Colômbia VI
Colombiano nega denúncia e usa fato para criticar Justiça: "É preciso cuidado para não estimular acusações a cidadãos honrados"
Críticas vêm após prisão de primo do presidente por elo com paramilitares; governo diz, porém, que não criará tribunal especial para caso
DA REDAÇÃO
Os novos desdobramentos do escândalo do envolvimento de políticos ligados ao governo Álvaro Uribe com paramilitares colombianos levaram o presidente a elevar o tom contra a Justiça e a admitir que ele próprio é alvo de investigações.
Um dia após seu primo e antigo aliado político, Mário Uribe, ser preso por supostos laços com os paramilitares, o presidente disse que um ex-paramilitar atualmente preso o acusa de ter participado de uma reunião na qual foi tramado um massacre que deixou 15 pessoas mortas em 1997, em Aro, no departamento de Antioquia, então governado por Uribe.
A auto-acusação serviu como pretexto para o presidente criticar o trabalho da Justiça, já que ele apontou inconsistências no depoimento que o incrimina -um dos generais que teria participado da reunião havia morrido meses antes de ela ter ocorrido.
"Desde 1988, a força pública colombiana sabe aonde fui, onde dormi e com quem me reuni", disse Uribe, que desde então só anda com escolta. "Devido à imaginação dos bandidos, é preciso que tenhamos muito cuidado para que os magistrados não os estimulem para que acusem cidadãos honrados."
O presidente disse que a Justiça adota uma "solidariedade corporativa" para se proteger das críticas contra a sua atuação e a atacou por vazar informações. "Isso é muito grave; por exemplo, a presidente do Senado ligou para a Corte [Suprema] para saber se havia um processo contra ela e não quiseram responder. Mas depois um magistrado contou a um jornalista, e foi dessa maneira que ela ficou sabendo o que estava acontecendo", criticou.
Apesar das críticas, o presidente negou que o governo tenha decidido criar um tribunal especial para julgar o escândalo da parapolítica, tirando o poder da Corte Suprema no caso.
A negativa veio depois que o presidente da corte, Francisco Javier Ricaurte, afirmou que "há uma estratégia para colocar em dúvida as decisões da Justiça". "Todas as nossas decisões estão sendo tomadas com estrito apego às leis. A opinião pública não pode ter dúvidas sobre a ética dos magistrados."
Em resposta, o ministro da Justiça de Uribe, Carlos Holguín, disse: "Não estamos interferindo na Justiça, não houve a mínima ação nesse sentido. Estamos agindo com respeito. Mas o respeito às instituições e à sua independência não impede a discussão de propostas".
Além da criação de um tribunal especial, outra proposta em discussão na Colômbia é a dissolução do Congresso e a convocação de uma Assembléia Constituinte. Ontem, Uribe rechaçou a idéia. "Isso de mudar a Constituição a toda hora é um erro. Os povos que conseguiram grande desenvolvimento são os que tiveram estabilidade nas normas constitucionais."
Primo
Uribe não quis defender o primo, mas pediu que ele não seja considerado culpado antes do tempo. As investigações contra Mario Uribe comprovaram que ele se reuniu em 2002 com Salvatore Mancuso, líder das AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia), grupo paramilitar vinculado ao narcotráfico que na época controlava várias partes do país por meio de massacres e expulsões de camponeses. Mario Uribe nega.
"O que temos que fazer é deixar que a Justiça complete as investigações, defina se o julgam ou não, se o condenam ou não", disse o presidente.
Desde 2006, 32 parlamentares já foram presos por acusações de vinculação com paramilitares. A maioria deles é de aliados do presidente.
Apesar disso, Uribe nega que o país viva uma crise. "A Colômbia não está em um tempo de crise, mas em um tempo de remédios. Nós quase dobramos o orçamento da Justiça", disse ele em entrevista ao jornal americano "The New York Times". Ele salientou a redução da criminalidade na Colômbia durante o seu governo, o que relaciona à redução dos grupos paramilitares.
Marcadores: Álvaro Uribe, Colômbia, Uribe
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