quinta-feira, novembro 30, 2006

Fatos e Manchetes

Do blog do jornalista Luís Nassif.

Dos fatos e das manchetes - 2



Manchete da “Folha” de hoje: “Publicidade oficial ajuda a bancar a TV do filho de Lula”. No primeiro parágrafo da manchete a informações de que “a Gamecorp (...) divide com o Grupo Bandeirantes o faturamento obtido com verbas federais em anúncios na Play TV”.

Diluídas nas páginas internas as seguintes informações:

1. Todas as informações foram fornecidas pela própria Bandeirantes, no processo que move contra a Editora Abril. O juiz tirou o segredo de justiça, e o repórter pode consultar os autos e selecionar as informações a serem destacadas na matéria.

2. Internamente, pela matéria fica-se sabendo que contrato da Gamecorp com a Bandeirante prevê a divisão em 50% de toda a publicidade arrecadada. Não há uma cláusula especial para publicidade de órgãos públicos, conforme sugere o texto destacado da primeira página. Internamente, artigo de Daniel Castro, o crítico da TV da "Folha", informa que esse tipo de contrato é comum no mercado.

3. O infográfico mostra que a PlayTV deverá faturar R$ 5,2 milhões em 2006, e que o Banco do Brasil e a Caixa estao entre os maiores anunciantes (provavelmente estão entre os maiores de qualquer emissora ou editora). Quando se entra nos valores (perdidos no meio do texto), fica-se sabendo que, em 2006, as verbas federais para o PlayTv foram de R$ 597 mil, ou 11% do faturamento previsto, e 68% inferiores à publicidade oficial em 2005, ano em que a Gamecorp ainda não participava do faturamento do Canal 21.

4. Na defesa, feita pelo advogado Walter Ceneviva, fica claro que a PlayTV concorre diretamente com a MTV, da Editora Abril, que iniciou a campanha contra a Gamecorp.

5. A matéria envereda, assim como a “Veja”, em ilações sobre anunciantes privados. A intenção da "Veja" é intimidar esses anunciantes privados com o tom de escândalo conferido às matérias, sufocando a empresa por vias indiretas. A "Folha" acaba embarcando nisso, embora não seja de seu feitio.

6. Ao contrário da “Veja”, historicamente a “Folha” fornece todas as informações. Só que, ao se juntar todas as peças, não se encontra o todo anunciado na primeira página.

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