Generais de Honduras tentam se explicar
Generais hondurenhos explicam seu papel na derrubada do presidente
Ginger Thompson
Em Tegucigalpa (Honduras)
Ao longo do último mês, a exibição constante de imagens do governo na televisão e na primeira página dos jornais tenta transmitir aos hondurenhos que este país não experimentou um golpe militar.
Na terça-feira, entretanto, os telespectadores poderiam ser perdoados por pensar que foi exatamente isso o que aconteceu.
Os cinco generais no comando das forças armadas hondurenhas fizeram uma rara aparição em rede nacional de televisão para explicar seu papel na derrubada no final de junho do presidente Manuel Zelaya, assim como para responder às acusações de que agiram em defesa da elite do país.
Em uma linguagem que frequentemente pendia para o tom de confissão, eles repetiram que não tomaram partido na luta política que polarizou o país, mas sim obedeceram a lei. E disseram estar confiantes de que a história os julgaria como patriotas pelas suas ações.
Mas quanto mais falavam, mais mostravam o quanto estavam preocupados com o dano causado à sua imagem por suas ações, assim como mais claro se tornou que continuam exercendo um importante papel na política hondurenha, quase três décadas após o término da ditadura militar.
"Eles nos chamam de golpistas", disse o general Romeo Vásquez Velásquez, o chefe das forças armadas. "Se é o que somos, nós teríamos declarado estado de emergência e teríamos detido todos aqueles que estavam causando confusão."
Mas os problemas têm se acumulado para os militares desde que Zelaya foi detido e conduzido a um avião que deixava o país, há cinco semanas. Ele foi detido sob acusação de estar tentando modificar a Constituição visando prolongar seu mandato.
Os oficiais militares estão se sentindo cada vez mais isolados, à medida que aqueles que apoiam Zelaya os acusam de traidores e aqueles que apoiam o atual regime, liderado por Roberto Micheletti, se distanciam da decisão de expulsar o presidente.
"No final, há uma chance de que os todos os civis se beijem e façam as pazes, e os militares fiquem com a fama de bandidos", disse um alto oficial militar do Ministério da Defesa, falando sob a condição de anonimato devido à posição delicada das forças armadas.
Na manhã de terça-feira, os militares se defenderam. Por uma hora e meia, os cinco generais em uniforme de camuflagem disseram que suas ações visavam defender a Constituição de um presidente que ameaçava rasgá-la. Sentados em um cenário escuro, os generais se descreveram como homens de origem humilde e disseram que, por isso mesmo, nunca agiriam contra os mais vulneráveis.
O programa no qual apareceram, "Frente a Frente", foi transmitido enquanto cresce a pressão internacional sobre o governo de Roberto Micheletti para permitir o retorno de Zelaya ao poder. As mais recentes críticas vieram de Felipe Calderón, o presidente do México, que Zelaya visitou na terça-feira.
Durante a visita, Zelaya disse estar preparado para assinar um acordo proposto, forjado após duas rodadas de negociações mediadas pelo presidente da Costa Rica, Óscar Arias. O acordo autorizaria o retorno de Zelaya à presidência, mas com poderes significativamente limitados.
Micheletti, entretanto, com forte apoio dos líderes empresariais do país, sua comunidade religiosa e dos dois maiores partidos políticos, rejeitou o plano de Arias, dizendo que a única forma de permitir o retorno de Zelaya ao país seria para este responder à Justiça.
Gabo Jalil, o vice-ministro da Defesa do atual governo, disse em uma entrevista que grupos internacionais de direitos humanos fizeram acusações infundadas de uso pelas forças armadas de estratégias de "esquadrão da morte" contra os oponentes de Micheletti.
Ao mesmo tempo, disse outro funcionário do Ministério da Defesa, os oficiais responsáveis pela decisão de embarcar Zelaya em uma avião para a Costa Rica em 28 de junho poderiam enfrentar acusações de abuso de autoridade, porque suas ordens eram de conduzir o presidente derrubado a julgamento.
Edmundo Orellana, que foi o ministro da Defesa de Zelaya, alertou contra ver os militares como vítimas. Ele disse temer que a aparição dos generais na terça-feira sinalize que as forças armadas, estimuladas por sua ação contra Zelaya, decidiram assumir um papel de maior peso em um governo sem reconhecimento internacional e com apenas um controle tênue de suas instituições domésticas.
Enquanto a crise prossegue, as repartições mais importantes do governo e os hospitais públicos estão sob guarda militar. As forças armadas colocaram barreiras ao longo das estradas por todo o país. E se posicionou para ajudar a polícia a lidar com os protestos pró-Zelaya, que têm perturbado o dia a dia deste país.
"Eles são a pedra angular do governo", disse Orellana sobre os militares. "Sem o apoio deles a coisa toda ruiria e Micheletti sabe disso."
Os generais lamentaram na terça-feira a morte de dois manifestantes, mas rejeitaram as acusações de que eram "assassinos" como sendo parte de uma estratégia para manchar sua imagem. Apesar das forças armadas já terem sido consideradas um instrumento de repressão da campanha de Washington contra o comunismo, os oficiais disseram que elas se transformaram na segundo instituição mais confiável do país, atrás da Igreja Católica.
Os generais disseram que ao removerem Zelaya, eles não agiram no interesse de qualquer "oligarquia". Zelaya, eles disseram, se tornou uma ameaça à democracia hondurenha, não apenas por ter desobedecido as decisões da Justiça, mas também por ter aliado Honduras ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
Como se seguisse um manual da Guerra Fria, o general Miguel Ángel García Padget disse que as forças armadas impediram os planos de Chávez de espalhar o socialismo pela região. "A América Central não era o objetivo desse comunismo disfarçado de democracia", ele disse. "Este socialismo, comunismo, chavismo, chame como quiser, visa o coração dos Estados Unidos."
Tradução: George El Khouri Andolfato
Texto do The New York Times, no UOL.
Marcadores: golpe de estado, Golpe de Estado em Honduras, Honduras, militares
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