domingo, janeiro 25, 2009

Suprema Corte de Israel descarta supressão de partidos árabes em Israel - II

Decisão foi política, diz advogada

SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL

A decisão da Suprema Corte israelense de reverter o banimento dos dois partidos árabes reflete a preocupação de não manchar ainda mais a imagem global de Israel após a ofensiva em Gaza, segundo Aber Baker, advogada da ONG árabe-israelense Adalah, autora do recurso. Em entrevista à Folha por telefone, ela disse que os cidadãos "devem lealdade ao Estado, não à religião".

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FOLHA - Como os advogados conseguiram reverter a decisão na Suprema Corte?
ABER BAKER
- A Corte Suprema não detalhou a decisão. Disse apenas que aceitou os recursos que apresentamos.

FOLHA - A decisão pode ser vista como prova de que a Suprema Corte é independente das disputas políticas e eleitoreiras?
BAKER
- A independência da Suprema Corte é limitada. No fundo, foi uma decisão política. Os juízes são inteligentes o bastante para saber que a reputação de Israel já está manchada com os ataques contra Gaza, e que é bom evitar piorar as coisas. Mesmo sem detalhes jurídicos, sabemos que a Suprema Corte avaliou que não havia provas suficientes de que os partidos árabes eram contrários ao caráter judaico do Estado de Israel. Mas, e se ela tivesse julgado que havia provas disso? É esta a questão central. Como cidadãos, devemos lealdade ao Estado, não à religião.

FOLHA - Como a opinião pública israelense, tão favorável aos ataques em Gaza, enxergava a ideia de banir os partidos árabes?
BAKER
- A moção foi apresentada em meio a fortes tensões internas. Pelo menos 700 pessoas foram presas em protestos contra a ofensiva em Gaza. Mesmo assim, a decisão de banir os partidos foi rejeitada por muita gente, incluindo imprensa e acadêmicos. Boa parte das pessoas que apoiaram os ataques era contrária ao banimento dos partidos árabes. Há duas explicações. A primeira é que os israelenses não querem parecer ser contra os árabes. A segunda é que o sujeito que apresentou a moção, Avigdor Lieberman, é visto como um racista perigoso. Este episódio evidenciou a verdadeira cara dos trabalhistas, que apoiaram o banimento. Mesmo sabendo que ele seria vetada na Suprema Corte, eles quiseram mostrar sua opinião sobre os árabes.

FOLHA - Há quem diga que os árabes israelenses são ingratos em relação a Israel, o país mais livre e democrático da região.
BAKER
- Não escolhemos estar em Israel e estávamos aqui havia gerações. Deveríamos ser gratos pelo quê? Mesmo que sejamos cidadãos com direitos, não estamos felizes com esse regime, com a pobreza, com o desemprego e com as prisões. Lamentamos pela situação dos cidadãos de países árabes, com quem compartilhamos muito coisa. Falo a mesma língua e tenho a mesma cultura que os meus parentes na Síria e nada em comum com meus vizinhos israelenses judeus.

Da Folha de São Paulo, de 22 de janeiro de 2009.

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