sábado, fevereiro 28, 2009

A Folha de São Paulo, a Ditadura e o Cinismo

A Folha de São Paulo, a Ditadura e o Cinismo

Pois no dia 17 passado, o jornal Folha de São Paulo publicou um editorial em que, para insinuar que o presidente Hugo Chávez é um ditador, chama o que houve no Brasil entre 1964 e 1985, de "ditabranda". Abaixo o trecho do editorial da Folha de São Paulo.

"Outra diferença em relação ao referendo de 2007 é que Chávez, agora vitorioso, não está disposto a reapresentar a consulta popular. Agiria desse modo apenas em caso de nova derrota. Tamanha margem de arbítrio para manipular as regras do jogo é típica de regimes autoritários compelidos a satisfazer o público doméstico, e o externo, com certo nível de competição eleitoral.
Mas, se as chamadas "ditabrandas" -caso do Brasil entre 1964 e 1985- partiam de uma ruptura institucional e depois preservavam ou instituíam formas controladas de disputa política e acesso à Justiça-, o novo autoritarismo latino-americano, inaugurado por Alberto Fujimori no Peru, faz o caminho inverso. O líder eleito mina as instituições e os controles democráticos por dentro, paulatinamente."

Quem escreve os editoriais da Folha de São Paulo está devendo uma definição de "ditabranda". Talvez seja uma ditabranda aquela em que os governantes de plantão matam, digamos, menos de mil pessoas. Assim, como a regime de 1964-1985 executou cerca de 400 a 500 , é uma ditabranda. Os generais argentinos que mataram cerca de 30.000 pessoas criaram uma ditadura. O general Suharto, da Indonésia, que nos dias seguintes ao seu golpe que depôs Sukarno, na década de 1960, matou mais de 500.000, sem contar mortos e torturados até sua queda no final dos anos 1990 criou uma grande ditadura.

Não contente com isso, no dia 20, quando os professores Maria Victoria Benevides e Fábio Konder Comparato contestaram o disparate do editorial da Folha, provavelmente os mesmos editorialistas resolveram dizer que a indignação dos professores era mentirosa e cínica, acredito que pelo fato destes professores não condenarem o regime cubano. Mas me parece que não é necessário condenar Cuba e Fidel Castro para dizer que a ditadura do Brasil, foi, bem, uma ditadura.

Sim, porque ditabrandas não existem. 400 mortos pelo regime é muita gente! Milhares de pessoas perderam seus direitos políticos, centenas foram exilados, ou se exilaram porque não sentiam segurança que a sua integridade física estaria assegurada.

Aí, no painel do leitor da Folha, houve diversas manifestações de indignação, além da dos professores acima mencionados. Mas me chamou a atenção a dos "solidários" à direção da Folha.

Por exemplo, o senhor Edmar Damasceno Fonseca, de Belo Horizonte, com correspondência publicada no painel no dia 21, declarou:

"Em relação à "Nota da Redação" em resposta às cartas do senhor Comparato e da senhora Benevides, advirto a Folha de que, apesar de correta, a referida nota despertará a fúria da militância esquerdista. Logo a Redação receberá mais um exemplar da mais profícua produção intelectual da esquerda brasileira: os abaixo-assinados."

No mesmo sentido vai a correspondência do sr. Carlos Eduardo Cunha, também publicada dia 21, de São Paulo, quando afirma que, "Aqui não houve culto a personalidade, embora tenha havido violência e injustiças. Aqui não houve milhões de mortos nem fuga em massa para o exterior. Todos esses regimes se enquadram na definição de ditadura, mas as cores e a profundidade da falta de liberdade foram completamente diferentes."

Pessoalmente este blogueiro acredita que Cuba é sim, uma ditadura. Há restrições ao direito de ir e vir, não há liberdade de expressão, há prisão de opositores ao regime. Mas a questão não é sobre Cuba. É sobre Brasil. Veja que o leitor Edmar Fonseca afirma que a nota da redação declarando que a indignação dos professores era mentirosa e cínica é "correta".

E me chamou a atenção também a carta do capitão-de-mar-e-guerra reformado Paulo Marcos G. Lustoza, do Rio de Janeiro, publicada no painel do leitor do dia 20. O capitão Lustoza declara que:

"Com certeza o leitor Sérgio Pinheiro Lopes não entendeu o neologismo "ditabranda", pois se referia ao regime militar que não colocou ninguém no "paredón" nem sacrificou com pena de morte intelectuais, artistas e políticos, como fazem as verdadeiras ditaduras. Quando muito, foram exilados e prosperaram no estrangeiro, socorridos por companheiros de esquerda ou por seus próprios méritos. Tivemos uma ditadura à brasileira, com troca de presidentes, que não vergaram uniforme e colocaram terno e gravata, alçando o país a ser a oitava economia do mundo, onde a violência não existia na rua, ameaçando a todos, indistintamente, como hoje. Só sofreu quem cometeu crimes contra o regime e contra a pessoa humana, por provocação, roubo, sequestro e justiçamentos. O senhor Pinheiro deveria agradecer aos militares e civis que salvaram a nação da outra ditadura, que não seria a "ditabranda"."

Eu diria que está enganado o capitão Lustoza. Tivemos uma ditadura aqui. Os militares e civis golpista de 1964 quebraram a ordem constitucional, depuseram o presidente eleito democraticamente, cassaram colegas (isto é, outros militares que não compartilhavam as idéias dos golpistas), cassaram parlamentares e juízes, cancelaram eleições, e mataram sim, diversos opositores. Se não houve paredón, como ele afirma, houve as masmorras da operação OBAN, e dos CODI-DOI's , onde a tortura era prática de interrogatório. Na luta de constra-insurgência do Araguaia, as forças armadas executaram guerrilheiros que estavam presos e desarmados, além de enterrá-los em lugares incertos e não sabidos (muitos desses corpos até hoje não foram encontrados, impedindo familiares de promoverem os atos fúnebres cabíveis, e poderem chorar os seus entes queridos mortos). Vladimir Herzog provavelmente entra na conta de "provocador", contra o regime. Ele foi prestar depoimento à Polícia do Exército e no dia seguinte foi encontrado morto. Ou talvez o capitão acredite que Herzog se suicidou mesmo.

E por um pequeno detalhe, podemos lembrar que os generais argentinos, aqueles que mataram 30.000, que sequestraram crianças cujas mães eles assassinaram, também "trocaram presidentes, e colocaram terno e gravata", como ele diz.

Uma ditadura usará a força e a repressão contra opositores que ela tiver que usar para manter o controle social da nação. Para os militares brasileiros, o preço foi a morte de menos de 500 pessoas, para os uruguaios 3.000, para os argentinos 30.000 . Mas em qualquer caso, é uma ditadura. O resto é cinismo, como fez a Folha com seu neologismo bastardo, ou os defensores da "benignidade" do regime militar brasileiro pelas suas "relativamente poucas" mortes e prosperidade econômica.

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sexta-feira, fevereiro 27, 2009

A imprensa ignora o Brasil

A imprensa ignora o Brasil

Luciano Martins Costa

Já se passou mais de uma semana da divulgação, pela Fundação Getúlio Vargas, da pesquisa sobre a mobilidade social no Brasil. As conclusões são interessantes e deveriam estar inspirando debates muito mais ricos do que tem sido admitido pela imprensa sobre o nosso modelo econômico e as chances brasileiras diante da crise mundial.

Aliás, uma leitura cuidadosa do estudo autoriza a jogar no lixo muita coisa que se tem publicado ultimamente sobre macroeconomia, crise, programas de inclusão social e alguns outros temas muito em voga.

A principal constatação do trabalho da Fundação Getúlio Vargas revela que a crise financeira internacional vem atingindo com mais força as classes de renda A e B do que a classe média e os mais pobres. O indicador desse fenômeno é a mobilidade social: tomados proporcionalmente ao seu peso no total da população, os indivíduos das classes de renda privilegiadas correm mais risco de cair para uma faixa de renda inferior, enquanto os mais pobres continuam ascendendo às classes médias.

Jornalistas distraídos

A explicação oferecida pelos coordenadores do estudo é que as pessoas com renda mais alta estão mais vinculadas aos setores impactados mais fortemente pela crise, como as exportações, os setores financeiro e imobiliário. As dificuldades desses setores não afetam tanto a maioria de classe média porque são menos importantes no Brasil em termos de geração de emprego e de indicadores de renda do que em outros países.

No extremo inferior da pirâmide social, as classes D e E também estão encolhendo, com maior número de famílias ascendendo à classe C. A informação é de extrema relevância e alguns analistas estranham o fato de que a imprensa não tenha manifestado maior interesse pelo assunto.

Um dos aspectos que deveriam estar movimentando os comentadores de jornais e dos noticiários televisivos e radiofônicos é a possibilidade de estarmos assistindo a uma alteração profunda no desenho da pirâmide social do Brasil.

Trata-se de um tema fascinante até mesmo para o jornalista mais distraído, mas parece que a imprensa faz questão de ignorar a realidade brasileira.

Sociedade em mutação

O estudo da Fundação Getúlio Vargas considera que, na última década, as mudanças no modelo econômico brasileiro têm produzido um novo desenho na sociedade, o que acaba por levantar defesas contra a crise internacional.

Algumas iniciativas dos dois governos de Fernando Henrique Cardoso, provendo estabilidade aos negócios, estimulando a exportação e facilitando a criação de um sistema bancário sólido e competitivo, criaram as bases para investimentos produtivos de longo prazo e para a modernização de alguns setores, como o das telecomunicações.

Os projetos sociais de transferência de renda, criados ou ampliados nos dois governos de Luiz Inácio Lula da Silva, tiraram da miséria milhões de famílias e produziram a nova classe média que agora sustenta em grande parte a economia brasileira.

A pesquisa de mobilidade social revela os números dessa mudança de posições. Ela é importante porque pode orientar inovações nas estratégias das empresas e nas políticas públicas. Uma classe ascendente tem sempre um enorme potencial de energia criativa e de consumo.

As primeiras gerações das famílias que ascendem socialmente são um fator importante de desenvolvimento, e, conforme observam os coordenadores da pesquisa, 25% dos brasileiros se encontram nessa condição.

Pauta esquecida

A prosseguir a tendência apontada pelo estudo, teremos em algum tempo não exatamente uma pirâmide social, mas um hectaedro, com uma base e um ápice mais estreitos e uma parte central mais avantajada, formada pela maioria da classe média.

Claro que, diante desses indicadores, tornam-se importantes novos negócios dirigidos a essa nova classe média, o que já vem sendo explorado por algumas empresas. A imprensa também se beneficia desse fenômeno, pois quase todas as empresas jornalísticas têm um título popular, e esse é o nicho que mais cresce no Brasil.

Por todos esses motivos, torna-se incompreensível que a imprensa, de modo geral, tenha se esquivado de se aprofundar no tema.

Texto original do Observatório da Imprensa.


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Auschwitz, memorial em perigo

Clara Georges
Auschwitz, Varsóvia (Polônia)

Uma inscrição sobre uma lápide preta se destaca sobre a espessa camada de neve. "Que este lugar, onde os nazistas assassinaram um milhão e meio de homens, mulheres e crianças, a maioria judeus de vários países da Europa, seja para sempre um grito de desespero e um alerta para a humanidade". Essa epígrafe, escrita em 21 idiomas, está gravada no memorial de Auschwitz-II-Birkenau.

Logo a neve vai derreter e a terra descongelará. Os destroços dos galpões de madeira e das câmaras de gás e crematórios serão, mais uma vez, submetidos aos movimentos do solo. É preciso protegê-los para evitar que acabem desmoronando.

É somente um dos trabalhos indispensáveis para a preservação do antigo campo de concentração e de extermínio de Auschwitz-Birkenau. Em janeiro, o Museu do Estado Auschwitz-Birkenau, que administra os antigos campos, as visitas e as exposições, tornou públicas suas necessidades: 60 milhões de euros para as reformas mais urgentes, 120 milhões para o financiamento total da conservação. Se nada for feito, o local está simplesmente ameaçado de desaparecer.

Mas o orçamento do museu aumentou em 2008 para 6,8 milhões de euros. É só o suficiente para alguns "remendos", como explica Jacek Kastelianec, responsável pela coleta dos fundos. Dessa soma, somente 400 mil euros chegam do exterior. O resto provém metade das receitas do museu (livros, publicações - a entrada do local é gratuita) e metade do governo polonês.

Isso porque o museu é uma instituição do Estado, financiado, desde sua criação, em 1947, pelo Ministério da Cultura. Foi somente depois da era comunista, nos anos 1990, que ele se beneficiou de pontuais auxílios estrangeiros para sua restauração.

Então o museu acaba de criar uma fundação encarregada de receber um fundo dotado, idealmente, de 120 milhões de euros a serem recolhidos, e cujos dividendos anuais (entre 3 e 15 milhões) permitiriam sustentar uma reforma.

Por que se esperou tanto tempo? "Talvez por causa da falta de visão da antiga direção", diz Serge Klarsfeld, vice-presidente da Fundação pela Memória da Shoah e novo membro do conselho da Fundação Auschwitz-Birkenau. "Mas também pela falta de interesse dos governos da Polônia. Eles se conscientizaram dessa necessidade recentemente, com o aumento do número de pessoas que vêm". Wladyslaw Bartoszewski, ex-detento, secretário de Estado encarregado do diálogo internacional e diretor do Conselho Internacional para Auschwitz (IAC), comitê que zela pelo futuro do local, oferece uma resposta complementar. "A geração dos detentos chega no fim de sua vida. É preciso proteger este lugar, o único dos campos inscrito no Patrimônio Mundial da Humanidade da Unesco. É um compromisso para com aqueles que partem".

Na oficina de conservação do local, financiada pela Fundação Lauder, uma equipe de dez pessoas se empenha, desde 2003, em preservar objetos e lugares. Sobre uma mesa, duas pilhas de folhas amareladas esperam. São os relatórios do Instituto de Higiene da SS, nos quais estão registradas as experiências médicas praticadas nos detentos. A restauração dessas folhas, paga pelo Estado da Renânia do Norte-Vestfália, custa 600 mil euros e levará três anos. O trabalho dos conservadores é difícil. Não se trata de embelezar, como em um museu de arte. Trata-se de "conservar o estado", explica um deles. "O objetivo obviamente não é de construir uma Disneylândia", resume Bartoszewski. "Queremos manter o lugar autêntico". É também o trabalho do especialista encarregado da conservação vegetal: com base nos arquivos, ele consegue com que a paisagem se pareça o máximo possível com a da época.

Em uma outra sala, blocos vermelhos e brancos são numerados. São testes para reproduzir de forma idêntica os solos de alguns prédios. Nos galpões de tijolos de paredes desbotadas, o chão está danificado. Há buracos. Então é preciso recriar os materiais utilizados nos anos 1940. Às vezes, também é necessário substituir as ripas de madeira inchadas pela umidade ou gastas pelo tempo.

Mais além, depara-se com uma reprodução do portão onde se lê "Arbeit macht frei" [O trabalho liberta], que substituía o original durante sua restauração; ou com um grande afresco que se encontrava, originalmente, na antiga cantina da SS.

Entre as primeiras tarefas a cumprir, o conservador Rafal Pirio cita a preservação dos galpões de madeira e de tijolo de Birkenau e dos onze prédios de Auschwitz-I que abrigam a exposição principal. Esta última, que conduz os visitantes por onze galpões, também deve ser renovada, pois não sofre nenhuma mudança desde... 1947. Nessas salas, onde é grande o fluxo de pessoas, mostram-se por trás dos vidros toneladas de cabelos de detentos e sapatos de crianças. Os sapatos serão restaurados, mas o museu decidiu deixar os cabelos virarem pó.

O local engloba 155 construções e 300 ruínas sobre quase 200 hectares. Chegando em Birkenau, o visitante fica estupefato com a extensão dos lugares. Os vestígios dos galpões-dormitórios, cercados por arame farpado enferrujado e suas estacas de concreto que se corroem, se estendem a perder de vista. Os destroços dos galpões de madeira se distribuem pela longa plataforma onde chegavam os trens.

A preservação de um memorial certamente não está desprovida de ambivalência. "Eu sempre tive um sentimento um pouco mitigado diante da ideia de que era preciso restaurar um lugar como este", diz Richard Prasquier, presidente do Conselho Representativo das Instituições Judaicas da França (CRIF) e membro do Conselho Internacional para Auschwitz. "Por um outro lado, se não o restaurarmos, ele desaparecerá. Auschwitz é um símbolo para a Europa e para o mundo. Ele não pode desaparecer fisicamente".

Ao longo dos anos, o status de Auschwitz mudou. Ele se tornou o símbolo por excelência da loucura nazista. Os números de frequência confirmam: até 2003, o número anual de visitantes girava em torno de meio milhão. Em 2008, eram 1,3 milhão. Piotr Cywinski, diretor do museu, relata uma anedota que ilustra essa evolução. "No final de abril de 2008 veio um homem, um judeu que, ainda criança, havia sobrevivido aos campos de concentração. Seu pai morrera. Ele me disse: 'Eu tinha de vir a Auschwitz, porque meu pai foi morto em Bergen-Belsen.' Para ele, Bergen-Belsen estava simbolicamente inserido em Auschwitz".

Parece impensável que a comunidade internacional se recuse a participar da conservação de Auschwitz-Birkenau. No entanto, Piotr Cywinski guarda cautela. "Em geral, digo que o que chega do exterior, são sobretudo bons conselhos", ele brinca. Richard Prasquier não acha normal que seja a Polônia a financiar o local: "Eu ficaria totalmente chocado se o conjunto dos países da Europa não pagasse".

O local acaba de obter 4 milhões de euros de fundos europeus, para a conservação dos galpões de Auschwitz-I. Os alemães já se manifestaram junto à Fundação.

Wladyslaw Bartoszewski está otimista. "Quando eu estava no colégio, no entre-guerras, parecia-me que Verdun era uma história encerrada, que logo não interessaria a mais ninguém. Passaram-se exatamente 70 anos desde que me formei. As pessoas continuam se interessando por Verdun".

Tradução: Lana Lim

Texto do Le Monde, no UOL.

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quinta-feira, fevereiro 26, 2009

Israel está preparado para acolher 4 milhões de palestinos?



Esta é a pergunta que eu tenho me feito ultimamente, depois de constatar que se passaram mais de 15 anos dos acordos de Oslo, e que nesse tempo todo, praticamente nada foi adiante, a não ser a retirada de colonos da Faixa de Gaza ocupada, e o incremento da colonização judaica na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental.


Como o massacre sobre Gaza em dezembro/2008 – janeiro/2009 demonstra que Israel quer manter um controle de fato sobre Gaza, dizendo o que pode ou não entrar na estreita faixa litorânea do Mediterrâneo, e como há cerca de 300.000 colonos na Cisjordânia, e 200.000 em Jerusalém Oriental (que, em tese, pertenceria à Palestina), parece que Israel de fato não quer abandonar estes territórios ocupados.


Assim parece que, também de fato, Israel está se preparando para acolher os 4 milhões de palestinos, que hoje vivem sob a mão de ferro da ocupação israelense. Ou seja, são as pessoas que hoje almejam a criação do Estado da Palestina, mas que Israel faz questão de adiar, postergar, … As últimas notícias que vi eram que o primeiro-ministro (demissionário) Ehud Olmert, quer que os assentamentos judaicos na Cisjordânia sejam mantidos e integrados ao território de Israel, e, em troca os palestinos receberiam terras ao sul de Israel. Ao sul é onde? No deserto do Neguev?


Se Israel, de novo digo, de fato não quer que o Estado da Palestina seja criado, pois boicota, também de fato, todas as iniciativas que poderiam levar à criação deste Estado nos últimos anos, deveria acolher os palestinos como cidadãos. Como fará isso? Não sei. Teríamos talvez 5 milhões de árabes e 7 ou 8 milhões de judeus dentro de Israel. Daria para manter um “estado judeu” assim, ainda mais com a população árabe crescendo a taxa de natalidade maior que a da população judaica?

Fusão das bandeiras de Israel e da Palestina feita com Picasa, a partir das bandeiras disponíveis na Wikipédia de Israel e Autoridade Palestina.


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quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Fevereiro de 2009

Blogueiro em férias!...

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segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Escola Base, capítulo 2, ou o Caso dos Falsos Pedófilos da Colina do Sol - II

O leitor Richard, ligado ao blog Peladistas Unidos , acrescentou comentário abaixo, que resolvi transferir para o corpo principal deste blog. O comentário foi a respeito das acusações de abuso contra membros da comunidade naturista Colina do Sol, aqui em Taquara, RS.

"No teu blog, há um link ao "Polícia reprime protesto de estudantes em Caracas". Não precisas ir tão longe: a polícia em Taquara reprimiu o protesto de crianças a favor do acusados da Colina. Video aqui: http://www.mp.rs.gov.br/imprena/clipping/id64350.htm

Tu citas Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça porque eles serão fartos.(Evangelho de Mateus 5:6)

Não ouças pisar em Taquara: um defensor dos acusados foi denunciado por "ameaça grave" por um texto cuja frase mais afoita era "Não julgueis segundo a aparência, mas segundo a reta justiça"(João 7:14)

A situação é grave, mesmo."

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Yeda Maria Antonieta

MARIA ANTONIETA

Num país falido, o secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, ordenou ao Citicorp que cancelasse a encomenda de um jato executivo de US$ 50 milhões. No Rio Grande do Sul, a governadora tucana Yeda Crusius, que está na Justiça batalhando contra a instituição do piso nacional do magistério, quer comprar um avião de US$ 26 milhões. No estilo Maria Antonieta, fez piada: "Pode chamar de AeroYeda".

Trecho da coluna de Elio Gaspari, na Folha de São Paulo, de 1o. de fevereiro de 2009.

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Atentado contra ex-ministro da defesa (agora oposicionista) na Venezuela

Dissidente chavista, ex-ministro é alvo de atentado na Venezuela

Carro de Baduel foi atacado; ataques contra atos oposicionistas se tornaram frequentes

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

O ex-ministro da Defesa e dissidente chavista Raúl Isaías Baduel foi atacado ontem por bombas de gás lacrimogêneo e teve o seu carro atingido por vários disparos enquanto participava de evento contra a proposta de reeleição presidencial indefinida, que será submetida a referendo em 15 de fevereiro.
O atentado ocorreu no campus da Universidade de Carabobo, na cidade de Valencia (160 km a oeste de Caracas). Baduel, que rompeu com o presidente Hugo Chávez em 2007, havia sido convidado ao campus pelo grêmio universitário. Ninguém ficou ferido.
À TV Globovisión, Baduel disse que não pode identificar os autores do ataque. Segundo ele, uma maleta com documentos pessoais e um talão de cheque foi roubada do veículo.
Nas últimas semanas, foram registrados ataques quase diários a eventos de estudantes oposicionistas contra a reeleição indefinida. Os ataques têm sido atribuídos a organizações paramilitares chavistas, como o grupo "La Piedrita", que assumiu a autoria de alguns ataques com bomba contra o que chamam de "alvos militares".
Chávez tem chamado os estudantes de "pitiyanquitos" e chegou a ordenar a polícia a "lançar gás do bom" contra manifestações não autorizadas pelo seu governo. O venezuelano, que na segunda-feira completará dez anos no poder, quer reformar a Constituição para concorrer novamente à Presidência no final de 2012.
Chávez também ordenou a vigilância de alguns campi universitários por militares. Em Caracas, por exemplo, a entrada da Universidade Central da Venezuela (UCV), a mais importante do país, está sob a vigilância de dezenas de homens da Guarda Nacional.
O ex-ministro da Educação Aristóbulo Istúriz, um dos principais nomes da campanha do "sim", acusou a CIA de estar por trás dos ataques. "É fácil fazer autoatentados, isso é um conhecido plano da CIA, preparam situações para jogar a culpa em alguém", afirmou ao jornal "Ultimas Notícias".
Pesquisa divulgada nesta semana pelo respeitado instituto Datanálisis mostra empate técnico entre o "sim" e o "não", com ligeira vantagem para a aprovação da emenda: 51,5% a favor da proposta de Chávez, e 48,1% contrários à reeleição indefinida. A margem de erro é de 2,7 pontos percentuais.

Texto da Folha de São Paulo, de 30 de janeiro de 2009.


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Bate-boca entre primeiro-ministro turco e presidente israelense a respeito de Gaza em Davos

Israelense briga com amigo turco em Davos

Premiê da Turquia, que medeia negociação entre Israel e Síria, se retira de debate após Shimon Peres defender ação em Gaza

Discussão vira comício em que presidente de Israel é acusado de levar palestinos à fome e responde culpando Hamas e Irã por conflito

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

A guerra em Gaza chegou ontem aos usualmente mansos salões de Davos, na forma de um agitado bate-boca entre o presidente de Israel, Shimon Peres, e o primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyp Erdogan, que abandonou o plenário pisando duro e anunciando que nunca mais voltaria a Davos, a cidadezinha suíça que é o palco, todo janeiro, dos encontros do Fórum Econômico Mundial.
"Justamente o melhor amigo de Israel entre os países muçulmanos", balançava a cabeça Gareth Evans, presidente do Internacional Crisis Group, para assinalar uma possível consequência política do entrevero. De fato, quatro dias antes dos primeiros bombardeios a Gaza, o premiê israelense Ehud Olmert estava na Turquia, em negociações indiretas com a Síria.
O debate sobre Gaza acabou se transformando em um comício em que Peres ficou em nítida desvantagem, já que a ação de Israel na faixa litorânea governada pelo Hamas foi duramente atacada não só por Erdogan mas também por Amr Mussa, o secretário-geral da Liga Árabe, e até pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
Ban criticou acima de tudo o ataque às instalações da ONU em Gaza, por ele qualificado de "chocante, alarmante e inaceitável". A crítica já havia sido feita antes, assim como as que Mussa e Erdogan fizeram, mas o problema é que, desta vez, estava presente uma alta autoridade israelense.

"Prisão a céu aberto"
O premiê turco, falando alto e em turco, criticou o embargo israelense a Gaza. "Nem uma caixa de tomate pode entrar sem autorização de Israel", afirmou, para emendar afirmando que o território era "uma prisão a céu aberto".
Atacou também a destruição provocada por Israel, ao afirmar que "nem US 1 bilhão ou US$ 2 bilhões bastarão para a reconstrução", em alusão aos US$ 613 milhões que Ban Ki-moon mencionara como primeira quantia a ser levantada para o território palestino.
Erdogan fez questão de defender um tema caro aos judeus, ao afirmar que sempre dissera que "o antissemitismo é um crime contra a humanidade". Mas engatou: "A islamofobia também é um crime contra a humanidade".
Mussa, por sua vez, negou que o ataque israelense tivesse sido uma reação ao contínuo disparo de foguetes pelo grupo fundamentalista Hamas. Disse que o problema de fundo é "a ocupação militar estrangeira" (israelense, no caso). E, também, a fome a que os habitantes são levados pelo bloqueio.
Peres foi o último a falar e usou tom de voz idêntico ao de Erdogan, como se ambos estivessem em um comício. Rebateu as acusações, leu trechos da carta de constituição do Hamas, que pede a morte de todos os judeus, e gritou: "A tragédia de Gaza não é Israel, é o Hamas, uma ditadura feia, muito feia".
Erdogan pediu direito de resposta, ganhou um minuto do mediador David Ignatius, editor-associado do "Washington Post", mas foi além, sempre em turco, que a intérprete não tinha condições de verter para o inglês, pela rapidez com que o premiê falava e pelas intervenções contínuas de Ignatius.
O premiê acabou levantando-se e saindo, sem cumprimentar Peres ou Ban. Só parou para receber caloroso aperto de mãos de Amr Mussa.
Depois, em rápida entrevista coletiva, Erdogan disse que Peres mentira sobre a guerra, mas deixou claro que sua irritação maior era com o mediador que lhe dera metade do tempo destinado ao israelense. "Assim não dá para ter uma discussão séria", afirmou.
Antes do incidente, Peres havia tocado incidentalmente em um aspecto que é chave para a crônica crise na região, ao dizer que ela se deve "à ambição do Irã de controlá-la". Um andar acima do debate sobre Gaza e meia hora antes, o chanceler iraniano, Manouchehr Mottaki, negava-se por duas vezes a dizer que seu país aceita a solução de dois Estados, o palestino e o israelense.
Em vez de responder, Mottaki sugeriu um plebiscito entre os palestinos para que decidam o que querem. "Não temos o direito de tomar decisões em nome do povo palestino", afirmou, no que parece um belo exercício democrático, mas tem o grave inconveniente de que, se a proposta fosse levada adiante, os palestinos é que acabariam tomando a decisão a respeito de Israel.
Somados os dois debates, Peres ficou isolado também no quesito Hamas: Mottaki, o chanceler iraquiano Hoshyar Zebari, Mussa e Erdogan defenderam a participação dos fundamentalistas nas negociações de paz.

Texto da Folha de São Paulo, de 30 de janeiro de 2009.


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Blackwater proibida de continuar operando no Iraque

Iraque veta licença, e mercenários da Blackwater têm que deixar país

TIMOTHY WILLIAMS
DO "NEW YORK TIMES", EM BAGDÁ

A Blackwater Worldwide, empresa de segurança cujos guardas mataram 17 civis em uma movimentada rua de Bagdá em 2007, não receberá licença do governo iraquiano para operar no país. Com a decisão, os diplomatas americanos no Iraque, que usam seguranças particulares, terão de buscar outras formas de proteção. Não se sabe quando a Blackwater terá de deixar o Iraque, mas é provável que ela continue em operação até pelo menos o segundo trimestre, quando um comitê conjunto dos governos de Iraque e EUA deve apresentar propostas de regras para as empresas privadas que operam em território iraquiano, informaram as autoridades. Bagdá já havia tentado expulsar a Blackwater anteriormente, mas os funcionários americanos que trabalham no país e dependem dos seguranças pesadamente armados disseram não ter alternativa a manter o contrato com a empresa.
Ao contrário de muitas das demais firmas que prestam serviços de segurança no Iraque, a Blackwater vinha operando sem licença do governo iraquiano, embora tivesse solicitado uma recentemente. "Eles apresentaram seu pedido e nós o rejeitamos", disse Alaa al Taia, funcionário do Ministério do Interior iraquiano.
"Não há mais necessidade de renovar seu contrato porque nossas forças de segurança são capazes de realizar as missões que a empresa conduzia. O retrospecto dessa empresa tem muitas máculas, especificamente o envolvimento na morte de número tão alto de civis."
Uma funcionária da Embaixada dos EUA em Bagdá disse que a decisão estava sendo estudada. As empresas de segurança que operam no Iraque perderam sua imunidade contra processos em tribunais iraquianos em 31 de dezembro, como parte de um acordo assinado por EUA e Iraque para permitir a permanência das tropas americanas no país.
A questão da imunidade era prioridade para o governo iraquiano desde o 16 de setembro de 2007, quando seguranças da Blackwater que cruzavam a praça Nisoor, em Bagdá, em um comboio de veículos, abriram fogo contra civis, aparentemente por acreditarem que tinham sido alvo de tiros. No mês passado, cinco seguranças foram acusados de homicídio culposo nos EUA e alegam inocência. Outro segurança colabora com a acusação.
Anne Tyrrell, porta-voz da Blackwater, declarou ontem que a empresa ainda não foi notificada. "Se proceder, respeitaremos as leis do Iraque e seguiremos as instruções de nossos clientes no governo americano, para cumprirmos os contratos e as regras iraquianas." Mais tarde, o presidente da Blackwater, Gary Jackson, disse à Associated Press que, assim que a empresa receber ordem para deixar o Iraque, ela removerá seus cerca de mil empregados em 72 horas.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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