Das Crônicas do Heuser: A cana no Brasão
A cana no Brasão
Por Paulo Heuser
A leitura matinal do jornal tornou-se enfadonha. Cartões, cartões e cartões. Tudo gira em torno dos cartões de crédito. Apenas uma notícia chama a atenção, destoando entre as denúncias de mau uso dos cartões. O deputado Clodovil Hernandes apresentou o Projeto de Lei 2310/07, para modificar o Brasão das Armas Nacionais. Sugere a troca das folhas de fumo que fazem parte do brasão por galho de cana-de-açúcar.
O deputado alega que o fumo causa doenças e que já não representa a mesma riqueza que representava em 1889. O projeto não é inédito, tendo sido apensado a outros dois, o 1345/1999 e o 4149/1998, este já acendendo velinhas. Confesso que eu não sabia que aquelas folhas eram de fumo. Se os nobres deputados não apresentassem esses projetos de lei importantíssimos, eu talvez nunca viesse a sabê-lo. Eles devem acreditar que muitas pessoas deixarão de fumar, prolongando suas vidas, se o galho de cana substituir as folhas de fumo. É aquela história, o sujeito perde a vontade de fumar ao olhar para o Brasão de Armas Nacionais sem folhas de fumo. Não seria o caso também de retirarem as folhas de café, que lá estão? Café em demasia pode causar problemas de saúde.
Algo me preocupa nesses projetos de lei. Se a retirada das folhas de fumo reduz a vontade de fumar, a presença do galho de cana-de-açúcar não aumentará a vontade de tomarem pinga? O deputado alega que a cana-de-açúcar é matéria prima para a fabricação de açúcar e do álcool combustível. Entretanto, esquece-se de mencionar o álcool que também serve de combustível para a queima das frustrações do cotidiano. Temo que o novo brasão vá se parecer com um rótulo de garrafa de pinga.
Porém, o que mais me preocupa é a reforma estética de um símbolo da Nação como se fosse logotipo de empresa, que deve ser atualizado periodicamente. O Brasão de Armas da Inglaterra existe desde o Século XII, durante o reinado de Ricardo I. Apesar de ostentar três leões passantes com garras azuis e línguas de fora, aparentemente ninguém tentou alterar aquele brasão. Convenhamos que os leões nunca foram uma riqueza da Inglaterra, mostrando-se piores para a saúde humana do que o fumo, conforme foi provado no Coliseu de Roma. Leões de língua de fora parecem debochar dos súditos do reino. Claro, digo isso porque não entendo nada de heráldica, a ciência que estuda essas coisas. Talvez consigam explicar também por que os leões ingleses têm garras azuis.
Caso venham a se tornar lei, esses projetos poderão movimentar a economia. A começar pelo concurso para a escolha do novo Brasão das Armas Nacionais. Poderão escolher algo mais moderno, com estrelas estilizadas. As plantas poderão simbolizar melhor o momento político nacional. Pepinos a abacaxis traduziriam bem este momento.
Uma alteração do Brasão das Armas Nacionais implicará alterações em todos locais onde é utilizado, incluindo as placas em todos os prédios públicos e os timbres dos documentos oficiais federais. Todas essas alterações envolvem custos. Ainda bem que poderão ser cobertos pelos cartões de crédito corporativos.
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