles têm função decisiva na dinamização econômica de realidades sociais pauperizadas. Tal processo baseado na transferência direta de renda é, de fato, a maneira mais rápida e eficaz de provocar recuo da miséria e da pobreza, além de garantir bases para o desenvolvimento de economias locais. Por outro lado, ele permitiu a Lula ser uma espécie de Mata Hari do capitalismo global, modificando a situação de pauperização social sem colocar em risco os ganhos do sistema financeiro.
Segundo, Lula conseguiu, de uma certa forma, transplantar os conflitos sociais para dentro do Estado. O conflito entre o agronegócio e a reforma agrária virou um embate entre o Ministério da Agricultura e o Ministério da Reforma Agrária. O conflito entre os grupos de defesa dos direitos humanos e as viúvas da ditadura militar, um embate entre o Ministério da Defesa e a Secretaria dos Direitos Humanos; entre desenvolvimentistas e monetaristas, um embate entre Ministério da Fazenda e Banco Central.
O máximo desta lógica de transposição de conflitos ocorreu quando George W. Bush veio ao Brasil. Enquanto fazia um discurso, ao lado de Lula, saudando-o como grande amigo dos EUA, manifestações contra sua presença ocorriam no Brasil... organizadas pelo PT.
Desta forma, havia um reconhecimento das demandas de setores classicamente associados à esquerda, mesmo que esse reconhecimento fosse, em vários casos, muito mais simbólico do que realmente efetivo.
Essa forma de acolhimento conseguiu, no entanto, esvaziar qualquer oposição à esquerda do governo. Basta lembrar do resultado minúsculo de um partido como o PSOL no primeiro turno.
Assim, quando José Serra encampou de vez a agenda conservadora, toda ela centrada em: segurança, defesa dos "valores e crenças nacionais", defesa da "vida", denúncias contra a "república sindicalista", contra o terrorismo (das Farcs) etc., ficou fácil para o governo recompor a base de mobilização do antigo PT nas classes médias, acrescida agora do desenvolvimento do "lulismo" nas classes mais pobres.
Restou, ao menos a essa oposição, ser porta voz de uma agenda conservadora mundialmente presente e que demonstrou ter forte apelo eleitoral. Uma reconfiguração de discursos se anuncia.

Texto de Vladimir Safatle, na Folha de São Paulo, de 1º de novembro de 2010.


Marcadores: , , , , , ,