quarta-feira, junho 10, 2009

Assentamentos expõem tensão EUA-Israel

Assentamentos expõem tensão EUA-Israel

Obama cobra congelamento da expansão de colônias na Cisjordânia; governo Netanyahu diz que "crescimento natural" continuará

Americano recebeu ontem na Casa Branca o presidente da ANP, Mahmoud Abbas, e reafirmou seu compromisso com solução de dois Estados

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

As relações entre o governo dos EUA e o gabinete israelense atingiram ontem seu patamar mais baixo desde a posse do democrata Barack Obama, em janeiro, e da volta do linha-dura Binyamin Netanyahu ao posto de premiê, em março.
A Casa Branca obamista vem pedindo com vigor o congelamento da expansão dos assentamentos judaicos em territórios palestinos e a solução de dois Estados, Israel e Palestina, como condições básicas para que as negociações de paz sejam retomadas com um mínimo de chance de sucesso, ambos argumentos rejeitados pelo governo de Netanyahu.
Ontem, em entrevista conjunta após encontro com o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, em Washington, Obama voltou a defender essas posições, explicitadas quando da visita do líder israelense, dez dias antes. O plano de paz, disse, prevê "o fim dos assentamentos e a garantia de que haja um Estado palestino viável".
No dia anterior, a secretária de Estado, Hillary Clinton, havia sido ainda mais direta, no que analistas consideraram a retórica mais dura entre os dois aliados em mais de duas décadas. O presidente foi "muito claro", afirmou a chanceler então, sobre o congelamento geral e irrestrito: "Não alguns assentamentos, não postos avançados, sem exceção para crescimento natural".
Há hoje quase 500 mil pessoas vivendo nesses encraves, considerados um obstáculo para o estabelecimento de um futuro Estado palestino. Netanyahu prometeu a remoção de 26 dos 121 assentamentos, localizados na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, mas afirmou que há que se respeitar a expansão natural dos já existentes.
"Israel vai respeitar seu compromisso de não construir novos assentamentos e destruir postos avançados", disse o porta-voz do governo israelense, Mark Regev. "Quanto aos já existentes, seu destino vai ser determinado nas negociações finais entre Israel e os palestinos. Neste ínterim, deve-se permitir que a vida normal siga nessas comunidades."
Desde que assumiu a Casa Branca, em janeiro, Obama se empenha na solução do conflito israelo-palestino como uma das bases para seu plano de estabilização do Oriente Médio e de contenção da influência iraniana na região. Ontem, voltou a dizer que não pretende criar um "cronograma artificial" para a criação de um Estado palestino, mas que também não quer desperdiçar tempo.
Obama embarca na semana que vem para o Egito, de onde fará seu primeiro discurso dirigido inteiramente aos muçulmanos, cumprindo uma promessa de campanha. Ele terá lugar provavelmente na Universidade do Cairo, num momento simbolicamente importante na relação dos EUA com o mundo islâmico pós-ataque de 11 de Setembro.

Sem margem de manobra
No encontro com Abbas, Obama disse que os palestinos também deveriam fazer sua parte, garantindo segurança na Cisjordânia e diminuindo o sentimento anti-israelense reinante em mesquitas e escolas. O presidente da ANP concordou com ambos os pedidos.
O problema é que ele promete o que provavelmente não poderá cumprir: o líder palestino não tem comando sobre Gaza, há dois anos governada pelo grupo radical Hamas, que não reconhece sua autoridade e que chegou ao poder após vencer eleições legislativas.
Com população de 1,5 milhão de pessoas, a maioria vivendo em condições abaixo da linha de pobreza, aquela porção litorânea de terra foi palco de ofensiva das tropas de Israel quatro meses atrás, em retaliação pelo lançamento de foguetes patrocinado pelo Hamas.
É esse ciclo vicioso que Obama busca romper, algo que seus antecessores tentaram sem sucesso. A diferença é a retórica. "A surpresa não é a posição de Israel, mas a assertividade da americana", disse Robert Maley, assistente especial para assuntos árabe-israelenses sob Bill Clinton (1993-2001).
"Raramente nós vimos esse ritmo, com essa intensidade e clareza", afirmou. "Os EUA tomaram uma posição que não deixa muita margem de manobra para o governo de Israel."

Notícia da Folha de São Paulo, de 29 de maio de 2009.


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