terça-feira, outubro 30, 2007

Contribuição provisória

A renovação da CPMF pode ajudar o governo a respirar, mas não resolve a fragilidade do sistema tributário brasileiro

Marcos Magalhães*

A contribuição é provisória, mas a briga política é permanente. Quem está no governo insiste na necessidade de renovação, a cada quatro anos, da permissão para a cobrança da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Do lado da oposição, renova-se também a cada quatro anos o protesto contra a contribuição e a alta carga tributária que castiga os contribuintes e inibe o crescimento econômico.

Como os defensores e opositores já trocaram de lado, por causa das eleições, pode-se supor que ambos estejam corretos – ou equivocados. Tem menos chance de errar quem optar por um terceiro caminho: o de questionar a característica até agora mais permanente da CPMF, a sua provisoriedade.

A CPMF não dói apenas no bolso. Dói também aos olhos. Talvez seja um dos tributos mais visíveis para cada contribuinte. Basta pegar um extrato da conta-corrente, no banco, e toda semana ela está lá. Assim deveria ser com todos os demais impostos e contribuições, aliás, tudo ali às claras. Essa transparência, porém, ajuda o contribuinte a se perguntar, todas as semanas, o que é feito com os milhões de reais arrecadados a cada saque na conta-corrente.

Como o governo sempre tem pressa na renovação da CPMF e da Desvinculação de Receitas Orçamentárias (DRU), que lhe permite certa liberdade no remanejamento de recursos, é fácil prever que as discussões no Congresso Nacional serão bem mais políticas do que técnicas.

Aparentemente, o que está em jogo é apenas a avaliação do peso da bancada governista. Não vai faltar quem aposte no número de votos que o governo conseguirá em cada votação, nas comissões e no Plenário. O que também está em jogo, mas não chama tanta atenção, é a fragilidade do equilíbrio fiscal.

Os programas sociais, dizem os ministros escalados em defesa da contribuição, serão drasticamente reduzidos sem a renovação da CPMF. Ou seja, muitos dos investimentos na melhora da qualidade de vida da população dependem de um tributo provisório, cuja renovação requer um enorme esforço político por parte do governo. Sem a arrecadação da CPMF, por outro lado, iria por água abaixo, como insistem ainda os integrantes do governo, todo um esforço para equilibrar as contas públicas e, se possível, reduzir a proporção entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB).

A pressa na renovação da CPMF pode acabar inibindo um debate mais sério a respeito da cobrança dessa contribuição. O momento, porém, não poderia ser mais adequado. Está na hora de debater, com profundidade, quanto o governo deve arrecadar. E quanto e onde deve gastar o que arrecada. Não basta dizer que a carga tributária é alta ou baixa. É preciso definir o tamanho da carga que a sociedade aceita pagar, assim como o destino da arrecadação.

Ainda neste ano pode chegar ao Congresso Nacional, segundo promessas do governo, mais uma proposta de reforma tributária. Será uma nova tentativa de se discutir quanto se arrecada, quem arrecada e como se gasta o dinheiro público. Uma oportunidade para se estabelecerem critérios novos para a cobrança de impostos, como o estímulo à preservação ambiental. O momento para se avaliar o equilíbrio federativo e a relação entre União, estados e municípios.

A reforma começará a ser debatida provavelmente depois da aprovação da renovação da CPMF e da DRU. A urgência política estará então reduzida. Espera-se que, com a votação resolvida, esse debate não caia mais uma vez na irrelevância.


Este texto veio do Congresso em Foco.


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sexta-feira, outubro 26, 2007

Terceirização

Quem diz que nunca houve matança sistematizada de judeus, ciganos e incapazes na Alemanha tem razão: Auschwitz, Treblinka, Sobibor e os outros campos de extermínio nazistas ficavam na Polônia. A Polônia anexada pelo Reich era uma extensão do solo alemão e os campos eram construídos e geridos por alemães, mas isto é detalhe para quem pretende a inocência pelo distanciamento formal. Os americanos que hoje levam suspeitos de terrorismo para serem interrogados em países onde a tortura é comum, longe dos Estados Unidos, também pretendem a absolvição pela geografia.


Tem-se discutido muito no Congresso, na imprensa e nos tribunais americanos os limites do permitido na busca da informação antiterrorista depois do 11/9, mas os escrúpulos quanto à tortura chegam atrasados. Torturar pela mão dos outros é uma prática antiga dos Estados Unidos, mais notoriamente — no que nos diz respeito — nas atividades da "School of the Americas" onde policiais e militares latino-americanos iam aprender métodos de interrogatório e contra-insurgência para combater o comunismo no continente.


A Escola das Américas chegou a ser chamada ironicamente de anexo da Escola de Chicago, produzindo técnicos em repressão para garantir os teóricos do neoliberalismo que saíam do Departamento de Economia da universidade onde o Milton Friedman era a estrela, para nos catequizar. É bom lembrar, nestes tempos de entusiasmo das platéias pelo fascismo contra o crime e de reacionarismo ostensivo e festejado, no que deu tudo aquilo.


Coisas como a "Operação Bandeirantes", a aliança de empresários paulistas com policiais e militares na caça, literalmente, à esquerda, que deixou mortos e mutilados por toda parte — menos, aparentemente, na consciência dos responsáveis, ou, presumivelmente, no livro de realizações dos formandos da Escola das Américas. Que continua no mesmo lugar, Fort Benning, na Geórgia, agora com o nome mais específico de Instituto de Cooperação para a Segurança do Hemisfério Ocidental. Não se sabe se o currículo ainda é o mesmo.


Do Iraque chega a notícia de outro exemplo de distanciamento remissor.


Neste caso, uma novidade — a terceirização da guerra. A ocupação do país está sendo um grande negócio não só para a Halliburton e outras empreiteiras superfaturadoras mas para empresas paramilitares, exércitos privados que substituem a tropa normal em certas tarefas e que já têm quase tanta gente no Iraque quanto o exército regular, com contratos milionários.


Há dias uma dessas empresas, a Blackwater, que pertence a um conhecido financiador das campanhas do Bush e do Cheney, se viu envolvida na morte de civis iraquianos.


A Blackwater não está sujeita nem às leis do Iraque, nem às leis dos Estados Unidos e nem aos estatutos militares americanos. Só precisou pedir desculpas.

Texto de Luís Fernando Veríssimo, pescado no Leituras e Opiniões. Só um pequeno acréscimo, a Escolas das Américas, se não estou enganado, ficava na Zona do Canal, no Panamá. O Canal foi "cedido" aos Estados Unidos, que o administraram como seu território até 1999, também aí trabalhava a absolvição pela geografia, como magistralmente colocou o LFV. Coisa semelhante a Guantánamo, que os Estados Unidos também "alugam" junto a Cuba, por sinal outro exemplo de absolvição pela geografia.

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quinta-feira, outubro 25, 2007

Conversa com Iracilda Toledo, presidente da Associação de Familiares e Vítimas da Chacina de Vigário Geral, Rio de Janeiro


No dia 11 de outubro de 2007, Iracilda Toledo, 50 anos, dois filhos e um neto, vai viajar do Rio de Janeiro a Brasília com 23 mães de vítimas de chacinas, mães de desaparecidos, e de uma nova categoria: dos “arrastados por ônibus”. A viagem tem como destino o Ministério da Justiça. O grupo pretende se reunir com o ministro Tarso Genro para solicitar que sejam formados núcleos de atendimento específico às vítimas de violência em cada Estado, com ouvidoria, policiais e outros profissionais “honestos”.
“Para que mais um grupo, se já existem comissões de direitos humanos na Câmara, no Senado, além da Secretaria Especial de Direitos Humanos, e tantos órgãos que deveriam atuar nesta área?”, perguntei a ela. “Ninguém confia em mais nada”, respondeu.
Conversei com Iracilda numa manhã nublada da Cidade Maravilhosa, quando estive por lá em busca de outra reportagem. Coincidiu que Iracilda estava indiretamente envolvida na história cujos detalhes eu fui checar no Rio de Janeiro. Pedi-lhe que me contasse como se tornou uma ativista das causas sociais. Esta é a sua versão da história que ficou tristemente conhecida como Chacina de Vigário Geral:
Comecei o movimento em 1993 quando perdi meu marido na chacina. Fiz do luto a luta e nunca mais parei. Abandonei casa, filhos, família. Se tivesse parado naquela época, meu arrependimento seria maior. Só vou parar quando o país estiver em paz mesmo, não houver mais crimes, assaltos, e se puder andar tranqüilamente nas ruas. Já abracei outros casos: das mães do Maracanã, da Cinelândia, do Via Show, dos Queimados de Nova Iguaçu. Vai ser difícil eu parar.
A Chacina de Vigário Geral foi uma retaliação que a polícia fez em 29 de agosto de 1993. Um dia antes, quatro policiais haviam sido mortos. Falaram na época que os policiais haviam sido mortos por traficantes da favela, mas tudo ficou no ar.
No dia 29, policiais entraram em Vigário Geral e mataram 21 trabalhadores. Meu marido era chefe da estação da Rede Ferroviária Federal– trabalhava ali fazia 20 anos. Uma das sobreviventes perdeu a família toda: pai, mãe, cinco irmãos, uma cunhada. Só as crianças – cinco – sobreviveram, e ela ficou com todas para criar.
Eu estava em casa. Por incrível que pareça, na hora da chacina havia me dado um sono profundo. Geralmente eu ia atrás do meu marido, mas naquela noite não fui. A chacina começou por volta das 23h30min.
Naquele dia, houve o jogo Brasil X Bolívia, para eliminação da Copa. O Brasil venceu por 6 a 0. Meu marido assistiu ao jogo em casa com dois amigos, porque ali tinha uma tevê grande, a cores. Eu disse que ia à igreja, e ele foi para o bar, com o filho de 12 anos, comprar cigarro. Às 23h10min, chamei meu filho para voltar para casa – tinha que tomar banho e dormir para ir à escola no dia seguinte. Se ele tivesse ficado, teria morrido também...
Acordei à meia-noite, com meu sogro, que é presidente da Associação dos Moradores de Vigário Geral, chamando meu marido porque havia acontecido uma chacina no Bar do Joaci, estavam todos mortos. Foi quando despertei para minha luta por Justiça.
A força veio primeiro de Deus, depois dos filhos. No último dia 29 de agosto, quando fez 14 anos, meu filho disse que queria tanto ver o rosto do pai, que já não lembrava mais dele. Não é justo alguém tirar a vida do outro de maneira nenhuma. Para isso existem leis. Mataram 21 trabalhadores e uma família inteira.
De lá para cá, vi o quanto se precisa lutar para diminuir a violência, a injustiça, tudo, porque hoje não há mais justiça. Há inquéritos parados há nove, 10 anos. Precisa ter alguém para investigar a fundo. Pessoas sérias, porque quem vai denunciar tem medo.
O caso de Vigário Geral foi emblemático: 53 policiais foram denunciados, 33 autuados e responsabilizados no processo. Dez foram absolvidos. Seis morreram antes de irem a julgamento. Sete estão presos.
Mas na maioria das vezes os casos não vão até o fim, porque os familiares desistem, porque são tratados mal, ouvem que o filho era bandido, são ameaçados. Sofri muita represália, e fiquei fora do Rio de Janeiro durante 11 anos
. ”
A história de Iracilda não pára aí. Pergunte a ela detalhes sobre as outras chacinas – ela vai contar como se passaram. Pergunte a ela sobre as indenizações que o Estado começou a pagar durante o governo de Garotinho, ela também sabe. Pergunte a ela quem são os policiais honestos com quem pode contar, ela diz.
No final de nossa conversa, antes de partir, Iracilda e eu comentamos a notícia do jornal O GLOBO de 25 de setembro: Polícia prepara ação para pacificar o Alemão. Na nota de abertura de página, a jornalista Ana Cláudia Costa contava que antes de o Complexo do Alemão ser alvo do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o secretário nacional de Segurança, Antônio Carlos Biscaia, havia determinado que o conjunto de favelas passasse por uma ação “pacificadora para erradicar a força armada”. Mas o que mais nos chamou a atenção na nota foi o parágrafo em que o senador Marcelo Crivella (PRB) dizia que ninguém mais morreria de bala perdida na favela. A solução encontrada: construir casas com material mais resistente, à prova de balas. “Vou ligar para minha amiga que mora lá e dizer que agora, sim, vai estar protegida”, ironizou Iracilda, pouco antes de posar para uma foto na frente da Cinelândia, no Rio de Janeiro, onde acontece a maior parte dos protestos que ela e as outras mães organizam. Em cada um, chegam a reunir mais de 300 mães.

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quarta-feira, outubro 24, 2007

Os "correrias" do Primeiro Mundo

LUIZ GONZAGA BELLUZZO - Folha de São Paulo


"A falsificação de preços é um conluio entre os poderosos do mundo para lesar os mais fracos"

A POLÍCIA Federal conta: 70% das importações de produtos de informática e telecomunicações realizadas pela Cisco eram subfaturadas. A manipulação dos preços de transferência, com o propósito de burlar o fisco, era perpetrada, de acordo com o relatório da PF, na matriz americana. Digo manipulação porque as mercadorias entravam no país abaixo do custo de produção, incluída a margem de lucro da empresa.
Quem paga a diferença? A resposta é fácil: o Estado brasileiro não recolhe os impostos devidos, os concorrentes nativos ou estrangeiros são bigodeados pelos espertalhões e, finalmente, os trabalhadores brasileiros (com uma taxa cambial mais favorável) poderiam estar empregados na produção dos equipamentos, peças e componentes importados, o que geraria mais receita fiscal. Certo Mark Smith, diretor-gerente para o hemisfério ocidental da Câmara Americana de Comércio, declarou que "o subfaturamento é comum no Brasil".
No Brasil e no mundo, diria o empresário Raymond Baker, autor do livro "Capitalism's Achilles Heel", com o subtítulo "Dirty Money and How to Renew the Free Market System". Baker declara-se um entusiasta do livre comércio. Manifesta, no entanto, sua decepção e preocupação com as práticas das grandes empresas transnacionais que deformam o sadio exercício do intercâmbio de mercadorias.
Ele diz que aproximadamente 65 mil empresas internacionalizadas realizam operações transfronteiras. As transações entre matrizes e filiais representam, segundo Baker, de 50% a 60% das trocas internacionais. Uma fração importante das transações é feita com preços falseados. "Isso serve para eliminar impostos, evitar controles aduaneiros e acumular dinheiro secretamente.
A falsificação de preços é realizada diariamente, em todos os países, numa larga fração das operações de importação-exportação."
"Essa é a técnica mais comum para gerar e transferir dinheiro sujo, dinheiro que viola a lei na sua origem, em seu movimento e em seu uso. A falsificação de preços é um conluio entre os poderosos do mundo para lesar os mais fracos. O fato é que para cada dólar, euro, libra, peso, rublo ou outra moeda qualquer que se move para fora dos países mais pobres, há um produtor ou financista do Primeiro Mundo que facilita a operação."
Baker é impiedoso: a combinação entre falsificação de preços de transferência, paraísos fiscais, empresas fantasmas, jurisdições secretas pode ser comparada "ao tráfico de drogas, ao crime organizado, ao terrorismo e aos funcionários corruptos". Os executivos das múltis contribuem para a manutenção desse sistema.
Imagino que, à semelhança da controvérsia Huck-Ferréz, o deplorável episódio Cisco vá provocar um maremoto de indignação contra as malfeitorias dos "correrias" do Primeiro Mundo. Os impostos surrupiados aos brasileiros talvez servissem para financiar a educação, a saúde e a segurança dos cidadãos de Pindorama, fossem eles os "correrias" do Terceiro Mundo ou os legítimos e indefesos usuários de relógios Rolex.


LUIZ GONZAGA BELLUZZO , 64, é professor titular de Economia da Unicamp. Foi chefe da Secretaria Especial de Assuntos Econômicos do Ministério da Fazenda (governo Sarney) e secretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo (governo Quércia).

Via Leituras e Opiniões.

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Entreveros

Jornalista não briga, polemiza.

A polêmica mais recente do jornalismo pátrio envolveu Alberto Dines, do Observatório da Imprensa, e Reinaldo Azevedo, da Veja. Ao comentar um artigo do apresentador Luciano Huck – que descobriu estarrecido que no Brasil existem assaltantes que andam armados, podem matar e apreciam relógios da marca Rolex –, Dines chamou Azevedo, que também escreveu sobre o assunto, de “cão de guarda”. Putz! A resposta foi desproporcional – uma catadupa de ofensas. O furibundo articulista de Veja chamou Dines de “canalha de cabelos brancos, cadela velha do oficialismo, cadáver adiado, moleque, velhaco”, para concluir com uma frase lapidar: “O seu traseiro é gordo, polpudo e merece ter estampada a sola do sapato”.

***

É impressionante a agressividade que domina o jornalismo brasileiro de opinião, seja em colunas de jornais, revistas ou blogues. A raiva e a irracionalidade imperam. O cenário está dividido entre os contrários e os favoráveis ao governo – mais aqueles do que estes. Direita e esquerda. Brancos e negros. Ricos e pobres. Estabelecida esta premissa, vale tudo para fazer valer a sua posição, com destaque para as meias verdades (e também mentiras inteiras) e as ofensas pessoais. Muitos adjetivos e poucos substantivos. Mais grave é que os (de)formadores de opinião estão tentando espraiar este clima de briga de marginais de rua para os demais segmentos da sociedade. E estão conseguindo. A seguir assim, esta bomba de ódio tem hora certa para explodir: a próxima eleição presidencial.

Estão chocando o ovo da serpente, agindo da mesma forma que alguns dirigentes de futebol irresponsáveis, que através de declarações insuflam os piores sentimentos dos torcedores e depois se mostram aturdidos e surpresos com a irrupção da violência nos campos de futebol.

***

Não concordo com a maioria das coisas que Dines escreveu nos últimos tempos, mas ele tem o meu respeito, por tudo o que já fez para dignificar o jornalismo e a favor da democracia em nosso país. Neste caso específico, tem também a minha solidariedade. Sensatamente, não respondeu a Azevedo no mesmo diapasão. Afinal, quem gosta da sordidez do esgoto são os ratos e as baratas.

Via Toca do Jens.


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segunda-feira, outubro 22, 2007

Do Conversa Afiada: Controladores Desacatam Jobim

CONTROLADORES DESACATAM JOBIM

20/10/2007 12:37h


Paulo Henrique Amorim

Máximas e Mínimas 699

Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil.

. Cheguei ontem, sexta-feira, dia 19 de outubro de 2007, às quinze para as cinco da tarde no Santos Dumont com a intenção de voltar para São Paulo.

. Cheguei em casa às duas horas da manhã de sábado.

. Caiu um pé d’água no Rio por volta das 18H, e houve neblina forte em São Paulo.

. Em São Paulo, os aviões operavam por instrumentos.

. Tudo bem.

. No Rio, a tromba d’água foi forte, mas passou e ficou uma chuvinha fina, que depois passou também.

. E nada de chegar ou sair avião do Santos Dumont.

. As informações invariavelmente IMPRECISAS dos funcionários da TAM diziam, ora, que os controladores usavam aquela moedinha que o Jornal Nacional usou em Congonhas para demonstrar que o Presidente Lula derrubou o avião da TAM.

. E mediam a espessura da água.

. Não sou um especialista em moedinhas, mas entendo de chuva no Rio.

. A tromba d’água parece que vai alagar o mundo, mas passa em pouco tempo.

. Aquilo ali não fecha o Santos Dumont das seis da tarde às 11 horas da noite.

. Ora, diziam os funcionários da TAM, sempre muito bem informados, que Congonhas e Guarulhos tinham fechado por causa da intensa neblina...

. Não fechou, segundo o Estadão, pág. C7 desde sábado.

. Finalmente, com a comprovada eficiência da TAM, os passageiros foram deslocados, aos trancos e barrancos, de ônibus, para o Galeão.

. Lá, não havia avião da TAM à espera.

. Enfim, chegou um avião.

. Ficamos sentados dentro do avião um bom tempo, à espera de passageiros e do OK dos controladores para levantar vôo.

. Depois, levamos DUAS HORAS no ar, para cobrir a distância entre Rio e São Paulo.

. Os controladores informaram ao comandante que o intenso tráfego aéreo nos obrigava a voar em círculos em cima do Guarujá.

. Intenso tráfego aéreo meia-noite, uma da manhã ?

. Quando pousamos em Guarulhos, podíamos ver das janelas mais ou menos 895 fingers livres.

. Mas, o avião ficou parado quinze minutos na pista, porque, segundo o comandante, a Infraero não informava a que finger deveríamos nos dirigir.

. Trata-se, numa análise elementar, de uma greve do zelo, um boicote, para se aproveitar do tráfego intenso com a Fórmula Um.

. Os controladores usaram a desculpa do tráfego, da usual ineficiência das linhas áreas brasileiras, e da soneca do funcionário da Infraero em Guarulhos para desencadear o caosaéreo na ponte Rio–São Paulo, numa sexta-feira à noite.

. Leio os jornais hoje de manhã, e só o Estadão publica uma breve nota sobre os atrasos.

. Uma nota que reproduz, apenas, sem a usual indignação dos objetivos repórteres do Estadão, as informações ineptas e incompletas das autoridades.

. Cadê o caosáereo ?

. Cadê os vigilantes do ar, aqueles repórteres/colunistas/editorialistas do PIG, Partido da Imprensa Golpista ?

. Calaram-se com a nomeação de um ministro tucano para Defesa.

. Acabou o caosaéreo.

. Agora, é tudo uma questão meteorológica, pluviométrica.

. É preciso dar a mão à palmatória: o Presidente Lula fez muito bem em nomear Nelson Jobim, o maior amigo de José Serra.

. Acabou o caosaéreo.

. (A única vantagem foi reencontrar Washington Olivetto no Santos Dumont. Como sempre, nos breves intervalos em que não falava do Corinthians, Washington fez ponderações importantíssimas; Primeiro, constatou certo clima “Rubens Barrichelo” na operação da ponte aérea naquele fim de tarde chuvoso. Washinton também me disse que ia ligar para o Caetano Velloso e dar parabéns pelas fotos da Mônica Velloso na Playboy. Washington não sabia que a família Velloso tinha uma moça tão bonita.)

Comentário do Conversa Afiada, do Paulo Henrique Amorim.

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domingo, outubro 21, 2007

Reais e bananas

Warren Buffet, uma das maiores fortunas do mundo, disse que esta investindo em reais. É isso aí. Aumenta-se a carga tributária para oferecer os juros mais altos do mundo, a commodity brasileira de ganho certo e líquido.

É o dinheiro dos impostos que vai engordar o cofrinho do Buffet. Depois, se acusa o miserável que recebe Bolsa Família de ser o culpado do aumento de gastos.

Enviado por: felicio rodrigues

No começo do ano transferi meus parcos U$ 1.000.000,00 das Ilhas J. para o Brasil convertendo-os em R$ 2.139.0000,00. Para ajudar na melhora das condições sócio-econômicas do País,apliquei em títulos do governo que tem uma pequena taxa de rendimentos de 11,25%. Se Deus quiser ao fim do ano terei R$ 2.380.000,00. Mas como pretendo viver definitivamente nas Ilhas J., vou mandar o dinheiro de volta em dólares. Com o dólar a l,80 terei U$ 1.322.000,00. Uma bela “bicicleta financeira” com rendimento de 32% ao ano. Em moeda de gente, não alguns papéis pintados que andam por ai.

Pelo amor de Deus, não me mexam com este santo homem que nos (vos) governa!



Do Blog do Luis Nassif.

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sábado, outubro 20, 2007

Benazir Bhutto Recebida com Fogos em Karachi

A ex-primeira-ministra do Paquistão foi recebida com fogos ontem ao chegar a seu país, após um exílio iniciado quando o general Musharraf deu o golpe de estado que lhe permitiu governar o país, a partir de 1999.
Brincadeiras a parte, o Paquistão é um país em ebulição, uma autêntica panela de pressão, e isso não é de hoje. Mas a pressão parece que tem aumentado desde os atentados contra os Estados Unidos, em 2001, e a retaliação deste país, invadindo o Afeganistão no final daquele ano. O atentado contra a ex-primeira-ministra é mais um capítulo da violência política do Paquistão, país que nasceu da reivindicação de alguns líderes islâmicos da criação de um estado islâmico para os muçulmanos que viviam na então colônia britânica da Índia. Esta reivindicação levou a massacres, e ao deslocamento de milhões de homens e mulheres no subcontinente indiano, quando os britânicos foram embora. Desde então Paquistão e Índia já estiveram em guerra aberta três vezes. Nos anos 1980, com a ajuda dos Estados Unidos, o serviço secreto paquistanês ajudou a combater a ocupação soviética no Afeganistão, treinando guerrilheiros e fornecendo apoio logístico. Quando os soviéticos abandonaram o Afeganistão e o país entrou em uma guerra civil generalizada, o mesmo serviço secreto paquistanês fortaleceu o Taleban, até que este prevalecesse sobre quase todo o Afeganistão. De quebra, na década de 1990, o Paquistão ainda explodiu uma bomba atômica, o que lhe valeu embargo econômico por parte dos Estados Unidos até 2001 (levantado também por conta da invasão do Afeganistão).
Desde a sua fundação, o Paquistão tem alternado entre governos parlamentares civis, que são acusados de corrupção e depostos por militares. O atual presidente, o general Musharraf chegou ao poder depondo o ex-primeiro-ministro Narwaz Sharif, que permanece exilado. Benazir Bhutto é filha de Ali Bhutto, primeiro-ministro que foi deposto e enforcado pelo general Zia Ul-Haq, que tomou o poder nos anos 1970. O general Zia Ul-Haq morreu na queda de seu helicóptero...
País explosivo! Faz tempo.

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ELITE SEM TROPA

Meu texto sobre o filme 'Tropa de Elite' causou tremores frios em muita gente. Entendo. O cinema brasileiro da chamada 'retomada' é muito ruim. Até a pornochanchada era melhor. Tinha mais ritmo. Há uma tradição brasileira de idealização de bandidos, de cangaceiros a traficantes. O mal é sempre a ordem, o poder, a polícia. Faz sentido. Afinal, neste país, a lei é uma fachada para a sacanagem dos mais ricos. Mas esse esquema simplifica. Os últimos filmes, de gente como Jorge Furtado e Guel Arraes, são totalmente vazios e não conseguem situar esse paradoxo da cultura nacional. José Padilha, com 'Tropa de Elite', conseguiu trazer finalmente a realidade brasileira para a tela. Sem afetações nem conversa fiada. É pau puro mesmo.

Todo problema do consumo de drogas pela burguesia da zona Sul do Rio de Janeiro está baseado no seguinte princípio: a Polícia não deveria reprimir. Afinal, por que não se poderia consumir drogas tranqüilamente? Porque o tráfico é ilegal. O pessoal quer consumir sem ser incomodado por não concordar com essa ilegalidade. Como a sociedade, por meio dos seus representantes, não muda a lei, a galera espera que a Polícia seja complacente, tolerante e conivente, nem que seja corrompendo-se. É o que mais acontece quando um filhinho da burguesia cai na rede policial e precisa ser liberado. Que deve fazer a Polícia? Tentar cumprir a lei ou praticar desobediência civil (ou militar?) para estar de acordo com os leitores de Foucault (o teórico francês que mais denunciou os mecanismos do poder capilarizado) em universidades cariocas?

'Tropa de Elite' espanta por ser o ponto de vista do policial. Nesse sentido, coloca-se do lado da lei e do poder. Num país em que a sociedade vê o Estado como seu inimigo, a lei e a ordem são sempre ilegítimos. Todo filme não reacionário deve, portanto, denunciar a ordem. Descobre-se que os nossos cineastas gostam de mensagens e de certo maniqueísmo. Cada filme precisa ter o personagem bom, ainda que algumas hesitações, podendo até ser o bandido, vítima da sua condição social, e o mau (o policial, a ordem, o poder) bem claros. O espectador é tido por meio bronco. Necessita de heróis e de perfis claros. A equação é simples: o jovem burguês comete uma ilegalidade, a Polícia reprime. O jovem sente-se vítima do policial. O filme de Padilha tem razão: não há passeata por policial morto. Só por rico. Mas todos querem segurança. Eis o paradoxo: espera-se que a segurança seja garantida pelo inimigo, o policial. Depois, ele deve fechar os olhos.

A burguesia brasileira não quer ser tolhida nas suas ações, mesmo quando ilegais. A ordem deve ser imposta aos pobres. No caso do uso de drogas, porém, os pobres são apenas os fornecedores dos ricos. A velha chantagem do intelectual de esquerda volta à cena: cumprir uma lei julgada conservadora é ilegítimo. A turma quer viver em paz na ilegalidade. Bastaria convencer pais e avôs, detentores do poder, a mudar a lei. É brega estar do lado da ordem. 'Tropa de Elite', embora esteticamente fraco, é o mais realista dos filmes brasileiros das últimas décadas. O problema dos seus críticos é que eles se identificam com os jovens burgueses da zona Sul do Rio de Janeiro. Querem dar um 'tapinha' sem remorsos nem maiores responsabilidades. Por que não liberar geral? Muita gente perderia com isso.

Texto do Juremir Machado da Silva, no Correio do Povo de 18/10/2007(para assinantes).

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sexta-feira, outubro 19, 2007

Pesquisa tupiniquim

Não da para levar muito a sério uma pesquisa sobre eleições presidenciais de 2010.

Quer uma prova?

Segundo os dados da peculiar pesquisa CNT/SENSUS o candidato de Lula, qualquer que seja ele ou ela, teria o voto de 10,8% dos eleitores, em empate técnico com Serra, Alckmin e Aécio (os três candidatos do PSDB estão em torno de 12% e a margem de erro da pesquisa é 3 pontos para cima e para baixo). Todos eles, ao mesmo tempo, derrotados por Não Sabe e Nenhum.

Ninguém está nem aí com essa eleição daqui ha três anos. Ninguém não. A Folha online tinha postado Serra em primeiro e agorinha mudou para o empate entre os quatro primeiros. Menas, devem ter falado para o responsável do arrobo pró-Serra.

O tucano Serra deve estar uma arara. Vejam só, Alckmin empatado com ele, pelo amor de deus. E os dois empatados com Aécio e Ciro, só pode ser obra do demo...

Lula está nos céus. Viajando para África com aprovação para tanto (as viagens de Lula ao exterior têm apoio da maioria). A maioria aprova seu governo, tem expectativas positivas sobre emprego, renda e educação. E o resto é oscilação.

Inquietos deveriam estar os deputados e senadores, pois não é bom para a democracia um desprestígio tão acentuado.

Pelo resto, vão preencher alguns buracos nos jornais amanhã e eu no meu blog hoje.

Internet pesa mais na informação que jornais e revistas, posso viver na ilusão sobre o impacto do meu blog. Falando com meu botões, minha ilusão vale a de vários dos nomes hoje cogitados como presidenciáveis.

Aliás, já que a Folha disse que Lula não descarta ser candidato em 2014 e vários de seus oponentes fizeram comentários a respeito, porque não pesquisar em quem o brasileiro votará para Presidente em... 2014.

Outro debate de indiscutível atualidade.

Do Leituras e Opiniões, do Luís Favre.

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quinta-feira, outubro 18, 2007

Renan estuda para que lado atirar

O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) já tomou a decisão de deixar definitivamente a presidência do Senado. No momento, ele estuda a melhor maneira e o momento de anunciar a renúncia. Pode ser hoje, amanhã ou só daqui a 45 dias: quanto mais rápido, pior para o atual presidente da Casa, Tião Viana (PT-AC), que já trabalha para ficar no cargo. Renan está analisando o cenário político para decidir a quem vai ajudar e/ou prejudicar.

Notícia do Blog Entrelinhas.

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Comentário Feito por este blogueiro no Blog Alternamídia a respeito da TVE e da FM Cultura

Acredito que o Governo Federal poderia encampar a TVE e a FM Cultura, pagando uma pequena indenização ao Governo do Estado. A TVE e a FM Cultura passariam a fazer parte da nova rede pública de emissoras que o Governo Lula quer montar, e a governadora Yeda se livraria de uma entidade a qual ela não parece fazer questão de manter.

Fiz este comentário no Alternamídia.

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Manifestação de Pessoas Ligadas à Brigada - 2

O "post" anterior foi a percepção pessoal do blogueiro. O blog RS Urgente traz uma reportagem mais abrangente. Confira!

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Manifestação de Pessoas Ligadas à Brigada

Hoje à tarde, dia 17, houve uma longa passeata de pessoas ligadas à Brigada, a polícia militar do Rio Grande do Sul.
Eram dezenas de pessoas, que se identificavam como servidores civis da Brigada, policiais aposentados, e familiares, que pediam "dignidade" à governadora do estado. Havia muitos cartazes e apitos. Homens, mulheres, crianças. Entre outras coisas pediam reajustes salariais, pagamento de precatórios, ...
A manifestação vinha da Rua da Praia, entrou na Caldas Júnior, e seguiu pela Siqueira Campos. E como havia muita gente, é claro que atrapalhou o trânsito.
Queria ver o que diriam aquelas pessoas que gostam de dizer que este tipo de manifestação é coisa de "desocupados", "desordeiros", "baderneiros", e por aí. Afinal esta manifestação foi de pessoas ligadas à Brigada.


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quarta-feira, outubro 17, 2007

Maitena



Via Diário Gauche.

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terça-feira, outubro 16, 2007

Relembrando a Veja

"A Veja já fez bom jornalismo. Em 1997, quando completavam-se 30 anos de sua morte, ela contou de como a execução do homem Ernesto Guevara criou o mito do Che que morreu para nos salvar. Na época, a revista preocupava-se mais em compreender o mundo do que em doutrinar."

Este pequeno parágrafo veio do blog do Pedro Dória. O grifo é meu.

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sábado, outubro 13, 2007

Do Diário Gauche: Por que o Rio Grande é assim - 10

Por que o Rio Grande do Sul é assim – parte X

A ditadura esclarecida dos positivistas

A singularidade da política meridional no início da República não se expressava somente nos quadros novíssimos – inclusive na idade – que governavam o aparelho de Estado, mas sobretudo nas ações políticas, administrativas e institucionais que foram capazes de impor num ambiente de permanente conflito entre frações da classe dominante. Resumo rápido: cai do poder a oligarquia patrimonial estancieira, ficando assim alijada – muitas vezes até clandestina – por quase quarenta anos, e ascende ao poder uma classe dirigente nova, burguesa, moderna e que rompe radicalmente com o passado.

Se instituía no Rio Grande do Sul, não a ditadura do proletariado, mas a ditadura positivista anti-liberal, militarizada, organicamente partidarizada que reconhecia e contemplava as novas pluralidades da formação social meridional, tinha um projeto programático rígido de poder e o implementou com racionalidade cerebral, decisão, firmeza e, quando foi necessário, a ferro e fogo. O castilhismo, já vimos aqui neste espaço, nunca perdeu na guerra cruenta, na guerra institucional e na guerra intelectual – esta travada na politizada imprensa abertamente partidarizada da época.

Para além das peculiaridades que já vimos, a construção normativa da Constituição positivista de 1891, a organicidade do PRR, a imprensa engajada e forte, a militarização dos quadros, e a consolidação de um exército estadual original que foi a Brigada Militar, o castilhismo-borgismo obteve marcos administrativos exitosos de grande significado para a transição regional ao capitalismo, sempre tratando de descolar o Estado dos interesses menores do patrimonialismo e, ao consolidar os seus fundamentos republicanos, dotá-lo de instrumentos institucionais inspirados numa lógica de racionalidade (conforme Max Weber).

É curioso que a Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, hoje, tenha no ambiente vestibular ao plenário um imenso óleo representando a figura de Júlio de Castilhos, o próprio salão é identificado com o nome deste primeiro governador eleito do Estado, o mesmo dirigente que eliminou o Poder Legislativo meridional, reduzindo-o a uma mera assembléia de representantes, cujo único papel era o de examinar as contas públicas anuais e aprová-las. Sua funcionalidade não durava 60 dias ao ano.

Castilhos sabia que através do Legislativo os inimigos do PRR se rearticulariam ou, pior, empatariam de forma continuada as grandes ações administrativas que planejavam para o Estado, por esse motivo previu mecanismos na Constituição de 1891 de uma espécie de consulta comunitária sobre atos e ações administrativas. Para tanto, havia nos municípios comitês mais ou menos funcionais de encaminhamento de sugestões de governo ao poder Executivo, que legislava baseado na Constituição estadual e no programa do PRR.

Três ações dos positivistas rio-grandenses constituem marcos definidores dos seus governos, no entender de Targa, quais sejam: 1) a implantação do imposto territorial, com a forte reação dos proprietários rurais, especialmente os estancieiros da pecuária de exportação, entre 1902 e 1913; 2) a assimilação do governo positivista à greve geral (nacional) de 1917, um dado novo no cenário social-urbano do País; 3) a estatização da empresa ferroviária estrangeira que explorava pessimamente os transportes regionais.

Dessas ações derivam medidas e reações surpreendentes na época. É o que veremos adiante.

Do Diário Gauche.


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sexta-feira, outubro 12, 2007

Câncer ataca soldados da Itália após missão externa

CORREIO DO POVO
PORTO ALEGRE, QUARTA-FEIRA, 10 DE OUTUBRO DE 2007

Roma - O ministro italiano da Defesa, Arturo Parisi, disse ontem que 255 soldados desenvolveram câncer após missões nos Bálcãs, Afeganistão, Iraque e Líbano, realizadas entre 1996 e 2006. Parisi depôs em uma comissão de investigação do Senado sobre urânio empobrecido. Dos soldados doentes, 37 já morreram, disse o ministro. 'Estabelecer as causas das graves doenças que podem afetar nossos soldados é uma prioridade absoluta.'


Visto no Blogoleone.

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quarta-feira, outubro 10, 2007

Venha protestar contra Renan Calheiros na Esquina Democrática

CAROS COMPANHEIROS,

Amanhã, à partir das 10:00h com um grande ato ao MEIO DIA, compareça à Esquina Democrática
PELO AFASTAMENTO DO SENADOR RENAN CALHEIROS DA PRESIDÊNCIA DO SENADO
PELA VOLTA DE PEDRO SIMON E JARBAS VASCONCELOS PARA A CCJ DO SENADO FEDERAL
estaremos ditribuindo o Manifesto por um Brasil mais ético!

A PRESENÇA DOS COMPANHEIROS DE TODOS OS SETORES DO PARTIDO É FUNDAMENTAL
www.jpmdbpoa.org.br


A mensagem acima foi recebida da Letícia Coelho. É a juventude do PMDB de Porto Alegre, protestando contra Renan Calheiros (PMDB-AL).


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Acidente em Santa Catarina: 25 mortos, 90 feridos

terça-feira, outubro 09, 2007

Relembrando o Dr. Záchia - 2

Comentei dias atrás, aqui neste blog, aproveitando o momento do PMDB ter chegado à prefeitura de Porto Alegre, por meio da mudança de partido do prefeito, o Dr.José Fogaça, que o PMDB estava agora na direção da prefeitura de Porto Alegre, e o Dr. Luis Fernando Záchia, era secretário da Casa Civil do governo do estado. E tempos antes disso, um diretor da EPTC, a empresa que cuida do trânsito no município de Porto Alegre, havia informado que a prefeitura iria instalar mais pardais (controladores de velocidade). A seguir eu repetia uma pergunta que já havia sido feita no blog RS Urgente, sobre "os pardais faturadores" e a "fúria arrecadatória" do PT.
Pois a Letícia Coelho tratou de me enviar uma transcrição da sessão da nossa Assembléia Legislativa, em que foi apresentado o relatório final de uma comissão especial de pardais e lombadas eletrônicas. Na discussão final do relatório fica clara a posição do deputado Luis Fernando Záchia, na busca de uma "solução técnica" para o que poderíamos chamar de questão dos pardais. Ali, na sessão da Assembléia, o deputado Záchia debate de maneira séria.
Mas, relembrando o falecido engenheiro Leonel Brizola, faltou o deputado licenciado e atual secretário da Casa Civil fazer um "mea culpa" (que significa "minha culpa" em latim, mas lembra pela fonética uma "meia culpa"), onde ele pode dizer que fazer campanha clamando contra os pardais faturadores foi uma demagogia imensa, e aqui vai um posição pessoal.
Certamente há muita gente no mundo que acha que andar de automóvel é a coisa mais importante do mundo, e que, se o automóvel permitir, se deve utilizar a maior velocidade possível. Eu acho que não. Temos um código de trânsito que estabelece velocidades máximas para estradas, para avenidas e pequenas ruas. Quem exceder esta velocidade está desrespeitando a lei, simples assim. Se está desrespeitando a lei, deve arcar com as responsabilidades, seja com multas, com apreensão da carteira de motorista, ou, no extremo, com detenção. Acredito que se obedecêssemos mais à lei, haveria muito menos mortos e feridos no trânsito do Brasil.
Assim, obrigado Letícia, pela transcrição enviada, e eu espero mais seriedade do Dr. Záchia em suas próximas campanhas.

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Do Cuca Fundida: La Habana

Breve texto sobre Havana

Calor, muito calor. Um homem passa fumando um charuto dentro do aeroporto. O primeiro lugar que entramos é uma pequena cabine branca da imigração. Cara feia, fotos, anotações e muitas perguntas. Meu sobrenome parece estar com algum problema no sistema. È por parte de pai ou por parte de mãe? Mais anotações. Depois de uns 10 minutos finalmente vou para o raio x. Já havia encontrado imigrações resistentes, principalmente na Europa e Estados Unidos, mas nenhuma como aquela. Pela primeira vez fiquei nervosa. Na outra sala, uns 50 policiais fardados aguardavam os turistas. Depois da revista, as malas foram inspecionadas por cachorros. Finalmente, nos indicaram o portão da saída. Eu estava suando. Mais gente fumando charuto. No caminho do ônibus para o hotel, muitos hospitais. A área onde se situava a Universidade chegava a ter 10. Chamou a atenção também o número de centros esportivos, estádios e placas incentivando o esporte. Os carros, todos muito antigos e bem conservados, combinavam com a arquitetura que parecia ter congelado na década de 60. As cores das placas indicam a propriedade dos carros: azul, do governo; amarela, particular; verde, militar e preta das embaixadas. Nos outdoors nenhum produto, apenas frases exaltando a revolução, o governo, o poder do povo e as alianças com outros países, principalmente Venezuela. Atualmente, a cara sorridente de Chávez aparece mais nas ruas que a de Fidel. Entrando em um bairro mais nobre vemos mansões, que se transformaram em sedes de embaixadas ou centros culturais. Nenhuma casa particular. Passando pela Malecon, o calçadão a beira-mar, vemos centenas de pessoas apreciando o pôr-do-sol. Também de lá podemos ver o forte mais bem conservado do mundo, onde estão o famoso Paredón e os mísseis apontados para os Estados Unidos. Na cidade, os EUA possuem apenas um escritório de relações comerciais cercado por outdores comparando Bush a Hitler e falando de Pousada Carriles. Mais à frente, também lembrando Carriles, há uma praça de manifestações públicas com bandeiras negras em homenagem a cada uma das vítimas do avião do terrorista. Cansados, largamos as malas no hotel e saímos para caminhar na cidade. Em Havana Velha, na Praça da Catedral, pedimos uma cerveja. Fraca ou fuerte? Pergunta a moça. Em Cuba há dois tipos de cerveja: a Cristal e a Bucaneiro, esta, de maior graduação alcoólica. Fuerte! E comemos ao som da melhor música Cubana. O número grande de turistas surpreende. São em sua maioria Europeus. Poucos Brasileiros. Mais Argentinos. Os estadunidenses preferem as praias de Varadeiro e os grandes resorts all inclusive do que Havana. Dormimos exaustos. No outro dia, passeando pelo Museu da Revolucion, Gran Teatro de Havana, Floridita e algumas Praças, fizemos todo o roteiro turístico obrigatório. Passando é claro pelo Capitólio, que os cubanos costumam a afirmar ser um centímetro mais alto que o de Washington. Vimos duas feiras do livro, com obras em sua maioria de Fidel e Che. Saindo da fábrica de charutos encontramos Jorge, um cubano que nos apresentou o Bairro Chinês. É onde as prostitutas de Havana dividem espaço com restaurantes e danceterias. Lá , compramos alguns CDs e fomos até sua casa comprar charutos. O povo cubano ganha o equivalente a 10 dólares por mês, mais a cota de alimentação. Os médicos ganham 20. Todos se viram da maneira que podem, e se aproveitam do turismo para isso. Vendem de tudo. O turismo se tornou a grande renda em Cuba. A grande solução e o grande problema. Fomos entender isso quando conhecemos um casal: José e Ariela. O calor continuava insuportável. Caminhávamos mais pelas ruas quando José pediu um cigarro para Alexandre, meu namorado. Começamos a conversar. Ele estava com uma amiga, Ariela. Ambos operários. Começamos a perguntar coisas sobre o país e eles sugeriram que a gente fosse a um bar perto dali. Pediram que a gente caminhasse separado, pois poderiam ter problemas com a polícia. José brincou: “São 11 milhões de habitantes em Cuba. 9 milhões de policiais”. Chagando lá, ficaram mais a vontade e começaram a falar. José reclamou do tratamento diferente dispensado ao turistas. O povo não pode entrar nos mesmos lugares. O turista faz o papel da elite, que tudo pode e tudo tem, enquanto o povo sofre o bloqueio e a falta de alimento. Era dia 17 de agosto e a cota do mês já havia acabado. “Voltei hoje lá para conseguir alguma coisa e olha o que me deram”. Ariela tirou da bolsa uma lata de atum e dois caldos de carne. Tudo devidamente marcado na caderneta. Até um tonel de refrigerante que é distribuído na rua é marcado. Falaram com respeito do Comandante. Não chamam de Fidel, e sim Comandante. Outro exemplo para o povo é José Marti. Onde tu for, tem um monumento a José Marti. O casal disse que era obrigatório visitarmos a casa do pensador. Quando perguntei a eles sobre Educação, falaram com orgulho da escola integral. Eu expliquei que no Brasil não tinha, ela ficou chocada: “mas o que as crianças fazem no outro turno?”. Falou bem da saúde, mas disse que alguns remédios estão em falta na farmácia do governo. O que ela precisava tomar custava 8 dólares, quase o que ela ganhava por mês. Pediu algumas roupas para o filho, disse que não tem cota para isso e que a maioria do povo sobrevive com o que ganham dos turistas. A Internet também é restrita. José disse que ia em um centro de informática, mas só para consultar o e-mail. Me assustou ver o rigor da ditadura, o medo, a rigidez. Nunca havia visto algo assim. Não era nascida quando tinha ditadura no Brasil. Mas o povo cubano é um povo parecido com o brasileiro apesar de tudo: receptivos, alegres, criativos, porém muito mais politizados. Vi duas Havanas nesses três dias em que estive lá. A do turismo e a do povo. Vi ditadura e penso que ela não é boa nem de esquerda, nem de direita. Mas e aqui? Vivemos a ditadura do capital? Pensei na falta de liberdade. Mas penso na falta de liberdade que tem um morador pobre em um país capitalista, que também não pode entrar em certas lojas, nem pegar ônibus, nem viajar, nem muitas vezes comer. Vi a dificuldade de um povo sofrido. Mas também aqui vejo dificuldades, fome, educação e saúde precárias. Temos que pensar numa nova saída.

Este texto veio do Cuca Fundida.

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segunda-feira, outubro 08, 2007

Criação da Realidade

Parece que a grande mídia realmente acredita em sua imparcialidade. Na verdade, eles vão além, parece que eles acreditam que aquilo que é noticiado por eles aconteceu, e, contrariamente, se não foi noticiado não aconteceu.
Sexta-feira passada, dia 5 de outubro, houve uma manifestação contra a RBS, que se comporta no Rio Grande do Sul, como um partido político. Os manifestantes diziam, entre outras coisas que os veículos do grupo RBS, como o jornal Zero Hora, ou a TV Gaúcha, mentem, ou manipulam a verdade.
A data de 5 de outubro foi escolhida para a manifestação porque era o dia em venciam as concessões de diversas emissoras de televisão, inclusive a citada TV Gaúcha. As concessões não são cassadas, são renovadas a título precário, até que o Congresso possa apreciar a renovação da concessão. E obviamente as concessões não serão cassadas, pois seriam necessários 2/5 dos parlamentares votando contra a renovação para uma cassação. Só para lembrar, a família Sarney é concessionária de uma retransmissora da Rede Globo, no Maranhão, e a família Magalhães é retransmissora da mesma Rede Globo na Bahia.
Pois é, mas como eu ia dizendo a manifestação foi feita. Havia grande quantidade de brigadianos para proteger a sede do grupo RBS, contra os possíveis vândalos, na Avenida Ipiranga esquina com a Érico Veríssimo. Mas nada foi noticiado, ao menos na nova Zero Hora on-line. Vi notícias importantes, como as obras na ponte da Azenha sobre o Arroio Dilúvio, com novas pedras, para evitar que miseráveis procurem abrigo sob a ponte. Há também notícias meigas, como o nascimento de filhotes de hipopótamos gêmeos, no zoológico de Sapucaia do Sul (e hipopótamos são bichos muito fofos). Mas nem uma palavra sobre a manifestação contra o grupo. Certamente para o grupo RBS, a manifestação não aconteceu.

Veja mais nos blogs Dialógico e Diário Gauche.

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domingo, outubro 07, 2007

MEU AMIGO ZÉ OU PORQUE CRER É MELHOR DO QUE PENSAR

Como disse certa vez sobre Sarney: acho injusto afirmar que nossos jornalistas não sabem escrever. Fala isso quem pode se sentar confortavelmente na cadeira para digitar. Ora, o principal mérito de nossos repórteres é, precisamente, redigir com as quatro patas no chão.

Para mim, as características básicas de nossa imprensa são a imparcialidade e a sapiência. Opiniões tão apartidárias quanto as de nossos redatores de notícias talvez só se encontrem entre os sunitas do Iraque ou os xiitas da Gaviões da Fiel. Por outro lado, muitas vezes, diante das críticas dos jornais às inumeráveis baldices ditas por Lula, por exemplo, chego à conclusão de que o presidente é poliglota e, ao término do mandato, poderá arrumar facilmente trabalho como exegeta de Kant ou gramático especializado na extinta língua púnica.

Coisa semelhante me ocorreu domingo passado, ao assistir ao Canal Livre. Afinal, à exceção de minha sogra e do meu cunhado, é difícil imaginar alguém por quem nutra tanta antipatia quanto José Dirceu. No entanto, ao escutar os orneios, digo, as perguntas neutras e argutas dos periodistas a ele, no programa, transformei-me imediatamente em seu amigo íntimo e fã número um de sua honestidade.

— O senhor quer controlar a mídia? — pergunta um dos impassíveis interrogadores.
— Não, regulamentar — corrige o político. E enfatiza: — Regulamentação existe em Portugal, Canadá e em todos os países democráticos do mundo.
— Regulamentar não é controlar? — grita serenamente um segundo interlocutor.
— Não, regulamentar é regulamentar — explica o ex-ministro. — Como em qualquer país democrático do mundo, aliás.
— Controlando? — insiste, algo vermelho, o próximo debatedor.
— Não, regulamentando, como em qualquer país democrático do mundo — responde o sabatinado, limpando um perdigoto da testa. Prossegue a interrogação...
— E a liberdade de imprensa, como é que fica?
— Ora, regulamentada! Por sinal, como em qualquer país democrático do mundo.
— Mas isso é controlar a mídia, ministro!
— Nos Estados Unidos, na Grã-Bretanha, na França e em todos os demais países democráticos do mundo ou só no Brasil, caso regulamente?
— No Brasil, ministro, no Brasil!
— Ah, no Brasil, único país democrático do mundo onde ainda não existe a regulamentação?
— Então é isso! Sua proposta é de censura, né? O senhor tá fugindo da pergunta, ministro!

Antes que chamassem o entrevistado por um palavrão, desliguei a TV, lembrando que o comportamento da bancada não havia sido o mesmo quando o convidado do programa fora Fernando Henrique. Mas logo me dei conta de que a diferença de tratamento se devia, obviamente, ao fato de a inatacável presidência do ex-mandatário jamais ter motivado escândalos de compra de apoio de aliados no Congresso.

Então, satisfeito com a liberdade de que desfruta a nossa imprensa, meu primeiro impulso foi o de me filiar ao PT. Com tal intuito, entrei na página do partido na internet. Ali, procurando o local exato onde poderia proceder à filiação, acabei por ler uma série de notícias, coladas da Carta Capital ou Caros Amigos, relativas à perfeição absoluta do governo reeleito e à completa inexistência de corrupção entre os atuais gestores do Estado.

Assim, sorri ainda mais, inferindo que o não-engajamento grassa por toda parte. Depois, acendi uma vela para Stálin e outra para McCarthy — cada um a seu modo, santos defensores da mídia independente e da crítica desapaixonada. E rezei pelos editores do Vermelho e da Veja.

Por fim, tomado pela euforia que só as pessoas que apreciam a inteligência e o livre-pensamento possuem, tirei os arreios, as ferraduras, e fui dormir. Contente.
Texto do Marconi Leal.

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sábado, outubro 06, 2007

Relembrando o Dr. Záchia

No final da semana passada o nosso alcaide, Dr. José Fogaça retornou ao PMDB, partido do qual saíra alguns anos antes, tendo sua ficha abonada pelo nosso ilustre senador ético, Dr. Pedro Simon.
Enquanto isso, como se sabe, o Dr. Luiz Fernando Záchia, deputado licenciado é secretário da Casa Civil do governo estadual da Dra. Yeda Crusius.
O blog RS Urgente já havia perguntado, mas cabe perguntar novamente: que providencias o Dr. Záchia pretende tomar contra o que ele chamava de "pardais faturadores", quando denunciava a "fúria arrecadatória do PT", quando este partido foi governo municipal e estadual?

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sexta-feira, outubro 05, 2007

O (Des) encontro da mídia com a periferia

Depois de mais de uma década de boicote à grande imprensa, Mano Brown, maior nome das periferias brasileiras, foi ao encontro da mídia. Esta semana esteve no Roda Viva, da TV Cultura, o mais prestigiado (um dos únicos) programa de debates da televisão aberta

O rapper foi autêntico. Emitiu opiniões controversas e diretas que quase nunca (ou nunca) são defendidas nos grandes meios de comunicação do país.

Defendeu traficantes, camelôs e torcida organizada. Cuba, socialismo, os evangélicos e o candomblé.

Apontou pontos fortes e fracos da política de combate à pobreza. Defendeu as cotas para negros nas universidades - "isto é o mínimo", disse.

Defendeu o presidente Lula e a conduta dele diante dos últimos casos de corrupção. Defendeu o líder sem-terra José Rainha, a ex-prefeita Marta Suplicy e os seus CEUs.

Atacou a Ambev. Atacou a pinga 51. Desdenhou do governador de São Paulo, José Serra. Desdenhou da Nike e da Adidas.

Rechaçou o papel de herói. Expôs fragilidades próprias. Manteve o controle das ações. Foi respeitoso, e impôs respeito.

Por sua vez, a banca de entrevistadores não foi contundente. Parecia não estar num bom dia. Sofrer de algum tipo de paralisia momentânea e coletiva. Estar, de alguma maneira, menos potente. "Ta suave até agora, tô até estranhando", notou o próprio Brown.

Estavam lá jornalistas e estudiosos de gabarito, que já haviam participado do programa e de outros debates com desenvoltura.

São nomes representativos da imprensa de comportamento e cultural, do jornalismo de opinião conservadora e da TV Pública, da cobertura social e policial. Também da psicanálise e das letras - neste último caso, o único entrevistador oriundo da periferia.

A bancada não acusou Brown de ser generalista na sua crítica a policiais. Não o acusou de fazer apologia ao crime. Não o questionou sobre o tumulto da Virada Cultural, em São Paulo.

Não o questionou claramente sobre o que pensa das elites. Nem sobre o que pensa da classe média, da mídia e de uma política de segurança possível.

Esteve tímida e constrangida. Teve medo do líder dos Racionais MC's. E demonstrou pouco conhecimento dos valores da periferia, sem admiti-lo.

A cada declaração desconcertante de Brown se sucedia um silêncio pesado, tensão, desconforto. "O que vocês chamam de traficante, chamo de comerciante, o cara que comercializa cocaína". Ou: "O dono da 51 não tira cadeia. A Ambev não tira cadeia. Se você tomar quatro latas de cerveja, você vira super-homem na Marginal", disse o rapper.

Ou ainda: "os nossos amigos, da nossa família, do nosso parceiro, das caras que estão lado a lado, muitas vezes é o traficante", disparou.

Brown pronunciou idéias e palavras estranhas aos ouvidos de todos cuja maior fonte de informação sobre a periferia é a mídia. Simpáticas ou antipáticas, são impressões tiradas do ângulo da periferia. E este ângulo não tem espaço cativo na nossa grande imprensa.

Acredito que a falta de pegada dos entrevistadores esteja ligada ao divórcio entre boa parte da cobertura jornalística e os bairros periféricos das grandes cidades. É até clichê afirmar que a favela só está nas páginas policiais dos jornais.

Os órgãos de imprensa não cobrem bem as áreas habitadas por populações cujo poder de consumo não atinge a faixa de público procurada por seus anunciantes. Quando o fazem, é com o ângulo de quem é de fora.

Salvo importantes exceções, como o trabalho do repórter André Caramante e de outros observadores que vivem o dia-a-dia das comunidades - eles fizeram falta ao programa.

A grande imprensa (refiro-me ao jornalismo, e não ao entretenimento) fala cada vez menos com a periferia. Já faz um tempo que estes moradores deixaram de levar esta mídia em conta. Isso é fruto de um distanciamento imenso.

Representantes de comunidades e a mídia da periferia provavelmente estariam mais à vontade para questionar Brown. As idéias propagadas pela cultura rap estão longe de ser unanimidade no seu habitat. Perdeu-se a chance de conhecer mais a fundo o que pensa esta liderança.

Um encontro verdadeiro entre a mídia e a periferia será benéfico para a sociedade. Isso acontecerá quando representantes das comunidades forem presença generalizada nas redações. E quando as demandas e expressões periféricas tiverem a cobertura que merecem.

Este processo já está em curso. Por enquanto, a grande mídia está de fora. Cada vez mais isolada, paralisada e com medo.


Ricardo Kauffman no Terra Magazine, também visto nas Leituras e Opiniões do Luis Favre.

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Mano Brown no Roda Viva




Mano Brown no Roda Viva, via Leituras e Opiniões do Luis Favre.

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quinta-feira, outubro 04, 2007

Mianmar Livre! E o Paquistão?...

Em tempo: este blogueiro consultou o Sr. Google e não encontrou nenhum linque concentrador pedindo liberdade para o povo do Paquistão. Isto na primeira página da pesquisa. Já para pedir liberdade para o povo de Mianmar aparecem vários linques na primeira página.

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Mianmar Livre!

Amanhã muitos blogueiros irão parar de "postar" em um silêncio pela liberdade em Mianmar. Clicando na imagem abaixo, é possível ir para o saite promotor.


Este tipo de manifestação sempre me deixa com um pouco de "pé atrás". Sempre pode haver uma mãozinha do NED (National Endownment for Democracy, ou "Fomento Nacional pela Democracia"), aquela entidade, digamos, para-governamental dos Estados Unidos, para, como eles dizem, ajudar "o desenvolvimento da democracia". Há a suspeita que esta entidade esteja envolvida nas rebeliões que acabaram derrubando governos na Ucrânia, na antiga Iugoslávia e na Geórgia, bem como nas tentativas de golpe e de locaute que ameaçaram o governo Chávez na Venezuela.
Mas que alternativa eu tenho? Deixar as coisas como estão?

Com notícia do blog do Pedro Dória.

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terça-feira, outubro 02, 2007

Este Blog Vale a Pena Conferir

Este blog foi distinguido pela Luma, no blog dela, como um blog que "Vale a Pena Conferir". Obrigado Luma! O prêmio muito me alegra!


Abaixo as regras do selo:

As regras para o uso do selo são:
1. Basta indicar 5 blogs que você realmente ache interessante, mesmo que eles já tenham sido escolhidos por outros blogueiros.
2. O objetivo é unir blogs que se comunicam e formam uma grande rede na blogosfera com textos interessantes com a intenção de compartilhar, criar e interagir com todos os blogueiros de plantão.

Como todas as listas, sempre vai algo de arbitrário, e selecionamos uns e deixamos outros. Enfim, coisas...

Passo o selinho para:
5. Crônicas do Heuser

É isso...

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Do Diário Gauche: Por que o Rio Grande é Assim - 9

Por que o Rio Grande do Sul é assim – parte IX


No Rio Grande do Sul não houve crise da tabuleta

Em 1901, Machado de Assis lança o seu último grande romance, Esaú e Jacó. Como bom monarquista que era, aproveita e critica a República nascente. E enfia uma anedota na história dos gêmeos deputados. A chamada “crise da tabuleta”.

Um sujeito de nome Custódio tinha um comércio de doces no Catete, a “Confeitaria do Império”. Quando vem a República, dia 15 de novembro, o doceiro, que por casualidade já havia mandado pintar uma tabuleta nova, escreve um bilhete telegráfico às pressas ao pintor ordenando-lhe de forma categórica: “Pare no D”. Mas este não o atendeu e lascou os dizeres completos “Confeitaria do Império”. Desolado, o confeiteiro foi conversar com o Conselheiro Aires. O ardiloso amigo, considerando que de fato nada estava definido na instável conjuntura nacional sugere o nome “Confeitaria do Governo”, mas acaba ficando “Confeitaria do Custódio” – o nome próprio do doceiro, o que evitaria qualquer transtorno político para o promissor comércio de pastéis de Santa Clara da nova Capital republicana.

Com essa anedota crítica, Machado, repito, monarquista convicto, faz quase uma sociologia do espírito “ética dupla” (Weber) do Rio de Janeiro – e do Brasil – da época, mais tarde muito bem estudado por Sérgio Buarque em Raízes do Brasil.

Um episódio como esse seria inconcebível no Rio Grande do Sul de então. Se no resto do Brasil, em todas as Províncias, a passagem do Império para a República foi rigorosamente uma simples troca de tabuleta, na Província meridional houve uma modificação radical e definitiva.

Nenhum quadro monarquista permaneceu no poder, depois de novembro de 1889. Muito menos os liberais, e menos ainda os vacilantes liberais republicanos. Os piolhos da monarquia deram lugar à novíssima geração do Partido Republicano Rio-grandense (PRR), liderada pelo jovem Júlio de Castilhos.

Como se dizia na época, era uma “plêiade de jovens idealistas radicalizados” positivistas anti-liberais, anti-monarquistas, favoráveis a um Estado forte e autoritário, federalistas separativistas (mas não separatistas), contrários ao Poder Legislativo (que nunca prosperou com o castilhismo), modernizadores burgueses, politizados e, apesar de militarizados, sempre, radicalmente civilistas. Entretanto, o traço fundamental, não só da doutrina positivista, mas sobretudo da administração concreta dos militantes do PRR, foi o marcado caráter anti-oligárquico e anti-patrimonialista dos seus governos de quase quatro décadas.

Tal era o programa do PRR, tal foi o governo do PRR. Racional e coerentemente uma coisa se alimentava da outra, sem vacilações ou revisões de ocasião, tanto que era chamada de administração da "ditadura científica".

A inexistência de Poder Legislativo, só de uma assembléia de representantes que funcionava sessenta dias ao ano como conselho fiscal das contas do Executivo, e o tratamento convergente com as demandas populares fez do castilhismo-borgismo um regime singular no mundo, naquele final de século 19 e início de século 20.

Nada do regime monárquico-liberal ficou de pé naquele Rio Grande autenticamente heróico e vitorioso, muito mais heróico do que a mitificada (e derrotada) guerra civil Farroupilha – do qual a direita hoje tenta se apropriar de forma oportunista e ideologizada.

Adiante veremos mais desse candente e atual tema histórico.


Fotografia de Machadinho, por Marc Ferrez.

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