quinta-feira, abril 24, 2008

Colômbia III

Primo de Uribe é preso em escândalo da parapolítica

Mario Uribe é acusado por Procuradoria de supostos laços com paramilitares

Além de parente, detido é aliado político do presidente colombiano desde 1985; ex-senador fez pedido de asilo à Costa Rica, que negou


FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Mario Uribe, ex-senador e primo do presidente Álvaro Uribe, foi preso ontem à noite por determinação da Procuradoria colombiana, que o acusa de envolvimento com grupos paramilitares. Ele foi detido assim que deixou a Embaixada da Costa Rica em Bogotá, onde se refugiara de manhã.
Pouco antes, a Chancelaria do país centro-americano negara, por "improcedente", um pedido de asilo político feito por Mario Uribe.
A prisão de um dos colaboradores mais antigos do presidente colombiano aproxima ainda mais a Casa de Nariño (sede do governo) do escândalo da parapolítica, que, iniciado no final de 2006, já levou 32 parlamentares à prisão, quase todos governistas.
Na semana passada, outros dois aliados de Uribe começaram a ser investigados pela Corte Suprema de Justiça por supostos nexos com os paramilitares: Nancy Gutiérrez, presidente do Senado, e Carlos García, presidente do Partido de la U, que iniciou neste ano uma campanha para que o presidente possa disputar um terceiro mandato consecutivo.

Tribunal especial
A infiltração dos paramilitares na política acendeu a discussão sobre a dissolução do Congresso. O presidente Uribe, que tem se oposto à idéia, recebeu de juristas próximos a ele a proposta de criação de um tribunal especial para cuidar do caso, hoje sob a responsabilidade da Corte Suprema.
As investigações contra Mario Uribe comprovaram que ele se reuniu em 2002 com Salvatore Mancuso, líder das AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia), grupo paramilitar vinculado ao narcotráfico que na época controlava várias partes do país por meio de massacres e expulsões de camponeses.
Mario Uribe tem negado envolvimento com os "paras". O presidente Uribe, que já reclamou de supostos excessos cometidos nas investigações, se disse em nota "condoído" pela prisão. "Assumo esta dor com patriotismo..., com o único interesse de proteger as instituições, proteção que também depende dos titulares de outros Poderes", disse.
As AUC são acusadas de coagir e comprar votos nas regiões que controlavam em favor de candidatos aliados nas eleições de 2002 e de 2006, com o objetivo de ter influência política tanto regional quanto nacional.
A organização está hoje oficialmente desmobilizada, embora vários de seus antigos membros tenham fundado outros grupos paramilitares, como as Águias Negras.

Aliança antiga
Junto com Álvaro, Mario Uribe fundou no departamento de Antioquia, em 1985, o movimento "Setor Democrático" do Partido Liberal, ao qual os dois estavam filiados na época. No ano seguinte, fazendo uma dobradinha, Mario foi eleito deputado, e seu primo, senador.
Desde então, Mario nunca mais deixou de ser reeleito para o Congresso. O ex-senador, que renunciou em outubro por causa das investigações, é o diretor nacional do partido Colômbia Democrática, fundado em 2003 com o apoio do presidente Uribe, eleito no ano anterior.
De acordo com a ONG Corporação Novo Arco-Íris, o partido é parte de um movimento que levou à criação de várias agremiações para abrigar políticos vinculados às AUC. Atualmente, todos os parlamentares da legenda estão presos.

Repercussão
A prisão deverá repercutir nos EUA, onde a Câmara de Representantes, de maioria democrata, adiou por tempo indefinido a ratificação do Tratado de Livre Comércio (TLC) assinado em 2006 entre Uribe e o colega George W. Bush.
O adiamento foi impulsionado pela onda protecionista que toma conta dos EUA em crise econômica, em plena corrida eleitoral. Mas o motivo alegado pela oposição democrata é a má situação dos direitos humanos na Colômbia.
Até agora, a popularidade de Uribe não foi atingida pelo escândalo. Com 84% de apoio, ele é o presidente mais popular da América Latina, segundo levantamento de pesquisas locais feito nesta semana pela consultoria mexicana Mitofsky.

Texto da Folha de São Paulo, de 23 de abril de 2008 (para assinantes).

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