quarta-feira, maio 28, 2008

Grau de Investimento

Grau de investimento

A PROMOÇÃO da economia brasileira, do mais elevado "rating" da agência Standard & Poor's entre as classificadas como aplicações "especulativas" para o mais baixo "rating" das classificadas como aplicações de "investimento", era esperada havia algum tempo. O Brasil inicia uma caminhada que, se não ocorrer uma tragédia, acabará no último degrau da virtude, que é o "rating" AAA.
Para atingi-lo faltam-nos, entretanto, nove promoções! O avanço suscitou risível fogueira de vaidades pela disputa reivindicatória da sua paternidade. Pode-se procurar muitas causas para o fato. O que parece evidente, entretanto, é que a mudança que agora motivou a decisão da agência foi a recuperação do nosso crescimento entre 2004 e 2007, como se vê na tabela abaixo, onde se registra o crescimento do PIB real de Brasil, Índia e China.

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Apenas como "memória", registramos o crescimento dos mesmos países no período 1971-80, quando a primeira crise do petróleo destruiu o equilíbrio interno e externo de todos os emergentes que dependiam fortemente da sua importação. É bom lembrar, também, que o Brasil foi o primeiro deles a restabelecer o equilíbrio externo (1984), com uma imensa desvalorização cambial e uma profunda recessão.
Infelizmente, a nossa dívida só foi renegociada em 1994, o que atrasou o aproveitamento daquele fato.
A verdade é que nunca deixamos de melhorar nossas instituições com a inteligente superação do regime autoritário e sua consolidação na Constituição de 1988. Quando olhamos para a China (que a S&P classifica como o "rating" A) e para a Índia (que já tem há algum tempo o nosso mesmo "rating" BBB-), não podemos deixar de reconhecer algumas vantagens. Temos autonomia energética e alimentar (que elas não têm) e temos um regime político aberto (a Índia também). Não temos os problemas lingüísticos étnicos, religiosos e de fronteiras que praguejam aqueles sociedades. Já estamos urbanizados e temos uma densidade demográfica razoável.
Mesmo em matéria de inflação, levamos hoje uma pequena vantagem, com a chinesa andando às voltas de 9%, a indiana, em torno de 6% e a nossa, em 5%.
Isso mostra que devemos nos alegrar, mas não levar muito a sério o carimbo das agências de "ratings", porque elas não têm quem lhes dê o seu "rating". Temos crescido pouco por culpa e obra dos governos que deixaram de pensar o Brasil 25 anos à frente!

Texto de Antonio Delfim Netto, na Folha de São Paulo, de 21 de maio de 2008.

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2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Gostei do artigo, não sei se gostei mais porque estava achando que era teu. Apesar da decepção ao final, um grande abraço!

4:31 PM  
Blogger José Elesbán said...

Valeu a visita, Diehl.

3:13 AM  

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