sexta-feira, maio 26, 2006

Tiro Para Todo Lado

Copio abaixo trecho da coluna da jornalista Bárbara Gancia, da Folha de São Paulo, de hoje, 26/05/2006, cujo conteúdo é mais ou menos parecido com o "post" anterior deste blog.


É tiro para todo o lado

Por falar em pessoas normais, onde é que ficamos nós, meu querido leitor, que não apoiamos a direita nem temos afinidade com a esquerda? Refiro-me à imputação de culpas pelo caos que acometeu São Paulo com a onda de ataques do PCC. Nós, que não reagimos de forma histérica aos atentados nem pretendemos colocar debaixo do tapete os nomes dos 31 mortos inocentes na retaliação policial, onde nos encaixamos? Quatro dias depois de iniciados os ataques, começaram a circular na internet e-mails acusando o governo Lula de estar por trás das ações do PCC. A lógica usada nessa correspondência é rudimentar e falaciosa. Um dos e-mails, que acusava o PT de "instrumentalizar o terrorismo do crime organizado para fins político-eleitorais", era assinado por um rapaz que dizia ser vice-presidente financeiro de um banco. Liguei ao banco para confirmar se ele havia mesmo lançado teorias conspiratórias na internet e descobri que o dito-cujo fora demitido por usar em sua mensagem o nome da instituição bancária. Além dos e-mails relacionando, entre outros, as ações do PCC com o MST, começaram a pipocar na minha caixa-postal eletrônica mensagens de paulistanos indignados convocando a população a protestar em praça pública contra a insegurança. Imagino que, depois de escrever os e-mails, os autores tenham ido passar o fim de semana no Guarujá, pois, que eu saiba, a única manifestação ocorrida de lá para cá foi a que juntou 800 gatos pingados na av. Paulista para reclamar da corrupção. Na Venezuela, Hugo Chávez domina com maestria a arte de incitar ricos contra pobres e esquerdistas contra capitalistas. O negócio dele é servir-se do nacionalismo para se fortalecer internamente e do antiimperialismo para provocar os EUA. Nesse jogo, vale até o uso de retórica anti-semita e a aliança com o medieval presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Mas, vem cá: não somos a Venezuela, e Lula não é Chávez. Ou será que, no episódio da nacionalização do gás da Bolívia, Lula não foi tratado pelo colega Evo Morales como se fosse o ianque predador? Em meio à instabilidade gerada pela falta de segurança, só o que nos falta para completar o quadro de ruína é a população de São Paulo ficar dividida na guerra contra a bandidagem.

@ - barbara@uol.com.br
www.uol.com.br/barbaragancia


quinta-feira, maio 25, 2006

Comunistas

Recebi o texto abaixo por correio eletrônico. No título dizia "Artigo Brilhante...Passar adiante". Eu não sei se é ironia de quem me passou. O texto, atribuído a um executivo de um banco é daqueles digno daqueles anticomunistas mais paranóicos possíveis. Do tipo de alguém que encontra comunistas comedores de criancinhas até debaixo de sua própria cama, de tão infiltrado pelo comunismo que estaria o Brasil.
Eu tentei entrar em contato com o suposto autor, pelo endereço eletrônico que acompanhava a mensagem, mas mais de 24 horas após o envio, eu não recebi resposta nenhuma, assim o suposto autor fica omitido.
Primeiro apresento o texto, depois teço alguns comentários sobre ele.

Lula e o dia de terror em S.Paulo

O povo de São Paulo está em estado de choque. Desde a madrugada de
sábado,o Estado está sob um ataque covarde de bandidos terroristas. Já se contam mais de setenta mortos, instalações públicas foram destruídas, agências bancárias foram incendiadas, uma estação de metrô foi metralhada e supermercados estão sob ameaça de ataque. Nesta hora de angústia, urge encontrar os culpados por essa tragédia social, que abate o mais próspero estado do País.

A quem interessa tanto sangue derramado, tanto medo e tanta angústia?
Quem são os beneficiários políticos de tão trágicos eventos? Não se pode negar que os últimos acontecimentos podem causar um sério abalo na campanha do principal candidato da Oposição, o ex-Governador de São Paulo, Geraldo
Alckmin. Ora, muito já foi denunciado sobre as ligações supostamente
mantidas pelo Partido dos Trabalhadores com o crime organizado e narcotraficantes internacionais, denúncias que já alcançaram a tribuna da Câmara Federal, pela voz do Deputado brasiliense Alberto Fraga, e as colunas dos principais jornais, pelos escritos de Olavo de Carvalho: (ver: http://www.olavodecarvalho.org/semana/030329globo.htm).

É preciso dizer que tais denúncias, ao contrário do que se poderia supor pela sua extrema gravidade, foram abafadas sem a devida investigação, que pudesse esclarecer os fatos. Não é impossivel que um partido acusado de assassinar Prefeitos, subornar parlamentares e extorquir empresários, também venha a sofrer acusações de instrumentalizar o terrorismo do crime organizado para seus fins político-eleitorais.

Ademais, o PT conta com experientes ex-terroristas com grande influência
em sua estrutura interna, como é o caso dos srs. José Dirceu e José Genoino, além da ministra Dilma Roussef. Trata-se da mesma tática adotada pelo Partido Socialista em Espanha, que usou os atentados terroristas de Madri para vencer as eleições.

Nas últimas horas, houve uma atitude do Governo Federal que pode ser interpretada como uma tentativa de tirar proveito político dos trágicos fatos deste final-de-semana: foi proposto o envio de forças federais para combater a onda de violência no estado. Para bom entendedor, meia palavra basta: tratava-se de fazer crer a opinião pública que o governo do Estado
é incapaz de manter a ordem, deixando o Presidente Lula com a imagem de "pacificador" e de vencedor dos criminosos.

Felizmente, o Governador Cláudio Lembo habilmente rejeitou a oferta indecente do Governo petista. Nas vésperas do ataque, 12.000 (doze mil)
criminosos foram colocados nas ruas por força de indulto, para o dia das mães. O que não se diz à população é que o indulto foi concedido pelo Governo Federal, pois conceder indulto é atribuição privativa do Presidente da República (ver item XII do art. 84 da Constituição Federal: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%E7ao.htm).

Também não se diz à população que, conforme matéria do jornal "O Estado de São Paulo", de 02.05.2006, o PCC (responsável direto pelos atentados terroristas deste final-de-semana), recebeu treinamento do MST, organização política apoiada pelo Presidente Lula e fortemente ligada ao PT.

Golpe comunista à vista

Quem conhece bem a estratégia comunista, pode muito bem concluir que não é impossível que o Brasil se torne uma ditadura comunista, se Lula for reeleito. Classicamente, os comunistas servem-se de todos os meios para conquistar e consolidar seu poder. O PT da primeira fase do governo Lula
é o PT bonzinho, que aparentemente se despiu do radicalismo, enquanto
trabalha para desmoralizar todas as instituições nacionais: o Congresso, o Poder Judiciário, as Forças Armadas.

Se Lula for reeleito, gozará de um capital político extraordinário, pois apesar de ter feito o governo mais conspurcado por denúncias de corrupção em toda a história nacional, terá sido sacramentado pelas urnas. Essa força política extraordinária poderá ser usada, com muita facilidade, para fechar o Congresso, manietar o Judiciário e suspender as garantias individuais, utilizando como pretexto a desm oralização das instituições a que seu próprio governo deu causa. Solicito a todos os que receberem esta mensagem que divulguem essas informações.


Alguns comentários então:

1) O texto é claramente um panfleto eleitoral. O último parágrafo começa com uma frase típica: "Se Lula for reeleito...". É como uma ameaça que paira sobre as cabeças de todos os brasileiros, pois o autor sentenciou no parágrafo anterior: "Quem conhece bem a estratégia comunista, pode muito bem concluir que não é impossível que o Brasil se torne uma ditadura comunista, se Lula for reeleito".

2) Realmente, o candidato a presidente da oposição, o ex-governador Geraldo Alckmin sai com a imagem chamuscada da série de ataques terroristas encetados contra as forças policiais do estado de São Paulo, bem como as rebeliões simultâneas no conjunto de presídios do estado. Mas isso é muito mais porque o partido do ex-governador há mais de 12 anos governa o estado. Ele teria tido três mandatos para usando uma frase clássica do ex-ministro Pedro Malan, "fazer o dever de casa" no trato com os criminosos do estado.

3) Em lugar de dizer que se culpados há, em primeiro lugar deveria ser responsabilizado o ex-governador, depois o governador em exercício, Cláudio Lembo, e o secretário de segurança do estado, Sr. Saulo de Castro Abreu Filho, as autoridades do estado. Ele prefere fazer ilações, sobre o que ele mesmo diz, "supostas" ligações entre o Partido dos Trabalhadores e o crime organizado, "denunciados" por Olavo de Carvalho, um órfão do anticomunismo, e um deputado, do PFL, consequentemente oposição ao PT, e que é imune em seu direito de expressão. Ele tem o direito de fazer de uma análise absurda, mesmo de má fé, e não pode ser punido por isso.

4) O texto informa que fazem parte do Partido dos Trabalhadores experiente ex-terroristas, como o ex-ministro José Dirceu, o ex-deputado José Genoíno, e mesmo a atual ministra Dilma Roussef. Ora, o que está no passado, no passado está. Estas pessoas estão integradas à sociedade democrática. Se fosse assim, os liberticidas que estiveram juntos na declaração do Ato Institucional nº5, o AI5, também deveriam ser estigmatizados por terem como disse, o ex-coronel, ex-ministro, ex-senador Jarbas Passarinho, "às favas os escrúpulos da consciência", ou seja, que venha a ditadura plena. Mas não, pessoas como o Sr. Jarbas Passarinho, ou o Sr. Antonio Delfim Netto, são também cidadãos respeitáveis, dentro da democracia que existe no Brasil.

5) O texto ainda relaciona os atentados de Madri, que permitiram que a oposição socialista vencesse as eleições parlamentares na Espanha. Só que o que aconteceu na Espanha foi que o presidente dos ministros José Aznar tentou enganar os eleitores, ligando os atentados, realizados por ativistas muçulmanos, ao terrorismo separatista do ETA. Mas a mentira não convenceu os eleitores.

6) Aí ele cita a questão do indulto, que é concedido pelo Governo Federal, e que permitiu a 12 mil apenado que saíssem dos presídios para o dia das Mães. O deputado estadual, de São Paulo, Romeu Tuma Jr, do PMDB, deu a seguinte declaração em entrevista à Folha de São Paulo, de 23 de maio passado: "O indulto do Dia das Mães virou desculpa oficial, as autoridades dizendo que os 12 mil indultados eram homens do PCC colocados nas ruas. É mentira. Normalmente, 5% dos indultados não se reapresentam à Justiça. Desta vez, só 2,5% dos presos que receberam o indulto não se reapresentaram na Vara de Execuções da Capital. E, incrível, viu-se fila na porta do fórum, na segunda-feira. Eram presos pedindo ônibus para ir para a cadeia, pelo amor de Deus. Eles se sentiam mais seguros na cadeia do que nas ruas. Sabiam que poderiam ser responsabilizados por crimes que não cometeram e corriam o risco de morrer pela ação de grupos de extermínio."

7) Há uma citação do jornal O Estado de São Paulo, vulgo Estadão, fazendo inferências de ligações entre o PCC, e o MST. Eu estive pesquisando o saite do Estadão, só há acesso a índices. O conteúdo dos artigos só pode ser acessado por assinantes. Pelo índice, o que eu pude constatar, não foi notícia, foi editorial. Editorial é a opinião do dono do jornal. E o jornal O Estado de São Paulo é conservador, alguns dirão reacionário, desde antes de eu nascer. Vez por outra algum veículo de comunicação tenta demonizar movimentos sociais como o MST. O jornal O Estado de São Paulo é um deles.

Por fim, podemos voltar às duas primeiras observações. É um panfleto eleitoral, para dizer que o presidente Lula é um comunista, comedor de criancinhas, que não pode e não deve ser reeleito, mesmo se a maioria da população votar nele. Ele passou os últimos quatro anos preparando terreno para instalar uma ditadura comunista no Brasil, se for eleito para os próximos quatro anos. Ah, por favor!...

Em sua defesa


O texto abaixo foi escrito pelo jornalista Jânio de Freitas, da Folha de São Paulo, na edição de 23/05/2006:


O SIGNIFICADO real da requisição feita por promotores de São Paulo, para a pronta entrega ao Ministério Público dos laudos de necropsia e demais registros dos 109 mortos ainda anônimos, transcende muito a divulgação de identificações que o governo paulista deve e recusa.
O governo -fachada de Lembo e construção de Alckmin- adotou um autoritarismo que remonta aos tempos em que as arbitrariedades policiais eram acobertadas pela representação ditatorial das Secretarias de Segurança, e praticavam a retenção ou falsificação de laudos, a recusa de acesso familiar a parentes mortos, enterros com identificação fraudada ou omitida.
O governo paulista não foi capaz de apresentar um só argumento legítimo e convincente para a atitude que, muito além de relegar a norma das ocorrências policiais de interesse público, é incompatível com o regime democrático se não tem, excepcionalmente, sua necessidade fundamentada pela Justiça.
Com a busca das identidades, os registros e os laudos, os promotores estão defendendo a integridade do Estado de Direito.
É a maneira de dar proteção preventiva a todo cidadão, de todas as classes sociais e econômicas, contra aquelas mesmas e outras manifestações da vocação autoritária.


http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc2305200606.htm


sexta-feira, maio 19, 2006

Trecho da Coluna do José Simão de 19/05/2006


E agora mudou tudo. Inverteu: antes tava todo mundo com medo do PCC. Agora tá todo mundo com medo da polícia. Como disse a minha empregada: "Eles tão atirando em tudo que se mexe". Tem que ficar duro. Piscou, levou bala! Como diz uma amiga minha: "Vou me esconder na gaiola do papagaio". Rarará!

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1905200603.htm

Um Absurdo

Finalmente vi um cronista político fazer uma condenação aos bloqueios de rodovias feitos pelos produtores rurais. Foi o Armando Burd, do Correio do Povo, nesta quinta, 18. Nada muito veemente. Ele disse que tais bloqueios eram um absurdo, tratado com conivência pelas autoridades.
Não sei ele, mas se a manifestação fosse do MST, haveria alguém para dizer que eram desocupados, vagabundos, arruaceiros, baderneiros, etc...

93 Suspeitos Mortos

A polícia do estado de São Paulo, desde o início dos ataques da bandidagem, na sexta-feira, dia 12, até ontem, dia 17, havia matado 93 suspeitos de envolvimentos com os ataques. A Lilian Witte Fibe na TV UOL, informa que um desses suspeitos recebeu um tiro no meio da testa. O atirador que deu esse tiro, se foi em meio a algum tiroteio, deve ter uma mira excelente!
Antes que o pessoal que acha que a busca de direitos humanos é uma maneira de evitar que a polícia livre os cidadãos de bem dos bandidos, cabe lembrar que suspeito não é réu convicto, e que nos países em que a pena de morte é admitida (entre os países chamados desenvolvidos, só Estados Unidos e Japão possuem pena capital), ela só é executada após o réu ser condenado por um juiz.
Outro dia, num saite dedicado ao exercício do direito, um advogado escreveu um texto reclamando que ele havia sido tratado como suspeito por membros da polícia militar aqui do Rio Grande do Sul. Ele é um advogado que gosta de andar com motos de grande cilindrada. O fato dele estar disposto a dar um passeio com sua moto, num final de semana, foi o que bastou para que a polícia o parasse, e o submetesse a uma revista, pois, como o policial falou para ele, "todo motoqueiro é suspeito".
Parece que o secretário de segurança de São Paulo, Dr. Paulo de Tarso, está tendo alguma dificuldade para identificar esses suspeitos mortos. Parece que há necessidade de sigilo nas investigações. Ou seja, não é tentativa de acobertar erros da polícia por ter matado algum inocente entre os 93 suspeitos, enquanto as notícias ainda estão quentes na mente de todos.
Ironia. O brasileiro Jean Charles gerou uma comoção no país, ao ser executado no metrô de Londres, em um aparente erro da polícia britânica. Se estivesse no estado de São Paulo por estes dias, pode ser que fosse morto como algum destes 93 suspeitos, e quase ninguém iria ligar. E algumas pessoas iriam dizer que direitos humanos é para defender bandido!

O Governador Cláudio Lembo e o Pânico de São Paulo

É difícil avaliar o que deveria ser feito quando dos ataques terroristas que a bandidagem resolveu executar em São Paulo. A única coisa, que eu diria com certeza, é que ele deveria ter aceito as ofertas de ajuda do governo federal. Seriam quatro mil homens da força especial de polícia a mais, para "estabilizar" a situação, mais os batalhões de polícia do exército e regimento de guarda que poderiam empregados em policiamento ostensivo. Tropa na rua deixa menos margem para a bandidagem agir.

Cláudio Lembo, Governador de São Paulo é Entrevistado

"...Nós temos uma burguesia muito má, uma minoria branca muito perversa." Cláudio Lembo, governador de São Paulo, em entrevista a Mônica Bérgamo, colunista da Folha de São Paulo. Para ver a entrevista completa, siga este link: http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u121683.shtml .

Fiquei em dúvida com os meus botões: será que o governador de São Paulo, que pertence aos quadros do PFL, é algum comunista enrustido? Nesta entrevista ele desanca o ex-presidente FHC, e reclama do ex-governador, que se licenciou para concorrer a presidente da república, Geraldo Alckmin. Além disso, ele chama a burguesia de São Paulo de burguesia. É impressionante!

Estado Burguês 2: A Brigada Militar, Os Latifundiários e o MST

O "post" anterior é um prólogo para comentar uma notícia velha, que foi publicada no jornal Correio do Povo, de 3 de maio de 2005, na página 3, e ilustrada com uma foto.
A notícia tem o título "Guerra atribui incêndio ao MST". Na foto aparecem Félix Guerra, o proprietário da fazenda Coqueiros, no município de Coqueiros do Sul, RS (Coqueiros do Sul foi emancipada do município de Carazinho), e o coronel da brigada militar, a policia militar do Rio Grande do Sul, comandante regional de policiamento da região do planalto, Waldir Cerutti.
O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, MST, tem ocupado a fazenda Coqueiros, e tentado direcionar a área dela para reforma agrária. Nesse conflito, aconteceram incêndios que destruíram parte das benfeitorias da sede da fazenda. O proprietário, Félix Guerra, alega que o MST causou os incêndios. Os membros do MST negam. Aí é que entra a análise dos marxistas.
A reportagem informa que o coronel Cerutti, posicionado ao lado do Sr. Félix Guerra, como se associados fossem, "destacou as linhas de atuação do MST no local, afirmando que os sem-terra se envolveram em incêndios, furtos, danos e agressões a funcionários da fazenda". Ou seja, além de policiamento preventivo que é seu papel legítimo, segundo a reportagem, o coronel fez as vezes de polícia judiciária, promotor de justiça e juiz.
Um marxista diria "eis aí o estado a serviço da burguesia latifundiária!".

"Estado Burguês"

Marxistas puros e duros, e mesmo marxistas vulgares (marxistas puros são aqueles que leram o livro O Capital, de Karl Marx; marxistas vulgares são aqueles que só leram O Manifesto Comunistas, ou o Manifesto do Partido Comunista e alguns comentaristas e vulgarizadores da obra do filósofo alemão. Há ainda uma vertente de adeptos dos irmãos Groucho e Harpo Marx) dizem que, com a Revolução Francesa de 1789, a burguesia chegou ao poder no ocidente.
Nos livros de História, aqui no Brasil, eu pelo menos aprendi, até a primeira metade da década de 1980, que a Revolução Francesa de 1789 serviu para "acabar com o Feudalismo na Europa", e que o poder político passou da Nobreza para a Burguesia. Parece que estes mesmos conceitos acabaram sendo transmitidos para meu filho que está no início do segundo grau. Ele havia decorado os conceitos, mas não me respondeu satisfatoriamente o que significava feudalismo, nem nobreza, nem burguesia. Vamos tentar conceituar isso tudo.
O Feudalismo foi um sistema pelo qual parte do poder do rei era concedido aos seus nobres. Na ordem que se estabeleceu no Ocidente, o poder do rei provinha diretamente de Deus, e em nome Dele, o rei reinava e concedia dádivas. Os nobres foram se constituindo a partir de dois meios, a antiga nobreza romana, o patriciado, e os guerreiros que serviam aos reis que por muito tempo foram chamados de bárbaros (na verdade ainda há muitos que chamam os povos germânicos, e os vindos de oriente, e que penetraram na parte ocidental do antigo Império Romano de "bárbaros". Isto servia bem aos romanos que, às vezes, os combatiam [em outros momentos estes mesmos "bárbaros" eram transformados em aliados] para diminuir estes outros povos, hoje não me parece haver muito sentido em chamá-los de "bárbaros", a não ser para dizer que eram diferentes dos cidadãos do Império Romano). O rei, em nome de Deus, era o "dono" de toda a terra que um povo ocupava, mas distribuía parcelas desta terra aos nobres, uma parcela distribuída era um "feudo" (um poço, ou um porto também poderiam ser "feudos" distribuídos, mas vamos aqui, para simplificar, nos ater à terra). Quem recebia a terra era um senhor feudal, e um nobre. Era-se nobre com base em nascimento, naquelas condições anteriores ditas, ou, excepcionalmente, por nomeação do rei. Um nobre valia mais que quem não fosse nobre. Tinha mais direitos, eventualmente tinha poder de vida e morte sobre os camponeses (servos) que trabalhassem em suas terras. Este sistema vigorou, com matizes, no chamado Ocidente Cristão entre aproximadamente o século VI e o século XVIII. O chamado exemplo clássico de feudalismo teria sido o reino da França.
A Revolução Francesa é o auge de um processo que poderíamos situar o início lá pelo século XII ou XIII, quando uma certa prosperidade começa a surgir na Europa, o comércio e as cidades começam a crescer, e um tipo de sistema legal vinculado à terra, e no qual algumas pessoas têm mais direitos que outras começa a se tornar anacrônico.
Assim, os burgueses, isto é, os homens que normalmente viviam em cidades e eram proprietários das pequenas manufaturas que faziam as vezes de indústria da época, bem como os comerciantes, lideraram a luta para que todos fossem iguais perante o sistema legal. Isso aconteceu primeiro na Inglaterra, no século XVII, e só um século depois na França. Com a Revolução Francesa, embora com uma série de idas e vindas, ficou estabelecido que mesmo o rei deveria obedecer a uma constituição, e que todos os homens seriam iguais perante a lei (a tal igualdade do lema "liberdade, igualdade e fraternidade" que enfeita as referências à Revolução Francesa). As pessoas que se consideram politicamente liberais costumam se referir assim a si mesmas.
Espero que tudo tenha ficado claro até aqui. Esta que foi explicada, é a versão digamos assim, idealizada da história da Revolução Francesa. Fim de privilégios da nobreza, fim do poder absoluto do rei, direitos iguais para todos os cidadãos.
A versão marxista variaria um pouco. Em resumo, diria que com a Revolução Francesa, a burguesia, os mesmos comerciantes-negociantes e donos de manufaturas, conseguiram dominar o poder do estado, e desde então procuram tirar benefícios desse poder para si mesmos, com a criação de leis que lhes permitam acumular o máximo de poder e riqueza possível. Assim, são criadas leis com o sentido de dificultar associações de trabalhadores para que eles, os trabalhadores, não possam fazer reivindicações que diminuam a riqueza da burguesia. Também é assim que os primeiros direitos de voto, estabeleciam sistema de votação censitário, em que o eleitor deveria demonstrar ter acesso a certa quantidade de riqueza para poder votar. Simplificando ao extremo, o estado se tornou um instrumento da burguesia.

domingo, maio 14, 2006

Uns Mais Iguais Que os Outros


Esta semana, movidos pelas suas dívidas, muitos produtores rurais, talvez alguns deles latifundiários, fizeram diversas manifestações, sendo que em algumas delas, estradas chegaram a ser obstruídas, um ato que seguramente fere os direitos constitucionais de ir e vir de todo cidadão. O fato foi noticiado, mas certamente não houve a histeria da "depredação e vandalismo" do ataque à Aracruz Celulose.

terça-feira, maio 09, 2006

Ângela e Inocêncio

A partir desta saudação de "Olá", é um texto que recebi pelo correio eletrônico. Ele está sendo copiado para cá porque vai mais ou menos de encontro ao que foi dito neste blog, em um outro "post" (http://aindaamoscaazul.blogspot.com/2006/04/deputada-ngela-e-o-deputado-osmar.html).


Olá!
Caso possas, te pediria um pequeno tempo para analisar dois fatos, gerando duas situações.

- Situação 1: uma deputada desajeitada, gorda, petista, arrisca-se a ensaiar alguns passos de dança em pleno plenário(!) do Congresso Nacional. O partido dela todo mundo sabe... Isto teria acontecido devido à sua alegria por ter sido absolvido do processo de cassação um colega parlamentar, cassação esta com a qual ela não concordava;

- Situação 2: a Polícia Federal, com a ajuda da polícia de um estado nordestino, Ministério Público, exército e sei lá quem mais, efetuou a libertação de algumas dezenas(!) de trabalhadores escravos que se encontravam trabalhando reclusos em uma fazenda, nas piores condições possíveis. Esta fazenda pertence a um senhor chamado Inocêncio Oliveira.

Até aí tudo bem, pois quem provavelmente este não será o único, e nem o último caso de escravidão "moderna" no Brasil. Quer dizer: tudo bem em termos, pois você há de convir que a escravidão é a mais triste das condições humanas!

Mas existe ainda uma outra questão em relação às 2 situações: a senhora da situação 1 é Deputada Federal(PT), ex-prefeita, ex-vereadora, etc... e o senhor da situação 2 é Deputado Federal(PFL) eleito pelo seu Estado, Pernambuco, 1, 2, 3 ou mais vezes. E ainda: foi presidente de seu partido, líder do governo FHC na Câmara por um longo período, presidente da Câmara, Ministro de Estado do mesmo governo, e etc, etc... Até aí, também tudo bem!!

O que não posso deixar de perguntar é: QUANTAS VEZES você viu na TV a dança desengonçada da petista(?), e quantas vezes você viu a notícia da libertação dos trabalhadores escravos do pefelista?

Da deputada eu vi passar por uns 10 dias, especialmente na emissora Todo-Poderosa(!), de manhã cedo antes das oito, às 13:00 horas, às 20:30, e à meia noite!!! 4 vezes ao dia, quase 40 vezes! E do Senhor de Escravos... a Globo nem noticiou! Algum outro canal eu vi noticiar a libertação dos escravos... A Band, me parece, noticiou a libertação dos trabalhadores escravos, e disse de quem era a fazenda onde estavam. Mas com muito pouco destaque, uma curta nota em um noticiário.

Então? Como é que ficamos? Que tipo de jornalismo temos? É complicado! Qual fato teria mais importância? Certamente os 2 fatos, as 2 situações tem a sua importância! E NÃO SE TRATA DE INOCENTAR A PETISTA, longe disso! O que queremos saber é dos fatos!

E este é só um exemplo de como a imprensa, principalmente a TV, mostra algumas coisas e esconde outras. Aonde iremos assim?

A quem interessa exagerar na divulgação de um fato e esconder outro?

Assinado:...

P.S.: Caso seja um daqueles ou uma daquelas que discordam de muita coisa que aí está, inclusive da política, repasse este texto aos seus amigos e amigas.

sábado, maio 06, 2006

Charge da Folha de São Paulo de 04 de maio de 2006

quinta-feira, maio 04, 2006

Fome da Greve

Outro texto de Carlos Heitor Cony, publicado na Folha de São Paulo, de 03/05/2006.


CARLOS HEITOR CONY

A fome da greve

RIO DE JANEIRO - A greve de fome de Garotinho é um ato desesperado que incomoda a classe política como um todo, principalmente o PT e, em escala menor, o PSDB, os dois partidos que se julgam com direito ao rodízio no poder federal.
A insistência de Garotinho em manter a sua pré-candidatura pelo PMDB incomoda o próprio PMDB, interessado em apoiar o futuro vencedor das próximas eleições, seja ele do PT ou do PSDB. Até o último momento, o partido prefere esperar a arrumação dos partidos menores no tabuleiro, as alianças mais consistentes para, enfim, optar por Lula ou pelo candidato tucano, seja ele qual for.
Garotinho atrapalha a arrumação eleitoral e contra ele é natural que se voltem as baterias dos dois partidos que têm escudeiros entusiasmados na mídia e em grande parte do empresariado.
Não se discutem as acusações que cercam a campanha de Garotinho. Parecem ilegais e até imorais, mas dentro do quadro geral de todas as campanhas eleitorais, inclusive dos partidos que acreditam monopolizar a ética, com suas vestais de fancaria.
Cito um trecho do artigo de Janio de Freitas publicado ontem: "Nenhuma denúncia responsabiliza Garotinho, até agora, pessoalmente. Como se deu a montagem das doações suspeitas, ou dos contratos que levaram às doações, é uma zona ainda obscura na vastidão do noticiário (...) Tudo, porém, está por ser investigado".
E, em matéria de investigação, nada mais suspeito do que o jornalismo investigativo, que acusa e depois é obrigado a engolir os fatos que desmentem as "provas". Meses atrás, um jornal deu oito páginas sobre um caminhão que levava material de campanha em Campos. O mesmo jornal deu apenas seis páginas para o atentado ao WTC.
Bem, qualquer que seja a motivação de Garotinho, a greve de fome é um exagero. Não será assim que ele se livrará da campanha maciça que PT e PSDB movem contra ele, usando seus representantes na mídia.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0305200605.htm

quarta-feira, maio 03, 2006

Presidente da Bolívia Nacionaliza Hidrocarbonetos

Neste 1º de maio, o presidente da Bolívia, Evo Morales, decidiu lançar um decreto nacionalizando os recursos minerais da Bolívia. Simbolicamente, ele fez seu pronunciamento aos bolivianos de uma das refinarias da Petrobrás na Bolívia, acompanhado pelo exército.
Ainda não ficou totalmente claro o que essa nacionalização significa na prática, mas já tive algumas repercussões de amigos.

"Evo Morales para presidente do Brasil!", disse um mais à esquerda.

"Estávamos no almoço, pensando se deveríamos lançar um ataque militar contra a Bolívia, mas pensamos que todo o exército brasileiro está atolado no Haiti, bem como boa parte da Marinha.", disse um entre exaltado e ponderado.

"O petróleo é deles!", constatou outro, adaptando a frase que mobilizou parte da opinião pública brasileira, na década de 1950.

Quem Eleger?

Na semana passada, a Folha de São Paulo noticiou de alguns problemas na arrecadação da pré-campanha, do possível candidato do PMDB, Anthony Garotinho. Entre os financiadores haveria empresas que prestam serviço ao Governo do Estado do Rio de Janeiro, que é governado pela esposa do pré-candidato. Além disso, entre os entre as empresas financiadoras haveria uma que tem como sócio um assassino.

Tempos antes, a mesma Folha tinha informado que a senhora Lu Alckmin, esposa do candidato do PSDB, teria recebido 400 vestidos de um estilista. Além disso, o então governador Geraldo Alckmin teria barrado, por meio de sua liderança na Assembléia Legislativa do estado de São Paulo, a instalação de mais de 60 Comissões Parlamentares de Inquérito. Por fim, foi noticiado que o banco do estado de São Paulo, a Nossa Caixa teria veiculado anúncios em emissoras de rádio ligadas a deputados que fariam parte da bancada estadual do governo na Assembléia. Não haveria aí semelhança com o esquema que o ex-deputado Roberto Jefferson chamou de "mensalão" no Governo Federal, embora este mesmo não tenha ficado evidente de forma clara na Comissão Parlamentar de Inquérito dos Correios?

Com o atual Governo Federal, algumas pessoas têm dito que é o "maior escândalo da república" (embora este blogueiro não acredite que este é o "maior escândalo da república", apenas um dos escândalos da república, não o maior).

Talvez, quem estiver escandalizado com isso tudo, tenha a opção da Senadora Heloísa Helena.