Cuba: sistema é dependente da repressão
"Sistema é dependente da repressão"
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
O sociólogo cubano Haroldo Dilla, professor-visitante da Universidade Porto Rico, afirma que o sistema de Havana depende de repressão e de controle dos danos causados pela crise econômica.
MORTE DE ZAPATA
O caso faz Cuba se haver com a enérgica condenação que fez ao caso dos jovens do IRA que morreram em greve de fome protestando contra o governo Margaret Thatcher nos anos 80. E agora? Independentemente se estavam ou não estavam conspirando com os EUA, Zapata e os outros presos políticos foram condenados sem o devido processo em sentenças sumárias. E é por isso que têm de ser soltos. No caso de Zapata, dizem que ele apanhou e que não teve assistência na greve de fome.
REPRESSÃO
O sistema cubano é muito rígido, mas muito frágil. É como uma barreira para represar água, não pode ter um buraquinho ou pode virar um processo imparável... O sistema não pode admitir oposição principalmente num momento no qual a classe política está preparando seu lugar nos negócios no futuro da ilha. É muito importante que não haja nenhuma fissura. Esses feitos repressivos não são exagerados? Não são, fazem parte da lógica do sistema. Por exemplo, o governo não pode permitir internet livre. Por quê? Porque quebraria o monopólio de circulação de informação e da capacidade de convocatória política que tem. Por que não pode liberar as viagens ao estrangeiro? Porque assim perderia o instrumento de dar ou não dar visto de acordo com o "bom comportamento" político. Vários intelectuais se comportam porque essa é a única forma de cuidar de suas carreiras, terem oportunidades fora.
CRISE ECONÔMICA
A oposição em Cuba não são os dissidentes. Por mais atos heroicos que possam fazer, eles não têm contato com a população, e tudo é muito fragmentado. A oposição em Cuba está na apatia, em não ir trabalhar, em ir para os EUA. Agora, com a crise, o governo começa a ter que cortar alguns benefícios, cortar parte da relação paternalista do povo com o Estado. Então, as pessoas passam a se perguntar: vale a pena manter esse sistema? Numa mudança, perderei algo se já não tenho nada? Essa é a preocupação do regime. Mas não dá para falar em prazos. Há uma paralisia agora, mas isso pode mudar. Depende de vários fatores: o governo Chávez, a morte de Fidel, achar petróleo no golfo do México, os EUA liberarem todas as viagens...
Publicado na Folha de São Paulo, de 25 de fevereiro de 2010.
Marcadores: Cuba, violação de direitos humanos
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