sexta-feira, julho 16, 2010

Laboratório Farmacêutico ocultou pesquisa sobre efeitos colaterais graves de remédio para tratamento de diabetes

Laboratório ocultou os riscos de medicamento para diabetes

Agência reguladora dos EUA pode proibir a venda do remédio

GARDINER HARRIS
DO "NEW YORK TIMES"

Em 1999, a farmacêutica SmithKline Beecham lançou, em segredo, um estudo para descobrir se seu remédio Avandia, para diabetes, era mais seguro para o coração que o rival Actos, da Takeda.
Os resultados do estudo, completado no mesmo ano, foram desastrosos. O Avandia não era melhor que o Actos e, pior, provocava ainda mais riscos cardíacos.
Em vez de publicar os resultados, contudo, a empresa passou os 11 anos seguintes tentando acobertá-los, segundo revelam documentos aos quais o "New York Times" teve acesso.
A empresa não publicou os resultados nem os transmitiu aos reguladores de drogas, como manda a lei.
"Atendendo ao pedido da direção da empresa, esses dados não devem ser vistos por ninguém fora da GSK [a sucessora corporativa da SmithKline]", escreveu um executivo da SmithKline, Martin I. Freed, em e-mail de 29 de março de 2001, falando dos resultados do estudo obtidos pelo jornal.
Os riscos de ataque cardíaco decorrentes do uso do Avandia vieram a público pela primeira vez em 2007, com um estudo de um cardiologista da Clínica Cleveland.
Ele usou dados que a empresa foi forçada a postar em seu site por ação judicial.
Nos meses seguintes, diretores da GlaxoSmithKline admitiram que sabiam dos riscos potenciais de ataque cardíaco ligados ao medicamento pelo menos desde 2005.
Mas os documentos mais recentes mostram que a companhia sabia disso desde que a droga foi posta no mercado, em 1999, e esforçou-se para impedir sua divulgação.
Em um documento, a empresa procurou calcular quanto perderia em vendas se os riscos do Avandia à segurança cardiovascular "se intensificassem". O custo seria de US$ 600 milhões entre 2002 e 2004.
Mary Anne Rhyne, uma porta-voz da GlaxoSmithKline, disse que a empresa não divulgou os resultados porque eles "não contribuíram com novas informações".
A empresa disse que o Avandia é seguro e que Freed não trabalha mais para a GlaxoSmithKline.
Uma comissão da FDA (agência reguladora de remédios nos EUA) está reunida desde ontem para decidir se o Avandia deve continuar a ser vendido.
Houve época em que ocultar os resultados de testes clínicos negativos era prática amplamente difundida na indústria farmacêutica.
Em 2007, o Congresso aprovou uma lei que torna obrigatória a divulgação dessas informações. Mas os posts divulgados com frequência não passam de referências de compreensão difícil, de maneira que a questão está longe de resolvida.

Tradução de CLARA ALLAIN

Texto do The New York Times, reproduzido na Folha de São Paulo, de 14 de julho de 2010.


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