quinta-feira, janeiro 29, 2009

Cerco à OEA

Cerco à OEA se delineia há tempos

NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

A OEA (Organização dos Estados Americanos) naufraga num mar de alternativas regionais cujo acento maior é a exclusão dos EUA. É o caso da proposta de uma nova organização de países da América Latina e do Caribe, que se junta a outras iniciativas do mesmo teor, como o Grupo do Rio e a Unasul.
Washington já fora avisada por instituições acadêmicas americanas de que a OEA corre o risco de perder vigência.
Seria a quebra do mais importante elo da cadeia de ações coletivas envolvendo América Latina e EUA, com predominância histórica dos americanos. A OEA chegou a ser chamada de ministério das colônias dos EUA.
O primeiro golpe foi dado com o Grupo do Rio, inspirado no fracassado Grupo de Contadora. Em 1984, países latino-americanos se reuniram na ilha panamenha de Contadora para encontrar soluções para a guerra na América Central, que se tornara sangrenta com aberta intervenção americana.
Uma OEA sem os EUA? Contadora chegou a concluir um texto de proposta de paz. Mas sofreu operação de bloqueio conduzido por Constantine Menge, na época o encarregado da América Latina no Conselho de Segurança Nacional dos EUA.
A revista "Current History" divulgou documentos que estabeleciam como "estratégia do governo Reagan" impedir negociações de paz na América Central.
O único que importava era derrubar os sandinistas na Nicarágua e com isso, na visão reaganiana, traçar uma "linha de contenção do comunismo em território americano". Deu no escândalo de contrabando de armas para o Irã e num quase impeachment de Reagan.
O Grupo do Rio procura resgatar o espírito de Contadora. Ou buscar soluções latino-americanas para problemas da América Latina. Cuba formalizou seu ingresso na cúpula na Bahia, o que marca mais distância da OEA.
Bush ainda tentou resgatar algo dessas relações empoeiradas em benefício próprio, com o seu "Pathways for Prosperity", um discurso sobre os caminhos para a prosperidade. Foi lançado em setembro ante representações de alto nível de apenas 11 países latino-americanos, nem todos presidentes. Em pouco tempo não se falava mais nisso.

Texto da Folha de São Paulo, de 18 de dezembro de 2008.

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