domingo, janeiro 25, 2009

Israel contra a população de Gaza

População de Gaza questiona ataques contra alvos civis

DO "NEW YORK TIMES"

Os moradores de Gaza estão atordoados com uma pergunta: por que Israel bombardeou e atacou instituições civis?
Em rodas de almoço e mesas de café, as pessoas enumeram os alvos: o Ministério da Justiça, o Parlamento, a delegacia central de polícia, o quartel do corpo de bombeiros, a Universidade Islâmica de Gaza.
Israel argumenta que essas instituições levantam fundos e fornecem funcionários ao Hamas, que considera uma organização terrorista, e por isso se tornam alvos legítimos.
Mas prevalece em Gaza a impressão de que os ataques, que deixaram enormes crateras nas ruas e montanhas de escombros, visava a sociedade.
"A guerra não foi contra o Hamas. Foi contra mim, minha loja e cidade", diz o comerciante Rahmi el Kheldi. "O objetivo era semear o caos para desorganizar a sociedade", afirma.
Muhammed Baroud, estudante de medicina na universidade, encara o bombardeio do laboratório de ciência como um ataque contra seu futuro. A faculdade é uma das mais conceituadas do Oriente Médio e seus diplomas são reconhecidos em Israel.
A questão da legitimidade dos alvos é complexa.
Com base em relatórios de inteligência, Israel diz que os laboratórios eram usados como centro de desenvolvimento dos mísseis artesanais Qassam disparados pelo Hamas e que muitos funcionários da universidade estavam envolvidos.
Pessoas ouvidas na universidade negam as acusações e dizem que a instituição é um condensado da sociedade de Gaza, com gente contrária e favorável ao Hamas. Fahkr Abu Awad, professor de química, ressalta que apoiar o Hamas não significa participar de suas atividades militares.
A discussão remete à própria natureza do grupo islâmico. Moradores podem manter vários tipos de relação com o Hamas, da simpatia à vontade de carregar cinturão-bomba.
Mas algumas profissões civis acabam ficando numa espécie de zona cinzenta. Israel considera os policiais de Gaza, agentes uniformizados de um Estado comandado pelo Hamas, como alvo legítimo.
Discorda Abu Aymad, veterano policial de 52 anos que trabalha em Gaza desde 1994, muito antes de o Hamas assumir o território.
"Somos uma instituição civil que serve ao povo, não aos partidos", diz o agente, apontando para o cigarro na boca como prova de que não é radical.
Kheldi, o comerciante, vê por trás da ofensiva a vontade de atacar a identidade palestina e afirma que, em vez de enfraquecer o Hamas, tornará a população mais defensiva.
"Hoje quando vejo um foguete sendo disparado de Gaza, torço para que atinja um ônibus. Não porque eu queira ver crianças mortas, mas porque os israelenses mataram tantas por aqui."

Texto publicado na Folha de São Paulo, de 21 de janeiro de 2009.

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