A paz não interessa a Israel
A paz não interessa a Israel
Atualizado e Publicado em 11 de maio de 2009 às 19:38
A paz não interessa a Israel
11/5/2009, Amira Hass, Haaretz, Telavive
http://www.haaretz.com/hasen/
Sucessivos governos israelenses, desde 1993, com certeza sabiam o que faziam cada vez que não fizeram a paz com os palestinos. Representantes da sociedade israelense, aqueles governos sempre entenderam que a paz implicaria graves prejuízos aos interesses nacionais israelenses.
Prejuízo econômico
A indústria da segurança é importante item na pauta de exportações de Israel – armas, munições e refinamentos que são diariamente testados em Gaza e na Cisjordânia.
O processo de Oslo – negociações que jamais se previu que algum dia levassem a alguma paz – permitiu que Israel se livrasse do status de potência ocupante (obrigada a zelar pelo bem-estar da população residente em território ocupado) e passasse a tratar os territórios palestinos como entidades separadas. Isso significa: autorização para usar armas e munições em quantidade que Israel jamais pudera usar contra palestinos, depois de 1967.
Proteger as colônias também exige desenvolvimento ininterrupto da indústria da segurança, vigilância e contenção (muros, cercas, bloqueios, vigilância eletrônica, câmeras, robôs). São itens considerados "top de linha" no mundo desenvolvido, importantes para bancos, empresas e para os condomínios de luxo vizinhos de favelas e enclaves étnicos cujas rebeliões tenham de ser contidas.
A criatividade coletiva dos israelenses em matéria de segurança é fertilizada pelo estado de constante atrito entre muitos israelenses e uma população definida como hostil. O estado de combate mantido em fogo baixo, e às vezes sob fogo muito alto, implica estimular, na população de Israel, uma variedade de temperamentos belicosos: 'rambos', obsessivos por computador, os inventivos, os mais hábeis em trabalhos manuais. Em situação de paz, dificilmente tantos se reuniriam tão frequentemente.
Prejuízo profissional
Manter a ocupação e o estado de beligerância cria empregos para milhares de israelenses. Cerca de 70 mil pessoas são empregadas na indústria da segurança. A cada ano, dezenas de milhares concluem o serviço militar obrigatório, do qual saem treinados para usar algum talento especial, ou já profissionalizados. Para milhares, esse treinamento é o início de sua carreira profissional: soldados profissionais, agentes de espionagem, consultores, soldados mercenários, comerciantes de armas. A paz portanto, faria sumir muitas carreiras e encurtaria muitos futuros profissionais, para um importante estrato social de israelenses – estrato social que tem enorme influência no governo.
Prejuízo à qualidade de vida
Um acordo de paz exigiria distribuição equitativa dos recursos hídricos em todo o país (do rio ao mar) entre judeus e palestinos, com dessalinização de água salgada e técnicas de economizar água doce igualmente distribuídas para todos. Hoje, já é difícil que os israelenses acostumem-se a economizar água. Não é difícil avaliar o trauma social que seria gerado, se os israelenses fossem obrigados a economizar ainda mais água para que a pouca água existente fosse distribuída com justiça para todos.
Prejuízo para o bem-estar social
Como os últimos 30 anos já mostraram, as colônias florescem ao ritmo em que o Estado de bem-estar se contrai no resto do país. As colônias oferecem a pessoas comuns o que jamais teriam se dependessem, para viver, dos salários que poderiam ganhar em território israelense dentro das fronteiras legais de 4/6/1967: terra barata, casas confortáveis, benefícios, subsídios, espaços abertos, belas paisagens, sistema de estradas exclusivas de excepcional qualidade e educação pública de primeira. Mesmo para os israelenses que não vivam nas colônias, as colônias lá estão, à vista, iluminando o horizonte de todos como opção para ascensão social e econômica, a qualquer momento. São possibilidade muito mais real do que qualquer possível melhora que advenha com a paz, porque a paz é situação que ninguém conhece.
A paz também reduzirá, se não apagar completamente, o pretexto 'de segurança' que justifica a segregação contra os árabes-israelenses – seja na distribuição de terras, dos recursos de desenvolvimento, educacionais, de atendimento médico ou dos direitos humanos (como o direito à cidadania ou ao casamento). Gente que se tenha habituado aos privilégios inerentes à discriminação étnica vê qualquer justa distribuição de direitos como assalto a seus direitos adquiridos e ao seu próprio bem-estar.
Texto visto no Vi o Mundo.
Marcadores: Israel, israelenses x palestinos, Palestina
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