domingo, setembro 13, 2009

11 de setembro marcou apogeu da Al-Qaeda

O 11 de setembro de 2001 marcou o apogeu da rede de Osama Bin Laden

Rémy Ourdan

Teriam os ataques do 11 de setembro, oito anos atrás, marcado o apogeu da Al-Qaeda? A proeza da Al-Qaeda, organização jihadista clandestina que não tem o apoio de nenhum país desde a queda do Taleban afegão em novembro de 2001, é paradoxal.

Seu líder, Osama Bin Laden, não conseguiu enviar outro comando fora das bases da Al-Qaeda no Waziristão paquistanês para repetir um ataque tão impressionante e mortífero quanto o que atingiu Nova York e Washington em 2001. Entretanto, as ideias da Al-Qaeda ganharam adeptos, e milhares de combatentes entraram em jihad. Muitos morreram, outros ainda estão lutando, e o mundo está longe de estar protegido desses jihadistas absolutistas que sonham com um califado mundial.

A proeza e o futuro da Al-Qaeda estão, na verdade, totalmente ligados à resposta dada pelos seus inimigos, com os Estados Unidos à frente. Uma resposta estranha, até esquizofrênica. Enquanto desde o fim de 2001 a Al-Qaeda reconstitui suas bases no Waziristão, o esforço de guerra foi levado ao Afeganistão, e depois ao Iraque. Essas aventuras militares em países onde a Al-Qaeda havia sido eliminada (Afeganistão) ou não existia (Iraque) criaram mais jihadistas do que suprimiram.

Em compensação, a luta antiterrorista clássica até foi bem-sucedida. Os jihadistas do grupo responsável pelo 11 de setembro foram mortos ou presos. Apesar do sucesso de alguns comandos inspirados pela Al-Qaeda, como o 11 de março de 2004 em Madrid, ou o 11 de julho de 2005 em Londres, os países ocidentais conseguiram se proteger. Complôs foram frustrados. Ainda que nenhum país possa se declarar protegido de um atentado, o paciente trabalho dos serviços de inteligência e das polícias traz seus resultados.

Para sustentar e avançar suas ideias, a direção central da Al-Qaeda decidiu conceder seu "rótulo" a outros movimentos islâmicos armados. Após o fracasso da Al-Qaeda no país dos Dois Lugares Santos (Arábia Saudita), que nunca conseguiu realmente se instalar na pátria de origem de Bin Laden, dois grupos "franqueados" tiveram mais sucesso.

O primeiro, Tawhid wal-Jihad (Unificação e Guerra Santa), comandado pelo jihadista jordaniano Abu Musab al-Zarqawi, teve uma incrível expansão depois de se tornar Al-Qaeda no país dos Dois Rios (Iraque). Após ter assassinado em 2003 o chefe da ONU em Bagdá, Sérgio Vieira de Mello, o grupo de Zarqawi se tornou, com os atentados e os sequestros, o principal inimigo do governo iraquiano xiita e de seus aliados americanos. Ele conseguiu por um tempo controlar o coração da guerrilha sunita, em Faluja.

Foi somente após a morte de Zarqawi, em 2006, e a chegada do general americano David Petraeus a Bagdá, em 2007, que a Al-Qaeda no país dos Dois Rios perdeu sua influência, com os Estados Unidos organizando a volta da guerrilha sunita contra os jihadistas estrangeiros.

O segundo, o Grupo Salafista para a Pregação e o Combate (GSPC), comandado pelo islâmico argelino Abdelmalek Drukdal, encontrou uma capacidade de ação após se tornar Al-Qaeda no Magrebe Islâmico. Em contato com a Al-Qaeda por meio de Zarqawi, Drukdal sonhava se tornar "emir" [governante] da Al-Qaeda para o Magrebe e para o Saara. Ele conseguiu atingir o coração de Argel. Seus problemas eram basicamente o pequeno número de combatentes do qual dispunha, e o fato de que ele não conseguiu atingir o alvo principal designado pelos chefes da Al-Qaeda: a França.

Fora do Waziristão, a Al-Qaeda não tem territórios sob seu controle. Bin Laden e seu assistente, o ideólogo islâmico egípcio Ayman al-Zawahiri, vivem escondidos, perseguidos, isolados do mundo. Eles conseguem difundir suas mensagens escritas, em áudio ou vídeo pela internet, mas ninguém sabe se eles exercem qualquer comando operacional sobre o movimento jihadista. Eles não conseguem nem mesmo organizar ações de impacto perto de sua base, no Paquistão ou no Afeganistão.

Nesses dois países, são talebans pashtuns que conduzem o combate. Alguns têm ligação com a Al-Qaeda, outros se distanciaram. E não se sabe qual é o controle exercido por Bin Laden e Zawahiri sobre os campos jihadistas estrangeiros instalados no Waziristão, quer sejam sauditas, egípcios, jordanianos, iemenitas ou uzbeques.

Na verdade, a sorte da Al-Qaeda, após o golpe magistral do 11 de setembro, foi ter tido diante de si uma direção americana (Bush, Cheney, Rumsfeld) obcecada pelo Iraque e Saddam Hussein. Ao desencadear uma guerra contra um país que não tinha nenhuma ligação com a jihad internacional, dando a impressão de travar batalha contra os muçulmanos e o Islã, Washington serviu aos interesses da Al-Qaeda muito além das expectativas de Bin Laden, que dessa forma se tornou o "xeque" incontestável dos jihadistas internacionais.

O sucesso de Bin Laden se deve ao fato de que a incompreensão diante da réplica americana ao 11 de setembro tornou a Al-Qaeda popular nas mesquitas do Golfo ou nas madraçais [escolas muçulmanas] paquistanesas, nos subúrbios do Cairo ou nas favelas de Casablanca. Os Estados Unidos foram, de certa forma, o melhor aliado da Al-Qaeda.

Desde sua chegada à Casa Branca, Barack Obama procura reverter a tendência, retirando aos poucos o exército americano do Iraque e afirmando querer voltar a orientar sua ação sobre a guerra contra a Al-Qaeda. No dia 4 de junho ele pronunciou um discurso no Cairo para declarar que não estava em guerra nem com o mundo muçulmano, nem com o Islã. Ele acentuou a pressão sobre o Paquistão, intensificando a campanha de bombardeios por aviões não tripulados conduzida no fim da presidência Bush, e incitando o exército paquistanês a atacar santuários jihadistas.

Mas Obama também tomou a decisão de aumentar o esforço militar no Afeganistão, país onde nenhum vestígio da Al-Qaeda persiste desde o fim de 2001. O argumento principal é que uma volta do Taleban ao poder viria acompanhada de uma volta de seus companheiros da Al-Qaeda. Possível, mas não certo. Por enquanto, a guerra afegã contribui sobretudo para aumentar o número de combatentes inimigos.

Tradução: Lana Lim

Texto do Le Monde, republicado no UOL.


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