Arquivos do CIE
Documento oficial detalha morte na ditadura
Informe do Exército confirma que Jonas, que comandou sequestro do embaixador americano em 1969, foi morto pelo Exército
Criméia Almeida afirma que esquerda sempre disse que Jonas foi assassinado nas mãos do Estado: "Queremos os seus restos mortais"
DA REPORTAGEM LOCAL
A ex-militante da guerrilha do Araguaia Criméia Alice Schmidt de Almeida, ativista de direitos humanos e representante da comissão dos familiares de mortos e desaparecidos na ditadura, disse ontem que a revelação de documentos sobre o sequestro do embaixador norte-americano em 1969 reafirma "a necessidade de o governo abrir seus arquivos".
De acordo com reportagem do jornal "O Globo", informe confidencial do CIE (Centro de Informações do Exército) produzido há 40 anos revelou que Virgílio Gomes da Silva, codinome Jonas, morreu após ter recebido ferimentos quando já estava em poder do Exército.
Jonas é considerado o comandante do sequestro do então embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick, que durou de 4 a 7 de setembro de 1969. Elbrick foi entregue ileso, após a ditadura libertar 15 presos políticos -entre eles José Dirceu e Vladimir Palmeira.
Datado de 9 de outubro de 1969, o informe revela que Jonas foi preso em 29 de setembro: "Virgílio Gomes da Silva, vulgo Jonas, vulgo Borges, reagiu violentamente desde o momento de sua prisão, vindo a falecer em consequência dos ferimentos recebidos, antes mesmo de prestar declarações".
Segundo relata o historiador Jacob Gorender ("Combate nas Trevas"), após uma sessão no pau-de-arara, Virgílio entrou em luta com os torturadores da Oban e foi morto a pontapés. De acordo com Elio Gaspari ("A Ditadura Escancarada"), Virgílio foi "o primeiro preso a sumir após a edição do AI-5. A partir dele alterou-se no léxico do idioma a palavra desaparecido".
"Sempre dissemos que ele tinha sido assassinado nas mãos do Estado. Agora está provado. Queremos os seus restos mortais", disse Criméia: "O Estado tem abrir seus arquivos mais secretos, como os do CIE".
Notícia da Folha de São Paulo, de 1º. de setembro de 2009.
Marcadores: arquivos da ditadura, Brasil, CIE, CIEX, exército, história, historiadores, patrimônio histórico
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