Unasul II
BRASÍLIA - Enquanto setores do Primeiro Mundo assumem desavergonhadamente que cobiçam a Amazônia, o Brasil se une aos vizinhos da América do Sul na Unasul. Um movimento é de ataque, e o outro, de defesa. Logo, legítimo.
Como se seguissem um padrão -ou seria patrão?-, os governos sul-americanos caminharam juntos em aventuras populistas, ditaduras militares, ondas neoliberais, mas seus povos desconheciam-se uns aos outros. Mal se liam, não se visitavam e até hoje é mais fácil voar do Amazonas, do Ceará, da Bahia ou de qualquer outro Estado para a Europa ou para os EUA do que para Venezuela, Colômbia, Bolívia.
O Brasil é uma ilha de língua portuguesa num oceano de língua hispânica, mas, geração após geração, as elites brasileiras estudaram francês, inglês e até latim, suspiraram em Paris e deslumbraram-se nos shows da Broadway, sem saber qual é e onde é a capital do Peru.
O que o brasileiro sabia da Venezuela quando estourou o fenômeno Chávez? Nada.
Com esse grau de distanciamento, os países e suas riquezas, amazônicas ou não, são alvos fáceis. Daí, a Unasul tem tudo a ver. Não se esperem resultados "concretos" rapidamente, muito menos moeda única, banco central válido para todos e um conselho de segurança comum da noite para o dia, como Lula dá a entender, do alto de seu otimismo embalado a índices estonteantes de popularidade. Olhe-se o processo. A Unasul é uma manifestação política, uma busca de identidade e de união. E sem alternativa.
Os destinos dos países sul-americanos -assim como suas crises- estão intrincados uns nos outros.
Especialmente num mundo dito globalizado, cada vez mais formatado em grandes e desafiantes blocos.
Quem perder esse trem não vai poder chorar as pitangas e as jabuticabas quando, e se, o fantasma da internacionalização da Amazônia tentar se materializar.
Texto de Eliane Castanhede (Eliane Castanhede?) na Folha de São Paulo, de 27 de maio de 2008.
Marcadores: América do Sul, Unasul
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