terça-feira, novembro 09, 2010

Hora da verdade para Netanyahu

Hora da verdade para Netanyahu


Roger Cohen

Jerusalém


Todos os últimos primeiros-ministros israelenses fizeram coisas que nunca sonharam em fazer. Não vou listar de um a um, mas considere a reviravolta que deu Yitzhak Rabin, que falava em “quebrar os ossos deles” e se tornou o príncipe da paz; a decisão de Ariel Sharon de retirar-se de Gaza, e a conclusão dolorosa de Ehud Olmert que um acordo com os palestinos vai requerer uma “retirada de quase todos, se não todos” os territórios ocupados.

O que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu nunca sonhou, mas está disposto a fazer? Recentemente chegou a “dois Estados para dois povos”, mas isso era só para recuperar o atraso. Por trás de toda a absurda negociação das últimas semanas em torno do que acontecerá na Cisjordânia nos próximos 60 dias está a questão central de onde Netanyahu imagina que ficará o Estado palestino.

Os palestinos foram claros: as fronteiras de 1967 e algumas trocas de terras de comum acordo, significando um Estado na Cisjordânia e em Gaza, com Jerusalém Oriental como sua capital. Em troca, disse o presidente Mahmoud Abbas, os palestinos retirarão todas as suas “demandas históricas” e viverão ao lado de Israel seguro e em paz.

Netanyahu e os israelenses têm muitos motivos para duvidar, a começar pela divisão no movimento nacional palestino entre Fatah-Hamas e a forma como a retirada de Gaza levou a ataques do Hamas.

O presidente Barack Obama terá que superar esse ceticismo para que suas palavras na Assembleia Geral da ONU há cinco semanas não sejam apenas uma adição à longa lista de discursos bem intencionados que nada significaram no Oriente Médio. As palavras foram: “Quando voltarmos aqui no próximo ano, poderemos ter um acordo que trará um novo membro à ONU – um Estado soberano independente da Palestina, vivendo em paz com Israel”.

No ano que vem! Ou seja, setembro de 2011. Os EUA – junto com a Rússia, União Europeia e Organização das Nações Unidas- também endossaram há cinco semanas um relatório do Banco Mundial que dizia: “Se a autoridade Palestina mantiver seu atual desempenho na formação de instituições e fornecimento de serviços públicos, estará bem posicionada para o estabelecimento de um Estado a qualquer ponto de um futuro próximo”.

A qualquer ponto de um futuro próximo! Ou seja, há declarações internacionais solenes estabelecendo um organograma firme para o Estado palestino e refletindo a impaciência mundial, mas ainda assim as negociações entre israelenses e palestinos está empacada.

Talvez as eleições de meio de mandato forneçam uma oportunidade para Obama pensar. Ficar cavando mais fundo no fracasso é a definição da estupidez. As brigas sobre uma possível extensão da moratória de construção de assentamentos israelenses tornaram-se uma humilhação norte-americana. Obama tem que olhar para o horizonte e fazer a Netanyahu a seguinte pergunta:


“Senhor primeiro-ministro, compreendo suas preocupações em relação à segurança. Os EUA sempre estarão com Israel. Mas diga-me o seguinte: se todas as preocupações com segurança forem abordadas, todas elas, qual fronteira vocês querem para Israel?”

Isso tem que ser respondido para se poder avançar. Os acordos de 1978 do Campo David com o Egito foram firmados depois que o presidente israelense Menachem Begin deixou claro que estava pronto a se retirar do Sinai – sob as condições certas. Ainda assim, uma autoridade israelense disse-me recentemente: “Por razões psicológicas e políticas não definimos nossa atual posição de terras pela paz”.

Netanyahu vai empacar. Ele vai dizer que a direita de sua coalizão de centro-direita quebraria se explicitasse as fronteiras de Israel. Ele vai dizer que precisa de garantias de segurança antes de falar das fronteiras. Mas sem uma resposta, os esforços de paz de Obama estarão mal-fadados.

Na questão da moratória na construção de assentamentos, os palestinos só podem ter flexibilidade se os EUA derem garantias que as fronteiras serão abordadas logo. Quando as fronteiras entrarem no foco, não importará se Israel construir dentro delas.

Então Obama tem que fazer sua pergunta ser respondida. Ele pode dizer, esquece sua coalizão, Bibi, traga o Kadima. Ele pode pensar de que forma pode garantir aos israelenses sua segurança: dois discursos para o mundo muçulmano podem ser complementados com um em Israel. Ele pode trazer para o centro do processo a secretária de Estado Hillary Clinton: suas convicções sobre o Estado Palestino se intensificaram e ela dá segurança aos judeus (como faz seu marido). Mas tudo isso pode não ser suficiente.

Não acredito que Israel ainda tenha que chegar onde o mundo está: a inevitabilidade de um Estado palestino. Não acredito que a ilusão de Judá e Samaria – toda a terra - tenha morrido inteiramente em Netanyahu.

Então qual, por fim, é a influência de Obama sobre Netanyahu? Algumas medidas possíveis americanas são politicamente inconcebíveis. Mas talvez uma obsessão israelense na recente barganha sirva de pista: sua insistência que os EUA não assinem no ano que vem nenhuma resolução da ONU hostil a Israel.

Os israelenses estão com medo que Obama diga para o primeiro-ministro, se não cooperar com o prazo de 2011: “Neste caso, senhor primeiro-ministro, não tenho escolha, se não concordar com Medvedev, Sarkozy, Cameron e Hu que vamos ao Conselho de Segurança buscar uma resolução estabelecendo um Estado palestino dentro das fronteiras de 1967, e sugerir que todos o reconheçam”.

Essa preocupação israelense é um trunfo. Netanyahu tem que entender que é hora de definição.


Tradução: Deborah Weinberg


Texto do International Herald Tribune, republicado no UOL.

Marcadores: , , ,