Polícia Federal investiga Merrill Lynch no Brasil
PF investiga Merrill Lynch por suspeita de lavagem
Polícia apura se doleiros eram usados para movimentar dinheiro; empresa nega
Registros das operações financeiras da Merrill eram feitos à mão no país, recurso proibido por dificultar a fiscalização das autoridades
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O setor de "private banking" da Merrill Lynch está sob investigação da Polícia Federal brasileira sob suspeita de lavagem de dinheiro e de operar um banco voltado para grandes fortunas sem ter autorização do Banco Central.
O Brasil era o maior mercado de "private banking" da Merrill Lynch na América Latina, segundo documentos que a própria instituição distribuía entre seus executivos há dois anos. Um desses informativos dizia que o setor havia acumulado contas que somavam US$ 1,2 bilhão (R$ 2,4 bilhões) no Estado de São Paulo e US$ 5 bilhões (R$ 10 bilhões) no país.
A Merrill Lynch quase foi à bancarrota com a crise financeira internacional do ano passado, mas foi comprada pelo Bank of America e se intitula a maior corretora do mundo: diz administrar ativos de US$ 2,5 trilhões (R$ 5 trilhões). Para quem gosta de comparações: todas as riquezas produzidas no Brasil no ano passado, o PIB (Produto Interno Bruto), somam R$ 2,9 trilhões.
Sundown
A Polícia Federal encontrou indícios de que a Merrill Lynch cometia crimes no Brasil ao investigar a Sundown, empresa de bicicletas e motos, cujos donos foram condenados por formação de quadrilha, contrabando e lavagem de dinheiro.
Ao monitorar o telefone de um dos sócios da Sundown, a PF descobriu que a Merrill Lynch abrira a partir de Curitiba uma conta em Miami, que recebeu US$ 1,2 milhão (R$ 2,4 milhões). Nessa operação, em 2006, um executivo da Merrill Lynch, Alexandre Caiado, foi preso e a PF fez buscas no escritório do banco em São Paulo.
Uma das suspeitas da PF era que o dinheiro de brasileiros chegava à Merrill Lynch por meio de doleiros -o que a empresa sempre negou.
A investigação da PF encontrou não uma muralha, mas um vazio, porque a Merrill Lynch tinha transferido para o exterior seu sistema de computação, e os executivos não podiam gravar nada nas máquinas, segundo contaram à Folha dois executivos que trabalharam no banco (eles falaram sob a condição de que seus nomes não fossem revelados, por temer retaliações).
O esvaziamento do escritório brasileiro foi feito depois que a PF fez buscas no Credit Suisse, que funcionava no mesmo prédio, na avenida Faria Lima (zona oeste), ainda de acordo com os executivos da Merrill Lynch. A operação no Credit aconteceu dois meses antes de a polícia vasculhar a Merrill Lynch.
Com a prisão de um de seus consultores, a Merrill Lynch decidiu transferir as operações de "private banking" de clientes brasileiros para o Uruguai, os EUA e a Suíça, segundo os dois executivos.
Os registros e sistemas foram transferidos para Montevidéu, de acordo com os ex-funcionários, o mesmo destino dos doleiros brasileiros após prisões efetuadas pela PF. O Uruguai foi escolhido porque é um paraíso fiscal e tem uma legislação flexível sobre recursos sem origem.
Como não podiam registrar nada em computadores, as operações financeiras eram registradas manualmente. As legislações brasileira e americana proíbem esse tipo de registro porque ele impede que o Banco Central, por exemplo, saiba onde o banco está colocando os seus recursos e qual é o risco que oferece.
Acusação nos EUA
A mesma acusação contra a Merrill Lynch -a de que não mantinha registros de suas operações no Brasil- é feita numa disputa judicial entre a instituição e o banqueiro Ezequiel Nasser, que foi dono do Excel Econômico.
Nasser foi processado pela Merrill Lynch, que o acusa de dever US$ 78 milhões para a instituição, e ele respondeu com uma ação em que pede US$ 612 milhões de indenização. Nessa ação, que tramita na Suprema Corte de Nova York, Nasser diz que uma das razões do que chama de perdas é a falta de transparência nos registros da Merrill Lynch.
Três e-mails de executivos da Merrill Lynch, obtidos pela Folha, mostram que eles próprios diziam no ano passado que havia operações no Brasil escrituradas à mão. Um desses e-mails é de Darcie Burk, diretora de "private banking" para a América Latina à época.
Notícia da Folha de São Paulo, de 3 de junho de 2009. Destaque do blogueiro.
Marcadores: crime de colarinho branco, crime financeiro, crime organizado, evasão de divisas, lavagem de dinheiro, Merrill Lynch
2 Comments:
A ML não faliu não?
Acho que está com o capital parcialmente estatizado.
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