Honduras, um teste para Obama na América Latina
Honduras, um teste para Obama na América Latina
Jean-Michel Caroit
Correspondente na América Central
O golpe de Estado em Honduras está pondo à prova a política de abertura da administração Obama. Durante a Cúpula das Américas, em abril, em Trinidad e Tobago, Barack Obama havia confirmado sua intenção de dialogar com Havana e apertado a mão de seu colega venezuelano Hugo Chávez.
Os embaixadores dos Estados Unidos em Caracas e da Venezuela em Washington retomaram suas funções. Eles haviam sido chamados de volta, em setembro de 2008, no auge do desentendimento entre Chávez e o ex-presidente Bush. Esses sinais e o carisma de Obama melhoraram a imagem deteriorada dos Estados Unidos ao sul do rio Grande.
A firme e rápida condenação do golpe de Estado em Honduras pelo presidente dos Estados Unidos foi elogiada nas capitais latino-americanas. Elas formaram uma unidade com Washington dentro da Organização dos Estados Americanos (OEA) para excluir Honduras e exigir o retorno do presidente constitucional, Manuel Zelaya.
Rompendo um longo histórico de cumplicidade com os golpes de Estado na América Latina, Obama pediu "o respeito às normas democráticas para evitar o retorno a um passado sombrio". Essa posição põe um fim ao apoio mal disfarçado da administração Bush ao golpe de Estado abortado contra Chávez em 2002. A nova administração democrata primeiramente deixou a OEA agir. Apesar dos esforços de seu secretário-geral, a determinação da OEA se deparou com a intransigência do presidente interino, Roberto Micheletti.
Diante da impotência da OEA, os olhares, inclusive os de Chávez, se voltaram para Washington para fazer pressão sobre os golpistas. A secretária de Estado Hillary Clinton, que parecia estar em segundo plano em relação a seu presidente quanto à crise hondurenha, pediu ao presidente da Costa Rica, Óscar Arias, para iniciar uma mediação. Chávez chamou as negociações de armadilha e desafiou Obama a "confrontar os falcões do império... sob risco de terminar pior do que Bush". Ao chamar a população à insurreição, Zelaya não se iludiu a respeito da medição de Arias, que terminou bruscamente.
No dia seguinte ao golpe de Estado, Obama foi alvo de uma virulenta campanha da direita republicana, que o acusava de se aliar "aos marxistas e aos inimigos dos Estados Unidos". "O pretenso golpe militar em Honduras foi uma ação bem-sucedida dos patriotas hondurenhos para proteger seu sistema constitucional, ameaçado por uma aliança internacional de comunistas e de socialistas apoiada pelo Irã", resumiu Cliff Kincaid, em nome dos neoconservadores.
Aconselhado por dois especialistas americanos em relações públicas, paradoxalmente próximos do casal Clinton, Micheletti insiste que os militares agiram com o apoio da Suprema Corte e do Congresso para impedir Zelaya de emendar a Constituição para poder ser reeleito, e sobretudo para pôr fim à interferência de Chávez.
Zelaya garantiu, no entanto, que ele não pretendia disputar um novo mandato em novembro. O recurso à força pareceu ainda mais surpreendente pelo fato de que o mandato de Zelaya terminaria em menos de sete meses. Em vez de iniciar um processo de destituição diante dos tribunais, os golpistas decidiram exilá-lo.
Para a direita, assim como para a esquerda, a crise em Honduras ultrapassa as fronteiras do pequeno país centro-americano que deu origem à expressão "república das bananas". Para os conservadores, o interesse da batalha hondurenha é deter "o populismo autoritário" do caudilho Chávez, que espalha sua influência pela América Latina e no Caribe. Um de seus aliados, o presidente boliviano Evo Morales, considerou o golpe de Estado de Tegucigalpa "um aviso do imperialismo norte-americano para a ALBA", a Alternativa Bolivariana para as Américas, criada por Caracas para se contrapor ao modelo neoliberal americano.
Para a esquerda radical, Honduras tornou-se palco do confronto entre a pequena oligarquia, que sempre controlou o país com o apoio do exército, das hierarquias religiosas e das mídias que elas possuem, e a maioria da população que vive na pobreza. Honduras está dividida diante do golpe de Estado: 46% dos hondurenhos o desaprovam, e 41% o apóiam, segundo uma pesquisa CID Gallup realizada após o exílio de Zelaya. Pessoas de seu círculo afirmam que foi mais por pragmatismo do que por ideologia que ele se aproximou de Chávez.
O fracasso da "guerra contra as drogas" iniciada pelos Estados Unidos, acompanhado de uma explosão da violência na América Central e no Caribe, o impacto negativo do tratado de livre-comércio assinado pela região com os Estados Unidos (Cafta-RD) sobre grandes setores da população, e a lentidão do pagamento da ajuda internacional jogaram Zelaya nos braços de Chávez. As promessas do presidente venezuelano se materializaram a ponto de ele se tornar o principal financiador de vários países da região. Mesmo aqueles que o criticam, como Óscar Arias, correm para Caracas atrás de suas generosidades petroleiras.
Tradução: Lana Lim
Texto do Le Monde, no UOL.
Marcadores: Barack Obama, Estados Unidos, Golpe de Estado em Honduras, Honduras, política externa dos Estados Unidos
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