Colômbia discute a necessidade de criação de acordo humanitário entre Farc e governo
Colômbia discute a necessidade de criação de acordo humanitário entre Farc e governo
A libertação de Pablo Emilio Moncayo, mantido refém pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) durante 12 anos, colocou mais uma vez o tema do intercâmbio humanitário no centro do debate político colombiano.
“Caminhar significa avançar, e assim, vamos seguir caminhando até que se chegue a um acordo humanitário”, foram as primeiras palavras do professor Gustavo Moncayo, enquanto o helicóptero Cougar da Força Aérea do Brasil trazia seu filho de volta. O cabo do Exército, sequestrado em dezembro de 1991, foi solto por meio de um acordo unilateral promovido pelo grupo não-governamental Colombianas e Colombianos pela Paz, liderado pela senadora Piedad Córdoba.
No entanto, esta foi a última libertação feita dessa forma pelas Farc, que exigem que daqui em diante prisioneiros da guerrilha sejam entregues em troca de reféns. A necessidade do estabelecimento de um acordo humanitário – impossibilitado ao longo dos anos por divergências do lado do governo e do grupo – se faz necessária. Ainda restam 21 militares e um número desconhecido de civis em cativeiro.
Desde o primeiro mandato, o presidente Álvaro Uribe se disse disposto a trocar reféns por guerrilheiros encarcerados, porém, com duas condições principais: os libertados não poderiam voltar à luta armada e nenhum acordo humanitário pode ser feito por meio da desmilitarização de uma zona do país.
Este último ponto contrasta com a posição dos guerrilheiros, que sempre pediram a desmilitarização dos municípios de Pradera e Florida, além da libertação de membros extraditados, como Simón Trinidad e Anayibe Rojas Valderrama, codinome “Sonia”, que cumprem penas nos Estados Unidos.
“O governo não se opõem ao acordo humanitário, sempre e quando não vise devolver delinquentes às Farc. Um acordo tem como condição que os integrantes das Farc que saiam da cadeia não voltem ao crime”, afirmou Uribe essa semana.
Alguns analistas colombianos enxergam nas palavras do presidente o desejo de concluir seu mandato com uma grande libertação de reféns. No entanto, para outros, a condição acima exposta pelo presidente não é nova. O que há de diferente é a conjuntura.
De acordo com Leon Valencia, analista político do think tank Nuevo Arco Iris, existem vários fatores que favorecem a aproximação entre as Farc e o governo e que “eventualmente poderiam desembocar em um acordo humanitário e até em uma negociação para alcançar a paz”.
O analista reconhece que a atual administração está chegando ao fim e não poderia ser acusada de estar fazendo campanha política ou de ser tolerante com o terrorismo.
A pressão internacional é outro fator importante, pois o conflito colombiano afeta países vizinhos e os custos da guerra se tornaram insustentáveis, frente aos cortes feitos no Plano Colômbia pelos EUA. “É preciso ser realista, não é possível continuar gastando tanto dinheiro, mais de 6% do PIB, em defesa, deve-se buscar saídas práticas”, disse.
Voz civil
A sociedade civil colombiana, por sua vez, se emociona com o drama dos sequestrados, ainda mais pelo envolvimento de personagens famosos, como a ex-senadora Ingrid Betancourt, mantida em cativeiro durante seis anos. Com isso, o apoio ao acordo humanitário é grande.
“Alguém sabe quantos acordos humanitários foram feitos entre Israel e Palestina? E isso que são povos que se odeiam, por múltiplos motivos religiosos e políticos. Na selva, quando se está acorrentado e escuta-se que há pontos imutáveis, pensa-se que imutável é a árvore à qual se está preso”, disse o ex-governador do estado de Meta, Alan Jara, sequestrado por oito anos e integrante do Colombianas e Colombianos Pela Paz.
A organização, um coletivo de acadêmicos, organizações pela defesa dos direitos humanos, movimentos sociais e intelectuais de diferentes ideologias, propõe a reunião de governo e guerrilha para dialogar e buscar uma saída negociada para o conflito colombiano
Porém, o trabalho nem sempre foi visto com bons olhos. A líder do grupo, a senadora Córdoba, chegou a ser atacada e insultada frente às suspeitas de que seria próxima demais da guerrilha. Em janeiro de 2008, um grupo de passageiros a atacou verbalmente e fisicamente em um aeroporto de Bogotá.
Este texto é originário do Operamundi.
Marcadores: Colômbia, FARC, guerra civil, guerrilha
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