sexta-feira, março 20, 2009

Iraque: 6 anos de ocupação

Ocupação do Iraque completa seis anos fora de foco

Violência diminuiu, mas problemas persistem; com crise, governo e opinião pública nos EUA deixam conflito em segundo plano

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

A ocupação do Iraque pelos EUA, iniciada com um ataque na madrugada de 20 de março de 2003 com bombas e mísseis ao sul de Bagdá, completa hoje seis anos. Mas desta vez, após tantos protestos e atenção da mídia, a crise econômica ofuscou a guerra no noticiário, e a data parece quase esquecida.
Em dois discursos em Los Angeles ontem, o presidente dos EUA, Barack Obama, não citou o aniversário, concentrando-se na economia. Tampouco houve perguntas da plateia a respeito. Em manchetes dos principais jornais, blogs e TVs, nada de destaque ao Iraque. E Bagdá tampouco fez cerimônias sobre a ocasião.
A ausência foi notável, já que, pelo horário de Washington, a guerra começou na noite de 19 de março de 2003.
Não é só a recessão que causou o desprestígio. Ajudou na obliteração das notícias do front o declínio da violência, creditado pelo Pentágono ao aumento das tropas no Iraque a partir de 2006 e à aliança com milícias sunitas.
Além disso, é uma estratégia de Obama transferir atenção, assim como tropas e recursos, do Iraque ao Afeganistão. A ação no Iraque já custou US$ 657 bilhões aos cofres públicos americanos (segundo valores aprovados pelo Congresso). Com as mudanças, Obama projeta reduzir os gastos, contando com US$ 144 bilhões deste ano fiscal, US$ 130 bilhões em 2010 e US$ 50 bilhões depois.
Os números trazem notícias relativamente boas. As média diária de mortes de civis iraquianos em ataques e confrontos é hoje 10. É mais do que no início da guerra, mas menos do que o pico de 72 em 2006, segundo o site Iraq Body Count.
Os saldo total, porém, bate em 91 mil. No caso dos militares americanos, as baixas chegam a 4.259. E, se a violência diminuiu significativamente em Bagdá, a insurgência sunita continua forte no norte do país.
De toda forma, o Iraque não está estável. O país enfrenta dificuldades políticas e econômicas, e o risco de as disputas desembocarem em mais violência não está fora do quadro.
"O processo político é cheio de tensões e contradições, e a situação no Iraque vai se deteriorar se não progredirmos politicamente", disse o legislador sunita Osama al Nujafi à Associated Press. Na economia, uma complicação recente é a crise no Orçamento: cortes severos foram necessários depois que o preço do barril de petróleo caiu do pico de US$ 150 em meados de 2008 para US$ 50.
Ante o quadro, o Exército dos EUA espera sair do Iraque sem deixar o país no caos. A ideia é tirar as tropas de combate até setembro de 2010 e todos os soldados até o fim de 2011.
Para muitos iraquianos, é pouco. "O Iraque nunca vai ver a estabilização até que todas as tropas de ocupação saiam. Não vimos nenhuma mudança do último aniversário até agora", disse Salah al Obeidi.

Texto da Folha de São Paulo, de 20 de março de 2009.


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