terça-feira, julho 31, 2007

Jânio de Freitas: Cansei de 'Basta!'

JÂNIO DE FREITAS

Cansei de "basta!"

O que mais deseja a riqueza do país, além das condições inigualáveis que o governo Lula lhe proporcionou?

O ODOR EXALADO pelo movimento "Cansei", ainda que nem todos os seus fundadores tenham propósitos precisamente iguais, é típico do golpismo que sempre foi a vocação política mais à vista na riqueza, não importa se cansada ou não. A fonte de onde surge não lhe nega a natureza pressentida: um escritório de negócios em São Paulo, tal como se identificaria nos primórdios de todos os golpes e tentativas de golpe desde 1944/1945, pelo menos.
Também denominada "Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros" -batismo que os padrinhos relegaram, por considerarem o apelido "Cansei" mais representativo dos seus propósitos- o que a iniciativa sugere, de fato, é uma interrogação.
O que mais deseja a riqueza brasileira, além das condições inigualáveis que o governo Lula lhe proporcionou? O fim da inflação, o emudecimento do sindicalismo e das reivindicações sociais; concessões transgênicas para todos os tipos de grandes empresas e negócios, Bolsa farta e imposto baixinho ou a zero; e, sobretudo, a transferência gratuita de um oceano de dinheiro dos cofres públicos para os da riqueza privada, por intermédio dos juros recordistas concedidos pelo próprio governo aos títulos de sua emissão. Ainda não basta?
O que deseja a riqueza não pode ser a correção das deformidades socioeconômicas, institucionais e políticas que refreiam o Brasil, enquanto países do seu aparente status desenvolvem-se a níveis exuberantes. É da não-correção que vem grande parte das facilidades pelas quais a riqueza se multiplica sem cessar: a fraqueza ética do Congresso, a corrupção administrativa que só tem o corrupto e não o corruptor, as eleições movidas a marketing endinheirado, e por aí.
Além disso, nunca se viu a riqueza movendo-se, de fato, por correções e reformas a serviço do interesse do país. Os seus lobbies e outros meios só se movem, historicamente, por alterações que privilegiem os interesses da própria riqueza privada. Assim é a história parlamentar e administrativa do Brasil, para dizer o mínimo, do último meio século.
O governo Lula deu e dá à riqueza privada a situação que a ela deu o "milagre econômico" da ditadura, porém, agora sem os inconvenientes produzidos pela força. A quem vive no Brasil em nível de primeiríssimo mundo, conviria, portanto, demonstrar um pouco mais de compostura. Se não para aparentar recato que lhe falte, por um grão a mais de esperteza.
"Cansei" -e daí? Vai fazer ou, pelo menos, propõe o quê, de objetivo, prático e necessário? Disse um dos "cansados": "Queremos despertar em cada indivíduo o que ele pode fazer para mudar o país". Pois façam isso no seu próprio movimento. Sem que, para tanto, o seu alegado cansaço exale sentidos que, intencionais ou não, negados ou não, vão até onde não devem.



Da Folha de São Paulo: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc3107200705.htm

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segunda-feira, julho 30, 2007

"Cansei"



Angeli, via Blog Entrelinhas.

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Efeitos Colaterais

O jornal Correio do Povo de sábado informa um efeito colateral da chamada crise aérea. O Congresso está tendo que trabalhar.
O jornal relata que a reunião do Senado que ratificou a diretoria atual da ANAC - Agência Nacional de Aviação Civil, foi mais uma confraternização que uma análise das aptidões dos candidatos. Uma frase é sintomática, o então candidato Milton Zuanazzi, vindo do ministério do Turismo, diz que a ANAC quer que os aviões andem cheios (lotados). Bom, parcialmente é isto que está acontecendo.
Agora o Congresso também está em busca de soluções.
A CPI da Crise Aérea também constatou que alguns funcionários da ANAC recebem passagens gratuitas das empresas aéreas, e já está recomendando que eles não usem mais este benefício.
Talvez, se manifestarem real interesse em corrigir problemas, e não apenas aparecer, a imagem do Congresso até melhore.

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quinta-feira, julho 26, 2007

Do Observatório da Imprensa: Blogueiros Iranianos Obrigados a se Reregistrarem

Edição 436 de 5/6/2007
www.observatoriodaimprensa.com.br
URL do artigo: www.observatoriodaimprensa.com.br

IRÃ

Blogueiros obrigados a se registrar para evitar bloqueio

Em mais uma medida agressiva à liberdade de expressão, o governo do presidente Mahmoud Ahmadinejad passou a exigir que todos os blogueiros do Irã façam um cadastro em um sítio criado pelo Ministério da Cultura. Para que o blog não seja bloqueado, é necessário que o blogueiro informe dados pessoais, incluindo o login e a senha para atualizar sua página.

A medida foi extremamente criticada pelos blogueiros iranianos - que totalizam quase um milhão no país. Segundo Mehdi Boutorabi, gerente do serviço de hospedagem de blogs Persianblog, cerca de 10% dos blogs são ativos - ou seja, são atualizados constantemente. Sua empresa hospeda mais de 780 mil blogs em língua persa. De acordo com o buscador de blogs Technorati, o farsi - língua nativa do Irã - é um dos 10 idiomas mais usados online.

Em protesto à decisão governamental, Parastoo Dokouhaki, conhecida blogueira que escreve sobre os direitos das mulheres, colocou em seu blog um banner com a frase "Eu não vou registrar meu sítio!". Depois disso, a página foi bloqueada para acesso de dentro do Irã.

Sem liberdade de expressão

A censura no país não atinge apenas os blogs. A maior parte dos jornais críticos ao governo foi fechada, as emissoras de TV por satélite são proibidas e livros são freqüentemente censurados. Por isso os blogs se tornaram um canal de expressão cada vez mais popular na sociedade iraniana.

Reconhecendo a importância crescente da internet, na última eleição presidencial, vários candidatos criaram seus próprios blogs. Ironicamente, o presidente Ahmadinejad lançou o seu no ano passado, em farsi, inglês, francês e árabe, para divulgar suas idéias e manter contato com os iranianos - obviamente, filtrando todos os comentários críticos a seu governo. Informações de Saeed Kamali Dehghan [The Guardian, 7/6/07].


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quarta-feira, julho 25, 2007

Manifestação do MST em Frente à Caixa Federal

Nesta quarta-feira, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra - MST promoveu uma manifestação em frente à agência da Caixa Econômica Federal da Rua da Praia, aqui em Porto Alegre (RS) sob olhar atento de nossa Brigada Militar.


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Selos



By Kayser.

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terça-feira, julho 24, 2007

Do Observatório da Imprensa: Os Ricos Também Apóiam Lula

Edição 441 de 10/7/2007
www.observatoriodaimprensa.com.br
URL do artigo: www.observatoriodaimprensa.com.br


NÚMERO-NOTÍCIA
Os ricos também apóiam Lula

Miguel Gomes Barbosa do Rosário

Senti falta, na imprensa, de mais detalhes da pesquisa do Ibope sobre o governo. Tem umas coisas bem interessantes, que desfazem mitos como aquele de que só os pobres apóiam Lula. Entre o grupo com estudo superior completo, os que aprovam Lula são 49%, contra 46% que desaprovam.

Lembrando, o total que aprova Lula é 66%, contra 30% que desaprovam. Uma diferença de 36%, ou seja, correspondente a mais de 70 milhões de habitantes. Em outros termos, mais de 120 milhões de cidadãos brasileiros aprovam Lula, contra 60 milhões que desaprovam.

Na pesquisa por renda mensal, a tabela do Ibope mostra que a faixa mais rica, que ganha acima de 10 salários mínimos, ou seja, mais de 4.000 por mês, também aprova Lula. Nesta faixa, 53% aprovam Lula, contra 41% que não aprovam. Uma diferença de 12%. Na realidade, Lula é aprovado em todas as faixas salariais, mas com maior intensidade entre os mais pobres. O que é extremamente saudável e um sinal de que o governo está no caminho certo. O estranho para um presidente de um país pobre seria o contrário: ser apoiado por ricos e detestado pelos pobres.

Confiança do povão

Há ainda um outro dado impressionante. O Ibope pergunta que nota o entrevistado daria à Lula, de 0 a 10. Sabe qual foi a nota mais votada? Adivinha? A nota 10. Apenas 6% deram nota 0, enquanto 20% deram nota 10. Imagine se os jornalões dessem a manchete: "Maioria dos brasileiros dá nota 10 a Lula".

Continuando. Na tabela de notas por segmento econômico, Lula também tem excelente performance entre os mais ricos. Entre os mais pobres, nem preciso dizer. O que pretendo aqui é desmistificar essa história de Lula fazer sucesso apenas entre os que ganham bolsa-família. Pois bem, entre os que ganham mais de 10 salários mínimos, ou mais de 4 mil reais por mês, 8% dão nota 10, contra somente 5% que dão nota zero. E, ainda falando dos ricos, 57% dão nota acima de 6.

O Ibope faz ainda uma outra pergunta, parecida. Você confia ou não no presidente Lula? Lula ganha em todos os segmentos sociais, inclusive nos que ganham acima de 10 salários mínimos - neste segmento, 47% confiam em Lula, contra 46% que não. Entre os mais pobres, Lula ganha esmagadoramente: 73% dizem confiar em Lula, contra 24% que não confiam. Quem freqüenta lugares populares, sabe como é difícil um político ganhar confiança do povão, sempre disposto a chamar todo mundo de ladrão.

Jornalões perdem o bonde

Quer mais?

O Ibope faz a seguinte pergunta: em relação ao primeiro mandato, o segundo mandato do presidente Lula está sendo: melhor, igual ou pior? Novamente, Lula leva a melhor em todos os segmentos econômicos. Entre os pobres, 83% acham que é igual ou melhor. Entre os ricos (que ganham mais de 4 mil por mês), 78% acham que está igual ou melhor, mesmo percentual registrado para o total dos entrevistados.

Calma, não acabou. A aprovação de Lula é avassaladora em todas as regiões do país, e não apenas Nordeste, como algumas chamadas jornalísticas sugerem. No Sul, Lula é aprovado por 52% dos brasileiros, contra 42% que não aprovam. No Sudeste, Lula é aprovado por 62%, contra 32% que desaprovam. Em todas as outras, a aprovação ainda é maior.

A conclusão é óbvia. Lula vem sendo apoiado entre pobres, classe média e ricos. Ou seja, os jornalões, que vendem para a classe média e os ricos, e que compraram uma briga totalmente intransigente e partidária contra o presidente Lula, estão perdendo o bonde da história. E assinantes.


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segunda-feira, julho 23, 2007

ACM - 1

- E aí, viste que morreu o ACM?
- Sim, vi...
- E?...
- Bom, o que posso dizer a princípio é que fico mais feliz do que triste.
- Por que?
- Bom, acho que vou escrever sobre isto no meu blog. Se eu fosse falar agora, daqui a pouco tu ias dizer que é muito blá, blá, blá.

(Isto é apenas uma primeira nota sobre a recente morte do senador da república e cacique político baiano [em 20/07/2007])

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Coro dos Vaiadores

Cumplicidade

Luis Fernando Verissimo

Uma comprida palavra em alemão (há uma comprida palavra em alemão para tudo) descreve a "guerra de mentira" que começou com os primeiros avanços da Alemanha nazista sobre seus vizinhos. A pouca resistência aos ataques e o entendimento com Hitler buscado pela diplomacia européia mesmo quando os tanques já rolavam se explicam pelo temor comum ao comunismo. A ameaça maior vinha do Leste, dos bolcheviques, e da subversão interna. Só o fascismo em marcha poderia enfrentá-la. Assim muita gente boa escolheu Hitler como o mal menor. Ou, comparado a Stalin, o mau menor. Era notório o entusiasmo pelo nazismo em setores da aristocracia inglesa, por exemplo, e dizem até que o rei Edward VIII foi obrigado a renunciar não só pelo seu amor a uma plebéia mas pela sua simpatia à suástica. Não tardou para Hitler desiludir seus apologistas e a guerra falsa se transformar em guerra mesmo, todos contra o fascismo. Mas por algum tempo os nazistas tiveram seu coro de admiradores bem-intencionados na Europa e no resto do mundo - inclusive no Brasil do Estado Novo. Mais tarde estes veriam, em retrospecto, do que exatamente tinham sido cúmplices sem saber. Na hora, aderir ao coro parecia a coisa certa.

Comunistas aqui e no resto do mundo tiveram experiência parecida: apegarem-se, sem fazer perguntas, ao seu ideal, que em muitos casos nascera da oposição ao fascismo, mesmo já sabendo que o ideal estava sendo desvirtuado pela experiência soviética, foi uma opção pela cumplicidade. Fosse por sentimentalismo, ingenuidade ou convicção, quem continuou fiel à ortodoxia comunista foi cúmplice dos crimes do stalinismo. A coisa certa teria sido pular fora do coro, inclusive para preservar o ideal.

Se esses dois exemplos ensinam alguma coisa é isto: antes de participar de um coro, veja quem estará do seu lado. No Brasil do Lula é grande a tentação de entrar no coro que vaia o presidente. Ao seu lado no coro poderá estar alguém que pensa como você, que também acha que Lula ainda não fez o que precisa fazer e que há muita mutreta a ser explicada e muita coisa a ser vaiada. Mas olhe os outros. Veja onde você está metido, com quem está fazendo coro, de quem está sendo cúmplice. A companhia do que há de mais preconceituoso e reacionário no país inibe qualquer crítica ao Lula, mesmo as que ele merece.

Enfim: antes de entrar num coro, olhe em volta.

Dizem que saiu na ZH, mas eu vi no Emílio Pacheco.

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Desastre de Congonhas

Leio no Correio do Povo (23/07/2007) que a Polícia Civil de São Paulo abriu um inquérito para investigar o acidente com o avião da TAM na semana passada. O delegado responsável, Antonio Carlos de Menezes Barbosa, quer ouvir pilotos que dirigiram a aeronave acidentada, e técnicos.
Estou aguardando a Polícia Civil de São Paulo declarar algo sobre a cratera do metrô, que aconteceu alguns meses atrás. Foi aberta investigação? Se foi, em que pé estão as apurações?

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domingo, julho 22, 2007

Marco Aurélio Garcia

Vale qualquer coisa para tentar atingir o presidente Lula, até se escandalizar com um gesto supostamente obsceno do assessor da presidência Marco Aurélio Garcia, captado sorrateiramente enquanto este assistia ao Jornal Nacional em seu gabinete.
Interpretaram que com o tal gesto o assessor dizia que a empresa aérea é que iria, vamos dizer assim, se dar mal. Acho que não. Embora eu não possa falar pelo assessor, acho que foi algo como um desabafo, e acho que ele se referia àqueles que estão tentando a todo custo , digamos de novo, fazer o governo se dar mal, com a tragédia acontecida em Congonhas esta semana.

Abaixo, o fradim, personagem do Henfil, que gostava de usar o tal gesto obsceno, pescado via Diário Gauche.

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sexta-feira, julho 20, 2007

Pequena Mídia : Por quê vê-se tão pouco essas imagens na televisão?

quinta-feira, julho 19, 2007

O Recente Desastre Aéreo e a Política

O desastre desta semana com o vôo JJ3054 da TAM, em Guarulhos gerou muito calor na Internet. E também fora dela.
Um conhecido meu tão logo me viu, tratou de culpar o governo federal, pois segundo ele, um depoimento de um superintendente da Infraero teria dito que a reforma da pista de Congonhas não havia sido finalizada como deveria, pois foi apressada "por pressões políticas". Meu conhecido é um anti-petista de carteirinha. Foi militante do PDT, e sabe (eu acho que ele reconhece) que o PT cresceu em Porto Alegre, em boa parte, ocupante parte do espectro político que o PDT ocupava. Ele mesmo já me disse que o PT, isso antes da presidência Lula, parecia muito com o antigo PTB, aquele que existiu de 1946 a 1964, até ser extinto pelo governo militar.
Mas várias pessoas culparam o governo federal pelo acidente (veja uma crítica a um colunista da Folha de São Paulo, por exemplo, no sítio do Paulo Henrique Amorim, o Conversa Afiada, e outra no Blog Entrelinhas). Pode até ser que de fato o governo federal de fato tenha sido culpado, mas vamos aguardar as investigações. Pode ter sido falha humana (dos pilotos), pode ter sido avaria na eletrônica do avião, há mais de uma hipótese. Por isso a investigação precisa acontecer.
A revista Veja, não sei se na semana passada, ou na anterior já denunciava que Congonhas operava acima do seu limite, mas nem por isso levantou a hipótese de fechar o aeroporto. Ao contrário do que eu esperaria da Veja, ela forneceu até conselhos para aliviar o tráfego do Congonhas. Dirigir mais vôos para Guarulhos e Viracopos, dirigir parte do tráfego internacional para o Galeão-Tom Jobim que está operando atualmente abaixo de sua capacidade.
Enfim, vamos aguardar.

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Das Crônicas do Heuser: Os Especialistas

Os Especialistas

Por Paulo Heuser

Eles aparecem em qualquer roda de conversa, mesmo quando não há roda. Sobressaem em qualquer discussão, na proporção direta da polêmica. São os Especialistas. Deveríamos chamá-los de generalistas, pois entendem de tudo. Porém, entendem tudo de tudo. É o que os torna Especialistas. São os especialistas universais, que dominam qualquer assunto. Sabem onde surgiram o sanduíche Farroupilha e o hábito de grudar tatu sob a classe da escola. Os especialistas – minúsculos – dominam apenas uma ou duas áreas do conhecimento humano. Assim são os médicos especialistas. O oftalmologista entende de olho, o neurologista entende de nervos, o ortopedista entende de gesso. Há médicos generalistas, que entendem de tudo um pouco, recorrendo aos médicos especialistas que entendem muito de pouco, caso julgarem necessário. Contudo, quase não há médicos Especialistas, pois aprendem a medir sua ignorância.

Os Especialistas surgem daqueles que não estudaram as disciplinas, os leigos. Ignoram a ignorância. Assim, podem externar qualquer coisa com a máxima convicção, sem freios internos. Sentem-se à vontade. Normalmente falam alto, no limiar do grito. Não opinam, exaram sentenças de última instância. Última e única, sem dar margem aos recursos. O que mais irrita os generalistas, e os apenas especialistas, é o fato de os Especialistas sempre estão certos. Ou, pelo menos, incontestes. Ninguém tem coragem de contestá-los, pois ignorantes da própria ignorância, ignoram também o processo dialético. Quando o impossível ameaça acontecer, apesar da impossibilidade, os Especialistas realizam convenientes adaptações da realidade. Passam a viver num mundo de para-realidades, no qual escolhem a mais conveniente.

Um autêntico Especialista desconfia da opinião do médico, seja de generalista ou de especialista. Aliás, o Especialista não crê em médico generalista, vai direto ao especialista, levando exames não-solicitados, auto-entrevista, diagnóstico, prognóstico e determinação do tratamento. O Especialista só vai ao médico para obter uma receita, já que o ignorante farmacêutico ignora sua Especialidade.

O futebol é um campo fértil para os Especialistas. Conhecem até os calos dos jogadores. Sabem quem é a mãe do juiz e a amante do dirigente. O Pan ofereceu excelente oportunidade para que os Especialistas mostrassem sua Especialidade nos mais variados e incomuns esportes, como badmington e bola de gude olímpica. Criticam a forma como o sujeito segurava o cabo da raquete e o balanceamento das plumas da peteca.

Nenhuma área do conhecimento humano atrai mais Especialistas do que a aviação após um acidente aéreo. Descobrimos Especialistas na TV, no elevador, no táxi, no restaurante, na fila. Três minutos após o acidente, eles já têm certeza sobre as causas que levaram ao desastre. Especialistas não morrem nos acidentes aéreos, pois não entrariam naquele avião, daquela companhia, com aquele piloto, com aquele lanche, para aquele aeroporto, controlado por aquele controlador, governado por aquele governo e oposto por aquela oposição. Seria muita ignorância!

www.pauloheuser.blogspot.com


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Luto



Via Bodega Cultural...

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terça-feira, julho 17, 2007

Bessinha



Via Diário Gauche.

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segunda-feira, julho 16, 2007

Manifestação Taxistas em Porto Alegre, 16/07/2007

Na última semana, dois taxistas foram assassinados em Porto Alegre

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Vaiaram o Lula na Abertura do Pan

Vaiaram o presidente Lula na abertura dos Jogos Panamericanos na sexta-feira passada, dia 13. Foi o assunto político do final de semana, com pessoas questionando as motivações de quem vaiou, outras dizendo que foi armação, pois diversos ingressos teriam sido entregues a funcionários da prefeitura do Rio, e até com vídeo no YoutTube, de como no ensaio da abertura, já houve vaia.
No G1, hoje, Lula se revela chateado, e não quer saber de explicações, se foi armação, nada.
Mas o fundamental é isso.
Vaiaram o Lula no Maracanã.
Aplaudiram o César Maia.
Então tá.

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sábado, julho 14, 2007

Ainda a RCTV e a TV por Assinatura - Brasil e Venezuela

O Correio do Povo desta quinta-feira, dia 12 de julho, publica uma notinha curiosa, ainda tendo a RCTV como assunto. Informa o jornal que a RCTV continuará transmitindo sua programação via TV por assinatura, como aliás, era previsto, enquanto continua procurando meios legais de recuperar sua concessão na TV aberta. A notinha conclui informando que "só 30% da população tem acesso à TV por assinatura".
Há duas coisas interessantes aqui. A primeira e mais evidente é que a RCTV não foi fechada, como alguns apregoam. Continua a transmitir, seja por canais por assinatura, seja via Internet.
A segunda é que me parece que ainda que "só 30% da população" venezuelana tenha acesso à TV por assinatura, isto é muito mais que no Brasil. Números podem mentir muito, mas vou usar alguns aqui para não deixar a discussão no vazio. O sítio da Associação Brasileira de TV por Assinatura - ABTA informa que no final do ano passado havia cerca de 4,7 milhões de assinaturas de TV no Brasil e mais 1,1 milhão de assinatura de acesso à Internet provido por operadoras associadas à ABTA. E segundo o sítio do IBGE, no Brasil há algo próximo de 52 milhões de residências. Segundo estes números, numa análise primária, só um pouco mais de 10% da população brasileira tem acesso à TV por assinatura.

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sexta-feira, julho 13, 2007

Mercado

Este blogueiro não é contra o mercado em si, tanto que acha ótimo poder comprar bugigangas eletrônicas e Coca-Cola, mas não confia que o mercado possa resolver todos os problemas da humanidade. O mercado ideal deveria suprir todas as necessidades básicas e algumas supérfluas de todos os seres humanos do planeta. Na prática, o mercado imperfeito produz alguns muito ricos, muitos remediados, e uma multidão de miseráveis.

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Teologia Neoliberal ou Teologia de Mercado - 2

Já que falamos no governo FHC, não custa lembrar que naquele governo, uma desregulamentação mal conduzida do fornecimento de energia elétrica levou ao apagão elétrico de 2001, aqui no Brasil. Que obrigou os brasileiros a terem que economizar energia elétrica, e pagar sobre-taxa de energia (!) para compensar as distribuidoras pelo consumo menor que o previsto quando foi feita a privatização parcial da distribuição de energia elétrica. Nesse caso, o mercado aceitou uma ajudinha do governo para manter a sua margem de lucro.
Não sei, mas acredito que não haja registro de apresentador do Jornal da Globo na época condenando a desregulamentação e privatização do fornecimento de energia, que causou prejuízos aos consumidores.

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Teologia Neoliberal ou Teologia de Mercado

Curioso! Ontem, 11 de julho, após muito tempo pude assistir ao Jornal da Globo.
Quando o jornal resolveu noticiar a crise energética na Argentina, o apresentador, William Waack, resolveu culpar o Governo Kirchner e sua política de estatizações e regulamentações de mercado como culpados pela crise energética.
Programação de TV, como vi o Juca de Oliveira falar algum dia em uma entrevista, é o intervalo entre dois comerciais, inclusive o telejornal, para manter o espectador atento. E telejornais são ótimos para mostrar um acontecimento, mas muito ruins para tentar analisá-los, e péssimos para dar opinião. Parênteses: como eu digo e repito, eu gostava de ver os comentários do falecido Paulo Francis, pela erudição e humor dele, apesar de discordar francamente das posições políticas; parece que o Francis sempre tinha algo para dizer. Fechado o parênteses, voltemos ao Waack, foi muito marcante, numa reportagem de uns três minutos (não, eu não estava medindo; três minutos é chute), vir de bate-pronto com culpa do governo Kirchner por isto e aquilo.
Em favor de Kirchner podemos dizer que ele concordou em pagar mais pelo gás boliviano, mas a Bolívia se mostrou incapaz de entregar gás na quantidade necessária, e como aconteceu por aqui no governo FHC durante o apagão elétrico de 2001, as chuvas não vieram em volume suficiente para que as hidrelétricas argentinas trabalhassem com força total. Além disso, o governo Kirchner está comprando energia elétrica brasileira, e só não compra mais, porque não há linhas de transmissão em quantidade suficiente. Ou seja, há uma série de fatores que levaram à crise, que fatalmente desabará sobre o governo Kirchner. Mas sair dizendo simplesmente que é culpa da intervenção no mercado, faça-me o favor!

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Glauco: Pan 2007

quinta-feira, julho 12, 2007

História

Resumindo: a direita brasileira tem horror à história e ao passado, pois só teria crimes a comemorar. Dado tal quadro psicológico e moral, tem baixa auto-estima, e horror pelas coisas do país, pois as mesmas lembram seus próprios crimes. Daí forma-se um círculo vicioso: comete crimes contra os compatriotas, esquece-os, horroriza-se com o estado dos compatriotas, comete mais crimes contra esse povo que "não tem jeito", esquece-os, horroriza-se etc.

Eu vi isto algum tempo atrás no Animot.

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quarta-feira, julho 11, 2007

Carnaval na Bahia

Desculpem alguma suscetibilidade ferida.




Via Olho-Dínamo.

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segunda-feira, julho 09, 2007

Do Observatório da Imprensa: A Grande Mídia Vê a Reforma Agrária

Edição 440 de 3/7/2007
www.observatoriodaimprensa.com.br
URL do artigo: www.observatoriodaimprensa.com.br

MÍDIA E REFORMA AGRÁRIA
Crítica de gastos, improdutividade e desmatamento

Ronaldo Pereira Santos

Durante os últimos dois meses, vimos três titãs da mídia nacional mirar na política de distribuição de terra e apoio à produção agrícola. O Globo retratou, em matéria do dia 07/05, "O desmatamento dos pequenos", onde mostra como os agricultores vêm se virando ante aos problemas ambientais na Amazônia. Já a revista Veja (edição 2013, de 20/06, na seção "Contexto") afirma haver "muita devastação (ambiental) para pouca renda". Finalmente, a Folha de S.Paulo (25/6), fechou as cortinas do tema ao levar o leitor pela linha editorial da gastança com cada família assentada.

Nos três casos, a imagem dos assentamentos e da política de inclusão social - por meio da agricultura familiar - fica minimamente "rabiscada". Claro que não por ela em si, mas como sua gestão vem sendo efetuada.

Por trás de qualquer reportagem sempre há pontos discordantes, mal-explicados ou mesmo polêmicos - o que pode gerar confusão e desinformação. Sabidamente, a reforma agrária não é vista com simpatia por boa parte da população: está associada a baderna, violência, invasões, pobreza, assistencialismo etc. Assim, estaria a um passo da vala comum onde jazem os desmandos políticos, mau uso do dinheiro público e impunidade. Fica, assim, a triste impressão de não valer a pena distribuir terra e créditos.

Crítica pela crítica?

Cabe a pergunta: até que ponto - para mais, ou mesmo para menos - as realidades publicadas nestas reportagens mostram o retrato fiel da reforma agrária no Brasil?

A verdade por trás dos dados:

1.

Caro demais

O valor (31 mil reais por família assentada) apontado pela Folha mostra, num primeiro momento, que há dinheiro escorrendo pelo ralo no programa de reforma agrária. A imagem piora quando o texto afirma que o valor é suficiente para manter um casal com três filhos por 27 anos no Bolsa-Família. Ora, tal afirmação é controversa - ainda que aritmeticamente verdadeira. Uma das principais críticas ao Bolsa-Família é exatamente o assistencialismo. A política de reforma agrária tem o diferencial de oferecer a possibilidade da produção como fruto do seu trabalho, e não a dependência eterna por uma "esmola", dita por muitos.

Vale ressaltar que, desconsiderada a inadimplência, boa parte do valor investido em uma família retorna aos cofres; isto é, funciona como empréstimo, e não doação, e o fundo perdido é apenas a menor parte do montante. Portanto, o investimento feito em um agricultor que de fato cultive a terra é algo que precisa ser celebrado. Defender o uso equilibrado e econômico do erário é salutar, mas não esqueçamos que os assentamentos são chamados de "favelas rurais", exatamente pelo abandono e falta de recursos. A lógica seria, então, a crítica pela crítica? (o governo acabou de estimular, em 27/06, mais críticas: noticiou em 20% as verbas adicionais para os pequenos produtores).

Matemática joga contra

O dado da Folha indica outro fato mais relevante. Numa comparação simples, observa-se que, na verdade, há uma otimização dos gastos do governo atual: nos anos FHC, uma família custava cerca de 40 mil reais (criticado abertamente, inclusive, pelo ex-presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma (Incra) no governo tucano, Xico Graziano, em artigo de 2003).

Uma das explicações para esta redução é a priorização do uso das terras da própria União, o que, evidentemente, reduz os gastos com indenizações. Claramente, este argumento pode ser verificado no número de hectares distribuídos no país - com larga margem de vantagem na Amazônia -, onde a União é dona da maior parte das terras.

2.

Improdutivo

O quesito produtividade é sempre controverso. Neste aspecto, é bom que se frise, a agricultura familiar tem, em um dos seus pilares, a qualidade dos alimentos, e não somente a quantidade. Os textos disponíveis apontam que pelo menos mais da metade dos alimentos da mesa do brasileiro vêm da agricultura familiar. Ainda, pela alta diversificação, possui inserção fundamental na cadeia agroalimentar. Por outro lado, a matemática joga contra. Os números de Veja indicam que a quantidade de produtos por hectare está longe da média mínima esperada.

Foco preservacionista

Veja

errou, exagerou? Não. Embora haja ilhas com bons índices de produção, os pequenos ainda produzem abaixo do esperado. O que precisa ser mudado é a idéia de que a agricultura familiar não combina com tecnologia de ponta. Sim, há opões sustentáveis e tecnologicamente avançadas.

3.

Devastação ambiental

Já os problemas ambientais, mostrados em O Globo, são de fato verdadeiros. Há um nível relevante de desmatamento provocado pelos pequenos agricultores na Amazônia, já estimado em 15% da região. Outro aspecto real é a lentidão e baixo número de assentamentos que estão legalmente licenciados sob a ótica ambiental (O Globo e Veja).

Infelizmente, não são somente os agricultores os responsáveis pelos problemas ambientais. A falta de sintonia, ainda existente, entre os órgãos públicos estaduais de meio ambiente e o próprio Incra, põe pedras no caminho dos licenciamentos. Basta lembrar que há estados cobrando pelos trâmites administrativos do licenciamento valores similares a empreendimentos com alto nível de impacto ambiental (louvem-se outros estados em que a taxa é dispensada). Tal pensamento precisa ser reavaliado, pois há alguns anos a reforma agrária praticada na Amazônia tem um foco mais preservacionista.

Pauta semanal

Algo que precisa ficar bem claro é que, primeiramente, a reforma agrária é um programa totalmente diverso em cada canto do país. As condições de clima e solo, processo de colonização, cultura agrícola, dinâmica socioeconômica e perfil político de cada estado são totalmente diferentes (a Folha chama a atenção para este fato). Parece óbvio para quem passou nas aulas de geografia na 5a série, não é? Nem tanto. A notícia sobre a reforma agrária sempre soa como homogênea e verdade geral.

Infere-se dos textos que não foi intenção usarem do recurso comparativo. Ainda assim, confrontar os números da reforma agrária dos gaúchos e de Roraima, por exemplo, seria uma falta de bom senso sem tamanho. Portanto, cada caso deve ser visto com seus matizes e cenários - sem extrapolações.

Na última campanha eleitoral, o tema não foi pauta nem para mídia nem para os candidatos a presidente. Perdemos boa chance de expor idéias e colher do futuro chefe do Brasil o que fazer se eleito. A imprensa também comeu mosca.

Uma leitura atenta das mídias locais mostra que a reforma agrária aparece como ponto de pauta pelo menos uma vez na semana. Nos veículos nacionais, entretanto, sua veiculação é mais demorada. Algo especial agora?

Avanço para a sociedade

Para quem entende da matéria, fica fácil estabelecer um paralelo de importância. A reforma agrária é, sem dúvida, um dos assuntos de maior importância de um país com o perfil e origem como o nosso. Boa parte dos problemas estruturais da sociedade, como um todo, têm origem no meio rural; e como bem enfatiza José Graziano "... a equação agrária do século 21 requer um projeto de desenvolvimento legitimado por toda a sociedade" - o que inclui a imprensa. Assim, a julgar pela massa de "sem-terras" e disponibilidade de áreas para distribuir - é justificável que discorrer a respeito nunca soará desatualizado.

Por mais social e relevante que seja para o país, a agricultura dos pequenos não tem o peso que deveria - se comparado com o "outro (pesado) lado da balança": a agricultura comercial. A exposição deste último é justificável (?), já que gera os famosos dividendos para o PIB brasileiro.

Em suma: o Brasil se interessa mais pelas toneladas de carne exportadas do que se há o mesmo produto no açougue ao lado para o almoço.

Fica a sugestão, para a imprensa, de que há farto material a ser explorado nos números da agricultura no Brasil - muito além do lugar-comum da grilagem e desvio de verbas públicas. Que tal averiguar a incompatibilidade entre agricultura familiar e agricultura de resultados? Há necessidade de se discutir a fundo os índices de produtividade, que ainda são da década de 70; pôr em xeque a questão qualidade versus quantidade dos alimentos; há um vasto campo de reportagens, também, a respeito da indústria das licenças ambientais; e mesmo discutir se há ou não latifúndio predominante no país e suas implicações para a agricultura nacional.

Finalmente, ainda que a reforma agrária não tenha seu espaço na grande imprensa nacional, sua inclusão nas discussões de O Globo, Veja e Folha indica um avanço para a sociedade: assunto de interesse de todos e não somente dos interioranos. Pena que, ainda, sob perfil negativo.


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sexta-feira, julho 06, 2007

Kayser: Britto


Do Blog do Kayser.

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Do Observatório da Imprensa: A Crise na Venezuela

VENEZUELA
A batalha pela mídia é sobre raça e classe

Richard Gott, de Caracas

Após dez dias de protestos entre forças rivais nas ruas de Caracas, reacenderam-se lembranças de tentativas anteriores de derrubar a revolução bolivariana de Hugo Chávez, existente há nove anos. Manifestações de rua que culminaram com uma tentativa de golpe de Estado em 2002 e um interminável lock-out da indústria petrolífera pareciam a única saída para uma oposição incapaz de vencer nas urnas. A instabilidade atual, entretanto, é um frágil eco daqueles acontecimentos tumultuados e a luta política trava-se num cenário menor. A batalha atual é pelos corações e mentes de uma geração mais jovem, confusa com os distúrbios de um processo revolucionário não programado.

Estudantes universitários de famílias abastadas enfrentaram jovens das favelas carentes que hoje se beneficiam dos royalties do petróleo gastos em projetos de educação universitária para os pobres. Essa batalha simbólica poderá tornar-se cada vez mais familiar na América Latina dos próximos anos: ricos contra pobres, brancos contra mestiços e negros, colonos imigrantes contra povos indígenas, minorias privilegiadas contra as grandes massas da população. A história pode ter chegado ao fim em outros lugares do mundo, mas neste continente os processos históricos estão a todo o vapor.

Uma televisão "colonial"

O debate é, ostensivamente, sobre a mídia e a decisão do governo de não renovar a concessão de uma emissora importante, a Radio Caracas Televisión (RCTV) e repassar seu sinal a um recém-criado canal estatal. Quais são os direitos dos canais comerciais de televisão? Quais são as responsabilidades daqueles subsidiados pelo Estado? Onde ficam os pesos da balança entre ambos? Na Europa e nos Estados Unidos, seriam questões acadêmicas, mas o debate na América Latina é entre vozes alteradas e apaixonadas. Na região, não há uma tradição significativa de emissoras públicas e, muitas vezes, os canais comerciais receberam suas concessões na época dos regimes militares.

Na Venezuela, o debate tem menos a ver com uma suposta ausência de liberdade de expressão do que com uma questão perene e obscura a que aqui se referem como "exclusão" - uma espécie de abreviatura para "raça" e "racismo". A RCTV não era apenas uma organização politicamente reacionária que apoiou, em 2002, a tentativa de golpe contra um governo democraticamente eleito - era também uma emissora da supremacia branca. Seus funcionários e apresentadores - num país com uma população majoritariamente negra ou de descendência indígena - eram unanimemente brancos, assim como os atores das novelas e dos anúncios que veiculava. Era uma televisão "colonial", refletindo os desejos e ambições de um poder externo.

Aprendendo a filmar

Durante a festa de despedida que a RCTV realizou no mês passado, quem mais aparecia na tela eram umas belíssimas jovens, louras e de cabelo comprido. Esse tipo de imagem é um excelente trabalho de televisão para espectadores masculinos da Europa ou dos Estados Unidos e aquelas louras, lânguidas, são, de fato, figuras familiares dos concursos de Miss Mundo e Miss Universo, nos quais as filhas de imigrantes europeus recentes são invariavelmente as principais candidatas da Venezuela. Sua onipresença na tela, entretanto, impedia a emissora de apresentar à sociedade um espelho do que procurava servir ou entreter. Assistir a um anúncio de uma emissora comercial venezuelana dá a impressão de se ter sido transportado para os Estados Unidos. Tudo se baseia numa sociedade moderna, urbana e industrializada - o que significa bem longe da experiência da maioria dos venezuelanos. Seus programas - argumenta Aristóbulo Istúriz, ministro da Educação de Chávez até recentemente - incentivam o racismo, a discriminação e a exclusão.

Os canais estatais recém-criados vêm fazendo algo completamente diferente - e incomum, no competitivo mundo da televisão comercial. Os programas que produzem parecem estar ocorrendo na Venezuela e exibem uma parcela da população que viaja de ônibus, pelo interior, ou de metrô, em Caracas. Assim como em qualquer outro país do mundo, nem todas as venezuelanas são belezas naturais. Muitas são velhas, feias e gordinhas. E atualmente têm voz e têm rosto nos canais de televisão do Estado. Muitos são surdos, ou deficientes auditivos. Agora, em cada programa, há uma interpretação pela linguagem de sinais. Muitos camponeses têm dificuldade para se exprimir. Sua perigosa luta pela terra não vem apenas sendo observada pelo documentário realizado por um cineasta urbano. Estão aprendendo a fazer, eles mesmos, os filmes.

Revolução cultural

Blanca Eekhout, diretora da Vive TV, o canal cultural fundado pelo governo há dois anos, criou o slogan: "Não veja televisão. Faça." Foram criados cursos de cinema em todo o país. Lil Rodríguez, o afro-venezuelano que é diretor da TVES, o canal que passa a transmitir pelo sinal da RCTV, afirma que a emissora se tornará "um espaço útil para resgatar valores que outros modelos de televisão sempre ignoram, particularmente nossa herança africana". Com tempo, os excluídos ganharão voz na nova TV.

Pouco disto está em discussão no diálogo de surdos nas ruas de Caracas. Para os estudantes universitários que protestam nas ruas, o argumento da mídia é apenas mais um trunfo para criticar o presidente, ainda muito popular. No entanto, enquanto choram a perda de suas novelas favoritas, já vêm tomando consciência de que sua perda poderá ser bem maior. Como filhos da oligarquia, talvez em breve tenham que sair do país. Caras novas vêm emergindo das favelas, desafiando-os - uma nova classe, conquistando rapidamente educação e planejando tomar seus direitos de cidadania.

Poucas semanas atrás, Chávez delineou seus planos para uma reforma universitária. Novas faculdades e escolas técnicas criadas através do país irão diluir o prestígio das instituições mais velhas - que ainda são o bastião dos ricos - e a batalha pela mídia logo irá submergir numa luta mais ampla, pela reforma da educação. Chávez embarcou num desafio à ordem estabelecida, que há muito tempo prevalece na Venezuela e no resto da América Latina, e espera que a mensagem de sua revolução cultural encontre eco através do continente.


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quarta-feira, julho 04, 2007

Verdes Trigos: Israel e os Refugiados Palestinos

[22/5/2007] Refugiados palestinos - Israel tem parte da culpa

por Amós Oz *

A cada vez que nós israelenses ouvimos as palavras "o problema dos refugiados de 1948", nossos estômagos se contraem de ansiedade e mal-estar.

Aqui no nosso lado, a questão dos refugiados foi transformada num sinônimo para direito de retorno, e o "direito de retorno" palestino nos soa como o desaparecimento de Israel. Talvez já esteja no hora de colocar nossos pensamentos em ordem, e aprender a fazer uma distinção entre o problema dos refugiados e o que é denominado como direito de retorno. O problema dos refugiados pode e deve ser resolvido, mas não através do retorno deles para o território israelense em suas fronteiras pacíficas. O chamado a permitir que os refugiados retornem ao território de Israel deve ser rejeitado porque, caso realizado, existirão dois Estados Palestinos aqui e nenhum para o povo judeu. Entretanto, o problema dos refugiados de 1948 precisa ser resolvido. Mais ainda, a resolução da questão é de vital interesse para o Estado de Israel, porque enquanto o problema permanecer sem solução - enquanto centenas de milhares de refugiados palestinos estiverem apodrecendo em campos desumanos de refugiados - não teremos descanso.

Quem é responsável pela tragédia dos refugiados palestinos ? Conforme a versão israelense, os líderes árabes são culpados por terem lançado a guerra contra a independência de Israel, e os próprios refugiados são culpados por fugirem das suas casas em temor. Conforme a versão árabe, Israel é culpado por tê-los expulsado à força com crueldade. Existe alguma verdade em ambas as versões. A Guerra de Independência foi uma guerra total, vilarejo contra vilarejo, bairro contra bairro, casa contra casa. Populações são deslocadas em tais guerras. Cerca de 12 comunidades judias, incluindo a Cidade Velha de Jerusalém, foram tomadas pelos árabes durante aquela guerra. As populações judias daqueles assentamentos foram arrasadas ou deportadas a força pelos árabes. Por outro lado, centenas de comunidades árabes com centenas de milhares de cidadãos foram desenraizadas em 1948, alguns fugidos e outros expulsos pelo exército israelense. Chegou a hora de admitir abertamente que nós somos parcialmente responsáveis pela sina dos refugiados palestinos. Não somos os responsáveis exclusivos e nem os únicos culpados, mas nossas mãos não estão inteiramente limpas. O Estado de Israel está maduro e forte o bastante para admitir sua parte na culpa e também para aceitar as conclusões inevitáveis. Faríamos bem em assumirmos parte do esforço para assentar esses refugiados, fora das futuras fronteiras pacíficas israelenses, no contexto de futuros acordos de paz.

O Estado de Israel está maduro e forte o
bastante para admitir sua parte na culpa e
também para aceitar as conclusões inevitáveis


A admissão efetiva por Israel de parcela da responsabilidade pelo drama dos refugiados palestinos, a verdadeira disposição de assumir parte do encargo da solução - poderá enviar uma onda positiva de choque para o lado palestino. Será uma revolução emocional que facilitará significativamente a continuação de conversações, pois a tragédia dos refugiados de 1948 é uma ferida aberta e sangrenta na carne do povo palestino. No lado israelense, existe uma tendência arraigada a cada vez mais rejeitar as "questões centrais" do conflito: refugiados, Jerusalém, fronteiras e assentamentos. Esta rejeição foi talvez a causa do fracasso dos Acordos de Oslo, e obviamente não contribui para as negociações atuais. A tendência de Israel evitar conversar sobre as questões centrais desperta suspeitas fundadas no lado árabe, que argumenta que Israel busca apenas sua tranqüilidade, mas não está pronto para uma solução abrangente. Talvez a liderança de Israel deva iniciar uma discussão sobre a questão palestina e sugerir a participação israelense na solução do problema, como na remoção de todos os refugiados dos campo nos quais estão apodrecendo, proporcionando moradia, trabalho e cidadania para todos aqueles que assim o desejarem, dentro das futuras fronteiras palestinas.

Obviamente, o tratamento abrangente do problema central obrigará Israel a admitir sua culpa parcial na Nakba palestina e a responsabilidade de reparar essa culpa. O tratamento da questão também teria que tocar no fato de que centenas de milhares de judeus foram arrancados das suas casas em países árabes. Tanto do ponto de vista moral quanto do de segurança, Israel deve buscar uma solução para a questão dos refugiados de 1948. Isso envolveria uma ajuda financeira que deveria ser suprida pelos países ocidentais, Israel e os países árabes ricos. Com tal encaminhamento, o nível de violência irá cair e a desesperança que alimenta o extremismo começará a diminuir, uma vez que os ocupantes dos campos de refugiados começassem a sentir que seus dias de miséria estariam por terminar. Do ponto de vista de Israel, sabemos que mesmo que assinarmos acordos com todos os nossos inimigos, não teremos tranqüilidade enquanto não for abordada a questão da difícil situação dos refugiados.

Traduzido por Moisés Storch para o Paz Agora|Br


http://www.verdestrigos.org/sitenovo/site/cronica_ver.asp?id=1251

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segunda-feira, julho 02, 2007

Cotas na UFRGS Aprovadas

A reunião do Conselho Universitário (Consun) da UFRGS aprovou a adoção de cotas sócio-econômicas-étnicas na sexta-feira passada, dia 29 de junho.
Agora vamos ver o que acontece na prática. Foi noticiado que as cotas já serão utilizadas no próximo vestibular, o de 2008.
Vi a frase abaixo no blog "Olho-Dínamo":


"Com essa medida [das cotas]... estaríamos equalizando a balança social do país e não fechando os olhos para uma discriminação velada e não regulamentada. Nenhum negro está proibido de entrar na UFRGS. Mas ninguém espera muito que eles entrem".

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"Zé Roberto Se Despede" é Apócrifo

Segundo a coluna do Hiltor Mombach, no Correio do Povo deste sábado, 30 de junho, o texto que circula na Internet, e que foi colocado aqui neste blog. Este blogueiro recomendou o acolhimento da "despedida" com parcimônia, pois se era verossímil, também manifestava o rancor de certa classe média louca para emigrar, e cujos filhos vez por outra espancavam desafetos.
No esclarecimento de Zé Roberto, os filhos nem vieram com ele da Alemanha, mas o mais velho, que tem 7 anos, foi alfabetizado em português, e é fluente no idioma (e sendo criado na Alemanha, provavelmente falará como um "nativo" os dois idiomas).
Pois é. É isso. Mais uma falsa atribuição na Internet.

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