sábado, dezembro 20, 2008

Antropólogos acham ossos de desaparecidos políticos em prisão clandestina argentina

Antropólogos acham ossos de desaparecidos políticos em prisão clandestina argentina

THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES

Uma equipe de antropólogos forenses localizou pela primeira vez restos humanos em um centro clandestino de detenção da ditadura argentina (1976-83). Dez mil fragmentos de ossos, restos de cartuchos de projéteis e um muro com 200 marcas de bala -que teria sido usado para fuzilamentos- foram localizados no centro conhecido como "Poço de Arana", que funcionou de 1976 a 1977 em La Plata (52 km de Buenos Aires).
O anúncio foi feito ontem pela Secretaria de Direitos Humanos da Província de Buenos Aires e pela Equipe Argentina de Antropologia Forense. Até então restos de desaparecidos sob o regime militar haviam sido encontrados em cemitérios ou enterrados em outros locais.
A maior parte dos ossos está carbonizada e desgastada pelo tempo, o que dificulta a identificação. Os antropólogos que participaram das escavações, feitas de fevereiro a setembro, disseram que os corpos provavelmente foram queimados e enterrados em vala comum.
As buscas foram determinadas pela Justiça Federal em La Plata, que apura crimes contra a humanidade durante a ditadura. A partir de depoimentos de vítimas, os antropólogos identificaram 15 possíveis locais de descarte de ossadas.
Segundo o chefe da equipe de antropólogos, Luis Fondembrider, houve localização de fragmentos de ossos em quatro desses locais. O trabalho da equipe em 2009 será tentar recuperar material genético para possível identificação.
Pelo "Poço de Arana" passaram desaparecidos como Júlio López, vítima da ditadura que desapareceu pela segunda vez em setembro de 2006, dia em que testemunharia no julgamento do ex-policial e repressor Miguel Etchecolatz.
A estimativa de entidades de defesa dos direitos humanos é que 30 mil pessoas tenham desaparecido na ditadura argentina. Julgamentos de membros do regime militar foram retomados em 2005, no governo Néstor Kirchner (2003-07), que revogou leis de anistia da gestão Raul Alfonsín (1983-89).

Texto da Folha de São Paulo, de 10 de dezembro de 2008.

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