sábado, outubro 28, 2006

Debatédio na Arena Peripatética Global

Ao contrário do que preconizou o José Simão da Folha de São Paulo, não apareceu a mulata globeleza nua para animar o último debate presidencial das eleições de 2006. E também ao contrário do que previu o Jean, chargista da Folha, não houve sorteio de automóveis zero quilômetro ao final de cada bloco para manter platéia acesa.

Debatédio foi o neologismo criado pelo José Simão para descrever a infinidade de debates que houve antes deste segundo turno da eleição. E arena peripatética global porque a novidade deste debate foi que os candidatos foram obrigados a responder às perguntas caminhando para lá e para cá, dentro de uma espécie de arena, cercada por eleitores. Mais adiante havia lugares, uma espécie de platéia, onde ficaram as comitivas dos dois candidatos. Pelo que eu me lembrava, peripatética era a escola de filosofia de Aristóteles, porque Aristóteles e seus discípulos ficavam caminhando enquanto filosofavam. E caminhar em grego era "peripatos". Mas tive oportunidade de checar a Enciclopédia Larousse Cultural, e a enciclopédia informou que o local onde eles se reuniam se chamava "peripatos". Global porque estava na Rede Globo, oras!...

Que é possível dizer do debate em si? Outro empate técnico? Se eu avaliar apenas pensando na forma, eu diria que o candidato Geraldo Alckmin teve uma leve vantagem. Sempre didático, na medida do possível para a televisão, tinha respostas que eram mais objetivas com relação às perguntas que ele devia responder. O candidato Lula tendia a produzir respostas mais longas e menos objetivas. Para mim, que pude entender, as palavras de Alckmin eram mais objetivas, mas como eram com vocabulário mais sofisticado, não sei se isso não contou contra ele. Afinal há menos eleitores com maior educação formal...

Mas como eu disse, a vantagem de Alckmin foi leve. A firmeza dele esteve realmente no ponto. Não pareceu arrogante, nem agressivo, nos três blocos que assisti.

Contudo, e sempre há este contudo, o candidato Geraldo Alckmin é um homem com pouco carisma. Não me deu a impressão de ser candidato a presidente. Parecia mais candidato a ministro da fazenda, ou a ministro do exterior. Aquele técnico que sabe muito, mas não parece que seja o líder político de uma nação.

E ainda. Para quem conhece um pouco da administração pública, ou os números que os jornais nos informam todos os dias nos cadernos de economia, o discurso do candidato Geraldo Alckmin não fecha. Ele quer baixar juros, mas não explicita se dará uma forçada de mão no Banco Central, que é quem realmente define os juros, desde o governo Fernando Henrique. Quer baixar impostos, mas não diz o que fará com a monstruosa dívida pública interna, aquela que no governo Lula diminuiu proporcionalmente ao PIB, mas aumentou em termos absolutos (alguém consegue imaginar uma dívida de 1 trilhão de reais?). Repete à exaustão que governar é optar, mas quer aumentar as dotações de habitação popular, investir na melhoria do transporte público nas grandes cidades, aumentar o efetivo da Polícia Federal, e, de novo, baixar os impostos. Ele pretende dar calote na dívida pública? Se não for isso, a conta não fecha...

Então é isso. Didático, bem colocado, mas não racional de acordo com os números.

Posto isso. Que posso dizer? Quem pretendia votar em Lula antes do debate, votará em Lula. Quem pretendia votar em Alckmin antes do debate, votará em Alckmin. Quanto aos indecisos, se acreditarem em Alckmin, votarão em Alckmin.

Esta é a opinião deste blogueiro.