segunda-feira, maio 26, 2008

Colômbia XI

Colômbia perde arquivo eletrônico de paramilitares

Sumiço suspeito contrasta com caso de laptops das Farc

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

O desaparecimento dentro de presídios de um computador, arquivos de memória e chips de celulares pertencentes a ex-líderes paramilitares vem provocando críticas ao governo do presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, e comparações com o caso dos laptops do número dois das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), Raúl Reyes.
Até ontem, não haviam sido encontrados o computador de Salvatore Mancuso, principal líder das AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia), além de discos rígidos e chips de celulares de outros paramilitares extraditados para os EUA na semana passada. A parafernália eletrônica era mantida nas celas onde eles estavam.
"Não é muito paradoxal que os computadores das Farc sobrevivam aos bombardeios [ao acampamento de Reyes, em 1º de março] e os dos narcoparamilitares não sobrevivam ao Inpec [Instituto Nacional Penitenciário e Carcerário da Colômbia]?", questiona Cláudia Lopez, uma das principais especialistas em "parapolítica" e articulista do "El Tiempo".
O próprio jornal, geralmente pró-governo, ironizou o fato de os dirigentes das AUC terem direito a todo esse material ao mesmo tempo em que Uribe justificou a extradição alegando que eles continuavam organizando delitos do presídio.
"Dotados de telefones e conexão à internet, graças à autorização oficial no marco da Lei de Justiça e Paz, os chefes paramilitares podiam se comunicar tranqüilamente com Raimundo e todo o mundo do presídio. Não surpreende que continuassem delinqüindo", diz o editorial de ontem.
Sob críticas, o ministro do Interior, Carlos Holguín, assegurou que já foram identificadas as pessoas que levaram o material de informática. Ele disse que, se necessário, submeterá o material à análise da Interpol, assim como foi feito com os documentos dos computadores de Reyes, morto em março.
Segundo Holguín, dos 12 computadores pertencentes aos ex-líderes, 10 estão em poder da Procuradoria Geral.
Para analistas e a oposição, a extradição dos 14 ex-chefes paramilitares dificultará as investigações sobre seus vínculos com políticos, que já levaram 33 parlamentares à prisão.

Texto da Folha de São Paulo, em 21 de maio de 2008.

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