O Fim da Edição Impressa do Jornal do Brasil
O Fim da Edição Impressa do Jornal do Brasil
A informação que se espalhou pela Internet é que o Jornal do Brasil, JB para os íntimos, deixará de ter circulação impressa, talvez a partir de setembro, ficando restrito a um sítio na Grande Rede, com material exclusivo para assinantes. O JB existe desde 1891, e segue caminho semelhante ao americano Christian Science Monitor.
Hoje (14 de julho) pude ler muitos lamentos a respeito do final da edição impressa do jornal. Textos de Ruy Castro e Fernando Gabeira, na Folha de São Paulo. Um longo texto de despedida de Luiz Gonzaga da Silva no blog do Luís Nassif. Muita tristeza. Não é à toa, na verdade. Grandes e antigos nomes do jornalismo brasileiro trabalharam no JB. O Elio Gaspari, que eu tanto admiro, trabalhou lá, bem como os referidos Ruy Castro e Fernando Gabeira. O jornalista Alberto Dines, hoje um dos coordenadores do Observatório da Imprensa também. Até não muito tempo atrás, o JB era considerado um dos quatro grandes jornais de nível nacional do Brasil (os outros seriam O Globo, O Estado de São Paulo e a Folha de São Paulo). Mas desde o final da ditadura militar entrou em decadência, com tiragens diárias decrescentes.
O pessoal exalta muitas coisas do velho Jornal do Brasil, mas principalmente o projeto gráfico que, nas palavras do pessoal, “revolucionou” o formato do jornal no final da década de 1950, e que fez os outros jornais seguirem-no, e uma capa da edição do dia 14 de dezembro de 1968, dia seguinte ao decreto do AI-51, onde, entre coisas, falava do “clima sufocante” na previsão do tempo (e nisso pensava no “clima” político) , e lembrava que o dia anterior era o “dia dos cegos” (mas certamente não era com os deficientes visuais que o jornal estava preocupado naqueles dias).
Mas como diz o ditado, “aos amigos tudo, aos inimigos os rigores da lei”. Ninguém lembrou do envolvimento da família Britto Nascimento, então proprietários do jornal, na conspiração civil-militar que culminou no golpe militar que pôs fim ao regime constitucional do Brasil em 1964, depondo o presidente João Goulart2. Faz parte. O antigo Correio da Manhã, outro jornal carioca, clamou pelo golpe e saudou-o quando ele veio (o golpe). Posteriormente o Correio da Manhã acabou fechado por conta das pressões contra o jornal por parte do regime autoritário que fora antes invocado.
Mas, de fato, acho que é digno de lamentação que o velho jornal deixe de circular. A tendência é que ele fique ainda menos relevante, e muita gente venha a perder o emprego.
É difícil saber em que grau o surgimento da Internet e a má administração do jornal se combinaram para este fim.
E há aquela questão, os jornais estão sumindo, mas o que está assumindo seu papel, os sítios eletrônicos, não costumam ser agregadores como estes velhos diários.
14/07/2010.
jar
1O AI-5 é considerado, como “o golpe dentro do golpe” (civil-militar de 1964). Cassou o direito ao habeas-corpus, e deu poderes discricionários ao presidente da república, tais como cassar o mandato de parlamentares.
2Pelo que me lembro, é o que informa René Dreyfuss, em seu livro “1964, A Conquista do Estado”, publicado no início da década de 1980.
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