A farsa sem vergonha da polícia do Arruda
Antes de contar o que vou contar, quero deixar claro o seguinte: sou contra a descriminalização da droga, sou careta, não aceito que meus filhos usem drogas e considero necessário um combate eficiente ao tráfico em Brasília, antes que as ilhs de miséria em torno da cidade, uma das mais altas rendas per capita do país, se tornem exército de mão de obra de reserva para o crime organizdo, como no Rio. Mas me duisponho a discutir isso em outra oportunidade. O assunto aqui é outro: a preocupante fascistização da polícia no Distrito Federal.
Agora, a história:
Sempre ouvi, em jornais, histórias de como certas polícias fazem operações de efeito, como propaganda, para encobrir a própria ineficiência. Li, no excelente Notícias do Mirandão, livro do jornalista Fernando Molica, cenas do gênero. Nunca pensei esbarrar com algo parecido. Mas fico pensando o que foi que aconteceu nessa madrugada, em Brasília, sob o nome marqueteiro de Operação Abstinência, quando guardas despreparados, com truculência parecida com a que reprimiu estudantes que se manifestavam contra o governo Arruda, intimidaram, agrediram e ameaçaram jovens moradores do Distrito Federal, com a arrogância que só os batalhões do tempo do general Newton Cruz costumavam fazer.
Resultado da operação, que intimidou centenas de pessoas, obrigou cidadãos a jogar-se no chão ou permanecer por duas horas de pernas abertas com as mãos na parede: seis prisões (vendidos à imprensa como traficantes, quem sabe são, quem sabe nem são). E a demonstração, para meus filhos, de que não podem sair de madrugada na cidade, mesmo que estejam de férias, porque na madrugada de Brasília não existem direitos, e os policiais são promotores, juízes e executivo, embora não haja nenhuma proibição legal ou implícita para que jovens aproveitem as férias jogando sinuca em um dos poucos pontos abertos na capital.
Diz o Correio, AQUI: A comercial da Asa Norte vinha sendo monitorada 24 horas por dia há duas semanas. A investigação, que envolveu mais de cem policiais infiltrados, surgiu das constantes reclamações de moradores assustados com a venda e uso de droga na região. Segundo a Direção Geral da Polícia Civil do Distrito Federal, apesar da certeza de que a maioria das inúmeras pessoas revistadas no local sejam usuários, não há nada a fazer caso não se encontre droga.
Monitoramento bacana esse, que, após semanas de investigação, com "agentes infiltrados", prendeu seis mequetrefes e aterrorizou quase 50 pessoas sem acusação formal, indício de culpa ou mesmo motivos de suspeita, além do fato de estarem se divertindo de madrugada.
Entre as pessoas ameaçadas pela polícia, abusadas e em seguida liberadas estavam meu filho (estudante de engenharia mecatrônica no terceiro ano, um dos alunos de maior nota da classe, ex-diretor da empresa júnior de mecatrônica da UnB, atualmente fazendo curso de férias de introdução à Economia na UnB), minha filha (estudante de psicologia no quinto ano, ex-estagiária da Rede Sarah, aluna exemplar, engajada em programas de atendimento a mulheres e adolescentes em situação de risco), o namorado dela, o irmão (vizinhos, ambos; o pai deles, por infeliz coincidência, amigo de um dos policiais que estiveram na "ação") e dois amigos estudantes de psicologia da UnB. Minha filha, obrigaram-na a encostar na parede com um rapaz encostado atrás dela; meu filho, um meganha agrediu entre as pernas. Cenas de horror e perplexidade para eles, a quem sempre ensinei a respeitar autoridades e condenar a relação de amigos ou conhecidos com traficantes de drogas.
O namorado, por estar com a camisa do Flamengo, recebeu a seguinte ameaça de um policial: "sai daqui, flamenguista, só pode ser traficante". Se todo flamenguista em Brasília for traficante em potencial, vaticino muitas prisões nessa Operação Abstinência. O irmão dele, de 18 anos, foi alegmado, e em seguida solto quando o irmão reclamou com os policiais. (correção: após humilhado, abusado e liberado, ele perguntou ao policial se podia sair por determinado caminho e recebeu como resposta: "vai para a PQP, seu flamenguista maconheiro").
Outra amiga chegou a ser algemada também, e apresentada à equipe de tv como membro da quadrilha de traficantes _ para, logo em seguida, ser solta, sem acusação nenhuma, sem suspeita nenhuma. Suspeita tenho eu: desconfio que havia poucos presos para mostrar às câmeras na palhaçada aparentemente montada para mostrar serviço, e o show tinha de continuar. "Foi filmada, foi filmada", disse um policial aos repórteres.
Não foi. Gostaria que o Correio requisitasse essa filmagem. E que pedisse explicações à polícia: se havia filmagens e suspeitas, porque a soltaram, sem regisrar nem o nome, sem nem sequer levar à delegacia?
Não vale argumentar que o filme a que se referiam os policiais era ds que mostram o governador do DF e deputados botando dinheiro em meia. Esses, a polícia saiu defendendo, espancando estudantes que reivindicavam justiça.
O local era uma sinuca, sítio habitual de encontro de jovens brasilienses (certamente haverá usuários de drogas entre eles; que sejam punidos os que transgredirem a lei, detidos, feito o que for legal _ e podemos discutir isso politicamente, me parece que nem a lei acolhe o que fizeram os policiais; atacar indiscriminadamente as pessoas pelo fato de estarem em determinado local, que é frequentado por brsilienses de tods as diades, até jornalistas que conheço, não usuários de droga; e não é apontado na cidade como valhacouto de criminosos ou traficantes, isso não está em lei, decreto ou código nenhum só o do fascismo policial).
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(P.S.: escrevo isso a pedido de meus filhos, que vieram me contar o episódio hoje, e me cobram o que lhes ensinei: que, se não transgedirem a lei, têm a polícia como aliada. A polícia. Não os burocratas truculentos que encobrem ineficiência com espetáculos para a midia).
Texto originário do Sítio do Sérgio Léo.
Marcadores: Brasil, polícia, violência policial
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