terça-feira, agosto 18, 2009

O vexame dos bancões privados (II)

BB expande crédito, tem menos calote e lucra R$ 4 bi

Direção do Banco do Brasil festeja volta à liderança do setor financeiro em ativos

Instituição supera Itaú Unibanco em R$ 2,4 bi em ativos, mas seu lucro no 1º semestre aumenta apenas 0,55% em relação a 2008

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Banco do Brasil comemorou o retorno ao topo do ranking de maior banco do país. Mas, no que se refere a lucro conquistado, ficou atrás de seus concorrentes privados. No primeiro semestre do ano, o BB reportou lucro de R$ 4,014 bilhões, um aumento de apenas 0,55% em relação ao mesmo período de 2008. O Bradesco registrou R$ 4,020 bilhões. E o Itaú Unibanco apresentou lucro de R$ 4,586 bilhões.
"Para nós, é motivo de extrema satisfação, de alegria, voltar à liderança", afirmou o presidente do BB, Aldemir Bendine.
Encerrado o primeiro semestre, o BB computava ativos totais de R$ 598,8 bilhões, superando os R$ 596,4 bilhões registrados pelo Itaú Unibanco.
O balanço do BB mostrou claramente os reflexos da decisão do governo de utilizar os bancos públicos como instrumento de fomento do crédito.
Enquanto as carteiras dos gigantes privados encolheram entre março e junho, com as instituições temerosas em relação ao crescente risco de calote, o BB registrou expansão relevante, de 4,4%, alcançando R$ 252,5 bilhões. Em 12 meses, o aumento da carteira de crédito chegou a 32,8%.
A expansão da carteira destinada à pessoa física é ainda mais impressionante: 69% desde junho de 2008.
"O BB adotou a estratégia correta ao dar um voto de confiança ao país e trabalhar para o destravamento do crédito", disse o presidente do BB.
Mais do que a simples continuidade no crescimento do crédito, o BB mostrou recuo na inadimplência, em sentido contrário ao experimentado pelos seus concorrentes.
Os atrasos acima de 90 dias no segmento de pessoa física recuaram de 5,9% em março para 5,7% no fim do segundo trimestre. A média da inadimplência do sistema financeiro nessa categoria ficou em 8,6% no segundo trimestre.

Aproveitar o espaço
"O resultado do BB ilustra a atitude do governo de usar os bancos públicos para ocupar os espaços deixados pelos privados após a crise. O crescimento da carteira do BB foge do ritmo que observamos nos grandes privados. Agora que o BB exerceu essa atividade anticíclica, vamos ver como os privados vão se comportar", disse Luis Miguel Santacreu, analista da consultoria Austin Rating.
Além de buscar manter a oferta de crédito, o governo federal tem mostrado preocupação com a manutenção do "spread" em níveis elevados. O "spread" se refere à diferença entre os juros que os bancos pagam para captar dinheiro no mercado e a taxa cobrada nos empréstimos que concedem.
No caso do Banco do Brasil, houve pequeno aumento do "spread" à pessoa física entre março e junho, de 20,5% para 21,2%. Na comparação com junho de 2008, quando estava em 23,4%, houve queda expressiva.
Com a continuidade na expansão do crédito e a conjuntura econômica pouco favorável, o BB não teve como escapar de elevar suas provisões para liquidação duvidosa -recursos separados para compensar possíveis calotes futuros. A provisão total subiu 29,9% no ano e alcançou R$ 17,7 bilhões.
No segundo trimestre, o lucro líquido do banco alcançou R$ 2,348 bilhões. Nesse período, eventos extraordinários turbinaram o resultado -como a venda da participação na VisaNet, que gerou R$ 1,4 bilhão.
Segundo estudo da Economática, o BB apareceu como o mais rentável banco da América no primeiro semestre, com rentabilidade média sobre o patrimônio de 12,9%. Na segunda posição, o Bradesco apareceu com 11,2%.
A ação ON do BB subiu 2,37% no pregão da Bolsa de ontem.

Notícia da Folha de São Paulo, de 14 de agosto de 2009.


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