quinta-feira, junho 29, 2006

PSD e PTB a Todo Vapor

Trecho retirado do livro O Governo Juscelino Kubitschek, de Ricardo Maranhão (1).

PSD e PTB a Todo Vapor

No plano das lutas partidárias, a garantia principal de que JK(2) poderia "tourear" a direita e a UDN(3) era a eficácia da sua aliança de sustentação. Os udenistas viviam a preparar jogadas contra as tendências de JK, ou contra Brasília, mas nas Comissões e no plenário do Congresso pessedistas e petebistas se uniam para desfazê-las.

Em termos de distribuição de funções, já durante as articulações pré-eleitorais de 1955, JK deixava claro que o PTB(4), ao colocar Jango(5) na vice-presidência, levava também o direito ao controle das pastas do Trabalho e da Agricultura, bem como de todas as autarquias e órgãos ligados a elas. Durante o governo, apesar de algumas rusgas iniciais em que o PSD(6) tentou interferir nos ministérios "de propriedade" dos petebistas, a aliança entre os dois partidos atingiu seu ponto "ótimo", segundo o citado trabalho de Maria Vitória Benevides(7). No poder Executivo, as "áreas" de comando de cada partido ficaram bem definidas. E, no Legislativo, a aliança garantia maioria para a apresentação e aprovação dos projetos mais polêmicos, incluindo alguns aspectos do Plano de Metas(8). Assegurava-se, inclusive, por essa via, a autonomia crescente do Executivo que marcou o período.

Para compreender como se garante essa autonomia, é necessário especificar que o preenchimento de cargos ao nível executivo tinha uma dualidade funcional: a maioria dos cargos era alocada de maneira "tradicional", isto é, era garantida para as indicações dos partidários do PSD e do PTB. As novas tarefas do Executivo exigiam, no entanto, um crescimento do número de cargos "modernos", seja para técnicos, seja para burocratas subordinados diretamente ao presidente. Ora, a própria nomeação "tradicional" dos cargos destinados a elementos partidários constituía elemento de barganha para JK exigir apoio da aliança partidária, podendo criar cargos novos e novas entidades, como a SUDENE(9). Assim, sem mexer no clientelismo tradicional, o presidente assegurava o crescimento de sua autonomia político-administrativa, bem como da autonomia do próprio estado.

NOTAS:

1. MARANHÃO, Ricardo. O Governo Juscelino Kubitschek. São Paulo: Brasiliense, 1981.

2. Isto é, Juscelino Kubitschek.

3. União Democrática Nacional, partido situado à direita no espectro ideológico no quadro partidário do regime liberal-democrático que existiu no Brasil entre 1946 e 1964. Conservador com relação aos costumes, e liberal no plano econômico. Lutava pela vinculação da economia brasileira ao capital mundial, e pelo alinhamento diplomático do Brasil aos Estados Unidos.

4. Partido Trabalhista Brasileiro, fundado sob inspiração de Getúlio Vargas, em 1945, esteve sempre vinculado à defesa das leis trabalhistas, instituídas pela CLT. Durante o período de 1946 a 1964, esteve muito vinculado aos sindicatos, que sob a legislação getulista estavam ligados ao Ministério do Trabalho.

5. Jango - Apelido de João Belchior Goulart, ou simplesmente João Goulart. Advogado, foi ministro do trabalho no segundo Governo de Getúlio Vargas, vice-presidente de Juscelino Kubitschek, e novamente vice-presidente sob Jânio Quadros. Quando este renunciou em agosto de 1961, após uma crise político-militar, foi empossado como presidente em setembro de 1961. Foi destituído em 1964, por um golpe de estado civil-militar.

6. Partido Social Democrata, também inspirado por Getúlio Vargas, foi o maior partido político brasileiro entre 1946 e 1961. Em seus quadros havia tanto políticos mais à esquerda, como mais à direita do espectro político. Eurico Gaspar Dutra, presidente entre 1946 e 1950, e Juscelino Kubitschek, presidente entre 1956 e 1960, se elegeram pelo PSD.

7. BENEVIDES, Maria Vitória. O Governo Kubitschek - Desenvolvimento Econômico e Estabilidade Política. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.

8. Plano de Metas - síntese do plano de governo de Juscelino Kubitschek. Estabelecia uma série de alvos a serem atingidos durante seu governo, nas áreas de infraestrutura, indústria, agricultura, etc.

9. Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste - autarquia criada durante o governo de Juscelino Kubitschek para aquilo a que seu nome se propõe.

terça-feira, junho 27, 2006

Publicidade e Governo 3

Fica a questão: como diferenciar publicidade legítima e necessária por parte dos vários governos, de alguma "ajuda entre amigos"?

Publicidade e Governo 2

Ainda nesta edição de 18 de junho, a Folha de São Paulo veiculou ainda notícia informando que a Revista CGTB, ligada a uma central sindical chamada Central Geral dos Trabalhadores do Brasil, recebeu publicidade de estatais federais como Caixa Econômica, Eletrobrás e Petrobrás.
A revista tinha reportagem apologética ao ex-ministro José Dirceu, e segundo a Folha era uma revista "chapa branca".
O editor da revista nega favorecimentos, e alega que o governo anunciou na revista para atingir os trabalhadores aos quais ela se dirige.

Publicidade e Governo

A mesma Folha de São Paulo, do dia 18 passado, comenta que uma série de estatais pertencentes ao governo do estado de São Paulo, teriam veiculado anúncios em rádios e revistas, de deputados que pertenceram (pertencem?) à base de apoio do governo Alckmin na Assembléia Legislativa de São Paulo, num sistema que se parece um pouco com o que se apelidou de "mensalão" a nível federal. Ou seja, deputados aprovam projetos de interesse do governo do estado, e têm publicidade anunciada em veículos de que são proprietários.
Instado pela Folha a comentar o assunto, o ex-governador e atual candidato à presidência, Geraldo Alckmin, alegou que as estatais têm autonomia para gerir suas verbas publicitárias.
É possível inferir também que o governo do estado tem autonomia para nomear e demitir diretores de estatais conforme estas estejam ou não atendendo às diretrizes do governo.

Concessões de Rádio e TV

A Folha de São Paulo publicou notícia sobre as concessões de rádio e tv no governo Lula, e citou cifras. Também citou cifras de concessões de governos anteriores.
Segundo a Folha, em três anos e meio, o governo Lula distribuiu 110 concessões, 29 de televisão e 81 de rádio.
O governo FHC distribuiu 357 concessões em oito anos, sendo 118 de televisão e 239 de rádio.
Todas estas concessões são de emissoras educativas, as quais, em tese, não podem fazer anúncios publicitários. No governo FHC, as concessões de rádio e televisão comerciais passaram a ser licitadas.
No governo do general João Figueiredo, por exemplo, foram concedidas 634 emissoras entre rádio e televisão.
O recorde pertence ao ex-presidente José Sarney, cujo ministro das Comunicações na época, o atual senador Antonio Carlos Magalhães, distribuiu 958 concessões de rádio e televisão.
Muitas dessas concessões foram parar nas mãos de congressistas, ou de representantes seus, o que acaba sendo uma incongruência, pois, em tese, o Congresso deve zelar pela boa distribuição de canais de radiodifusão.

sábado, junho 24, 2006

República Brucutu - Charge da Folha de São Paulo, 23/06/2006

Candidato Geraldo Alckmin Defende Parlamentarismo


Segundo o jornal Folha de São Paulo, desta sexta-feira, 23, o candidato Geraldo Alckmin declarou que pretende colocar novamente em discussão o parlamentarismo, lembrando que o parlamentarismo está no programa de seu partido, o PSDB.
Para este blog, é uma ótima notícia. Aqui já foi defendido o sistema de governo francês, que é presidencialista, mas utiliza um primeiro-ministro nomeado pelo presidente (http://aindaamoscaazul.blogspot.com/2006/04/presidencialismo-francs-para-o-brasil.html). Este primeiro-ministro é como um "pára-raios" contra crises políticas.

sexta-feira, junho 23, 2006

Atenção: Este Blogueiro Não é Anarquista


Embora o autor deste blog, ache dignas de reflexão certas proposições de pensadores anarquistas. Ele não é um anarquista. Pelo menos não daqueles que gostavam de formar grupelhos para tentar criar a sociedade sem hierarquias, assassinando governantes (O imperador Alexandre II da Rússia foi assassinado por anarquistas em 1881. A imperatriz Elisabeth de Áustria, a Sissi, foi assassinada por um anarquista em 1898.).
O autor do blog se professa cristão. De maneira geral, anarquistas são ateus, pois, segundo eles, Deus é o princípio de toda autoridade, e, consequentemente, de toda hierarquia social.

Do anarquista russo do século 19, Mikhail Bakunin (1814-1876):

"Assim, sob qualquer ângulo que se esteja situado para considerar esta questão, chega-se ao mesmo resultado execrável: o governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Esta minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e pôr-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo.
Quem duvida disso, não conhece a natureza humana."

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Qual é Stédile?


Novamente, segundo a newsletter Videversus, em sua edição 481 informa que o líder do Movimento Sem Terra, João Pedro Stédile, convocou os militares a, junto com os movimentos sociais, pressionar o governo para reestatizar a Companhia Vale do Rio Doce, a Vale.
Segundo a newsletter, este foi o pronunciamento do sr. Stédile:
"Faço um apelo, oh, militares do Brasil, vocês que se dizem tão defensores do Brasil, ficam tão preocupados com o comunismo, com não sei o quê... E os americanos mandam embora a principal riqueza mineral q ue nós temos, que é o ferro, todo esse patrimônio que a Vale controla, que hoje está na mão de banco. Isso é um problema de soberania. A nação tem que controlar o seu recurso natural, que são os minérios, está na Constituição. Não precisa nem ser radical para dizer isso. Estou apelando para a consciência cívica dos militares, que sempre foram uma espécie de guardiões da soberania nacional. Defender soberania nacional não é mais mirar fronteira. Hoje é defender o patrimônio público representado pelas nossas estatais. Então, estou pedindo apoio dos militares como cidadãos, para que eles se incluam também nos nossos comitês pela reestatização da Vale".
Huummmm...
Entre os anos 1920 e 1985, os militares brasileiros se envolveram ativamente na política brasileira. A partir do levante de 1935, que passou à história como "Intentona Comunista", e durante a chamada Guerra Fria, sua alta oficialidade se tornou ativamente anticomunista. O envolvimento dos militares na política foi um dos fatores de instabilidade e falta de institucionalidade da vida política no país
A ser verdade este pronunciamento, ficam as questões. O Sr. Stédile não sabe disso?
Como ele pretende que os militares se engagem? Fazendo paradas militares? Simulando exercícios de guerra?
Sou obrigado a concordar com o editor da Videversus. Não é boa coisa quando líderes civis começam a querer contar com os militares.

quarta-feira, junho 21, 2006

Newsletter Videversus


A newsletter e saite Videversus tem seus méritos, mesmo com seu ranço anti-petista, e com seu texto tão cheio de adjetivos, tão editorializado, que às vezes parece difícil acreditar que o seu editor se chama de "jornalista" . ;)

Magallanes


A newsletter Videversus (http://www.videversus.com.br) ressaltou que o senador Antonio Carlos Magalhães, a propósito da invasão por parte do Movimento de Libertação dos Sem Terra - MLST no Congresso Nacional, semanas atrás, chamou as Forças Armadas a intervirem, e acabarem com a baderna realizada pelos membros do movimento.
Ora, ora, será que no fundo da alma do senador da república, ainda pulsa um senador golpista? Por que as Forças Armadas precisariam intervir, se os vândalos foram identificados, presos, e devem sofrer processo do ministério público?

terça-feira, junho 20, 2006

Carlos Heitor Cony: A Mídia Derrotada

CARLOS HEITOR CONY

A mídia derrotada

RIO DE JANEIRO - A pesquisa mais recente, divulgada na última semana, tem sido interpretada de diversos modos e intenções. O crescimento da popularidade de Lula e da aceitação de seu governo não deixa de provocar um exame de consciência nos profissionais da mídia, alguns deles acreditando que a imprensa, em geral, é o quarto poder.
Um poder que nada pode além de fazer muita marola, que nem sempre chega a molhar os rochedos da corrupção e da bagunça administrativa a que infelizmente estamos habituados. Por meses -quase um ano, não tenho certeza-, a mídia escancarou as mazelas do governo em diferentes setores, todos elas revelando que, de alguma forma ou de todas as formas, o presidente sabia dos esquemas em que seus auxiliares e amigos mais chegados chafurdavam.
E dele não partiu outra atitude se não a de aceitar a carta de demissão que os envolvidos lhe mandavam e que tinham como resposta uma declaração de afeto e confiança. Um deles, depois de tudo o que houve, foi chamado de irmão.
Na realidade, Lula deitou e rolou para as CPIs que foram instauradas e em que foi acusado de cumplicidade com a corrupção. Na hora H, seu nome foi poupado dos relatórios finais, mas não da cobertura que a mídia lhe dedicou. E, se não deu bola para CPIs, muito menos bola deu para editoriais, articulistas, cronistas, colunistas e todos os que ocuparam os vários veículos de comunicação do país e do exterior.
Seria o caso, repito, de um exame de consciência, de uma reavaliação dos meios e da própria função do tal quarto poder, poder que não atinge o povo. A alegação de que o povo não lê jornais nem revistas não procede. O povão vê televisão, ouve rádio. E continua acreditando em Lula e abençoando-o com seu voto.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1806200605.htm

A Mídia e a Crise do "Mensalão"






Confusão na crise do mensalão

Apesar da intensa cobertura de todos os meios de comunicação, a maioria dos brasileiros considera-se mal informada sobre a crise política.

Bernardo Kucinski

Data: 01/06/2006

Boa parte da população acha mesmo que houve corrupção, mas não está claro como aconteceu. A confusão foi produzida pela própria mídia, ávida por denúncias e mais empenhada em incriminar do que em investigar. A começar pelo próprio nome - "mensalão" -, que se impôs pela repetição, como uma marca, e acabou virando seção fixa de jornal. Deputados passaram a ser chamados genericamente de "mensaleiros". Ocorre que nunca foi provada uma relação entre pagamentos regulares e votações de deputados a favor do governo.

Jornalistas e oposição ignoraram até mesmo as questões do senso comum: 1) Por que pagar "mensalão" a sete deputados do PT que já votam com o governo? 2) Por que deputados foram ao Banco Rural apenas uma ou no máximo três vezes, se era um "mensalão"? 3) Por que o governo teve dificuldade em aprovar projetos se estava pagando "mensalão" para que fossem aprovadas? 4) Por que pagar "mensalão" a um deputado como Roberto Brant, do PFL, opositor ferrenho do governo?

O noticiário omitiu sistematicamente que as empresas de propaganda ficam com apenas 15% a 20% do dinheiro que recebem dos clientes para o pagamento das campanhas na mídia.

Quando a Veja noticiou que empresas de Duda Mendonça receberam R$ 700 milhões em cinco anos, nunca esclareceu que, de cada R$ 100 recebidos, cerca de R$ 80 ficam para o veículo onde foi feito o anúncio. A própria Veja e outros veículos da Abril, por exemplo, faturaram R$ 11 milhões em anúncios via Duda Mendonça.

CPI e mídia acusaram fundos de pensão de desvio de dinheiro para o "valerioduto". Os fundos, que gerem centenas de bilhões de reais, contestam. "A imprensa preferiu fontes desqualificadas que alimentaram a desinformação", diz o presidente do fundo Petros, Wagner Pinheiro.


OS MECANISMOS DO LINCHAMENTO PELA MÍDIA

1. A mídia foi pautada diariamente pela oposição: acusações verbalizadas pela oposição de tarde, viravam manchetes factuais no dia seguinte.

2. Acusações que deveriam ser ponto de partida para uma investigação jornalística eram publicadas sem checagem. Bastava usar termos como "suposto", como observou Carlos Heitor Cony.

3. Os acusados não eram procurados para se defender e, quando eram, suas explicações eram tratadas com sarcasmo.

4. Surgiu um novo modo narrativo: basta ser indiciado para ser tratado como criminoso, mesmo que a acusação ainda esteja sujeita a ser rejeitada pela Justiça;

5. Nessa nova forma narrativa, escreveu o jornalista Carlos Brickman "qualquer medida judicial em favor de réus é chicana" e "qualquer absolvição é pizza, independente de prova". Qualquer declaração do acusador é, em princípio, aceita como verdade...

6. Nessa nova narrativa predominou a malícia. Em vez de elucidar os fatos, contextualizando-os e hierarquizando-os, optou-se pela desinformação e a suspeição.

7. Todo o fogo era dirigido apenas contra o PT. A grande imprensa ignorou, por exemplo, as denúncias contra o banqueiro Daniel Dantas, do Banco Opportunity, à lista dos doadores de Furnas. Ignorou ou relegou a segundo plano que o "valerioduto" foi criado pelo PSDB para a campanha de 1998 de Eduardo Azeredo, em Minas Gerais.

8. Palavras pesadas foram usadas com freqüência, sem pudor: "Palocci, estuprador de contas bancárias" (Augusto Nunes, no JB); "Lula, chefe da quadrilha" (Correio Braziliense); Ali Dirceu e os 40 ladrões"(idem).

9. Foi desencadeada uma perseguição incessante aos familiares de Lula e aos chamados "amigos de Lula", com arbitrária violação da vida pessoal.

10. Legitimou-se a linguagem preconceituosa contra Lula, inclusive por colunistas importantes; alguns jornalistas especializaram-se em descobrir em todas as falas de Lula uma "gafe".

11. Os meios de comunicação concentraram toda a cobertura na crise, desprezando acontecimentos importantes; Istoé deu 14 capas seguidas de crise; Veja deu mais de 20.

12. Depoimentos nas CPIs eram ignorados quando derrubavam acusações contra o governo.

13. Criou-se uma modalidade virulenta de jornalismo. Veja deu capas associan do o PT a animais (rato, burro), imagens posteriormente recicladas por articulistas na própria Veja e em outros veículos. Os nazistas fizeram isso com os judeus com o objetivo de derrubar toda e qualquer barreira psicológica ao seu extermínio.

14. Houve a "a tragédia da condenação sem julgamento", como disse em sua defesa o deputado do PFL Roberto Brant. Nenhum julgamento foi ainda feito na Justiça, mas na mídia e no imaginário social já estão todos condenados e suas imagens e reputações destruídas. Deu-se um linchamento midiático.


* Bernardo Kucinski é professor licenciado da ECA/USP, autor de vários livros sobre jornalismo e assessor da Presidência da República

http://agenciacartamaior.uol.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=11443


Dois Fatos, Dois Pesos






Dois fatos, dois pesos - José Chrispiniano

Ao tratar da depredação realizada pelo MLST no Congresso, a revista Veja fez questão de igualar os movimentos sociais a organizações criminosas. Mas optou por não dar nenhuma linha ao secretário de Segurança de SP, Saulo de Castro Abreu, que, ao depor na Assembléia, encheu a sala de oficiais de polícia e debochou dos parlamentares.

Data: 14/06/2006

Comparações entre atitudes e tratamento da imprensa dados à esquerda ou à direita, ou ao PT e ao PSDB, talvez seja uma das coisas mais chatas e óbvias a se fazer na análise da nossa mídia grande. Mas às vezes não temos como escapar disso. Semana passada manifestação do até então desconhecido Movimento pela Libertação dos Sem-Terra (MLST), dissidência do MST, depredou uma ante-sala do prédio do Congresso Nacional. Os manifestantes foram presos, e estão sendo processados. O governo soltou uma nota condenando o caso, e o PT, em uma velocidade que não se viu para punir membros do partido denunciados em escândalos de corrupção, iniciou processo de expulsão do líder do movimento, Bruno Maranhão, filiado ao partido e membro da sua executiva nacional. Isso, todos sabem.

Quando o assunto encontra a criatividade, ideologia e “boa vontade” jornalística da equipe editorial da “Veja”, os manifestantes se transformam nos “PTbulls”. Vai a transcrição completa do texto da capa:

“Financiados pelo governo e chefiados por um dirigente do partido, os agitadores que depredaram o Congresso Nacional são apenas um dos grupos que se comportam como o braço armado do PT”

Existe um todo pela parte (uma ante-sala vira todo o Congresso Nacional, vira o parlamento e a democracia em si), mas, pior ainda, existe a idéia ventilada de que os movimentos sociais são braços, e “armados”, de um partido. No editorial, “Veja” acrescenta o seguinte:

“A invasão do Congresso por um destacamento do Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST) vem sendo classificada de vandalismo. É um erro. A operação foi uma ação violenta, planejada e executada com desvelo em seu objetivo de desmoralizar a democracia representativa. Era de esperar que, como a mais alta figura na hierarquia política do país, o presidente Lula fosse eloqüente na condenação do episódio. Outro erro. Sua assessoria se limitou a emitir uma nota sem convicção.
(...)

Nem Lula nem seu partido, o PT, pareceram preocupados com a essência deletéria do episódio sobre o frágil tecido político sobre o qual se assentam as instituições democráticas no Brasil. Em um ano eleitoral, limitaram-se a salvar as aparências.”

No fim do editorial, textualmente, sem sutilezas, “Veja” iguala movimentos sociais e organizações criminosas. Já que estamos falando de atos que atentam contra a democracia representativa e o frágil tecido político do país, e o próprio título da matéria dentro da revista fala em “Insulto à democracia”, vamos para um outro fato ocorrido na semana passada, terça-feira, que não mereceu nenhuma palavra de “Veja” esta semana.

O secretário de Segurança de São Paulo, Saulo de Castro Abreu, depôs no parlamento local, a Assembléia Legislativa. Encheu a sala de oficiais das forças policias do estado, e a frente do prédio de viaturas (ou seja, carros em serviço, pagos com recursos públicos) e ficou debochando e ironizando, com gestos e impropérios, os deputados, representantes eleitos da população, dizendo que estava ali perdendo tempo. Não só os do PT, mas o próprio PFL ficou irritado com a atitude do secretário, que nitidamente falou e jogou com as corporações armadas do estado, a qual chefia, para se postar diante do parlamento. O fez com as piores bandeiras e perspectivas possíveis que é a de uma polícia sem transparência, sem controle, corporativista ao extremo, sem respeito aos direitos humanos e com gosto por excesso de ações sigilosas, onde fica mais fácil de prosperar abusos e corrupção. Um modelo de polícia que só interessa a forças e instintos “primitivos”, mais ninguém, nem aos próprios policiais.

O secretário é filiado ao PSDB e ocupou o mesmo cargo durante a gestão do candidato a presidente da República Geraldo Alckmin. É um caso regional, mas no estado mais importante do país, e ligado aos desdobramentos dos atentados do PCC, grande crise de poucas semanas atrás, que a imprensa já esqueceu. A nossa imparcial, republicana, moderna e lucrativa mídia dedicou pouca atenção ao episódio. A revista “Veja”, nenhuma palavra, não considerou notícia um parlamento intimidado pela força policial. Isso com toda a preocupação que eles dizem ter com a democracia, com o estado de direito, com toda a indignação que eles gostam de professar. Por que será? Quem sabe, foi um simples caso de desatenção.

http://agenciacartamaior.uol.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3223

sexta-feira, junho 16, 2006

NO TAPETÃO

Da Folha Online, na home, meio da tarde, "PSDB pede que TSE tire condição para Lula ser reeleito".
Da reportagem, em tom quase incrédulo:
- A legenda pede que o presidente seja considerado inelegível nas eleições. Nas últimas pesquisas, Lula tem recebido intenção de voto de quase 50% dos eleitores, enquanto Geraldo Alckmin oscila em torno dos 20%.
No enunciado do blog de Ricardo Noblat, "PSDB quer ganhar no tapetão".
Mas veio a noite e Lula pode ser votado, "TSE nega pedido do PSDB".

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1506200615.htm

sexta-feira, junho 09, 2006

Fazenda Coqueiros

Dias atrás, eu critiquei aqui neste blog, a posição de um coronel da Brigada Militar, por que ele apareceu ao lado do dono da Fazenda Coqueiro, no município de Coqueiros do Sul, que estava e continua em litígio, com o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, MST, querendo que a fazenda seja desapropriada, e os atuais proprietários defendendo seu direito à propriedade. Naquele “post”, eu critiquei o coronel por ele estar ao lado do proprietário e dizendo que os incêndios que aconteceram na fazenda eram culpa dos sem terra. Para ler, ou reler, aquele texto, este é o link: http://aindaamoscaazul.blogspot.com/2006/05/estado-burgurios-e-o-mst.html .

Ontem, no jornal Correio do Povo, saiu uma contraparte. A fazenda produz uma série de gêneros alimentícios, como soja, milho, leite e carne. Os líderes do MST concordaram que a fazenda até era produtiva, mas que seria muita terra para uma família só, e portanto, precisava ser desapropriada e dividida.

Bom, aí já estou considerando abuso. Segundo a palavra destas lideranças do MST, propsperar deve ser proibido, pois mesmo se a fazenda é produtiva, precisa ser desapropriada. Grosso modo, acho difícil que a fazenda, sendo dividida entre diversas famílias de sem terra alcance a produtividade que tem atualmente.

Este comentário vem a propósito de uma reportagem do Correio do Povo, que além das informações acima, diz que a polícia civil vai indiciar 495 pessoas, por diversos crimes, como furto, roubo e formação de quadrilha. 495 pessoas é um número muito grande de pessoas. Corre-se o risco do processo virar uma espécie de circo. E por outro lado, a tramitação deve ser longuíssima, levando anos até se esgotarem todas as instâncias de recursos.

Problemas, lutas, direitos, razões. Vida em sociedade.

Direitos Humanos

Com relação aos “posts” abaixo sobre direitos humanos (http://aindaamoscaazul.blogspot.com/2006/06/quem-tem-direito-aos-direitos-humanos.html e http://aindaamoscaazul.blogspot.com/2006/06/quem-tem-direito-aos-direitos-humanos_03.html), recebi um comentário de uma amigo, dizendo que ambos os textos estavam errados na sua análise da problemática dos direitos humanos. Mesmo que fossem ficções as histórias de mães que sofrem por causa da violência, este tipo de colocação, individualizando a discussão estava equivocado. O problema estava numa sociedade, cuja organização impelia parte de seus membros para empregos precários (o atendente de videolocadora) ou ao crime (o ladrão e assassino).
O meu amigo tem posições políticas que estão à esquerda das minhas.

domingo, junho 04, 2006

Macaco Simão: Alckmin

O Tasso disse que o Alckmin não é carismático. Ele tem mais cara de asmático que de carismático! E é uma questão religiosa: se ele é do Opus Dei, como pode ser carismático? Rarará!

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0306200603.htm

Macaco Simão: Lula

E sabe por que o Lulalelé continua imbatível nas pesquisas? Porque ele parou de beber, mas o povo continua de fogo! Só pode ser!

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0306200603.htm

Quem Tem Direito aos Direitos Humanos – Outra Versão

Para refletir mais um pouco a respeito de valores

Quem Tem Direito aos Direitos Humanos Outra Versão

Cara senhora,

A senhora não me conhece. Sou o pastor da igreja daquela senhora à qual a senhora enviou um forte protesto, reclamando da inversão de valores que vige no Brasil, em que há comissões que apóiam criminosos, clamando por direitos humanos, e esquecem das vítimas.

Antes de mais nada, devo lhe dar os parabéns. Apesar de sua dificuldade de recursos, a senhora conseguiu alcançar boa educação, o que posso concluir pelo rico vocabulário que a senhora empregou, com palavras não tão comuns como dependências, enérgico, entidades de defesa, mídia, e, principalmente, labutar. É uma pena que a sua boa educação não tenha lhe permitido alcançar um emprego melhor. Infelizmente são problemas que afligem nossa nação. Como o seu filho, as pessoas estudam, trabalham, mas nem sempre conseguem melhorar a sua vida num nível que tenha valido tanto esforço.

Também fico feliz que a senhora se solidarize com o sofrimento desta senhora da igreja, quando informa que também é mãe.

É realmente lamentável que o seu filho tenha perdido a vida naquele assalto, que o filho dela protagonizou. Esta mãe que chorava à frente da Febem tem outros filhos. Alguns deles vêm à igreja com ela. Infelizmente aquele rapaz que acabou na Febem se desviou, se desgarrou. Ele também tentou estudar, tentou arranjar trabalho. Contudo, depois de algumas frustrações, acabou se envolvendo com pessoas que não devia, e descambou para o crime. Pequenos furtos, depois roubos, e esse assassinato. Mas a senhora sabe,ele é filho dela. Ela continua tendo esperanças que ele mude, e deixe a vida do crime. A senhora sabe, ela é mãe, e boas mães não desistem de seus filhos. Pelo contrário, quando eles fazem maldades, as mães sofrem muito. Mas ela tem esperanças. Eu mesmo tenho um colega que foi criminoso um dia, mas se arrependeu e mudou.

Infelizmente também, o seu protesto está sendo usado para difamar entidades de direitos humanos. Como a senhora mora na periferia, a senhora e o seu marido sabem que a partir de determinada hora, não convém sair de casa, pois pode se tornar vítima, tanto de assalto, quanto de guerra de quadrilhas de traficantes, quanto de esquadrões da morte. E a senhora também já deve ter visto, ou ouvido falar, de alguma chacina na periferia onde mora. As vezes, 3, 4 ou até mais pessoas, geralmente homens jovens, muitos deles trabalhadores esforçados que só queriam se divertir um pouco, são mortas, ou por estarem em algum bar na hora errada, ou conversando com amigos, na frente de casa mesmo. A polícia nem se dá ao trabalho de tentar investigar as tais chacinas. Sempre aparece algum delegado para dizer que a chacina ocorreu em decorrência de guerra de traficantes. Entidades de direitos humanos lutam para que o Estado dê condições a todos de se sentirem seguros, sem precisarem ficar trancados em casa à noite. Entidades de direitos humanos lutam para que um suspeito só possa ser condenado após o veredito da Justiça. E entidades de direitos humanos lutam por tratamento humano aos criminosos, porque, mesmo criminosos, e monstros aos olhos das vítimas de crimes, os criminosos ainda são humanos, e uma pequena porcentagem deles não voltará ao crime, se conseguirem sair vivos das detenções.

Felizmente a senhora vive num país em que existe alguma liberdade de expressão, e o seu protesto, no máximo, causa indignação em alguns. Porém existem países em que tal protesto poderia ser visto como uma afronta ao governo, e a senhora poderia ser perseguida por ter feito tal protesto. As entidades de direitos humanos lutam contra isso. Existem outros países em que tenho colegas que são presos, e até assassinados por dirigirem igrejas cristãs. As entidades de direitos humanos lutam contra isto também.

Achei interessante aquela colocação que a senhora fez no final de seu protesto. A senhora manifesta grande generosidade ao doar colchões para centros de detenção da Febem. Espero que a senhora também faça isso com cadeias públicas. Sim, porque as suas palavras só podem ser a respeito de doações especiais que a senhora faça. Porque se a senhora quer dizer que está pagando de novo os colchões, através dos seus impostos, devo lembrá-la que eu também pago os meus impostos, e esta mãe, cujo filho está preso, também.

Circule este outro manifesto! Talvez a gente consiga pensar nos valores que devem reger o Brasil!

Quem tem direito aos "Direitos Humanos"

Só para refletir um pouco na inversão dos valores 

Quem tem direito aos "Direitos Humanos" 

Hoje vi seu enérgico protesto diante das câmeras de televisão contra a transferência do seu filho, menor infrator, das dependências da FEBEM em São Paulo para outra dependência da FEBEM no interior do Estado.

Vi você se queixando da distância que agora a separa do seu filho, das dificuldades e das despesas que passou a ter para visitá-lo, bem como de outros inconvenientes decorrentes daquela transferência. Vi também toda a cobertura que a mídia deu para o fato,assim como vi que não só você, mas igualmente outras mães na mesma situação, contam com o apoio de comissões, pastorais, órgãos e entidades de defesa de direitos humanos.

Eu também sou mãe e, assim, bem posso compreender o seu protesto.
Quero com ele fazer coro. Enorme é a distância que me separa do meu filho.
Trabalhando e ganhando pouco, idênticas são as dificuldades e as despesas que tenho para visitá-lo. Com muito sacrifício, só posso fazê-lo aos domingos porque labuto, inclusive aos sábados, para
auxiliar no sustento e educação do resto da família.  

Felizmente conto com o meu inseparável companheiro, que desempenha, para mim, importante papel de amigo e conselheiro espiritual. Se você ainda não sabe, sou a mãe daquele jovem que o seu filho matou estupidamente num assalto a uma videolocadora, onde ele, meu filho, trabalhava durante o dia para pagar os estudos ò noite. 

No próximo domingo, quando você estiver abraçando, beijando e fazendo carícias no seu filho, eu estarei visitando o meu e depositando flores no seu humilde túmulo, num cemitério da periferia de São Paulo...

Ah! Ia me esquecendo: e também ganhando pouco, e sustentando a casa, pode ficar tranqüila viu? Que eu estarei pagando de novo, o colchão que seu querido filho queimou lá na última rebelião da Febem, tá?  

Circule este manifesto! Talvez a gente consiga acabar com esta inversão de valores que assola o Brasil!

Direitos Humanos


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