Depois da torrente de dinheiro, o dilúvio dos juros?
A crise, Lula e a realidade
BRASÍLIA - Enquanto Lula manda seus ministros dizerem que o Brasil vai crescer 4% em 2009, no mundo real fica cada vez mais claro como está distante o fim da atual crise. O salvamento do Citibank é a demonstração acabada sobre a gravidade do momento. Pela concordância tácita, também indica a intenção de Barack Obama de utilizar a mesmíssima política do atual ocupante da Casa Branca: despejar toneladas de dinheiro público na economia.
George W. Bush titubeou em setembro. Sua equipe econômica piscou na hora de salvar o Lehman Brothers da falência. O banco evaporou. Depois, a crise foi ladeira abaixo.
Engenheiros de obras feitas no Brasil -e nos Estados Unidos- criticaram a decisão da equipe de Bush. O Lehman era muito grande para quebrar, disseram. Alguns desses críticos eram os mesmos que antes reclamavam dos socorros estatais a bancos privados -como ocorrera no início do ano com o Bear Stearns.
Depois da vacilada, a política econômica ficou clara como nunca.
Haverá dinheiro estatal de sobra para salvar tantos quantos forem os bancos ou empresas em dificuldades por causa de barbeiragens com derivativos e outros ativos tóxicos.
A lógica toda será usar a confiança ainda existente na maior reserva de valor do planeta: o dólar. Mais adiante, quando a inflação brotar por causa da emissão de moeda sem lastro, assistiremos à pior parte da crise, com uma brutal alta dos juros.
No Planalto, mesmo vendo a degradação do cenário, Lula parece comandar um bloco do auto-engano. Repete um mantra sobre a solidez do país. Fará uma propaganda na TV a respeito. Ou o petista enxerga o que ninguém vê ou prepara o país para uma das maiores decepções recentes ao longo do ano de 2009. A ver.
Texto de Fernando Rodrigues, na Folha de São Paulo, de 26 de novembro de 2008. Grifo do blogueiro.
Marcadores: capitalismo, dólar, economia, economia mundial, Estados Unidos, juros
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