quinta-feira, novembro 30, 2006

Fatos e Manchetes

Do blog do jornalista Luís Nassif.

Dos fatos e das manchetes - 2



Manchete da “Folha” de hoje: “Publicidade oficial ajuda a bancar a TV do filho de Lula”. No primeiro parágrafo da manchete a informações de que “a Gamecorp (...) divide com o Grupo Bandeirantes o faturamento obtido com verbas federais em anúncios na Play TV”.

Diluídas nas páginas internas as seguintes informações:

1. Todas as informações foram fornecidas pela própria Bandeirantes, no processo que move contra a Editora Abril. O juiz tirou o segredo de justiça, e o repórter pode consultar os autos e selecionar as informações a serem destacadas na matéria.

2. Internamente, pela matéria fica-se sabendo que contrato da Gamecorp com a Bandeirante prevê a divisão em 50% de toda a publicidade arrecadada. Não há uma cláusula especial para publicidade de órgãos públicos, conforme sugere o texto destacado da primeira página. Internamente, artigo de Daniel Castro, o crítico da TV da "Folha", informa que esse tipo de contrato é comum no mercado.

3. O infográfico mostra que a PlayTV deverá faturar R$ 5,2 milhões em 2006, e que o Banco do Brasil e a Caixa estao entre os maiores anunciantes (provavelmente estão entre os maiores de qualquer emissora ou editora). Quando se entra nos valores (perdidos no meio do texto), fica-se sabendo que, em 2006, as verbas federais para o PlayTv foram de R$ 597 mil, ou 11% do faturamento previsto, e 68% inferiores à publicidade oficial em 2005, ano em que a Gamecorp ainda não participava do faturamento do Canal 21.

4. Na defesa, feita pelo advogado Walter Ceneviva, fica claro que a PlayTV concorre diretamente com a MTV, da Editora Abril, que iniciou a campanha contra a Gamecorp.

5. A matéria envereda, assim como a “Veja”, em ilações sobre anunciantes privados. A intenção da "Veja" é intimidar esses anunciantes privados com o tom de escândalo conferido às matérias, sufocando a empresa por vias indiretas. A "Folha" acaba embarcando nisso, embora não seja de seu feitio.

6. Ao contrário da “Veja”, historicamente a “Folha” fornece todas as informações. Só que, ao se juntar todas as peças, não se encontra o todo anunciado na primeira página.

http://luisnassif.blig.ig.com.br/

Da Série Paranóicas

Manchete na primeira página do UOL, hoje, 29 de novembro, por volta de 14 h: "Bancos doaram 10,5 milhões para campanha de Lula".
Bah! Os bancos financiaram o Lula!
Aí abrimos o link, e a notícia continua: "Geraldo Alckmin recebeu quantia idêntica".
Ah bom!

Imenso Grotão - 2

A respeito deste vídeo do "post" anterior, dá para ver que ele foi produzido a partir da colagem de imagens de uma comunidade do Orkut . Há todo tipo de pessoa nas imagens. O que demonstra que não foram apenas os mais desfavorecidos, "comprados" por bolsa-família e outros que tais, que votaram no presidente Lula para reelegê-lo.

Nós Elegemos Lula Presidente.

Encontrei o vídeo abaixo no blog "Eu Quero Falar".


terça-feira, novembro 28, 2006

Apologia da Tortura

Texto publicado na Folha de São Paulo, de 24 de novembro de 2006.

Apologia da tortura



JOSÉ CARLOS DIAS

Afirmo em plena consciência que o hoje coronel Ustra terá sido dos mais violentos repressores do regime militar imposto ao país

O CORONEL Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-comandante do DOI-Codi, órgão de repressão do exército, durante os piores anos da ditadura militar, de 1971 a 1974, acaba de ser homenageado com um banquete por mais de 400 pessoas, das quais 200 oficiais de alta patente da reserva -entre eles, 70 generais. O fato é gravíssimo e alarmante.
O apoio foi provocado pela notícia de que Maria Amélia de Almeida Teles, César Augusto Teles, Janaína de Almeida Teles, Edson Luiz de Almeida Teles e Criméia Alice Schmidt de Almeida, vítimas de tortura no DOI-Codi -além de também terem sido com eles encarcerados os filhos do casal, de cinco e quatro anos-, estão processando, perante o juízo cível, o referido coronel, com fim meramente declaratório, medida tomada em razão de estar o militar protegido pela Lei da Anistia.
Advoguei intensamente na defesa de perseguidos políticos durante aquele período, várias centenas de pessoas me confiaram mandato, outras causas defendi, por procuração outorgada pelo cônjuge ou pelos pais, na busca desesperada do ente querido que houvera desaparecido. Daí porque não só procurei defender vidas, na tutela de suas liberdades, como tentei salvá-las em vão, tornando-me patrono de memórias de seres, sem que muitas vezes se alcançasse sequer o atestado de óbito.
Afirmo em plena consciência, sob a fé do meu grau, como cidadão, como cristão, que me sinto no dever de testemunhar publicamente que o hoje coronel Ustra, vulgo dr. Tibiriçá, terá sido dos mais violentos repressores do regime militar imposto ao país, responsável pelas torturas e mortes no calabouço do DOI-Codi durante os quatro ou cinco anos em que foi lá comandante. Guardo em minha memória e em meu arquivo morto capítulos terríveis de tortura e de morte por mim testemunhados no compulsar de autos, nos relatos de testemunhas e de vítimas de violência.
Tenho a convicção, como advogado criminal há mais de 40 anos, de estar sujeito a processo por crime contra a honra. Assumirei o desagradável papel de réu, se este for o preço para que não permaneça em vergonhoso silêncio, calando-me diante do escândalo que o banquete representa. Usarei, se isso ocorrer, do instrumento da exceção da verdade para que as violências de Ustra possam, mais uma vez, ser submetidas ao crivo do Judiciário.
Causou-me surpresa ter notícia de que algumas pessoas que me pareciam dissociadas dos métodos de tortura lá estavam no rega-bofes, a homenagear e a solidarizar-se com o herói da tortura, coronel Ustra.
Resta uma lição para todos nós. A bravura das pessoas que resolveram confiar na Justiça para o reconhecimento meramente simbólico do que sofreram merece apoio, não com banquetes, mas com atos expressivos de solidariedade.
O direito que o preso tem ao tratamento digno, de acordo com a Declaração Universal dos Direitos do Homem e outras convenções internacionais, independe da gravidade dos fatos que o conduziu ao cárcere, sendo absolutamente injustificável o tratamento desumano e humilhante que lhe venha a ser infligido.
O coronel Ustra, premiado hoje como herói por seus camaradas, e que já foi adido militar no Uruguai durante o governo Sarney, encarna a lembrança mais terrível do período pavoroso que vivemos. Terá dito, no discurso pronunciado, que lutou pela democracia, quando, na realidade, emporcalhou com o sangue de suas vítimas a farda que devera honrar.


JOSÉ CARLOS DIAS, 67, é advogado criminalista. Foi presidente da Comissão de Justiça e Paz de São Paulo, secretário da Justiça do Estado de São Paulo (governo Montoro) e ministro da Justiça (governo FHC).

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2411200608.htm

sábado, novembro 25, 2006

Nova Corja Manifesta Humor Corrosivo

O pessoal da Nova Corja faz uma sátira corrosiva ao governador Rigotto.
Veja em http://www.insanus.org/novacorja/archives/018983.html


quarta-feira, novembro 22, 2006

Sem Vergonha!

Este blog anda descaradamente simpático ao petismo...

Churrasqueiro?

Li no saite da Nova Corja (http://www.insanus.org/novacorja/) que o sr. Jorge Lorenzetti, um dos envolvidos na compra de um dossiê contra José Serra, e que está sendo investigado pela Polícia Federal (embora este blog ainda não saiba em qual crime ele será enquadrado, se é que será) não gostou de ser chamado de "churrasqueiro do presidente", pois ele esteve em quatro churrascos com o presidente desde 2002, o mais recente em 2004.
O pessoal da Nova Corja faz troça, mas levando em consideração todas as coisas que aconteceram desde a véspera do primeiro turno da eleição, não é demais pensar que a foto dele com um pedaço de carne próximo a uma churrasqueira, e o apelido de "churrasqueiro do presidente" tenha sido uma "photo op", uma armação para colocar o escândalo do tal dossiê mais próximo do presidente Lula.

Secretaria Estadual da Administração

"PSDB paga caro por gestão na Secretaria Estadual da Administração por três anos e meio. A dificuldade para conseguir dados é imensa, apesar de esforço do atual secretário."

A notinha acima estava na coluna do Armando Burd, no jornal Correio do Povo, de ontem, 21 de novembro de 2006. Ou eu muito me engano, ou ela significa que o PSDB ficou três anos e meio administrando a mesma secretaria estadual que agora tem dificuldades para fornecer informações que sejam importantes na transição de governos?...

terça-feira, novembro 21, 2006

Política nos Dias de Hoje

"Não quero desculpar a corrupção, mas isso é um problema global. De como lidar com as finanças de campanhas eleitorais, que são extremamente caras, e que levam a casos de corrupção. As eleições no Brasil são muito mais caras porque o deputado tem que disputar no Estado inteiro, não só em um distrito. Na França, no Reino Unido, nos Estados Unidos há escândalos recentes por causa de doações. Agora, nos EUA, teremos múltiplas investigações porque o Congresso ficará com os democratas. Quando os republicanos eram maioria, as investigações foram engavetadas."

Estas são palavras do professor Kenneth Maxwell ainda na entrevista cujos excertos já foram copiados aqui neste blog. Neste caso, ele está respondendo ao problema da corrupção que se manifestou de forma muito explícita no Brasil durante o ano de 2005.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc2011200618.htm

segunda-feira, novembro 20, 2006

Partido Conservador...

Na entrevista que deu à Folha de São Paulo, Kenneth Maxwell falou também que faltava um partido conservador no Brasil. E falta mesmo, ou talvez um partido liberal. Ou seja falta no país um partido que defenda privatizações abertamente, para que esse posicionamento político não fique a cargo apenas de parte da mídia, como a revista Veja, por exemplo.

FOLHA - É por isso que ninguém defendeu as privatizações?
MAXWELL - É que ainda persistem dúvidas ou uma percepção de que houve negócios obscuros durante as privatizações. Não há provas, ninguém sabe, mas muita gente acredita nisso. A ironia é que hoje a maior parte dos brasileiros têm celulares e as linhas fixas foram vendidas para espanhóis, italianos, portugueses em um momento em que a tecnologia celular estava emergindo. Os estrangeiros pagaram muito dinheiro por essas linhas. De forma objetiva, o governo ganhou. Se houvesse um sólido partido conservador, teria dito durante a campanha: "Estamos felizes pela privatização". O PSDB fugiu do problema.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc2011200618.htm

Mel

Em entrevista à Folha de São Paulo, de 20 de novembro de 2006, o historiador inglês Kenneth Maxwell elogia tanto FHC, quanto Lula:

FOLHA - FHC ficou só, sem que ninguém o defendesse?
MAXWELL - Seu papel continua tão engajado no debate político que ele foi tratado como um candidato. FHC não soube se reinventar como ex-presidente. Sarney ainda é poderoso no sistema político, descolado do seu governo. FHC vive relembrando seu governo e se defendendo. A saga Lula-FHC se tornou tão visceral que é necessário um psicólogo para saber quando as diferenças políticas terminam e quando começa a provocação mútua. É uma pena porque o Brasil deve muito de sua estabilidade, continuidade e espírito democrático ao que ambos significam e mantiveram como presidentes. Em seus diferentes estilos, ambos são homens admiráveis, e não somente no contexto brasileiro.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc2011200618.htm

sábado, novembro 18, 2006

Grotão: Enfatizando o Texto Anterior

Ressaltando uma frase do texto anterior:
Além do fato de que não foram os grotões que elegeram Maluf e Enéas (nem Clodovil eu acrescentaria); e não foi o suposto centro que derrotou Severino Cavalcanti e ACM.

Um Imenso Grotão?

Texto de Otávio Velho para a Folha de São Paulo, de 31 de outubro de 2006, analisando as eleições.

Um imenso grotão?

OTÁVIO VELHO

A grande votação de Lula não permite que a consideremos como oriunda dos grotões: é impossível que haja tanto grotão assim

EM DÉCADAS passadas, pesquisei, no sul do Pará, como os pequenos agricultores eram atormentados pela possibilidade da "volta do cativeiro", assunto recorrente entre eles e que tinha a ver com as ameaças brutais e permanentes a sua existência social.
Retornando recentemente à região, fui surpreendido pelos testemunhos de que já não se fala mais disso e de que, ao contrário do que parecia ser seu destino inexorável, os pequenos agricultores não desapareceram. Hoje, organizados de variadas maneiras, recuperaram muitas das terras que haviam sido ocupadas ilegalmente pelos grandes proprietários desde o século 19. O outrora poderoso patriarca da principal família da oligarquia local se encontra em prisão domiciliar, acusado de assassinato.
Testemunhos como esse se multiplicam e são trazidos por diversos observadores de várias regiões do país, sobretudo Norte e Nordeste: atividade intensa na produção e no comércio local, novas iniciativas, uma nova dignidade. Despercebidas das camadas médias das nossas metrópoles, transformações importantes vêm ocorrendo, ainda que as disparidades sociais permaneçam imensas.
Pois é em ambientes como esses que muitas vezes são implantados os programas sociais do governo. Ou seja, esses programas não só não partem do zero como também demonstram capacidade de afinar-se com o que já vinha se dando. Ajudam a acelerar as transformações em curso que levam seus protagonistas a multiplicar articulações e a ganhar uma percepção globalizada da situação. Esses programas não podem ser paternalistas: os agentes governamentais é que seguidamente têm de "correr atrás" do que já vem ocorrendo.
Os habitantes dessas regiões em geral sabem disso, o que explica por que nessas eleições votaram maciçamente em Lula -figura certamente paradigmática e com a qual estabelecem uma comunicação que não é só a das palavras. Assim, votaram não por terem sido submetidos a uma nova servidão, pois o que está em jogo é a libertação do cativeiro, inclusive do cativeiro político, substituído por uma disponibilidade para o estabelecimento de parcerias com os agentes sociais que estejam dispostos a se aliar a eles.
O ambiente social e econômico de intenso dinamismo faz lembrar por analogia os efeitos do microcrédito, que foi responsável recentemente pela outorga de um Prêmio Nobel a Muhammad Yunus. Nesse ponto, política social e econômica se encontram, e a idéia de que as políticas econômicas dos governos Lula e FHC são iguais não leva em conta essa interseção, reiterando uma visão restrita e segmentada. Visão, aliás, que não é das elites, pois de outro modo não se entenderia sua renhida oposição a Lula.
Na falta de conceitos adequados, a tendência é ignorar o que se passa ou tentar reduzir tudo a imagens anteriores. Imagens como a da divisão do país entre uma face supostamente progressista e outra atrasada, dos "grotões", tidos como dependentes do Estado -quando, na verdade, essa dependência se traduz num volume de recursos que nem de longe se aproxima daquele de que se beneficiam, direta ou indiretamente, os setores considerados avançados.
Ainda está por se fazer a teoria econômica e social de tudo isso. Mas a eleição que agora termina teve o mérito de não deixar que se continue a ignorar o que se passa, mesmo à custa de muita perplexidade. Isso porque a grande votação de Lula não permite que a consideremos como oriunda dos grotões: é impossível que haja tanto grotão assim. Além do fato de que não foram os grotões que elegeram Maluf e Enéas; e não foi o suposto centro que derrotou Severino Cavalcanti e ACM.
O movimento do primeiro para o segundo turno abalou as crenças sobre a importância dos "formadores de opinião" e a suposta transmissão de informações e de valores partindo do centro para a periferia. O que houve foi uma inversão de mão e uma extensão, por meio de mecanismos moleculares que pouco conhecemos, daquele que já havia sido, no primeiro turno, o voto preferencial da chamada periferia. Foi ela que mostrou, assim, sua capacidade de influência e indicou a possibilidade de reduzir os riscos da polarização Norte-Sul vaticinada por alguns.
Vamos ver de quanto tempo precisaremos para absorver tudo isso. Absorver, inclusive, que o crescimento econômico precisa ser qualificado e que não se trata apenas de fazer crescer o bolo. Nesse ínterim, esperemos que a capacidade de reconhecer a nova situação prevaleça sobre o ressentimento.


OTÁVIO VELHO, antropólogo, é professor emérito de antropologia do Museu Nacional.

Um Simplismo Atroz

Este blog tem dito com alguma freqüência que a política gera reações viscerais em muitos casos. Estas reações viscerais, ou com outras palavras, as paixões que a política pode despertar nas pessoas é capaz de fazê-las perder o raciocínio e deixar de ver coisas evidentes, mesmo que estas pessoas sejam pessoas com excelente formação intelectual.


Tivemos este tipo de reação da parte de dois intelectuais que puderam manifestar seu pensamento nas páginas do jornal Folha de São Paulo. Um foi o professor Hélio Jaguaribe, como diz a apresentação dele na própria Folha, sociólogo, professor emérito do Instituto de Estudos Políticos e Sociais do Rio de Janeiro, membro da Academia Brasileira de Letras. O outro é Gustavo Ioschpe, apresentado pela Folha de São Paulo, como mestre em desenvolvimento econômico pela Universidade de Yale, nos Estados Unidos. O sr. Ioschpe pôde manifestar seu pensamento em alguns textos que a Folha publicou durante o período eleitoral que recém vivenciamos.


Pois estes dois intelectuais, que antigamente chamaríamos “gabaritados”, não conseguiram vencer seus preconceitos e sua torcida pelo candidato da oposição na recente corrida eleitoral, e, cegos, atribuíram a derrota deste candidato à ignorância dos eleitores, pois votar no candidato da oposição era uam questão de sabedoria. Eles variam nos seus percentuais. O professor Jaguaribe diz que


dois terços dos brasileiros se encontram em estado de completa ou extremamente precária educação, e apenas um terço dispõe de um nível educacional comparável ao dos povos do sul da Europa.
A dramática deseducação desses dois terços de nossos concidadãos lhes acarreta duas principais incapacitações: 1) a do exercício de atividades não rudimentares, com decorrente nível extremamente baixo de remuneração; 2) a de um entendimento mínimo dos problemas nacionais, ficando a atenção desses brasileiros voltada, exclusivamente, a questões atinentes à imediata sobrevivência.
Para esses dois terços, quase todos os aspectos negativos do governo Lula passam desapercebidos, e o pouco de que venham a se inteirar lhes é indiferente. Nessas condições, os eleitores desse grupo dirigem aos candidatos uma única questão: que tenho eu, minha família e meu grupo a ganhar? A resposta óbvia é: tudo com Lula, nada com Alckmin.
O outro terço, satisfatoriamente educado, faz outro tipo de questão: que tem o Brasil a ganhar com Lula ou com Alckmin? A resposta, igualmente óbvia, é: muito pouco com Lula, e bastante com Alckmin. Essas duas propostas explicam por que Lula deverá ter 61% dos votos válidos, e Alckmin, apenas 39%. Os terríveis efeitos da deseducação de dois terços dos brasileiros continuarão a se fazer sentir enquanto os excluídos da educação (e de modalidades superiores de cidadania) não lograrem um nível satisfatório de educação.


Já o sr. Ioschpe informa:


Em um país como o Brasil, em que o acesso à informação é precário e a capacidade de julgamento é prejudicada pelo baixo esclarecimento da maioria da população, três quartos dos cidadãos não são plenamente alfabetizados -a tentação de usar as limitações da democracia para solapá-la são enormes.


Variaram nos percentuais, e nas conseqüências, mas o diagnóstico foi o mesmo. Só os ignorantes, os incapazes de compreender a situação política, os semianalfabetos é que votaram no candidato à reeleição. O professor Jaguaribe diz que esta situação só mudará quando o terço da população que ele acredita mais educada se mobilizar para levar a educação ao restante da população, um projeto que, segundo ele durará pelo menos três gerações.


Já o sr. Ioschpe destila todo o seu preconceito, e aponta o dedo para o governo atual, como inimigo político, que já não é possível esconder:


Quem discorda da imposição de critérios raciais na orientação de políticas públicas é racista. Quem denuncia que o presidente bebe é expulso do país. Quem acredita que o respeito à lei e às instituições é um dever que voto nenhum pode alterar virou golpista. Os adversários políticos que não se vendem serão destruídos por dossiês criminosos.
A democracia está sendo solapada pela desqualificação do contraditório, pelo achincalhamento dos mecanismos de controle do Executivo da imprensa ao Congresso. Pão e mensalão: a receita da pax lulista.
Esse meio é seu próprio fim. O poder que corrompe é usado a serviço da manutenção do poder.

As afirmações dos dois homens privilegiados em acesso à informação não são resultado de uma análise da realidade, mas da verbalização de seus preconceitos e de suas crenças. Pensemos no estado do jornal que publicou as opiniões destes senhores, o estado de São Paulo. Em São Paulo, o candidato da oposição, Geraldo Alckmin, ganhou do presidente Lula, e os percentuais foram de 53% a 47% dos votos válidos. Será que São Paulo tem 53% de “esclarecidos” e 47% de “ignorantes”? Mas como ficam aqueles percentuais de 1/3 para um deles, e ¼ para o outro? Outro estado em que o candidato da oposição venceu foi o Rio Grande do Sul, 55% a 45% dos votos válidos. O candidato da oposição venceu ainda em Santa Catarina, 55% a 45%, Paraná 51% a 49%, no Mato Grosso, mas aí a diferença foi de 4 mil votos, um empate técnico de 50% a 50% praticamente, no Mato Grosso do Sul, 55 % a 45%, e em Roraima teve sua maior vitória, 61% a 39%, mas num colégio eleitoral de 173 mil eleitores. Os números estão arredondados. E o que estes números nos dizem? Que nos poucos estados em que Alckmin ganhou, ele ganhou por pouco (exceção de Roraima), e nos estados em que ele perdeu, em alguns ele perdeu por muito. E as pesquisas informam que o candidato vencedor, não foi apenas o candidato dos pouco instruídos. Ele teve votos em todas as faixas etárias, em todas as faixas de instrução, e em todas as faixas sociais.


Ou seja, pessoas com notável capacidade de análise, às vezes, se tornam incapazes de apreender a realidade à sua volta. A paixão cega...


Para saber mais:

Informações sobre a eleição no Tribunal Superior Eleitoral: http://agencia.tse.gov.br/

O texto do Prof. Hélio Jaguaribe (para assinantes da Folha de São Paulo): http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2710200608.htm

O texto de Gustavo Ioschpe (também para assinantes da Folha de São Paulo): http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc3110200607.htm






terça-feira, novembro 14, 2006

José Simão Recebe Votos de Final de Ano do PSDB...

E acabei de receber o cartão de natal dos tucanos: "Amor, Paz e Fraternidade. Esses são os votos do PSDB. O resto foi pro Lula". Rarará!


http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1411200603.htm

domingo, novembro 12, 2006

Sobre o Controle da Internet Proposto Pelo Senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG)

O senador Eduardo Azeredo propôs um projeto para "regulamentar" a Internet, e dar mais poder à justiça para punir crimes praticados pela via digital.
O problema é que o projeto proposto resultou tão invasivo quanto inviável. Por exemplo, o jornal Zero Hora, deste sábado, resume o que aconteceria se o projeto fosse aprovado:
  • Todo usuário teria de se cadastrar, e caberia ao provedor verificar a veracidade das informações;
  • O internauta precisaria fornecer nome completo, data de nascimento, número de identidade e endereço completo quando fizesse seu cadastro junto ao provedor;
  • Os provedores precisariam manter os registros das conexões, com identificação do usuário, endereço eletrônico, data, hora de início e de término da conexão, por três anos;
  • O provedor precisaria informar ao usuário, quando pedisse sua identificação, que a conexão obedece às leis brasileiras e que qualquer comunicação seria de sua responsabilidade;
  • O responsável pelo provedor poderia ser condenado a uma pena de dois a quatro anos de prisão, no caso de não identificar corretamente o usuário.

Fonte: Zero Hora - http://www.clicrbs.com.br/jornais/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&edition=6718&template=&start=1§ion=&source=a1342741.xml&channel=9&id=&titanterior=&content=&menu=23&themeid=§ionid=&suppid=&fromdate=&todate=&modovisual=

Ou, como diz o Sérgio Leo, em seu blog, será o fim do crime em nosso país:

Considerando que o aumento da criminalidade se beneficia da incapacidade da polícia em diferenciar cidadãos de bem dos marginais, nas ruas;

Considerando que a liberdade para as pessoas irem e virem anonimamente dificulta ainda mais o trabalho policial, e, portanto, abre portas ao crime;

Considerando que é precária a habilidade investigativa da polícia;

Decreta-se:

1)De hoje, em diante, antes de entrar em banco, trocar mensagens na rua,andar por vias de grande movimento ou freqüentar lugares onde outras pessoas possam portar valores, cada cidadão brasileiro estará obrigado a informar, à delegacia policial mais próxima, sua saída de casa e seu destino, e a portar uma tabuleta que permita à polícia acompanhar seu trajeto.

2)Os que quiserem reduzir o incômodo da comunicação diária poderão obter certificados em cartório, por preço módico.

3)Os pobres ou incapacitados de fazer a comunicação em tempo hábil ou de obter o certificado acima mencionado serão probidos de circular, a não ser em locais previamente determinados.

4)Essas regras não valerão para pessoas portando passaportes estrangeiros, ou vinculados a Embaixada de outro país.

Revogam-se as disposições em contrário, à exceção das que aumentem a burocracia no trânsito dos cidadãos, pelo bem da segurança.


Troque "embaixada" e "passaporte" por provedor, e é mais ou menos isso que certos esclerossauros pensam em fazer com a Internet brasileira, nesse momento, no Senado.

Cartas para o senador Eduardo Azeredo, o entusiasta dessa contribuição cibernética ao bestialógico nacional.

(Blog do Sérgio Leo: http://sergioleo.blogspot.com/2006/11/o-fim-do-crime-no-pas-por-que-no-se.html) .

Mas acho que a melhor cobertura para este projeto é do blog coletivo "Insanus", com os textos da "Nova Corja". Eles questionam se a real intenção do senador não é criar dificuldades para que literalmente alguém possa vender facilidades.
E com humor, lá pelas tantas eles informam que o ex-deputado José Dirceu era contra o projeto, a afirmam que o José Dirceu obviamente deveria ser contra, pois projeto tão disparatado deveria ser exclusividade do PT. Maldade dos rapazes da Nova Corja! :)

Confira: http://www.insanus.org/novacorja/


sexta-feira, novembro 10, 2006

Dinheiros e Dinheiros

Talvez eu esteja sendo paranóico, ou eu seja muito esquerdista, mas é difícil entender certas coisas.
O UOL informa em primeira página, que a Polícia Federal deve ouvir brevemente os tesoureiros das campanhas do PT, do presidente Lula à reeleição, e do senador Aloísio Mercadante ao governo de São Paulo (http://noticias.uol.com.br/ultnot/2006/11/10/ult1928u3321.jhtm), ainda sobre o 1,7 milhão de reais que seriam usados para comprar um dossiê contra José Serra.
Nenhuma palavra sobre os 500 mil encontrados com membros do comitê de campanha à reeleição do governo da Paraíba, do governador Cássio Cunha Lima, do PSDB.
Talvez seja porque o 1,7 milhão em São Paulo sejam mais que os 500 mil na Paraíba.
Talvez seja porque o caso dos petistas envolva membros do comitê de campanha de um candidato à presidência da república.
Quem sabe?

quarta-feira, novembro 08, 2006

Jânio de Freitas: Os Jornalistas e os Fanáticos - Folha de São Paulo, 07/11/2006

Identidade
As reações dos lulistas fanáticos, dirigidas a jornalistas, são integralmente iguais às dos fernandistas apaixonados. A diferença não está nesses militantes em relação às críticas ou ao tratamento dado às figuras do seu altar.
Está nos jornalistas, os que receberam as reações insultuosas de um lado, mas não as do outro; os que as receberam do outro, mas não do primeiro lado; e os que receberam ou recebem dos dois.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0711200605.htm

sábado, novembro 04, 2006

De Onde Veio Este Outro Dinheiro?

Neste blog, foi publicado, na segunda-feira, dia 30 de outubro, uma notícia sobre dinheiro apanhado com membros do comitê do candidato ao governo da Paraíba, pelo PSDB, Cássio Cunha Lima (http://aindaamoscaazul.blogspot.com/2006/10/alckmin-de-onde-veio-o-dinheiro.html ).
Pois o Correio da Paraíba afirma que o candidato derrotado, senador pelo PMDB, José Maranhão, ainda naõ reconheceu a derrota, e aguarda a investigação sobre a quantia, agora divulgada, de 500 mil reais, encontrada estes membros do comitê do candidato, junto com material de campanha. Segundo dados, do TRE-PB (http://agencia.tse.gov.br/), José Maranhão perdeu para Cássio Cunha Lima por menos de 53 mil votos, 1.003.102 a 950.269 para ser mais exato.
Como a primeira parte do dinheiro foi apreendida no dia 27 de outubro, são 8 dias que o governador Cássio Cunha Lima, ou o ex-candidato Geraldo Alckmin, não dizem de onde veio este outro dinheiro...

Mais notícias no saite do Correio da Paraíba: http://www.portalcorreio.com.br/capa/?p=noticias&id=21025 .






Disparidades

É curioso o tratamento distinto de dois fatos que aconteceram esta semana. Um dos fatos foi a intimação por parte da Polícia Federal a três jornalistas da revista Veja, para deporem em inquérito que investiga a "tentativa de abafar o caso da compra do dossiê", como a revista denunciou em sua edição de 18 de outubro de 2006. Os repórteres de Veja disseram que o delegado foi abusivo durante os depoimentos, e os privou de contato com o advogado que os acompanhou. Detalhe: havia uma procuradora da república acompnhando o depoimento, e não constatou abuso.
O outro fato foi a condenação em primeira instância do professor Emir Sader, pela justiça de São Paulo, por injúria contra o senador do PFL-SC, Jorge Bornhausen (ver "post" abaixo).
Não pude avaliar o noticiário de outros veículos. Como sou assinante do Universo Online, UOL, que pertence ao grupo Folha, e que têm o conteúdo "online" do jornal Folha de São Paulo, é interessante observar que a Folha de São Paulo, em sua edição de quinta-feira, dia 2 de novembro, deu uma notícia bastante frugal, digamos assim, da notícia da condenação do professor Sader. Um relato, sem comentários a mais, com citação de parte da sentença.
Mas havia, pelo menos cinco textos de denúncias e comentários sobre "abusos" cometidos pelo delegado que dirigiu o depoimento dado pelos jornalistas da Veja. Até deputados do PV e do PPS se manifestaram que o Congresso deveria acompanhar os desdobramentos do caso.
E, ainda, no dia 1o, quarta-feira, a mesma Folha de São Paulo, em editorial, invoca a hostilização de alguns repórteres por parte de militantes petistas, bem como, a tal "intimidação" dos repórteres da Veja durante seu depoimento. O editorial conclui com um "gran finale": "O que essas manifestações de hostilidade ameaçam é muito mais do que a imprensa: é o direito da sociedade de ter livre acesso à informação e à opinião. A pretexto da vitória legítima de Lula, tentam silenciar o jornalismo crítico."
No caso da Folha, este foi o noticiário "equilibrado", na seção Brasil.

Meu primeiro pensamento no caso foi "vão pentear macaco!". E a imprensa ainda se diz neutra e imparcial.

Emir Sader é Condenado por Injúria

O professor e sociólogo Emir Sader, foi condenado esta semana pelo juiz Rodrigo César Muller Valente, da 22a Vara Criminal de São Paulo. O juiz condenou o sociólogo por ele ter chamado o senador Jorge Bornhausen de "racista", uma vez que este teria dito em palestra na sede da Federação das Indústria de São Paulo - FIESP, que "iria ficar livre desta raça por, pelo menos, 30 anos". Ele foi condenado a um ano de prisão, convertido em prestação de serviços à comunidade, e perda da cátedra na Universidade Estadual do Rio de Janeiro - UERJ. O sociólogo ainda pode recorrer da sentença.
A notícia veio do blog do Marco Aurélio Weissheimer, o RS Urgente: http://rsurgente.zip.net/arch2006-10-29_2006-11-04.html . O mesmo Weissheimer pôde desenvolver mais o conteúdo na no saite da Agência Carta Maior: http://cartamaior.uol.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3386 . Há outro texto sobre o assunto também no saite da Agência Carta Maior: http://cartamaior.uol.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=12728&editoria_id=4 . O artigo original também foi publicado na Carta Maior: http://cartamaior.uol.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=2171 .

E neste endereço, ainda no saite da Carta Maior, há um manifesto de apoio ao Emir Sader: http://agenciacartamaior.uol.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=12736 . Estão lá manifestando sua solidariedade, entre outros, Fernando Morais, Juca Kfouri, Luis Fernando Veríssimo, Luis Pinguelli Rosa, Ricardo Boechat, Tom Zé, ...

Tutty Vasques: "Know How"

Lula aceitou o convite para ensinar Bush a ganhar eleições: “Você precisa arrumar um Alckmin por aí para enfrentar, meu caro.”
http://nominimo.ig.com.br/

quarta-feira, novembro 01, 2006

O Estadão, Quem Diria, Fez Uma Reportagem sobre o Lulinha

No meio da reportagem requentada da Veja, de 25 de outubro de 2006, e sua repercussão em membros da oposição no Congresso, vi em texto no Observatório da Imprensa que o Estado de São Paulo produziu uma reportagem sobre o filho do presidente, Fábio Luiz, e a empresa da qual é sócio, a Game Corp.
Para ver a notícia: http://www.estado.com.br/editorias/2006/10/22/pol-1.93.11.20061022.29.1.xml

O texto do Observatório da Imprensa: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=405JDB011

REVISTA VEJA, ALÉM DE MARROM, ROUBA CHARGES!

O "post" abaixo é do blog "Eu Quero Falar":


O desenho do Santiago foi impresso na revista Veja sem a sua autorização.
Vamos denunciar a prática ilegal da Veja para com este renomado artista gaúcho.

DENÚNCIA DO SANTIAGO

Dois dias antes da eleição (segundo turno) recebi um telefonema de um funcionário da redação da revista "Veja" pedindo autorização para usar meu desenho.
Respondi que não autorizava pois não concordava com a linha editorial da revista. Repeti que não gostaria de ver trabalho meu nesse momento histórico nas páginas dessa publicação.
Pois no sábado fui à banca, abri a revista e lá estava a minha charge publicada na página de apresentação da edição.

Mais do que usar um trabalho sem autorização "Veja" usou um trabalho que havia sido verbalmente DESAUTORIZADO pelo autor.

Um belo exemplo da arrogância da grande imprensa.

Santiago (desenhista de humor)


http://vera13.blogspot.com/2006/10/revista-veja-alm-de-marrom-rouba_31.html

Boris Fausto e o Governo Reeleito

BORIS FAUSTO

Presidente perdeu legitimidade


"A eleição de Lula, em 2002, foi recebida por seus eleitores com grande entusiasmo e a esperança de profundas mudanças socioeconômicas, muitas delas ilusórias. De qualquer modo, o clima era este. A eleição de 2006 representou uma preferência por Lula, mas sem despertar entusiasmo entre a massa de votantes e até na militância do PT. Ela votou, mas pouco participou da campanha. Mesmo no caso da oposição, o respeito pela figura de Lula e de seu partido, que existiu na primeira eleição, desapareceu na atual. Mantidas as coisas como estão, acredito que o governo tratará de seguir basicamente os rumos e os descaminhos atuais, com ajustes aqui e ali."


"É preciso esclarecer o que significa "terceiro turno". Golpe? Dado por quem? Nenhuma pessoa de responsabilidade na oposição está falando nisso. Quem lançou campanha golpista no passado foram alguns membros da cúpula do PT, entre eles o atual ministro Tarso Genro, e alguns intelectuais, que entoaram o "fora FHC". Isso não significa que acusações e escândalos, com a amplitude que têm, não devam ser investigados e julgados. Esses fatos e a opinião pública vão contribuir para um decréscimo da legitimidade do segundo mandato."


http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc3010200610.htm


JÂNIO DE FREITAS

Está aí


O historiador Boris Fausto nega propósitos de impeachment, por ação judicial, que foram objeto de artigos aqui, de Tereza Cruvinel em "O Globo" e de outras referências. É possível que a descrença, embora menos enfática e mais delicada, alcance outros leitores. Se posso ajudá-los, informo que o presidente da República e o ministro da Justiça até já apresentaram defesas escritas em processos que pretendem sua incriminação na compra do dossiê, crime eleitoral capaz de provocar impeachment. A iniciativa judicial é dos dirigentes da oposição.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc3110200603.htm

Veja, da Tentativa de Emparedamento ao Cinismo

Depois de várias semanas dando uma mãozinha para a oposição, a capa da revista Veja desta semana, 1º de novembro de 2006, vem com um subtítulo instigante: “Os desafios do presidente eleito para unir um país dividido e fazer o Brasil funcionar”. O que significaria isto para a revista?

O editorial (“Carta do Leitor”) começa com uma charge do Santiago, do Jornal do Comércio aqui de Porto Alegre. A charge mostra um leitor chegando a uma banca de revistas e pedindo “revista de sacanagem”. O jornaleiro pergunta “qual delas?”. O leitor informa “A Veja, aquela que só me sacaneia!”. E continua dizendo que a piada é, bem, uma piada, e que o tom crítico de Veja com o autal governo também existiu nos governos Collor e FHC. Tá bom.

E o editorial conclui dizendo que “Veja fiscaliza o poder (...) a partir de um ideário sólido(...). Dele constam a defesa da democracia, da livre-iniciativa, da liberdade de expressão e opinião.”

Aí, olhando as reportagens de capa, vamos ver o que dizem. Primeiro, com base mais nos resultados do primeiro turno, do que o resultado do segundo, Veja fala de dois brasis, e da necessidade de uní-los. E quais as opiniões que a revista vai buscar? “É preciso conjugar crescimento econômico com distribuição de riqueza” em citação do professor José Arthur Gianotti, numa frase contra a qual ninguém deveria se pronunciar. Mas convém lembrar que o professor Gianotti é dileto amigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e, senão tucano de carteirinha, simpatizante forte da sigla. A revista continua, a partir da citação “Para tanto, o país precisa trabalhar em duas direções. Primeiro tem que derrubar as barreiras contra o capitalismo, o único regime conhecido capaz de gerar riqueza – coisa que até a China percebeu. Em segundo lugar, como o capitalismo também produz desigualdade, o país precisa empenhar-se em distribuir a riqueza de modo a reduzir a desigualdade ao máximo.” E aí a revista continua citando o professor Gianotti: “O problema é que a eleição está mostrando que a maioria da população quer crescer em capitalismo. A maioria está querendo crescer à sombra do Estado, na base do jeitinho”. De novo: tá bom! E o grande arremate: “Estamos divididos entre os 'modernizadores', que estão dispostos a pagar um preço pelo capitalismo, e os 'conservadores pintados de vermelho', que querem estradas perfeitas mas sem pedágio, educação de bom nível mas sem controle de qualidade, e por aí vai”.

Na segunda reportagem, a revista fala de famílias brasileiras “que desejam preparar seus filhos para um mundo mais complexo e dar a eles uma educação livre de ranços ideológicos.” E continua “É preciso convencer (...) os brasileiros de que a construção de uma nação justa e moderna passa necessariamente pelo enxugamento do Estado, pelo investimento pesado em educação de base e pela constatação de que não existe governo capaz de salvar a pátria, pelo simples fato de que ele não produz riqueza.” Depois de falar do bolsa-família, a revista continua suas posições “Um país que se recusa a aderir à economia globalizada está condenado à pobreza e à insignificância. Infelizmente, o Brasil trilha este caminho, em razão de uma diplomacia marcada pelo anti-americanismo e por um certo terceiro-mundismo que atende apenas à satisfação de quistos esquerdistas entranhados no atual governo e no Itamaraty.” e cita o professor Roberto Romano, opositor de primeira hora do atual governo: “Para este governo, em nome da ideologia partidária, é possível até contrariar os interesses do país”. Então a revista condena as posições do atual governo com relação à ALCA – Área de Livre Comércio das Américas. E cita dados da Heritage Foundation, que o Brasil está em 81º lugar na categoria de “nações menos livres”. E citação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: “O risco para o Brasil é tornar-se irrelevante no plano da economia mundial, em razão desse fechamento, fruto de uma ideologia atrasada”. Pela terceira vez: tá bom! Não ocorreu aos editores da revista que o governo Lula tenha sido eleito justamente para evitar que o Brasil fizesse parte da ALCA nas condições em que elas estavam postas. Também não devem ter notado que o comércio exterior do Brasil cresceu no governo Lula, a despeito da ALCA.

Então, respondendo àquela primeira pergunta do primeiro parágrafo, o que siginificaria para a revista unir o país para o novo presidente? Simples, que o presidente uma o país diante da agenda que a revista Veja tem para o país: a defesa da democracia, da livre-iniciativa, da liberdade de expressão e opinião. Faltou dizer, a redução do Estado, a fim da educação superior pública e gratuita, e o alinhamento automático aos Estados Unidos na política externa.

Ou seja, a revista não entendeu o recado das urnas. Ou os editores tem pouco discernimento. Ou é má fé: não importa o que a eleição disse, importante são as idéias que eles preconizam.