Idade da Pedra
O texto abaixo foi copiado do blog "Eu Quero Falar"
GLOBO QUER LEVAR O BRASIL À IDADE DA PEDRA
Paulo Henrique Amorim disse nesta quarta-feira, dia 13, em um debate sobre democratização da mídia, na Câmara dos Deputados, em Brasília, que a Globo quer voltar o Brasil para a idade da pedra ao fechar o país para outras mídias que não seja a televisão.
Ele participou de um debate sobre democratização da mídia na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara (clique aqui).
Estiveram na mesma mesa o diretor de jornalismo do SBT, Luiz Gonzaga Mineiro, e o diretor da Secretaria de Comunicação Social da Câmara, William França. O debate foi organizado pelo deputado Fernando Ferro (PT-SP) e mediado pelo deputado Vic Pires Franco (PFL-PA), presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara.
“Eu acho que devemos tomar muito cuidado com a legislação que está aí nessa Casa, de autoria do deputado Nelson Marquezelli, no Senado do senador Maguito Vilela, que tem a propriedade de devolver o Brasil à idade da pedra”, disse Paulo Henrique.
Segundo Paulo Henrique, a proposta utiliza a Lei de Newton naquilo que interessa à Rede Globo: que é aquilo que se refere ao cotejo de televisão contra televisão, mas fecha o Brasil para as outras mídias.
“É uma tentativa que eu considero razoavelmente inútil porque eu quero ver como é que a Rede Globo, o senador Maguito Vilela e o deputado Nelson Marquezelli vão impedir a “postação” de vídeos no YouTube daqui para frente”, disse Paulo Henrique Amorim.
Veja a íntegra da palestra de Paulo Henrique Amorim na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados nesta quarta-feira, dia 13:
Muito boa tarde. É uma grande honra estar aqui. Agradecer o convite do deputado Fernando Ferro. Dizer que tenho nesta oportunidade a grande honra e o grande prazer de reencontrar colegas de trabalho como o Mineiro com quem pude trabalhar. É com muita alegria e muito orgulho na Rede Record. Acabei de assistir aqui a exposição do meu colega na TV Globo, Evandro Guimarães e já que falo de jornalistas, eu estou gravando esta minha participação pra colocar no site Conversa Afiada e vou transformar isso num texto.
E eu quero dedicar esse trabalho que realizei para vir aqui fazer nessa Comissão ao jornalista Mino Carta, a quem quero homenagear formalmente neste momento como aquele que, na minha opinião, simboliza o melhor do jornalismo brasileiro.
Eu quero começar a falar aqui e dizer que, na minha opinião, todos os jornais foram e são contra o Presidente Lula. Só faltam ter opinião na sessão de horóscopo. Todas as revistas, com exceção da Carta Capita, são contra o Presidente Lula. Todas as rádios, com exceção das rádios comunitárias, são contra o Presidente Lula. E uma rede de TV, líder de audiência, a Rede Globo de Televisão, que mistura informação com opinião, contra a lei, portanto, levou as eleições para o segundo turno ao mostrar a foto do dinheiro que seria usado para comprar o dossiê e o lugar vazio de Lula no debate, conforme disse Marcos Coimbra, do Vox Pópuli, à revista Carta Capital.
Os jornais e a Globo, desde o dia 02 de janeiro de 2003 cobriram a queda de Lula e trabalharam para derrubar Lula. E vão continuar a trabalhar para derrubar o Presidente Lula.
Isso, na minha opinião, não é privilégio do Presidente Lula. A imprensa escrita brasileira, tal como sobreviveu até hoje, ela ajudou a derrubar e a matar o Presidente Vargas, ela tentou depor o Presidente Juscelino Kubitschek. Eu entrevistei o Presidente Juscelino Kubitschek fora do governo. Como se sabe, minissérie não faz história e o Presidente Juscelino Kubitschek me contou que entre os 20 ou 15 motivos que o levaram a trazer a capital para Brasília, um deles é que ele não agüentava chegar à área reservada ao Palácio do Catete e ouvir a Rádio Globo entregar os microfones por uma hora a Carlos Lacerda pedindo o impeachment dele.
Isso é o que aconteceu com o Governo Jago. Acabo de cruzar no corredor com um homem íntegro, chamado Waldir Pires, que trabalhou no Governo Jango e sabe disso melhor do que eu. Isso aconteceu no Governo Jango e aconteceu com o governador Brizola no Rio de Janeiro.
A mídia, especialmente a Globo, trabalharam contra Jango e contra Brizola. Portanto, elas têm uma inclinação anti-trabalhista que é histórica e uma tradição de intervir no processo político.
A imprensa escrita no Brasil é a indústria perdedora. Os jornais de 96 para cá perderam 10% da circulação, ou seja a razão média de 1% por ano. Sendo que, segundo o depoimento do professor Venício Lima, nesse livro – o professor Venício Lima é da Universidade de Brasília, publicou esse livro pela fundação Perseu Abramo (“Mídia: Crise Política e Poder no Brasil”. A circulação dos jornais brasileiros caiu 18% entre 2001 e 2003. Ou seja, é uma queda profunda e recente.
A circulação das revistas brasileiras caiu de 8,8% para 8,6% nos últimos dez anos. É uma queda mais lenta, porém é uma queda.
Produzir jornal no Brasil é hoje um negócio tão promissor quanto:
. Abrir uma fábrica em São Bernardo para produzir o carro DKW Vemag
. Produzir chapéu Côco em Londres
. Ou ter uma usina siderúrgica em Pittsburgh
Na França, os jornais sofreram a concorrência da internet e dos tablóides gratuitos que são distribuídos nas bocas do metrô. Aqui no Brasil, os jornais se valem do fato de que não temos esse fenômeno dos jornais do metrô ainda massificados como na Europa e há no momento um boom imobiliário, especialmente no Rio e especialmente em São Paulo. E esse boom imobiliário é o anabolizante que dá fôlego aos jornais neste momento. Mas quem consultar imóveis na internet verá que é melhor consultar imóveis na internet do que em jornal.
O que sobra aos jornais, como disse o professor Wanderley Guilherme dos Santos, é o poder de gerar crises e é uma situação paradoxal porque no Brasil os jornais em crise têm uma força que, segundo o professor Wanderley Guilherme dos Santos, não têm em nenhuma outra democracia no mundo. Ou seja, essa capacidade não é necessariamente de formar opinião, mas de criar crises políticas. Isso acontece, inclusive, porque a tendência é que os jornais não venham a ficar mais pluralistas ou menos conservadores por causa da sua decadência econômica. Eles têm que ser fiéis à sua clientela.
E estudos recentes feitos da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, mostram que à medida que a circulação dos grandes jornais cai, diminui a heterogeneidade da opinião, diminui a diversidade da opinião, porque é a tentativa de os jornais manterem sua clientela que existe naquele momento.
Lamentavelmente, lamentavelmente, sobretudo por influência das Organizações Globo, não foi possível criar no Brasil um Conselho de Comunicação Social como existem na França e Inglaterra. E eu estou propondo aqui instituições que são de democracias estabelecidas e maduras.
É o Ofcom – Office of Communication – na Inglaterra, subordinado ao Parlamento que tem como função distribuir canais e zelar pela pluralidade, pela pluralidade, no meio audiovisual.
E o Conseil Supérieur de L’audiovisuel, na França, que tem como obrigação zelar pela pluralidade da opinião. Inclusive está nos estatutos, na missão do CSA na França: zelar pela pluralidade sindical que tem que ser respeitada nos meios audiovisuais franceses.
Lamentavelmente esse conselho aqui no Brasil se tornou um conselho consultivo, um instituto de pesquisas da Câmara dos Deputados e do Congresso Nacional.
Essa crise nos jornais trouxe uma vantagem, porém. Eu não conheço nenhum país em que os portais da internet tenham a relevância que têm no Brasil. O brasileiro é um grande consumidor de internet. Ele é o maior consumidor de internet do mundo. O brasileiro gasta em média 20 horas e 30 minutos por mês diante da internet. O Brasil tem 37 milhões de internautas.
O problema, porém, é que esses portais dependem, em grande parte, dos noticiários que vêm de agências de notícias. E as principais agências de notícias que condicionam o noticiário dos portais são a Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo. Portanto, o poder dos jornais escritos se reproduz e se amplia e se multiplica quando ele vai para a internet.
A vantagem é que existe hoje no Brasil uma indústria nova na internet, que é a indústria do Blog. E ao contrário do que aconteceu nos Estados Unidos, em que, vindo do Rádio, os Blogs na internet se tornaram elementos da mídia conservadora, aqui no Brasil foi possível criar espaços dentro da internet e em Blogs independentes como uma mídia não conservadora, onde modestamente me incluo.
É bom lembrar que o principal Blog político dos Estados Unidos, que hoje é referência para a classe política americana, é um Blog liberal. É o Daily Koss, que tem uma importância tão grande que fez com que o Partido Democrata nos Estados Unidos consultasse o Daily Koss sobre como fazer sua comunicação na internet e hoje o Partido Democrata nos Estados Unidos usa a internet com uma força muito importante para levantar recursos para campanha e para difusão de idéias.
Felizmente no Brasil o brasileiro gosta da internet. O brasileiro se torna um grande consumidor de banda larga com a ampliação da oferta e a queda dos preços e se torna, isso é importante, um grande consumidor de computador.
A venda de computador no Brasil cresce à base de 25% ao ano, é o dobro do crescimento mundial. O que mais cresce no Brasil é o PC, o computador pessoal. E o que mais cresce no mercado de PC é o consumidor da classe C. O “Computador Para Todos”, que é o computador do Governo Federal, que custa R$ 1,4 mil, vendeu 380 mil unidades nos primeiros nove meses de 2006.
Com tudo isso, o que eu quero dizer é que a discussão sobre a democratização da mídia, que considero central, considero central na questão brasileira, concordo com todos aqueles que acham que a mídia deveria discutir a mídia. A sociedade tem que discutir a mídia. Então, diante de tudo isso, como diria o ensaísta Roberto Schwarz, nós estamos fazendo uma discussão com as idéias fora do lugar.
Na minha opinião, nós temos que levar em conta que com a massificação iminente do computador no Brasil e com o celular que teve no Brasil uma penetração importante. Nós temos hoje no Brasil cerca de cem milhões de aparelhos celulares no Brasil.
E, como disse um estudo da ITU, uma organização para telecomunicações da ONU, o celular será cada vez mais parecido com o computador do que com o telefone. O celular será um instrumento de divulgação de informação como é o computador.
E eu quero me lembrar aqui, quero me lembrar, o depoimento do Caio Túlio Costa, que é o presidente do iG, onde trabalho. Caio Túlio participou comigo de um recente seminário na Casper Líbero, no curso de pós graduação da escola de jornalismo. E o Caio lembrou que, em 2004, na eleição da Espanha, o governo de Aznar divulgou a informação de que o atentado teria sido obra do ETA e que os socialistas de Zapatero não tinham estrutura para combater o ETA e portanto ele deveria ser reeleito. Uma pequena emissora de rádio do interior da Espanha desmentiu a informação dizendo que quem fez o atentado foi um grupo da Al Qaeda. Essa informação foi multiplicada através dos torpedos, dos SMS’s dos celulares na Espanha e o senhor Zapatero ganhou a eleição.
Eu não quero dizer com isso que o SMS será a nova mídia, mas quero dizer que essa é uma das novas mídias. Mas quero dizer também para os Céticos e aqueles que defendem as Leis de Newton, como o meu brilhante e querido ex-colega de Rede Globo Evandro Guimarães, que defende a Lei de Newton para quando se trata do combate entre televisão e televisão, mas não defende a Lei de Newton quando se trata das outras mídias.
Quero dizer o seguinte: o YouTube – e todos aqui nessa sala que não tem cabelos brancos sabem o que é o YouTube – o YouTube decidiu a eleição para o Senado nos Estados Unidos. A eleição para o Senado nos Estados Unidos resultou em 51 para os Democratas e 49 para os Republicanos porque os Republicanos perderam uma eleição garantida na Virginia.
A Virginia tinha um candidato chamado John Allan, que era senador, apontado como sucessor do George Bush pelos Republicanos. Ele percebeu ao longo da campanha que tinha um negro, um “escurinho”, acompanhando os comícios dele com uma câmera. No quarto ou quinto comício ele se virou para o “escurinho” e disse: “you macaca”. O “escurinho” filmou, botou no YouTube e o senhor John Allan perdeu a eleição. O “escurinho” era um americano, nascido nos Estados Unidos, filho de indiano, com PhD em física no MIT e que tirou férias para cobrir a eleição do John Allan para o outro candidato.
Esse vídeo foi postado no YouTube, tinha 38 segundos e decidiu a eleição no Senado Americano. Nós estamos falando de novas mídias, com poder político brutal e é sobre isso que eu vou me referir agora.
Eu acho que devemos tomar muito cuidado com a legislação que está aí nessa Casa, de autoria do deputado Nelson Marquezelli, no Senado do senador Maguito Vilela, que tem a propriedade de devolver o Brasil à idade da pedra. Que é utilizando a Lei de Newton naquilo que interessa à Rede Globo e ao meu queridíssimo amigo Evandro Guimarães. Que é aquilo que se refere ao cotejo de televisão contra televisão, mas fecha o Brasil para as outras mídias.
É uma tentativa que eu considero razoavelmente inútil porque eu quero ver como é que a Rede Globo, o senador Maguito Vilela e o deputado Nelson Marquezelli vão impedir a “postação” de vídeos no YouTube daqui para frente.
Isso é muito sério e eu quero lembrar a todos aqui um episódio recente da história americana. O fato de que o presidente Franklin Roosevelt quando foi eleito pela primeira vez tinha toda a mídia impressa contra ele. Toda!
Como Lula hoje. Como Vargas, que só tinha Samuel Wayner a favor dele. Como Jango. Como Brizola. Toda a mídia impressa era contra ele.
E o Franklin Roosevelt fez um acordo com as rádios que era a nova tecnologia da época. Ele deixou a mídia impressa pra lá. Fez um acordo com as rádios, passou a fazer aquelas conversas ao pé da lareira, os firesides chats e conseguiu enfrentar a oposição integral, maciça da mídia escrita através da comunicação que ele passou a ter através das rádios.
Eu acho que esse governo, e não só este governo que tem minoria absoluta em todos os meios de comunicação, mas todos os movimentos minoritários, todos os movimentos que são contra. Todos os “Minos Cartas” da vida têm que trabalhar com essas mídias alternativas. Eu tenho muito orgulho, porque o Mino Carta hoje que é um profissional que fundou Veja, fundou Jornal da Tarde, Fundou a Quatro Rodas, Fundou a IstoÉ, fundou a revista Senhor, na sua segunda fase, o Mino Carta hoje tem o Blog que é o Blog mais lido do iG que tem um milhão de assistências por dia.
Isso eu acho que é uma revolução importante. Eu acho que nós devemos lutar como jornalistas preocupados com a democracia, com a proliferação dos meios de comunicação, com a democratização dos meios de comunicação, com a facilidade de acesso aos meios de comunicação.
Eu tenho a impressão de que eu me preparo. Como todos sabem, todos ouviram falar, conhecem a história do movimento da Revolução Industrial na Inglaterra, se lembram daquele movimento luddista daqueles operários que jogavam as máquinas novas no Rio Tâmisa para evitar a dispensa de trabalhadores e a modernização da indústria têxtil inglesa.
Eu me preparo para cobrir a primeira cerimônia luddista do século XXI. E essa cerimônia já começa a ser estruturada e organizada. Nessa cerimônia João Roberto Marinho, Roberto Civita, Otávio Frias Filho e Ruy Mesquita vão se reunir no salão nobre da Fiesp sob o busto do conde Matarazzo para promover uma fogueira e queimar o computador de 100 dólares do Nicholas Negroponte, o computador que o Brasil será o primeiro a lançar no mundo.
Muito obrigado!
Paulo Henrique Amorim disse nesta quarta-feira, dia 13, em um debate sobre democratização da mídia, na Câmara dos Deputados, em Brasília, que a Globo quer voltar o Brasil para a idade da pedra ao fechar o país para outras mídias que não seja a televisão.
Ele participou de um debate sobre democratização da mídia na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara (clique aqui).
Estiveram na mesma mesa o diretor de jornalismo do SBT, Luiz Gonzaga Mineiro, e o diretor da Secretaria de Comunicação Social da Câmara, William França. O debate foi organizado pelo deputado Fernando Ferro (PT-SP) e mediado pelo deputado Vic Pires Franco (PFL-PA), presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara.
“Eu acho que devemos tomar muito cuidado com a legislação que está aí nessa Casa, de autoria do deputado Nelson Marquezelli, no Senado do senador Maguito Vilela, que tem a propriedade de devolver o Brasil à idade da pedra”, disse Paulo Henrique.
Segundo Paulo Henrique, a proposta utiliza a Lei de Newton naquilo que interessa à Rede Globo: que é aquilo que se refere ao cotejo de televisão contra televisão, mas fecha o Brasil para as outras mídias.
“É uma tentativa que eu considero razoavelmente inútil porque eu quero ver como é que a Rede Globo, o senador Maguito Vilela e o deputado Nelson Marquezelli vão impedir a “postação” de vídeos no YouTube daqui para frente”, disse Paulo Henrique Amorim.
Veja a íntegra da palestra de Paulo Henrique Amorim na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados nesta quarta-feira, dia 13:
Muito boa tarde. É uma grande honra estar aqui. Agradecer o convite do deputado Fernando Ferro. Dizer que tenho nesta oportunidade a grande honra e o grande prazer de reencontrar colegas de trabalho como o Mineiro com quem pude trabalhar. É com muita alegria e muito orgulho na Rede Record. Acabei de assistir aqui a exposição do meu colega na TV Globo, Evandro Guimarães e já que falo de jornalistas, eu estou gravando esta minha participação pra colocar no site Conversa Afiada e vou transformar isso num texto.
E eu quero dedicar esse trabalho que realizei para vir aqui fazer nessa Comissão ao jornalista Mino Carta, a quem quero homenagear formalmente neste momento como aquele que, na minha opinião, simboliza o melhor do jornalismo brasileiro.
Eu quero começar a falar aqui e dizer que, na minha opinião, todos os jornais foram e são contra o Presidente Lula. Só faltam ter opinião na sessão de horóscopo. Todas as revistas, com exceção da Carta Capita, são contra o Presidente Lula. Todas as rádios, com exceção das rádios comunitárias, são contra o Presidente Lula. E uma rede de TV, líder de audiência, a Rede Globo de Televisão, que mistura informação com opinião, contra a lei, portanto, levou as eleições para o segundo turno ao mostrar a foto do dinheiro que seria usado para comprar o dossiê e o lugar vazio de Lula no debate, conforme disse Marcos Coimbra, do Vox Pópuli, à revista Carta Capital.
Os jornais e a Globo, desde o dia 02 de janeiro de 2003 cobriram a queda de Lula e trabalharam para derrubar Lula. E vão continuar a trabalhar para derrubar o Presidente Lula.
Isso, na minha opinião, não é privilégio do Presidente Lula. A imprensa escrita brasileira, tal como sobreviveu até hoje, ela ajudou a derrubar e a matar o Presidente Vargas, ela tentou depor o Presidente Juscelino Kubitschek. Eu entrevistei o Presidente Juscelino Kubitschek fora do governo. Como se sabe, minissérie não faz história e o Presidente Juscelino Kubitschek me contou que entre os 20 ou 15 motivos que o levaram a trazer a capital para Brasília, um deles é que ele não agüentava chegar à área reservada ao Palácio do Catete e ouvir a Rádio Globo entregar os microfones por uma hora a Carlos Lacerda pedindo o impeachment dele.
Isso é o que aconteceu com o Governo Jago. Acabo de cruzar no corredor com um homem íntegro, chamado Waldir Pires, que trabalhou no Governo Jango e sabe disso melhor do que eu. Isso aconteceu no Governo Jango e aconteceu com o governador Brizola no Rio de Janeiro.
A mídia, especialmente a Globo, trabalharam contra Jango e contra Brizola. Portanto, elas têm uma inclinação anti-trabalhista que é histórica e uma tradição de intervir no processo político.
A imprensa escrita no Brasil é a indústria perdedora. Os jornais de 96 para cá perderam 10% da circulação, ou seja a razão média de 1% por ano. Sendo que, segundo o depoimento do professor Venício Lima, nesse livro – o professor Venício Lima é da Universidade de Brasília, publicou esse livro pela fundação Perseu Abramo (“Mídia: Crise Política e Poder no Brasil”. A circulação dos jornais brasileiros caiu 18% entre 2001 e 2003. Ou seja, é uma queda profunda e recente.
A circulação das revistas brasileiras caiu de 8,8% para 8,6% nos últimos dez anos. É uma queda mais lenta, porém é uma queda.
Produzir jornal no Brasil é hoje um negócio tão promissor quanto:
. Abrir uma fábrica em São Bernardo para produzir o carro DKW Vemag
. Produzir chapéu Côco em Londres
. Ou ter uma usina siderúrgica em Pittsburgh
Na França, os jornais sofreram a concorrência da internet e dos tablóides gratuitos que são distribuídos nas bocas do metrô. Aqui no Brasil, os jornais se valem do fato de que não temos esse fenômeno dos jornais do metrô ainda massificados como na Europa e há no momento um boom imobiliário, especialmente no Rio e especialmente em São Paulo. E esse boom imobiliário é o anabolizante que dá fôlego aos jornais neste momento. Mas quem consultar imóveis na internet verá que é melhor consultar imóveis na internet do que em jornal.
O que sobra aos jornais, como disse o professor Wanderley Guilherme dos Santos, é o poder de gerar crises e é uma situação paradoxal porque no Brasil os jornais em crise têm uma força que, segundo o professor Wanderley Guilherme dos Santos, não têm em nenhuma outra democracia no mundo. Ou seja, essa capacidade não é necessariamente de formar opinião, mas de criar crises políticas. Isso acontece, inclusive, porque a tendência é que os jornais não venham a ficar mais pluralistas ou menos conservadores por causa da sua decadência econômica. Eles têm que ser fiéis à sua clientela.
E estudos recentes feitos da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, mostram que à medida que a circulação dos grandes jornais cai, diminui a heterogeneidade da opinião, diminui a diversidade da opinião, porque é a tentativa de os jornais manterem sua clientela que existe naquele momento.
Lamentavelmente, lamentavelmente, sobretudo por influência das Organizações Globo, não foi possível criar no Brasil um Conselho de Comunicação Social como existem na França e Inglaterra. E eu estou propondo aqui instituições que são de democracias estabelecidas e maduras.
É o Ofcom – Office of Communication – na Inglaterra, subordinado ao Parlamento que tem como função distribuir canais e zelar pela pluralidade, pela pluralidade, no meio audiovisual.
E o Conseil Supérieur de L’audiovisuel, na França, que tem como obrigação zelar pela pluralidade da opinião. Inclusive está nos estatutos, na missão do CSA na França: zelar pela pluralidade sindical que tem que ser respeitada nos meios audiovisuais franceses.
Lamentavelmente esse conselho aqui no Brasil se tornou um conselho consultivo, um instituto de pesquisas da Câmara dos Deputados e do Congresso Nacional.
Essa crise nos jornais trouxe uma vantagem, porém. Eu não conheço nenhum país em que os portais da internet tenham a relevância que têm no Brasil. O brasileiro é um grande consumidor de internet. Ele é o maior consumidor de internet do mundo. O brasileiro gasta em média 20 horas e 30 minutos por mês diante da internet. O Brasil tem 37 milhões de internautas.
O problema, porém, é que esses portais dependem, em grande parte, dos noticiários que vêm de agências de notícias. E as principais agências de notícias que condicionam o noticiário dos portais são a Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo. Portanto, o poder dos jornais escritos se reproduz e se amplia e se multiplica quando ele vai para a internet.
A vantagem é que existe hoje no Brasil uma indústria nova na internet, que é a indústria do Blog. E ao contrário do que aconteceu nos Estados Unidos, em que, vindo do Rádio, os Blogs na internet se tornaram elementos da mídia conservadora, aqui no Brasil foi possível criar espaços dentro da internet e em Blogs independentes como uma mídia não conservadora, onde modestamente me incluo.
É bom lembrar que o principal Blog político dos Estados Unidos, que hoje é referência para a classe política americana, é um Blog liberal. É o Daily Koss, que tem uma importância tão grande que fez com que o Partido Democrata nos Estados Unidos consultasse o Daily Koss sobre como fazer sua comunicação na internet e hoje o Partido Democrata nos Estados Unidos usa a internet com uma força muito importante para levantar recursos para campanha e para difusão de idéias.
Felizmente no Brasil o brasileiro gosta da internet. O brasileiro se torna um grande consumidor de banda larga com a ampliação da oferta e a queda dos preços e se torna, isso é importante, um grande consumidor de computador.
A venda de computador no Brasil cresce à base de 25% ao ano, é o dobro do crescimento mundial. O que mais cresce no Brasil é o PC, o computador pessoal. E o que mais cresce no mercado de PC é o consumidor da classe C. O “Computador Para Todos”, que é o computador do Governo Federal, que custa R$ 1,4 mil, vendeu 380 mil unidades nos primeiros nove meses de 2006.
Com tudo isso, o que eu quero dizer é que a discussão sobre a democratização da mídia, que considero central, considero central na questão brasileira, concordo com todos aqueles que acham que a mídia deveria discutir a mídia. A sociedade tem que discutir a mídia. Então, diante de tudo isso, como diria o ensaísta Roberto Schwarz, nós estamos fazendo uma discussão com as idéias fora do lugar.
Na minha opinião, nós temos que levar em conta que com a massificação iminente do computador no Brasil e com o celular que teve no Brasil uma penetração importante. Nós temos hoje no Brasil cerca de cem milhões de aparelhos celulares no Brasil.
E, como disse um estudo da ITU, uma organização para telecomunicações da ONU, o celular será cada vez mais parecido com o computador do que com o telefone. O celular será um instrumento de divulgação de informação como é o computador.
E eu quero me lembrar aqui, quero me lembrar, o depoimento do Caio Túlio Costa, que é o presidente do iG, onde trabalho. Caio Túlio participou comigo de um recente seminário na Casper Líbero, no curso de pós graduação da escola de jornalismo. E o Caio lembrou que, em 2004, na eleição da Espanha, o governo de Aznar divulgou a informação de que o atentado teria sido obra do ETA e que os socialistas de Zapatero não tinham estrutura para combater o ETA e portanto ele deveria ser reeleito. Uma pequena emissora de rádio do interior da Espanha desmentiu a informação dizendo que quem fez o atentado foi um grupo da Al Qaeda. Essa informação foi multiplicada através dos torpedos, dos SMS’s dos celulares na Espanha e o senhor Zapatero ganhou a eleição.
Eu não quero dizer com isso que o SMS será a nova mídia, mas quero dizer que essa é uma das novas mídias. Mas quero dizer também para os Céticos e aqueles que defendem as Leis de Newton, como o meu brilhante e querido ex-colega de Rede Globo Evandro Guimarães, que defende a Lei de Newton para quando se trata do combate entre televisão e televisão, mas não defende a Lei de Newton quando se trata das outras mídias.
Quero dizer o seguinte: o YouTube – e todos aqui nessa sala que não tem cabelos brancos sabem o que é o YouTube – o YouTube decidiu a eleição para o Senado nos Estados Unidos. A eleição para o Senado nos Estados Unidos resultou em 51 para os Democratas e 49 para os Republicanos porque os Republicanos perderam uma eleição garantida na Virginia.
A Virginia tinha um candidato chamado John Allan, que era senador, apontado como sucessor do George Bush pelos Republicanos. Ele percebeu ao longo da campanha que tinha um negro, um “escurinho”, acompanhando os comícios dele com uma câmera. No quarto ou quinto comício ele se virou para o “escurinho” e disse: “you macaca”. O “escurinho” filmou, botou no YouTube e o senhor John Allan perdeu a eleição. O “escurinho” era um americano, nascido nos Estados Unidos, filho de indiano, com PhD em física no MIT e que tirou férias para cobrir a eleição do John Allan para o outro candidato.
Esse vídeo foi postado no YouTube, tinha 38 segundos e decidiu a eleição no Senado Americano. Nós estamos falando de novas mídias, com poder político brutal e é sobre isso que eu vou me referir agora.
Eu acho que devemos tomar muito cuidado com a legislação que está aí nessa Casa, de autoria do deputado Nelson Marquezelli, no Senado do senador Maguito Vilela, que tem a propriedade de devolver o Brasil à idade da pedra. Que é utilizando a Lei de Newton naquilo que interessa à Rede Globo e ao meu queridíssimo amigo Evandro Guimarães. Que é aquilo que se refere ao cotejo de televisão contra televisão, mas fecha o Brasil para as outras mídias.
É uma tentativa que eu considero razoavelmente inútil porque eu quero ver como é que a Rede Globo, o senador Maguito Vilela e o deputado Nelson Marquezelli vão impedir a “postação” de vídeos no YouTube daqui para frente.
Isso é muito sério e eu quero lembrar a todos aqui um episódio recente da história americana. O fato de que o presidente Franklin Roosevelt quando foi eleito pela primeira vez tinha toda a mídia impressa contra ele. Toda!
Como Lula hoje. Como Vargas, que só tinha Samuel Wayner a favor dele. Como Jango. Como Brizola. Toda a mídia impressa era contra ele.
E o Franklin Roosevelt fez um acordo com as rádios que era a nova tecnologia da época. Ele deixou a mídia impressa pra lá. Fez um acordo com as rádios, passou a fazer aquelas conversas ao pé da lareira, os firesides chats e conseguiu enfrentar a oposição integral, maciça da mídia escrita através da comunicação que ele passou a ter através das rádios.
Eu acho que esse governo, e não só este governo que tem minoria absoluta em todos os meios de comunicação, mas todos os movimentos minoritários, todos os movimentos que são contra. Todos os “Minos Cartas” da vida têm que trabalhar com essas mídias alternativas. Eu tenho muito orgulho, porque o Mino Carta hoje que é um profissional que fundou Veja, fundou Jornal da Tarde, Fundou a Quatro Rodas, Fundou a IstoÉ, fundou a revista Senhor, na sua segunda fase, o Mino Carta hoje tem o Blog que é o Blog mais lido do iG que tem um milhão de assistências por dia.
Isso eu acho que é uma revolução importante. Eu acho que nós devemos lutar como jornalistas preocupados com a democracia, com a proliferação dos meios de comunicação, com a democratização dos meios de comunicação, com a facilidade de acesso aos meios de comunicação.
Eu tenho a impressão de que eu me preparo. Como todos sabem, todos ouviram falar, conhecem a história do movimento da Revolução Industrial na Inglaterra, se lembram daquele movimento luddista daqueles operários que jogavam as máquinas novas no Rio Tâmisa para evitar a dispensa de trabalhadores e a modernização da indústria têxtil inglesa.
Eu me preparo para cobrir a primeira cerimônia luddista do século XXI. E essa cerimônia já começa a ser estruturada e organizada. Nessa cerimônia João Roberto Marinho, Roberto Civita, Otávio Frias Filho e Ruy Mesquita vão se reunir no salão nobre da Fiesp sob o busto do conde Matarazzo para promover uma fogueira e queimar o computador de 100 dólares do Nicholas Negroponte, o computador que o Brasil será o primeiro a lançar no mundo.
Muito obrigado!
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