Colômbia VII
VAI ASSUMINDO contornos cada vez mais inquietantes a crise política na Colômbia. As suspeitas de ligações criminosas de importantes aliados do presidente Álvaro Uribe com milícias paramilitares de extrema direita já comprometem pelo menos 22% dos congressistas do país e se aproximam da Presidência.
Nos últimos dias, foi preso Mario Uribe, ex-senador e primo do presidente, do qual sempre foi um estreito colaborador. A frustrada tentativa de Mario de refugiar-se na Embaixada da Costa Rica e pedir asilo só tornou a situação ainda mais incômoda para Álvaro Uribe, que já admite estar sendo ele próprio investigado pela Promotoria e com o aval da Corte Constitucional.
O escândalo da "parapolítica" teve início em 2006, quando chefes paramilitares começaram a fazer confissões completas em troca de benefícios judiciais. Desde então, mais de 60 congressistas foram implicados, dos quais 33 estão presos. Estão atrás das grades também ex-governadores e ex-prefeitos, quase todos da base de Uribe. A maioria é acusada de formação de quadrilha, por associar-se a milícias cujas atividades ilícitas incluem chacinas e tráfico de drogas.
Não obstante a gravidade do escândalo, ele não bastou para alterar o prestígio de Uribe, que conta com a aprovação de incríveis 84% dos colombianos.
Não se vislumbra, portanto, um cenário de protestos de rua exigindo a destituição do presidente. O risco maior é que se configure uma crise institucional entre os Poderes, em especial se as investigações ocasionarem alguma ação judicial contra o próprio Uribe.
O mandatário já emitiu sinais preocupantes, ao criticar publicamente os trabalhos da Justiça e ao acalentar a criação de um tribunal especial para julgar os réus no escândalo, retirando o caso da Corte Constitucional.
Outras idéias heterodoxas que circulam em Bogotá incluem a antecipação das eleições previstas para 2010 -dado o nível de comprometimento do Congresso- e até mesmo a convocação de Assembléia Constituinte.
Talvez esteja se desenhando a "hecatombe" que Uribe uma vez mencionou como único fator que poderia levá-lo a tentar modificar uma vez mais a Constituição de modo a permitir-lhe disputar o terceiro mandato.
Editorial da Folha de São Paulo, de 25 de abril de 2008 (para assinantes). Discreto, mas reclamando (?) do andamento das coisas na política colombiana.
Marcadores: Álvaro Uribe, Colômbia, Uribe
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