segunda-feira, novembro 29, 2010

Reino Unido pagará indenizações a prisioneiros de Guantánamo


Londres indenizará presos de Guantánamo
Acordo é com 16 ex-detentos que processam o Estado por sessões de tortura que afirmam ter sofrido na prisão

As cifras a serem pagas não foram informadas, mas especula-se que sejam cerca de R$ 2,7 milhões para cada um 

VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES
O governo do Reino Unido fechou um acordo e irá indenizar 16 ex-prisioneiros de Guantánamo. Eles processam o Estado britânico por participação ou cumplicidade nas sessões de tortura que afirmam ter sofrido na prisão, que é controlada pelos Estados Unidos.
Todos foram detidos por agentes britânicos após o 11 de Setembro, sob acusação de terem ligações com redes terroristas.
Segundo o governo, foi melhor fazer um acordo agora que enfrentar um processo demorado que poderia ser ainda mais custoso para os cofres públicos.
Além disso, a ação judicial iria tornar públicos métodos utilizados pelos serviços de inteligência e ocupar pessoal envolvido na segurança nacional, afirmou o ministro da Justiça, Ken Clarke.
Segundo ele, havia o risco de colocar em xeque a reputação dos britânicos como um povo que defende os direitos humanos.
Não foram fornecidos detalhes sobre os valores das indenizações.
Segundo o ministro, foi firmado um acordo de confidencialidade entre as partes que proíbe a revelação das cifras. Especula-se que cada um possa receber mais de 1 milhão de libras (cerca de R$ 2,7 milhões).
Os ex-detentos afirmam que foram presos com falsas acusações e que eram submetidos a privação de sono, excesso de barulho e de frio, que ficavam pendurados e que sofriam ameaças de que seriam mortos durante os interrogatórios.
O governo diz que o acordo não significa uma admissão de culpa.
Um inquérito independente será aberto para investigar se britânicos tomaram parte nas sessões de tortura ou se foram cúmplices. Os trabalhos começam no fim deste ano e devem ser concluídos em um ano.
A diferença é que neste inquérito os papéis serão analisados e as pessoas ouvidas a portas fechadas, sem acesso do público ou da mídia.
O acordo de indenização pode servir de precedente, uma vez que há mais processos de pessoas que acusam membros dos serviços de inteligência do Reino Unido por prisões ilegais e práticas de tortura durante interrogatórios em países como Paquistão, Afeganistão, Etiópia, Síria, Egito e Bangladesh.

GOVERNO PASSADO
A negociação para as indenizações começou em julho, quando a Justiça britânica mandou que fossem analisados 500 mil documentos secretos sobre as prisões.
Na época, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, disse que era o momento de resolver essa questão de uma vez.
Era uma referência a acusações de cumplicidade com a tortura feitas contra o governo britânico durante a administração do Partido Trabalhista, que já estava no poder em 2001 e continuou até maio deste ano.
Alguns documentos que vazaram indicam que o ex-premiê Tony Blair e o ex-ministro das Relações Exteriores Jack Straw tinham conhecimento de prisões ilegais e das torturas.
Segundo os mesmos documentos, eles teriam também participado das decisões para a entrega de alguns prisioneiros para os soldados americanos. Os dois negam.

FECHAMENTO
A prisão de Guantánamo virou um pesadelo para os governos britânico e norte-americano devido às acusações de tortura e à prisão de inocentes.
O presidente dos EUA, Barack Obama, chegou a anunciar que fecharia a prisão um ano após sua posse. Mas ainda não cumpriu a promessa. Continuam lá 174 detentos.


Marcadores: , , , ,