sexta-feira, abril 24, 2009

Protestos em Moldova

Moldova acusa a Romênia de estar por trás de crise política pós-pleito

UE e EUA não endossam acusações de fraude em vitória do governo pró-Rússia

DA REDAÇÃO

O presidente da Moldova, Vladimir Voronin, acusou ontem a vizinha Romênia de estar por trás dos violentos protestos que eclodiram na véspera no país, deixando um morto e centenas de feridos. O conflito fez aflorarem tensões que opõem setores pró-Rússia e pró-União Europeia e ameaçam transcender as fronteiras moldávias.
O estopim da crise política foi a vitória do Partido Comunista, de Voronin, nas eleições parlamentares no último domingo. Os oposicionistas contestaram a lisura do pleito. Mas a UE e observadores internacionais a endossaram. Os EUA abstiveram-se de apoiar as acusações opositoras e pediram calma.
Ontem, a Comissão Eleitoral confirmou a vitória governista, com 60 dos 101 assentos. O resultado impede por uma cadeira a formação de uma coalizão exclusivamente comunista. A comissão rejeitou nova eleição e recontagem de votos, mas permitirá o acesso dos partidos de oposição às listas de votação.
Nos protestos de anteontem, alguns dos 10 mil manifestantes portavam bandeiras da UE e da Romênia, membro do bloco. No auge das tensões, 2.000 deles invadiram a sede do governo e o Parlamento. Os prédios foram retomados pela polícia, que prendeu 193 opositores.
"Quando a bandeira da Romênia foi levantada, a tentativa da oposição de promover um golpe de Estado ficou clara", disse o pró-Moscou Voronin, 67, que encerra neste ano o seu segundo mandato e não pode ser conduzido pelo Parlamento a um terceiro. A Chancelaria russa endossou as acusações.
O governo romeno rejeitou veementemente as alegações. Em nota, a Chancelaria disse ser inaceitável que "o poder comunista de Kichinev [capital moldávia] transfira responsabilidade pelos problemas domésticos da Moldova".
A Moldova, país mais pobre da Europa, fez parte da Romênia até 1940, quando foi anexada pela União Soviética. Dois terços da população moldávia são de origem romena -o outro terço tem ascendência russa ou ucraniana-, e o idioma do país é similar ao do vizinho.
Os protestos pela vitória comunista revelam ainda o corte de geração que divide o país. De um lado, a população rural e os mais velhos, que apoiam o governo pró-Moscou. De outro, os jovens que lideraram as ações de anteontem, mobilizando redes no site de microblog Twitter, são pró-Ocidente.
Os opositores moldávios reivindicam também filiação à onda de "revoluções coloridas", como as da Geórgia (2003) e da Ucrânia (2004), que depuseram governos alinhados a Moscou com mobilizações apoiadas pelo Ocidente -EUA à frente.
Mas as reações contidas da UE e do governo Barack Obama indicam uma situação diversa. Tanto um como o outro buscam restabelecer as estremecidas relações com a Rússia, que vê na Moldova um país na sua esfera tradicional de influência.


Com agências internacionais

Texto da Folha de São Paulo, de 9 de abril de 2009.


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