sábado, dezembro 20, 2008

Assassinato de adolescente gera protestos na Grécia

Morte de jovem pela polícia provoca protestos na Grécia

Manifestantes saqueiam lojas e enfrentam policiais nas principais cidades gregas

Agitações ocorrem em momento político ruim para o hoje impopular premiê, que é alvo de crítica por escândalos financeiros

DA REDAÇÃO

Os três maiores centros urbanos da Grécia registraram saques, tumulto e choques entre policiais e manifestantes. Os protestos, que ontem entraram em seu segundo dia, foram motivados pela morte de um rapaz de 15 anos por policiais na noite de sábado. Além das cidades de Atenas, Salônica e Patras, houve agitações também nas ilhas turísticas de Creta e Corfu.
Os mais violentos protestos no país desde 1985 começaram após a morte ocorrida no bairro estudantil de Exarchia, no centro de Atenas -região famosa como "gueto dos anarquistas" e berço do movimento estudantil de 1973, cujo corolário foi o fim do "regime dos coronéis", ditadura militar iniciada em 1967.
Depois de um grupo de 30 pessoas lançar pedras e outros objetos contra uma viatura policial, um de seus ocupantes desceu do carro atirando. Inicialmente as autoridades disseram que eram tiros de alerta, mas testemunhas relataram às emissoras de TV locais terem visto um policial mirando contra Andreas Grigorópulos, que foi baleado no peito.
Assim que a notícia da morte do adolescente foi confirmada, manifestantes foram às ruas para protestar contra a arbitrariedade policial, o governo direitista do premiê Costas Karamanlis e o ministro do Interior.
Em Atenas, carros foram incendiados, lojas destruídas e saqueadas. Policiais responderam com gás lacrimogêneo, numa ação que deixou ao menos 34 feridos e 20 presos. Segundo a agência de notícias espanhola Efe, moradores de locais distantes a até 15 km do centro da cidade relataram ter sentido o cheiro do gás e da fumaça dos focos de incêndio.

Coordenação
Os manifestantes não se movimentaram às cegas. Na internet, publicavam dados sobre os confrontos assim que eles aconteciam. Mensagens para encorajar as pessoas a se unir a grupos concentrados em pontos específicos da cidade também foram divulgadas, com palavras de ordem como "derramamento de sangue demanda vingança" e "uma picareta no crânio de cada policial".
Em vão, o governo tentou acalmar a população. O presidente Carolos Papulias declarou que "a morte do jovem é uma ferida no Estado de Direito" e o premiê, publicamente, pediu desculpas ao pai do adolescente, um gerente de banco.
O ministro do Interior, Prokopis Pavlopulos, ofereceu sua renúncia, rejeitada por Karamanlis.
As autoridades anunciaram a prisão dos dois policiais envolvidos na morte de Grigorópulos na manhã de ontem. O autor do disparo é acusado de assassinato intencional e uso ilegal de arma. Seu parceiro, de colaboração em assassinato. Eles serão interrogados na quarta-feira perante a Justiça.
Os incidentes dos últimos dias remetem a 1985, quando, na marcha anual em homenagem ao levante estudantil de 1973, um adolescente de 15 anos foi baleado e morto por um policial em Exarchia -lançando uma onda intermitente de choques entre estudantes e policiais, que durou meses.

Cenário político
Os protestos acontecem em um momento desfavorável para o premiê -cujo partido tem maioria de apenas dois assentos no Parlamento. Karamanlis tem experimentado queda em sua popularidade, em decorrência de escândalos financeiros. Desde setembro, ele perdeu dois ministros, envolvidos em transação imobiliária ilegal que deve custar aos contribuintes gregos mais de 100 milhões (R$ 316,6 milhões).
Os socialistas, da oposição, hoje têm a liderança nas pesquisas de opinião pública -o que, segundo analistas citados pela agência Reuters, pode forçar Karamanlis a marcar eleições antecipadas em 2009.

Texto da Folha de São Paulo, de 8 de dezembro de 2008.

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