Crise na Argentina
Popularidade de Cristina Kirchner despenca de 70% para 23%
O governo argentino procura controlar a mídia, na maioria hostil, com um "Observatório de Discriminação na Mídia" que causou alarme no mundo jornalístico
Jorge Marirrodriga
Em Buenos Aires
Depois de demonstrar que controla a Plaza de Mayo -primeiro com os piqueteiros violentos e depois com seus simpatizantes-, o governo argentino procura controlar os jornalistas com o relançamento de um "Observatório de Discriminação na Mídia", uma iniciativa que disparou alarmes no mundo jornalístico argentino, que na terça-feira, por meio da Associação de Entidades Jornalísticas, denunciou que a presidente Cristina Kirchner quer "controlar o jornalismo para organizá-lo", em uma tentativa "anacrônica" e "perversa".
As más relações entre o kirchnerismo e a imprensa não são novidade. O governo considera a mídia um elemento de distorção de sua imagem diante do público, e desde que Néstor Kirchner chegou ao poder em 2003 decidiu falar "diretamente à população", desde os discursos oficiais, nos quais atacou jornalistas locais com nome e sobrenome. Os Kirchner nunca convocaram uma entrevista coletiva, e as poucas entrevistas que Cristina concedeu à mídia estrangeira -nunca como presidente- não ocorreram em solo argentino. Seus altos índices de popularidade, em torno de 70%, pareciam respaldar essa estratégia.
Mas a greve de produtores agropecuários gerou uma mudança substancial na situação dessas relações. O índice de popularidade de Cristina despencou para 23%, especialmente depois que os argentinos viram a presidente zombar dos manifestantes contra ela -chamou de senhoras elegantes as mulheres que saíram à rua em alguns bairros- e premiar o líder dos grupos de choque oficialistas, Luis D'Elía, com um lugar de honra no palco durante seus principais atos presidenciais durante a crise. Exatamente em um deles, a enorme manifestação realizada na Plaza de Mayo na semana passada, Cristina acusou os grevistas do campo de golpistas apoiados "não por tanques, mas por generais da mídia".
Três dias depois a faculdade de ciências sociais da Universidade de Buenos Aires -entidade pública que recebe verbas do governo- emitia um duríssimo comunicado contra a cobertura da mídia argentina durante a greve, acusando-a de parcialidade contra o governo e dando diversos exemplos.
O relatório não criticava que a agência oficial Telam não tivesse transmitido um só despacho sobre os protestos contra a presidente na primeira noite de panelaços, ou que os dois canais de jornalismo 24 horas demorassem mais de uma hora para transmitir imagens das ruas de Buenos Aires bloqueadas pelos manifestantes.
Com o relatório oficial quente e menos de 24 horas depois, Cristina aproveitou um discurso devido à entrega de moradias oficiais para reclamar "o direito de que todas as vozes plurais e democráticas também possam ter acesso a todos os meios de comunicação". E acrescentou: "Precisamos refletir sobre quem são os titulares de direito da informação". A presidente se considera vítima de uma discriminação por parte da imprensa argentina e lembrou a existência de um observatório que "deve funcionar exatamente contra a discriminação".
A reação da mídia argentina veio na terça-feira em forma de um comunicado no qual acusa o governo, e especialmente Cristina, de ter "um olhar de suspeita" que "o faz ver conspirações por toda parte". A Associação de Entidades Jornalísticas Argentinas (Adepa) utiliza as próprias palavras da presidente, que exigiu "um relato na mídia que dê lugar a todas as opiniões". A Adepa qualificou a intenção do governo de supérflua, anacrônica e perversa e lembrou que o jornalismo não está para servir os governos.
A declaração de hostilidades contra a imprensa, incluindo aquela que até agora havia sido menos dura contra o governo, é um sintoma de radicalização de um governo que até o momento havia cuidado milimetricamente entre o modelo social-democrata encarnado por Chile e Brasil e o populismo vigente na Venezuela e Bolívia, cujos mandatários protagonizaram duros confrontos com a imprensa crítica. O presidente Carlos Menem (1990-1999) já tentou com a Lei de Ética Pública limitar a atuação da imprensa. Mas a lei foi batizada de "Lei Mordaça" e não está em vigor.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
O governo argentino procura controlar a mídia, na maioria hostil, com um "Observatório de Discriminação na Mídia" que causou alarme no mundo jornalístico
Jorge Marirrodriga
Em Buenos Aires
Depois de demonstrar que controla a Plaza de Mayo -primeiro com os piqueteiros violentos e depois com seus simpatizantes-, o governo argentino procura controlar os jornalistas com o relançamento de um "Observatório de Discriminação na Mídia", uma iniciativa que disparou alarmes no mundo jornalístico argentino, que na terça-feira, por meio da Associação de Entidades Jornalísticas, denunciou que a presidente Cristina Kirchner quer "controlar o jornalismo para organizá-lo", em uma tentativa "anacrônica" e "perversa".
As más relações entre o kirchnerismo e a imprensa não são novidade. O governo considera a mídia um elemento de distorção de sua imagem diante do público, e desde que Néstor Kirchner chegou ao poder em 2003 decidiu falar "diretamente à população", desde os discursos oficiais, nos quais atacou jornalistas locais com nome e sobrenome. Os Kirchner nunca convocaram uma entrevista coletiva, e as poucas entrevistas que Cristina concedeu à mídia estrangeira -nunca como presidente- não ocorreram em solo argentino. Seus altos índices de popularidade, em torno de 70%, pareciam respaldar essa estratégia.
Mas a greve de produtores agropecuários gerou uma mudança substancial na situação dessas relações. O índice de popularidade de Cristina despencou para 23%, especialmente depois que os argentinos viram a presidente zombar dos manifestantes contra ela -chamou de senhoras elegantes as mulheres que saíram à rua em alguns bairros- e premiar o líder dos grupos de choque oficialistas, Luis D'Elía, com um lugar de honra no palco durante seus principais atos presidenciais durante a crise. Exatamente em um deles, a enorme manifestação realizada na Plaza de Mayo na semana passada, Cristina acusou os grevistas do campo de golpistas apoiados "não por tanques, mas por generais da mídia".
Três dias depois a faculdade de ciências sociais da Universidade de Buenos Aires -entidade pública que recebe verbas do governo- emitia um duríssimo comunicado contra a cobertura da mídia argentina durante a greve, acusando-a de parcialidade contra o governo e dando diversos exemplos.
O relatório não criticava que a agência oficial Telam não tivesse transmitido um só despacho sobre os protestos contra a presidente na primeira noite de panelaços, ou que os dois canais de jornalismo 24 horas demorassem mais de uma hora para transmitir imagens das ruas de Buenos Aires bloqueadas pelos manifestantes.
Com o relatório oficial quente e menos de 24 horas depois, Cristina aproveitou um discurso devido à entrega de moradias oficiais para reclamar "o direito de que todas as vozes plurais e democráticas também possam ter acesso a todos os meios de comunicação". E acrescentou: "Precisamos refletir sobre quem são os titulares de direito da informação". A presidente se considera vítima de uma discriminação por parte da imprensa argentina e lembrou a existência de um observatório que "deve funcionar exatamente contra a discriminação".
A reação da mídia argentina veio na terça-feira em forma de um comunicado no qual acusa o governo, e especialmente Cristina, de ter "um olhar de suspeita" que "o faz ver conspirações por toda parte". A Associação de Entidades Jornalísticas Argentinas (Adepa) utiliza as próprias palavras da presidente, que exigiu "um relato na mídia que dê lugar a todas as opiniões". A Adepa qualificou a intenção do governo de supérflua, anacrônica e perversa e lembrou que o jornalismo não está para servir os governos.
A declaração de hostilidades contra a imprensa, incluindo aquela que até agora havia sido menos dura contra o governo, é um sintoma de radicalização de um governo que até o momento havia cuidado milimetricamente entre o modelo social-democrata encarnado por Chile e Brasil e o populismo vigente na Venezuela e Bolívia, cujos mandatários protagonizaram duros confrontos com a imprensa crítica. O presidente Carlos Menem (1990-1999) já tentou com a Lei de Ética Pública limitar a atuação da imprensa. Mas a lei foi batizada de "Lei Mordaça" e não está em vigor.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Texto do El País, no UOL (para assinantes). Comentário meu: lá como cá. Na verdade não posso avaliar o que a imprensa argentina anda dizendo do governo da Sra. Cristina Fernández. É certo que a imprensa não é para ser porta-voz do governo. Contudo se a empresa jornalística quer ser uma voz de oposição, é bom que ela diga isto claramente, e não se esconda atrás de supostas objetividade e imparcialidade.
Marcadores: Argentina, Governo Cristina Fernandez
4 Comments:
Fuera la presidenta sacar su ropita que nossotros estámos horrorizados.
Que mierda!
Fussilados e malpagos.
Zé,
Governos estão sempre a despencar! Poxa nem deram tempo ainda da mulher "trabalhar" kkkkkkkkkkkkk
beijos
Valeu a visita, Tita.
Caro Anônimo,
Num intindi...
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