quinta-feira, maio 29, 2008

Unasul

Em Brasília, os países sul-americanos dão um passo rumo à integração regional

Jean-Pierre Langellier
No Rio de Janeiro


Um novo organismo regional nasceu na América Latina. Os dirigentes de doze países que, juntos, representam 380 milhões de habitantes, assinaram na sexta-feira (23), em Brasília, o tratado que cria a União das Nações Sul-Americanas (Unasul), estão seguindo o exemplo da União Européia. Este fórum de diálogo político reúne Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela.

A implantação da Unasul foi concretizada, sobretudo, por obra do Brasil. Ela caracteriza, na visão brasileira, um novo passo rumo à integração regional da qual o país desponta, em função do seu peso demográfico e da sua potência econômica, como o principal beneficiário. Para desempenhar o papel em nível mundial ao qual ele aspira, o Brasil precisa de estabilidade em seu continente. E ele não faz mistério disso, sem dar mostras de qualquer inquietação nem exibir qualquer arrogância.

Na visão dos seus idealizadores brasileiros, a Unasul deverá ser um organismo maleável, um foro para consultas que poderão ser efetuadas de maneira permanente, além de uma instância que sirva como "primeiro recurso" para permitir a prevenção dos conflitos. Assim, na medida do possível, esta entidade terá por missão evitar que seja acionada, em caso de conflito, a Organização dos Estados Americanos (OEA), da qual fazem parte os Estados Unidos. O Brasil considera mais desejável que os doze países da América do Sul solucionem entre si os problemas do seu subcontinente.

É por estas razões que Brasília também está trabalhando na criação de um Conselho de Defesa sul-americano. Longe de ser uma mini-OTAN local (organização do Tratado do Atlântico Norte, integrada pelos Estados Unidos e vários países europeus, voltada para assuntos de defesa e cooperação militar), este conselho não selaria nenhuma aliança militar. Ele seria essencialmente "um órgão de articulação" das políticas de defesa entre os doze países. Contudo, este outro projeto brasileiro não desfruta de um consenso regional. O Uruguai, e, sobretudo, a Colômbia, que firmou uma aliança estreita com os Estados Unidos, se opõem à sua realização.

Presidida por Michelle Bachelet
Bogotá, que recusou a oferta de Brasília, considerou que seria "imprudente" presidir a Unasul, alegando as suas "dificuldades" atuais com o Equador e a Venezuela. A presidente chilena, Michelle Bachelet, por sua vez, aceitou assumir a sua presidência. Ela conclamou os seus homólogos sul-americanos a "concentrarem seus esforços na busca de consenso" e a empregarem "toda a energia possível para que a união possa ser implementada".

A Unasul realizará uma reunião anual com os chefes de Estado. No longo prazo, a União será dotada de um Parlamento. Contudo, o caráter heterogêneo das ideologias que norteiam os governos do subcontinente constituirá a principal dificuldade que a Unasul terá de enfrentar. Os países da esquerda radical - Bolívia, Equador e Venezuela - estimam que "falta audácia" na concepção do tratado. O presidente venezuelano, Hugo Chávez, defende a idéia de uma "OTAN da América do Sul", uma aliança militar que estaria dirigida contra "o inimigo número um, o império dos Estados Unidos", conforme ele repetiu em seu discurso na sexta-feira. Com isso, não foi por acaso se a Bolívia e a Venezuela anunciaram no mesmo dia terem concluído um novo tratado bilateral de cooperação militar.

Tradução: Jean-Yves de Neufville

Texto do Le Monde, no UOL.

Marcadores: ,