Hoje na História: General de Bollardière protesta contra a tortura na Argélia
Hoje na História: General de Bollardière protesta contra a tortura na Argélia
Por protestar contra a tortura na Argélia, o general Jacques Pâris de Bollardière pede, em 28 de março de 1957, para ser substituído em seu comando. Um pouco mais tarde o secretário-geral da Polícia na Argélia, Paul Teitgen, faz o mesmo, chocado com a utilização da tortura pelos pára-quedistas do general e pelos numerosos ‘desaparecimentos’ constatados.
A Argélia, à época um departamento francês, estava às voltas com uma sublevação armada conduzida por organizações independentistas. Para o governo francês, a guerra “era apenas uma operação para a manutenção da ordem”. Após a humilhante derrota na Indochina em 1954 diante das forças de Ho Chi Minh e Nguyen van Giap, estava fora de questão para o exército francês ser novamente derrotado.
A Argélia, com uma população razoavelmente alentada, ao contrário do restante do império colonial francês, apresentava-se como um problema bem mais espinhoso que uma clássica guerra de descolonização. A violência do conflito que só terminaria em 1962, encontrou ali raízes profundas. Massacres e torturas, dos dois lados, de uma guerra cujo nome os contendores buscavam evitar, iriam marcar a memória das duas costas do Mediterrâneo.
Por volta de 1957, a máxima autoridade militar na Argélia, o célebre general Jacques Massú autorizou o assassinato do dirigente da Frente de Libertação Nacional, Larbi Ben M'Hidi. O líder rebelde argelino havia sido capturado e sua eliminação física foi largamente discutida no alto comando. Massú chegou à conclusão que um processo judicial contra Ben M'Hidi não era desejável, pois implicaria repercussões internacionais. Isolaram o prisioneiro numa cela e com o apoio de alguns carcereiros o enforcaram de maneira a parecer que havia se suicidado.
Denúncia de Bollardière
Como os “procedimentos” de tortura e desaparecimentos prosseguissem, Bollardière escreve em 1957, uma carta ao diretor da revista L’Express, Jean-Jacques Servan-Schreiber. Na altura, Servan-Schreiber estava sendo acusado pela alta oficialidade de golpear a moral das tropas francesas na Argélia depois de ter publicado uma série de artigos em que denunciava abertamente a atitude do governo sobre a questão.
A carta de Bollardière é publicada desata um vespeiro, mas o governo acorre para abafá-la, até que Pierre Vidal-Naquet decide romper o silêncio com um livro histórico que relata cruamente os métodos de Massú e o sistema de tortura. A publicação, imediatamente proibida, só viria à luz uma década depois.
Contexto
A discussão da entrada da tortura nos quartéis do exército francês começou depois do início da ofensiva de Massú. O general Bollardière, tenente na Legião Estrangeira, maquisard nas Ardenas, páraquedista na Indochina e comandante na região dos montes Atlas na Argélia, resolveu enfrentá-lo. Bollardière o acusou de perseguir uma vitória que levaria “a mais desesperadora das derrotas, aquela do homem que renuncia a sua humanidade”. Deixou o gabinete de Massú dizendo “eu desprezo tuas ações”. Renunciou ao comando, voltou a Paris e prosseguiu nos ataques.
A hierarquia sinalizou solidariedade a Massú, aceitou a demissão de Bollardière e respaldou Massú quando condenou seu rival a dois meses de prisão numa fortaleza.
Em maio de 1958, as tropas francesas na Argélia davam um golpe de Estado e depuseram a administração civil da colônia. Duas semanas depois, Charles de Gaulle retornava à chefia do Estado e do governo. Era o fim da IV República. Levado de volta ao poder na ponta das baionetas, surpreende ao pronunciar a palavra maldita para os militares: autodeterminação. A isto, Massú respondeu: “Nossa maior decepção foi verificar que o general De Gaulle se tornou um homem de esquerda.”
De Gaulle achava que era preciso restabelecer incontinente a hierarquia e a disciplina. A batalha de Argel havia sido ganha. Mas a guerra que fazia sangrar a unidade interna e o prestígio internacional da França estava perdida.
*Com informações de letralibres.com e de Elio Gaspari em As Ilusões Armadas
Texto originário do Operamundi.
Marcadores: Argélia, colonialismo, França, história
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